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Às vésperas de cúpula de Biden, China cobra EUA e busca ampliar cooperação com Europa

Dirigente da China, Xi Jinping, disse que o país está pronta para ampliar sua cooperação com os paises europeus nas questões ambientais

Folhapress

Modificado em 21/09/2024, 01:20

Às vésperas de cúpula de Biden, China cobra EUA e busca ampliar cooperação com Europa

(Reprodução/Trademap)

A China deu dois passos nesta sexta (16) para marcar sua posição no combate às mudanças climáticas. O dirigente Xi Jinping se reuniu com os líderes de França e Alemanha, e o Ministério das Relações Exteriores chinês cobrou os EUA a tomarem medidas mais amplas para compensar a falta de ações nos últimos anos.

Os movimentos ocorrem poucos dias antes da reunião de cúpula sobre ambiente convocada pelo presidente americano Joe Biden, marcada para os dias 22 e 23 de abril.

Xi conversou, por vídeo, com o presidente da França, Emmanuel Macron, e como a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. O dirigente disse que a China está pronta para ampliar sua cooperação com os paises europeus nas questões ambientais, e defendeu que o tema não seja politizado.

"Responder às mudanças climáticas é uma causa comum para toda a humanidade e não deve se tornar uma moeda de troca geopolítica, um alvo de ataques de outros países ou uma desculpa para barreiras comerciais", disse Xi, segundo a agência estatal Xinhua.

O dirigente também falou em manter o engajamento na cooperação ambiental Sul-Sul, que busca a aproximação com países da África e da América Latina. E que seu governo está disposto a ajudar a acelerar a vacinação contra a Covid-19 no mundo.

Em nota após o encontro, Macron e Merkel disseram apoiar os planos de Pequim para reduzir as emissões de poluentes.

Também nesta sexta, Lijian Zhao, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse a repórteres que os americanos têm culpa no atraso do cumprimento das metas ambientais globais, pactuadas no Acordo Climático de Paris, em 2015.

"As autoridades dos EUA não devem esquecer da saída do Acordo de Paris em 2017. Seu retorno não é, de forma alguma, uma volta gloriosa, mas sim como a volta de um estudante que faltava nas aulas. Ele ainda tem que mostrar como irá compensar [o que não fez n]os últimos quatro anos", disse Lijian.

"Na governança ambiental global, há quem está contribuindo com ações concretas e quem busca interesses egoístas. O mundo tem tirado suas conclusões. Esperamos que os EUA encontrarão seu lugar e voltarão a cumprir com a lei internacional e o multilateralismo", acrescentou o porta-voz.

Lijian deu as declarações em uma entrevista coletiva, após um repórter pedir que ele comentasse uma crítica, atribuída a um funcionário americano anônimo, de que a China não estaria fazendo o suficiente para reduzir suas emissões.

A saída do Acordo de Paris foi feita pelo presidente Donald Trump. Ele defendia que a redução das emissões prejudicaria a economia americana. Os EUA voltaram ao Acordo de Paris em janeiro deste ano, no primeiro dia do governo de Joe Biden, que colocou o combate às mudanças climáticas como uma de suas prioridades.

Biden convocou uma reunião de cúpula sobre o clima para os dias 22 e 23 de abril, com líderes de 40 países. O encontro virtual propõe aos participantes que anunciem novas metas na área ambiental que sejam mais ambiciosas.

A expectativa é que os EUA se comprometam com uma nova meta de redução de emissões de carbono para 2030, que poderá ser o dobro da anterior. O Brasil deve falar na sessão de abertura, assim como a China. Cada representante terá três minutos para se pronunciar.

O presidente americano considera a reunião de abril um caminho preparatório para a Conferência do Clima das Nações Unidas (ONU), a COP26, marcada para novembro em Glasgow, na Escócia.

O esforço das cúpulas é catalisar o trabalho conjunto dos países para conter o aquecimento global a um limite de 1,5 °C. Biden quer mobilizar financiamento público e privado para impulsionar a transição energética internacional e ajudar nações vulneráveis a lidar com impactos climáticos.

A China é atualmente o maior gerador de gases do efeito estufa. Em 2020, Xi anunciou que o país planeja atingir o pico de suas emissões antes de 2030 e, depois, atingir a neutralidade nas emissões de carbono até 2060. Os EUA são a segunda nação mais poluente do planeta.

