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Biden expulsa diplomatas russos e impõe sanções a Moscou por interferência em eleições

Região anexada pela Rússia em 2014 tem sido palco de movimentações militares recentes que acentuaram os sinais de uma crise diplomática

Folhapress

Modificado em 21/09/2024, 01:22

Joe Biden

Joe Biden (Reprodução/Instagram)

O governo do presidente Joe Biden anunciou nesta quinta-feira (15) a expulsão de dez diplomatas russos dos EUA e a imposição de novas sanções econômicas contra Moscou, em resposta à interferência de Kremlin nas eleições americanas e às operações de hackers de países em agências governamentais e empresas privadas.

Segundo o anúncio da Casa Branca, os EUA impuseram sanções contra 32 entidades e indivíduos russos por campanhas de desinformação com o objetivo de interferir nas eleições presidenciais de 2020, em que Biden foi eleito ao derrotar o republicano Donald Trump.

O governo americano também se juntou a União Europeia, Reino Unido, Austrália e Canadá e anunciou medidas contra oito pessoas e entidades associadas à ocupação russa na Crimeia, exigindo que o país de Vladimir Putin "cesse imediatamente seu acúmulo militar e retórica inflamada".

A região anexada pela Rússia em 2014 tem sido palco de movimentações militares recentes que acentuaram os sinais de uma crise diplomática envolvendo Moscou, Washington, Kiev e a Otan (a aliança militar liderada pela Casa Branca).

"O governo Biden deixou claro que os Estados Unidos desejam um relacionamento estável e previsível com a Rússia. Não achamos que precisamos continuar em uma trajetória negativa", diz o comunicado divulgado pela Casa Branca. "No entanto, também deixamos claro ---pública e privadamente--- que defenderemos nossos interesses nacionais e imporemos custos para as ações do governo russo que buscam nos prejudicar."

Além das acusações de interferência nas eleições, os EUA acusam a Rússia de se envolver em "atividades cibernéticas maliciosas", usar a "corrupção transnacional" para inflluenciar outros governos, agir contra dissidentes e jornalistas, minar a segurança países e regiões aliadas dos americanos e "violar princípios consagrados do direito internacional".

Biden também assinou um decreto em que instrui o Tesouro americano a proibir instituições financeiras dos EUA de participarem de negociações envolvendo novos títulos públicos que sejam emitidos pela Rússia a partir de 14 de junho.

Os títulos públicos são um mecanismo usados por governos em todo o mundo para se financiarem. Assim, a medida anunciada por Washington tem como objetivo declarado asfixiar economicamente a Rússia, algo que as sanções já impostas anteriormente foram incapazes de conseguir.

A ordem executiva ainda designa como alvos seis empresas russas que teriam dado suporte a ataques cibernéticos orquestrados pelo serviço de inteligência de Putin. Esta foi a primeira vez em que o governo americano acusou formalmente o Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia (SVR) pelo ataque, no passado, à empresa de software SolarWinds.

Considerada uma das ações de espionagem cibernética mais audaciosas de que se tem notícia, a inserção de vírus em aplicativos da SolarWinds permitiu que hackers se infiltrassem em órgãos do governo americano e empresas do porte da Microsoft, o que pode levar ao roubo de informações secretas por um longo período.

O conjunto de sanções também é apontado pelo governo Biden como uma resposta aos relatórios da inteligência americana que acusam a Rússia de ter oferecido recompensas ao Taleban para matar tropas da coalizão liderada pelos EUA no Afeganistão. Nesta quarta-feira (14), Biden divulgou um plano para a retirada de soldados americanos e da Otan do país e "acabar com esta guerra eterna".

Antes mesmo do anúncio, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, adiantou que Moscou consideraria ilegais as sanções impostas pelos EUA e que reagiria com base no princípio da reciprocidade, respondendo na mesma moeda.

