“O que me assusta hoje em dia?”Foi essa pergunta que Letícia Duarte de Oliveira Costa, 21, fez a si mesma quando recebeu o convite da sua empresa para ir fantasiada para o Halloween na última quinta (29), em Belo Horizonte (MG). O traje mais assustador ganharia um prêmio.A mensagem chegou só na véspera do evento, restando-lhe pouco tempo de preparação. Cogitou não ir com nada, mas o clima de descontração e confraternização a empolgou. Fez o que qualquer cidadão com internet faria: jogou no Google para ter ideias.Não estava gostando dos resultados. Ou eram fantasias muito elaboradas, com maquiagens demoradas, ou itens chochos.Até que ela resolveu fazer o questionamento acima.“Não foi nada difícil achar a resposta, dado os eventos dos últimos anos no Brasil, com várias coisas tenebrosas. Nessa vibe, lembrei dos preços dos supermercados. Vai ser isso”, afirma Letícia, que estuda educação física na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e trabalha como social media numa empresa de cosméticos.Comprou a folha amarela, escreveu ela mesma com o pincel, colou os barbantes, e, voilà, os anúncios de produtos de supermercado estavam prontos.Arroz, R$ 24,99 um pacote de 5 kg. Café, R$ 14,99 um pacote de 500 g. Bilhete do metrô, R$ 4,50.Publicou a fantasia no Twitter e o post viralizou. Até 23h deste sábado (30), são 20 mil retuítes e 153 mil curtidas.No trabalho, ela também fez sucesso.“Riram demais, quiseram tirar foto, falaram que eu ‘zerei o Halloween'”, diz.Letícia conta que pesquisou preços em quatro supermercados diferentes e calculou a média, porque queria achar valores condizentes com a realidade. “A realidade já é suficientemente assustadora”, justifica.Ao final do expediente, ela e seus colegas foram beber e comer em um dos muitos botecos de BH.“As pessoas na rua me perguntavam se esses valores estavam em oferta, porque perto da casa delas a gasolina já estava a mais de R$ 7 e a alcatra, R$ 40.”“Eu percebi que o buraco é mais embaixo. Minha fantasia era para ser assustadora, mas existem vários lugares do Brasil que estão piores”, diz.Nas redes sociais, a reação foi a mesma. “Me fala onde a gasolina está com esse preço que eu vou aí encher vários tanques”, ouviu.Apesar da repercussão, Letícia não ganhou o prêmio, –terminou em segundo lugar.Questionada sobre porque estuda educação física e trabalha como social media, afirmou ter motivação financeira.Ao ouvir deste repórter que ele nunca achou que social media seria uma área valorizada, Letícia resumiu o Brasil de 2021.“Pra você ver a realidade desse país!!!”