A conversa com os líderes europeus e as declarações do porta-voz ocorreram ao mesmo tempo em que John Kerry, assessor especial para o clima do governo dos EUA, está em Xangai para uma reunião com Xie Zhenhua, que tem cargo similar.

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Goiânia discute estratégias para adaptação urbana às mudanças climáticas

Relatório do projeto Cidades Resilientes propõe ações para fortalecer a resiliência climática na capital goiana

Projeto propõe ações para fortalecer a resiliência climática na capital goiana

Projeto propõe ações para fortalecer a resiliência climática na capital goiana (Divulgação)

As mudanças climáticas chegaram para ficar. As chuvas intensas e as consequentes inundações e alagamentos, logo depois de uma das secas mais severas já registradas no centro-norte do Brasil, são evidência incontestável desse fato. Diante desse cenário, é urgente discutir estratégias de adaptação, especialmente para as áreas urbanas, aos impactos dessas mudanças do clima.

Para isso, o Instituto Iandé Verde e o IDESA, Instituto de Desenvolvimento 'Econômico e Socioambiental, em parceria com a Iniciativa Cerrados da Fundação Oswaldo Cruz e o Ciamb, Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFG, lançam o projeto Cidades Resilientes, com o objetivo de discutir os desafios das mudanças climáticas nas cidades e estratégias nesse sentido para Goiânia. A iniciativa tem o apoio da Prefeitura, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas, e foi viabilizada por uma emenda da vereadora Sabrina Garcez.

O projeto acaba de disponibilizar seu relatório preliminar, que compila o conhecimento científico atual sobre os impactos das mudanças do clima no Cerrado e faz um diagnóstico das vulnerabilidades ambientais e sociais de Goiânia para apontar os principais efeitos a serem enfrentados. De outro lado, traça um panorama das políticas e mecanismos existentes, bem como de suas lacunas, para sugerir estratégias a serem debatidas para a cidade. O documento pode ser baixado no site do projeto.

O relatório relembra eventos recentes, como os altos índices de poluição durante a última seca agravados pelas queimadas, para indicar que os maiores desafios de Goiânia possivelmente não se relacionam às chuvas - embora elas também imponham ações de adaptação -, mas sim à estiagem, à possibilidade de escassez de água e aos impactos sobre a saúde trazidos pela baixa umidade e pela poluição do ar.

O documento aponta também que esses eventos impactam de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, especialmente em áreas periféricas, onde fatores sociais, ambientais e climáticos se somam para agravar diretamente problemas relacionados aos direitos humanos.

Nesse sentido, o geógrafo e cientista ambiental Pedro Novaes, um dos coordenadores do projeto, explica que "não cabe falar em desastres naturais diante desses desafios; os efeitos de eventos climáticos são resultado da soma de riscos naturais, como esses agora trazidos pelo aquecimento global, à vulnerabilidade de determinados grupos sociais e indivíduos, em função de sua exposição a esses riscos gerada por fatores econômicos e sociais. Por isso, os impactos tendem a ser muito mais severos sobre os mais pobres", aponta.

A iniciativa alinha-se a pactos globais, como o Acordo de Paris e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, e considera o papel central dos governos locais no cumprimento dessas metas. Com base nesses princípios, o documento propõe ainda caminhos para que Goiânia se sintonize às políticas e redes de financiamentos globais dedicadas ao enfrentamento da crise climática.

Entre as medidas sugeridas, estão a criação de um órgão na Prefeitura para coordenar as ações ligadas à mudança do clima, a elaboração de um plano municipal de mudanças climáticas, a criação de uma rede de monitoramento e alerta para a poluição do ar e a revisão do Plano Municipal de Saneamento, entre outras.

Com foco em consolidar uma política de resiliência, o projeto se concluirá com a realização, entre os dias 25 e 26 de novembro, do Fórum Goiânia Resiliente para debater o relatório e discutir estratégias de adaptação para a cidade.

O evento acontecerá no auditório do IESA, no Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG), e contará com especialistas e gestores públicos de diferentes partes do país, com o intuito de catalisar a necessária mudança estrutural na forma como Goiânia lida com os desafios climáticos.

A expectativa é a de entregar o relatório para o prefeito eleito Sandro Mabel e de que o projeto sirva como ponto de partida para um compromisso permanente da cidade com a sustentabilidade e a proteção dos direitos de todos os seus habitantes diante dos desafios climáticos. O evento será aberto e a programação preliminar já está disponível.