Após tomar conhecimento das novas medidas, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, disse que as sanções contradizem o desejo declarado de Biden de normalizar os laços com Moscou.

"Advertimos repetidamente os Estados Unidos sobre as consequências de seus passos hostis, que aumentam perigosamente a temperatura do confronto entre nossos dois países", disse Zakharova, durante entrevista coletiva.

"Esse comportamento agressivo sem dúvida receberá uma rejeição decisiva. Precisamos reconhecer que alguém precisa pagar pela degradação em nossas relações bilaterais. A responsabilidade pelo que está acontecendo é inteiramente dos Estados Unidos."

A porta-voz disse ainda que o embaixador dos EUA em Moscou, John Sullivan, já havia sido convocado para consultas no Ministério das Relações Exteriores. "Eu dificilmente teria dito isso antes, mas posso dizer agora: não será um encontro agradável para ele", afirmou.

Na última terça-feira (13), Biden e Putin conversaram por telefone para, segundo o Kremlin e a Casa Branca, tratarem piora da crise envolvendo as atividades militares em torno da Ucrânia. Na ocasião, o americano alertou que os EUA agiriam para proteger seus interesses, mas também levantou a perspectiva de uma reunião de cúpula entre os dois líderes.

Ainda não está claro quando ---ou se--- essa reunião vai acontecer, mas o anúncio das novas sanções se estabelece como um obstáculo nas relações entre os dois presidentes, que já vinham protagonizando altercações desde que Biden tomou posse, em janeiro.

No mês passado, durante entrevista à emissora ABC, Biden prometeu que Putin sofreria as consequências das ações contra os EUA e, ao ser questionado se considerava o líder russo um assassino, assentiu e disse que sim.

Putin, por sua vez, reagiu com ironia. "Sempre observamos nos outros nossas próprias qualidades e pensamos que eles são iguais a nós", disse, antes de propor um debate ao vivo com seu homólogo americano ---algo que parece longe de acontecer.

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ATRITOS ENTRE EUA E RÚSSIA NOS ÚLTIMOS ANOS

Interferência nas eleições

Agências de inteligência dos EUA concluíram que a Rússia interferiu na campanha presidencial de 2016, com o objetivo de eleger o republicano Donald Trump. Moscou teria envolvimento no ataque contra o email da então candidata democrata, Hillary Clinton, e no vazamento das informações confidenciais. O Kremlin nega todas as acusações.

Já no pleito de 2020, as agências de inteligência americanas produziram um relatório no qual afirmam que o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou esforços para interferir na campanha presidencial americana em benefício de Trump, operação que contou com ações de inteligência para influenciar pessoas próximas ao agora ex-presidente e para prejudicar a imagem de Joe Biden.

Ataques hackers

Doze agentes de inteligência russos foram acusados de promoverem um ataque hacker aos computadores do Partido Democrata e da campanha de Hillary em 2016. Segundo denúncia do Departamento de Justiça, que isentou a campanha do republicano de ter se aliado à Rússia, eles trabalhavam para o GRU, o departamento central de inteligência do governo Putin.

Os agentes chegaram, sem sucesso, a tentar invadir os sistemas dos órgãos eleitorais que comandam a votação nos estados americanos. Em um deles, os russos conseguiram roubar nomes, endereços, data de nascimento e número de documento de 500 mil eleitores.

No fim de 2020, o governo Trump reconheceu que hackers agindo sob comando de um governo estrangeiro ---provavelmente uma agência de inteligência russa, de acordo com especialistas federais e privados--- invadiram uma série de redes governamentais, incluindo as dos departamentos de Tesouro e do Comércio, e tiveram livre acesso aos seus sistemas de email.

Sanções no caso Alexei Navalni

O governo Biden anunciou no mês passado, sanções contra autoridades acusadas de tramar a prisão de Alexei Navalni, opositor russo detido assim que voltou à Rússia após tratar-se por 150 dias na Alemanha. As medidas incluem o banimento de viagem aos EUA e o congelamento de bens no exterior.

