Aliados apontam que decisão do filho do ex-presidente de ficar nos EUA foi “acertada”, reforça clima de perseguição e auxilia a “combater a esquerda”
O anúncio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de que se licenciará do cargo de deputado federal pegou de surpresa aliados goianos do clã Bolsonaro. Embora digam que a decisão do filho do ex-presidente é "acertada" e até a considerem como uma forma de ele "preservar a capacidade de articulação política", os apoiadores tratam o episódio com lamento e citam também que "há uma estratégia do PL para combater a esquerda e o ministro Alexandre de Moraes".
Em vídeo publicado na terça-feira (18), o deputado declarou que a licença do mandato parlamentar para ficar nos Estados Unidos deve-se ao desejo de se dedicar "em tempo integral" a convencer o governo do presidente Donald Trump a atuar pela anistia aos envolvidos nos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Além disso, o filho do ex-presidente disse querer sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que relata o processo sobre a tentativa de golpe de estado no qual Bolsonaro foi denunciado.
O vereador de Goiânia Vitor Hugo (PL), que foi líder de Jair Bolsonaro (PL) na Câmara Federal, diz que, apesar de sua ligação mais próxima à família do ex-presidente, só soube da decisão de Eduardo por meio do vídeo publicado pelo deputado. Vitor Hugo esteve presente em Copacabana (RJ) no último domingo (16) no ato em favor da anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro e afirma que não houve discussões sobre o licenciamento de Eduardo. Ele classifica o episódio como "lamentável" e pontua repercussão no governo americano.
"Foi uma decisão acertada. Ele vem expondo o que vem acontecendo no país. A articulação que o Eduardo vem fazendo nos últimos meses tem sido eficaz", diz o vereador acerca das tratativas pela anistia. "Ficar nos EUA é a maneira que ele tem de se preservar e a sua capacidade de articulação, liberdade, e continuar trabalhando pelas pautas conservadoras da direita", complementa.
O deputado estadual Major Araújo (PL) diz que é difícil avaliar precisamente "o que está por trás" do licenciamento de Eduardo, mas classifica o posicionamento como assertivo. "Eu também faria o que ele fez", afirma, acrescentando acreditar que trata-se, na verdade, de mais uma "estratégia" para combater o "PT e Moraes". O parlamentar ecoa o sentimento de "tristeza" no partido referendado, inclusive, em nota divulgada pelo PL sobre o caso.
"Espero que a decisão dele nos traga um alento, porque nós que combatemos o PT sentimos que podemos ser os próximos", diz Araújo.
Dizendo que também foi surpreendido com a decisão de Eduardo, o vereador de Goiânia Oséias Varão (PL) critica as decisões judiciais envolvendo a família Bolsonaro, diz se sentir indignado com o caso, e reforça que há "perseguição" política. "As coisas estão sendo construídas sem nenhum tipo de compromisso. Ministro avoca para si qualquer tipo de processo. Decisões todas persecutórias. Mas se dependesse do meu conselho, diria que ele deveria ficar nos EUA mesmo."
Já o colega Willian Veloso (PL) menciona que o caso expõe a "insegurança que há no país em relação a quem usa a democracia para discordar de alguma coisa aqui aumenta".
A licença de Eduardo "por interesses particulares" tem duração de 120 dias. O deputado afirmou que abrirá mão da remuneração parlamentar durante o período em que estiver afastado.
Fred Rodrigues (PL), ex-deputado estadual e ex-candidato à Prefeitura de Goiânia, alegou, em postagem nas redes sociais, que Eduardo é "perseguido" por ser "um cara que quer ver seu país crescer, melhorar". Já o deputado federal Gustavo Gayer (PL) compartilhou um vídeo com as falas de Bolsonaro lamentando o "afastamento do filho", e escreveu que trata-se "da dor de um pai que corre o risco de não ver o seu filho novamente por causa dessa ditadura que vivemos".
Vitor Hugo refuta a colocação de que a decisão de Eduardo seria uma espécie de "pavimentação do caminho" para que Bolsonaro também vá "se autoexiliar" nos EUA diante do julgamento no Supremo. "O presidente Bolsonaro já falou que vai ficar no Brasil. Essa hipótese não existe e está sendo formulada por quem não tem acesso à informação ou procura ser leviano", afirma.
Bolsonaro, que está inelegível até 2030, será julgado pelo STF em 25 de março. A corte decidirá se ele se tornará réu após denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) por suposta participação no planejamento de um golpe de Estado, no fim de 2022, após ter sido derrotado nas eleições presidenciais. O ex-presidente nega as acusações.
Processo
Ainda na terça, após o anúncio de Eduardo, Moraes determinou o arquivamento de investigação contra o deputado, que havia sido acusado de articular com parlamentares norte-americanos medidas contra a Corte brasileira. A decisão foi baseada no parecer da PGR, que concluiu não haver elementos para dar seguimento ao caso.
A ação foi movida pelo PT e pelos deputados federais Lindbergh Farias (PT-RJ) e Rogério Correia (PT-MG), que argumentaram que Eduardo, desde a posse de Trump, teria viajado três vezes aos EUA para tentar aprovar um projeto de lei que "atacaria e constrangeria o STF". Os denunciantes pediram que fossem impostas medidas cautelares contra Eduardo, como a proibição de deixar o país e a entrega de seu passaporte.
O POPULAR procurou o presidente estadual do PL, senador Wilder Morais, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.