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'Globo Repórter' mostra vítimas de tragédias climáticas

Modificado em 17/09/2024, 15:56

'Globo Repórter' mostra vítimas de tragédias climáticas

(Divulgação)

Os eventos climáticos extremos, com enchentes históricas, secas, incêndios florestais recordes e ondas de calor, têm afetado milhares de pessoas no País. Mas também têm trazido à tona um lado especial do brasileiro, o da solidariedade. O "Globo Repórter" desta sexta-feira (17) vai ao encontro de pessoas que, assim como a população do Rio Grande do Sul, já passaram por tragédias climáticas, foram salvas, receberam ajuda e, agora, estendem a mão para o povo gaúcho. Os repórteres Graziela Azevedo, Pedro Bassan, João Mota, Bette Lucchese e Beatriz Castro contam histórias de projetos e pessoas que estão se mobilizando de norte a sul para ajudar os afetados pelas enchentes e formam, hoje, uma grande corrente do bem.

Desde a grande inundação no Rio Grande do Sul, as cidades que cresceram às margens do Rio Taquari estão pedindo socorro, mas uma onda de solidariedade está unindo o País para salvar e resgatar as pessoas que ficaram isoladas. A repórter Graziela Azevedo acompanha a chegada de um grupo que sai de Santa Catarina levando vassouras, rodos e muita vontade de ajudar a limpar a cidade de Muçum. Em Roca Sales, pequenos produtores rurais levam tratores para tirar a lama das ruas. O programa registra momentos comoventes em meio ao cenário desolador das casas destruídas pela terceira vez, desde setembro do ano passado.

No Morro do Espelho, em São Leopoldo, uma corrente formada por jovens estudantes alimenta e aquece quem está desabrigado. O repórter Pedro Bassan vai até o grêmio estudantil de um colégio que tem um departamento permanente de voluntariado onde alunos, ex-alunos, pais e professores se uniram e estão fazendo 600 marmitas e lanches todos os dias com recursos que recebem da comunidade escolar. A comida é levada para os desabrigados que estão em entidades próximas ao colégio. São Leopoldo tem hoje parte da cidade inundada e o Morro do Espelho se tornou um oásis de segurança e solidariedade.

"O que mais me impressionou foi ver que as pessoas têm a consciência de que a vida delas mudou para sempre, seja porque elas perderam tudo e vão ter de recomeçar do zero, seja porque elas perderam o próprio vínculo emocional com a casa delas. O que eu testemunhei foi uma ruptura das pessoas com a vida que elas viviam antes. Nada vai ser igual daqui para frente. Ao mesmo tempo, é importante ver o quanto isso aproxima as pessoas e cria laços. E as pessoas se unem para ajudar as outras. Foi um sentimento de que, se o outro não está bem, eu também não estou bem. Esse sentimento de estar bem é coletivo, não é cada um por si. Não existe mais um, existe o nós", conta ele.

Em 2023, um temporal devastou a cidade de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Na ocasião, as chuvas provocaram forte estrago na Vila do Sahy, bairro periférico localizado na encosta da Serra do Mar, em que muitas crianças foram atingidas. O repórter João Mota, da TV Vanguarda, que cobriu a tragédia na época, foi ao encontro de crianças que passaram por esse momento difícil e hoje se mobilizam para mandar um pouco de esperança para as crianças do Sul. "Acompanhando a vida deles nesse tempo todo, me impressiona como o fato forçou uma maturidade imensa nos que mal começaram a vida. Tudo aconteceu na frente deles. Atualmente, com apoio psicológico e ainda muito sensibilizados com o assunto, eles já voltaram aos estudos e, tendo passado por aquilo tudo, hoje mandam uma mensagem ao Sul do País baseado no que viveram: é difícil, mas tudo passa", conta João.

Após fortes chuvas na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, em 2010, um grande deslizamento de terra atingiu centenas de pessoas no Morro do Bumba. No mesmo ano, outra tragédia atingiu o Rio de Janeiro, dessa vez no Morro dos Prazeres, em Santa Tereza. No programa desta sexta-feira, a repórter Bette Lucchese acompanha um bombeiro aposentado que, além de ter trabalhado salvando vidas, cuida de moradores de rua, distribui comida e agora faz a ponte entre doadores e os postos de recolhimento da Ação da Cidadania. Bette também vai a Petrópolis reencontrar sobrevivente da tragédia que está tentando reconstruir a vida e conseguiu montar uma nova casa graças às doações.

