'Bebê de incesto': Mãe que levou filha morta para o hospital tinha relação com o pai desde os 15 anos, diz delegado
Pai e filha mantinham relacionamento amoroso, resultando em duas crianças que apresentavam deficiência devido ao incesto, segundo a polícia
Bárbara Ferreira
2 de dezembro de 2024 às 21:25

Câmeras de segurança mostram família na recepção do hospital, em Campinorte (Divulgação/Polícia Civil)

Câmeras de segurança mostram família na recepção do hospital, em Campinorte (Divulgação/Polícia Civil)
A mãe que levou a filha de dois meses morta a um hospital de Campinorte, no norte goiano, tinha relações sexuais com o próprio pai desde os 15 anos, segundo o delegado do caso, Peterson Amin. Ele afirma que a menina é fruto da relação incestuosa. A mãe está em prisão domiciliar e o homem, que também era suspeito, morreu após confronto policial, de acordo com a PC. O caso segue em investigação.
Segundo o delegado, quando as relações entre pai e filha começaram, ela não oferecia resistência física, mas havia "sempre uma ameaça velada" da parte dele. "Não é que ela queria, mas ela não oferecia resistência. Ela tinha a reserva mental mas não oferecia nenhum tipo de resistência física. Com o tempo, foi ficando mais frequente", explicou Peterson.
O delegado ainda disse que houve coação de fato quando ele se mudou para Campinorte, e a teria ameaçado de morte para que fosse com ele. "Falou que se ela não viesse, ele ia matar ela e ia matar o pessoal da família dela. Ela disse que ele tinha muito ciúme dela, que ela não podia fazer nada, que ele tinha que estar em todos os lugares que ela ia", afirmou Peterson.
O caso não deve ser tratado como estupro porque, quando as relações iniciaram, ela tinha mais de 14 anos e também porque o homem morreu e não vai ser indiciado por nenhum crime. Neste caso, a investigação trata sobre a morte da criança. Conforme o delegado, testemunhas relataram que a vida da família parecia normal, e que nunca presenciaram agressões contra a bebê ou contra a outra filha do casal.
A Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO), que estava na defesa da mulher, informou que representou a suspeita durante a audiência de custódia, mas deixou o caso "por se tratar de comarca onde a DPE-GO não está instalada de forma permanente" (veja a nota completa no final da matéria).
Prisão domiciliar
A prisão em flagrante ocorreu no último sábado (30). Após audiência de custódia, realizada no mesmo dia, a justiça homologou a prisão preventiva e a converteu em domiciliar. A decisão foi cumprida no domingo (1º).
Na audiência, o defensor da suspeita alegou que a mulher é mãe de uma menina autista, réu primária, além de ter residência fixa. O juiz Breno Gustavo Gonçalves entendeu que, embora haja provas sobre a violência sofrida pela criança que resultou na morte, ainda há necessidade de mais investigações para avaliar a dinâmica dos fatos.
O magistrado considerou ainda que a mulher demonstrou "intenso e palpável sofrimento com o ocorrido, externando desde o primeiro momento profunda comoção pela perda da filha" e que não houve tentativa de ocultar o corpo da bebê. Além disso, o juiz afirmou que a prisão convencional privaria a criança autista dos cuidados "imprescindíveis de sua única cuidadora, podendo agravar sua condição de vulnerabilidade".
Como medidas cautelares, a mãe terá que se manter dentro de casa, podendo sair somente com autorização judicial. O mesmo ocorre em casos de acompanhamento em consultas médicas ou terapias à filha autista.
Politraumatismo

Durante exames, médicos identificaram várias marcas arroxeadas pelo corpo da bebê (Reprodução/Polícia Militar )
A bebê morreu após sofrer politraumatismo , segundo o delegado Peterson Amin. O investigador informou que o diagnóstico foi feito após exame de corpo de delito. Conforme informações do processo judicial, a causa da morte foi por traumatismo cranioencefálico com sinais de politraumatismo.
O exame pericial apontou múltiplas lesões no corpo da criança, como lesões na cabeça, pescoço, tórax até a região lombar e nádega esquerda e vermelhidão na região dos dois braços.
Entenda o caso
De acordo com a Polícia Civil (PC), a mulher deu entrada no hospital na madrugada de sexta-feira (29). Na ocasião, ela explicou que a menina tinha engasgado. No entanto, durante exames, os médicos identificaram diversas marcas arroxeadas pelo corpo da bebê . Desconfiados, os médicos acionaram a polícia.
Segundo o delegado, uma perícia de corpo de delito foi realizada e concluiu que a bebê morreu em função de uma ação "externa e contundente", ou seja, causada por alguém que lhe deu pancadas, golpes ou outro tipo de impacto físico. A mãe da bebê foi encaminhada para a delegacia suspeita pelo crime.
Durante depoimento, a mulher teria afirmado à polícia que morava sozinha e acordou com a filha já morta, a levou imediatamente ao hospital. Porém, quando a polícia verificou as imagens de câmeras de seguranças da unidade de saúde, constatou que ela chegou na unidade acompanhada de um homem e de sua filha mais velha.
Incesto
A polícia informou que, ao ser questionada sobre o homem, a mulher teria alegado que ele era primo dela, mas a polícia descobriu que, na verdade, o homem era pai dela, e os dois moravam juntos. "Durante as investigações, nós apuramos que essa mulher não agiu sozinha, ela morava com um homem na casa e, durante as oitivas, nós identificamos que esse homem, na verdade, seria pai dela", explicou o delegado Peterson Amin.
Testemunhas ouvidas pela polícia confirmaram que a mulher e o pai mantinham um relacionamento amoroso, resultando nas duas crianças que, de acordo com polícia, apresentavam deficiência devido ao incesto. O homem não teve o nome registrado nas certidões das filhas.
Morte em confronto

Homem foi baleado durante confronto com a polícia (Reprodução/ Polícia Civil)
A polícia informou que encontraram o homem escondido em uma chácara na zona rural de Campinorte, portando uma arma calibre ponto 22. Os policiais afirmam que, ao tentar abordá-lo, ele reagiu atirando. Com isso, a equipe revidou e atingiu o suspeito. Ele não resistiu e morreu. Segundo o delegado, existia uma mandado de prisão em aberto contra o homem por um crime de feminicídio praticado na Bahia. A vítima seria a ex-esposa dele.
Veja a nota da DPE-GO
"A Defensoria Pública do Estado de Goiás, cumprindo seu dever legal e constitucional de garantir a defesa de pessoas que não tenham condições de pagar por um profissional particular, informa que representou a investigada durante a audiência de custódia, ocasião em que lhe foi concedida a prisão domiciliar.
A partir disso, por se tratar de comarca onde a DPE-GO não está instalada de forma permanente, ocorre sua desabilitação no processo. Assim, será oportunizado prazo para o acusado constituir sua defesa ou que haja nomeação pelo juízo."