As mensagens de força e esperança para o Rio Grande do Sul chegam de todas as regiões do Brasil. No Nordeste, a repórter Beatriz Castro encontra uma sobrevivente do maior desastre climático de Pernambuco, em 2022, onde temporais provocaram deslizamentos de terra e milhares de pessoas ficaram desabrigadas. Cleide Silva era moradora de área de risco e perdeu tudo.

À repórter, ela diz ser grata à pessoa que a salvou e acredita que o povo do Sul também vai conseguir se reerguer. Cleide conseguiu refazer a vida e voltou a estudar. "As pessoas que viveram a tragédia em Pernambuco se identificam muito com as que estão no Sul. Eles sabem que só o tempo vai acalmar o coração, mas é preciso ter muita resiliência. Muitos deles, até hoje, ainda vivem com as doações que receberam na época. Vamos mostrar como as pessoas aprenderam a ressignificar a maior tragédia de suas vidas em um recomeço, a partir da força da solidariedade", afirma Beatriz.

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Botos são deslocados no Amazonas para evitar morte por superaquecimento de água

Modificado em 19/09/2024, 01:17

Botos são deslocados no Amazonas para evitar morte por superaquecimento de água

(Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá)

TEFÉ, AM (FOLHAPRESS) - A enseada de Papucu, um lugar rico em peixes, bem próximo do porto de Tefé (AM), atrai dezenas de botos vermelhos -os botos cor de rosa, como são popularmente conhecidos- e tucuxis -uma espécie com menor porte. A comida é farta, e os botos aparecem lá invariavelmente.

O último sábado (14) foi o dia de um movimento que nunca havia sido feito, que ninguém da região diz ter ciência de ter presenciado, mesmo que parecido: a retirada dos botos da enseada.

Os cientistas querem os botos vivos, e por isso decidiram deslocar esses animais na enseada de Papucu. Foi ali que, em meio a uma seca severa e histórica na região do médio rio Solimões, com encolhimento agressivo do lago Tefé e transformação da paisagem, a água superaqueceu e bateu quase 40°C.

Quando a água, em processo de vazante, começava a esquentar além do aceitável, morreram os primeiros botos. Em 28 de setembro, dia de recorde da temperatura na enseada, com 39,1°C, ocorreram 70 mortes. Os óbitos de machos, fêmeas, filhotes, jovens e adultos prosseguiram -foram mais de 140 ao todo.

Carcaças eram encontradas pelo lago Tefé. Na linha de frente passaram a atuar pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, sediado em Tefé e voltado a atividades de pesquisa e manejo na Amazônia. O instituto tem um grupo de pesquisa de mamíferos aquáticos amazônicos, liderado pela pesquisadora Miriam Marmontel.

Mesmo com a interrupção da mortandade, a situação evoluiu para uma emergência ambiental. Não se sabe a causa das mortes; pesquisadores não descartavam hipóteses como contaminação por patógenos ou toxinas e tinham dificuldades em enviar amostras coletadas para análise em Manaus e São Paulo; o lago é a alma de Tefé e é bastante usado pela população para banho e recreação.

Por isso, o monitoramento dos botos passou a envolver a área de emergência ambiental do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Agentes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) apoiam as ações.

Passadas duas semanas da mortandade, a hipótese mais provável para o que ocorreu é o superaquecimento das águas do lago Tefé, especialmente na enseada de Papucu.

Pesquisadores notaram que parte dos animais tinha o estômago vazio, apesar da abundância de peixes. É provável que tenham necessitado de um gasto maior de energia para regulação da temperatura corpórea. Esse processo pode ter provocado aumento de pressão sanguínea e alteração cerebral.

"Não se pensava em efeito da temperatura em mamíferos aquáticos", afirma Ayan Fleischmann, pesquisador na área de geociências no Instituto Mamirauá, em referência ao desconhecimento sobre o que ocorreu no Papucu. "Tudo bate com alta temperatura."

Diante das evidências, ninguém envolvido com a operação dos botos, como Fleischmann, quer voltar a presenciar o que ocorreu nos últimos dias de setembro. A própria comunidade local foi impactada pelas mortes desses golfinhos de água doce.

Foi assim que, depois de muita discussão entre os cientistas e servidores envolvidos, chegou-se a uma solução provisória e radical: os botos e tucuxis precisam sair da enseada onde a temperatura bateu os quase 40°C, diante da perspectiva de prolongamento da estiagem -o lago segue descendo, perdendo volume, com baixas de 3 a 6 cm.

Na boca da enseada, estacas de madeira foram instaladas de lado a lado, em formato de V. Uma abertura foi mantida no meio da grade armada, para passagem dos botos.

Com tanta comida no Papucu, a saída dos animais não seria espontânea. Assim, na manhã deste sábado, depois de muita discussão sobre o melhor procedimento a ser adotado, funcionários do Mamirauá começaram a conduzir a passagem de uma rede pela enseada, de modo a empurrar os botos até a saída.

A rede era armada e arrastada, seguida de uma "zoada" -um barulho com a corda e a própria rede na água- para impedir o retorno dos animais. Mais abaixo, era recolhida e armada de novo, até a grade.

A primeira tentativa falhou. Os botos escaparam já próximos às estacas. À tarde, as equipes de Mamirauá, ICMBio e Ibama envolvidas na operação repetiram o procedimento, evitando as brechas, e parte dos botos seguiu o curso desejado pelos pesquisadores, em busca de poços mais profundos e frios.

A passagem da cerca foi fechada para concluir a operação. É um procedimento novo, delicado e que será rediscutido e avaliado ao longo dos dias.

A estimativa é que a enseada tinha de 20 a 30 animais. Em todo o lago Tefé, a população chegava a 900 botos e 500 tucuxis. Assim, a perda de animais representou uma perda de 10% dessa população.

"Se de fato foi hipertermia, o que nos espera nos próximos anos?", questiona Fleischmann. "O boto é um indicador de uma tragédia maior."

Cláudia Sacramento, chefe da divisão de emergência ambiental do ICMBio, enviada a Tefé, diz que "foi assustador chegar e ver tudo aquilo". "Os bichos estavam bem, mas agonizando."

A condução dos botos que ficam na enseada para pontos mais profundos e resfriados do lago permitirá melhor acesso aos animais, caso ocorra uma nova crise, segundo Sacramento. "Se ocorre algo, a gente não consegue nem acessá-los. Eles podem se afogar no seco."

No fim da manhã de sábado, o termômetro colocado na enseada de Papucu, bem próximo da cerca montada com estacas, marcava 30,5°C. O lugar tinha 2 metros de profundidade.

Uma chuva fina caiu sobre Tefé por três dias seguidos. Foi o suficiente para resfriar o lago. Mas o futuro da estiagem -e dos botos e tucuxis da Amazônia- é uma incógnita.

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Cientistas encontram crânio de 300 mil anos diferente de qualquer espécie

Modificado em 19/09/2024, 00:49

O crânio achado na China

O crânio achado na China
 (Xiujie Wu/National Research Center on Human Evolution)

Pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências encontraram um crânio de 300 mil anos que é considerado diferente de qualquer outro fóssil de hominídeo já encontrado.

A descoberta revela evidências da existência de uma linhagem humana até então desconhecida, diferente das já conhecidas dos neandertais, denisovanos e Homo-sapiens (humanos modernos). O estudo foi publicado na revista científica Journal of Human Evolution.

Pesquisadores de China, Espanha e Reino Unido desenterraram o conjunto de ossos, mais especificamente a parte cranial e mandibular, na região de Hualongdong, em 2015, junto de outras 15 espécimes do período do Pleistoceno Médio -de 82.800 a 355 mil anos atrás.

Os cientistas determinaram que o fóssil, que recebeu a identificação HLD 6, era de uma pessoa com idade entre 12 e 13 anos. Uma avaliação determinou que a anatomia de HLD 6 é "inesperada"

O HLD 6 tem características parecidas com a dos humanos modernos. Outras, como a falta de um "queixo verdadeiro" e a curvatura do osso, apontam similaridades com os Denisovanos, que se ramificaram dos neandertais há quase 400 mil anos.

Novas investigações devem ser feitas para confirmar que de fato HLD 6 pertence a um grupo único na linhagem evolutiva humana, disseram autores do estudo