O grupo inclui o diretor do Serviço Federal de Segurança, apontado pela Casa Branca como responsável pelo envenenamento de Navalni, dois ministros-adjuntos da Defesa, dois responsáveis por política doméstica do Kremlin, o procurador-geral e o administrador do Serviço Penitenciário Federal, Alexander Kalachnikov.

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Ucrânia aceita cessar-fogo; EUA dizem que bola está com Putin

É a primeira vez, em pouco mais de três anos de conflito, que um dos lados aceita uma trégua para discutir a paz

Modificado em 11/03/2025, 17:33

Imagem ilustrativa da bandeira da Ucrânia

Imagem ilustrativa da bandeira da Ucrânia (Reprodução/Pixabay)

Após nove horas de reunião na Arábia Saudita nesta terça (11), negociadores da Ucrânia e dos Estados Unidos divulgaram um comunicado segundo o qual Kiev se compromete a aceitar um cessar-fogo na guerra com a Rússia em troca do início de negociações de paz.

É a primeira vez, em pouco mais de três anos de conflito, que um dos lados aceita uma trégua para discutir a paz. Negociações entre Moscou e Kiev ocorreram antes, mas foram abortadas logo no começo do conflito, e houve uma frágil pausa em combates no Natal ortodoxo de 2023.

Falando a repórteres, o pai da oferta, Donald Trump, disse estar otimista. "Acho que teremos um cessar-fogo nos próximos dias", afirmou, dizendo que deverá ligar para o presidente russo, Vladimir Putin. "São precisos dois para dançar um tango", resumiu.

Pouco antes, seu secretário de Estado, Marco Rubio, havia adotado a mesma linha "A bola está com a Rússia. O melhor gesto de boa vontade que os russos podem ter é aceitar o acordo", afirmou ele, que liderou a delegação americana.

"A Ucrânia expressa prontidão em aceitar a proposta americana para decretar um cessar-fogo provisório de 30 dias, que pode ser estendido por acordo mútuo entre as partes, e que está à disposição para aceitação e implementação pela Rússia", diz o comunicado conjunto do encontro.

Segundo o texto, "os EUA irão comunicar a Rússia, e a reciprocidade russa é a chave para chegar à paz". Em um vitória para Kiev após semanas sendo bombardeada politicamente por Trump, "os EUA irão levantar imediatamente a pausa no compartilhamento de inteligência e retomar a assistência de segurança à Ucrânia".

"A Ucrânia aceita essa proposta, nós a consideramos positiva e estamos prontos para dar esse passo. A Ucrânia está pronta para a paz", disse o presidente Volodimir Zelenski em um comunicado à parte. Até a semana passada, ele era chamado por Trump e por Rubio de alguém que não queria encerrar o conflito.

Zelenski estava em Jeddah, onde encontrou-se com o príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman, mas sua delegação foi encabeçada pelo chefe de gabinete, Andrii Iermak. Ao fim do encontro, o poderoso auxiliar publicou que as conversas "haviam sido muito produtivas".

Os reais termos de acordo ainda não são conhecidos. Antes do encontro, Rubio havia deixado claro que Kiev não poderia contar com suas fronteiras anteriores a 2014, quando Vladimir Putin anexou a Crimeia. Hoje, o russo domina 20% do país.

Questionado por repórteres acerca do tema das garantias de segurança de longo prazo para manter a paz, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Mike Waltz, disse que o tema foi discutido, sem dar detalhes. Trump quer empurrar isso para a Europa, aliás ausente em Jeddah, mas na prática ninguém sabe o que fazer: uma força de paz ocidental é rejeitada hoje pelo Kremlin.

Também nada se sabe ainda sobre o acordo de exploração de minerais estratégicos ucranianos, que havia sido negociado e depois suspenso quando Zelenski e Trump bateram boca na Casa Branca, na sexta retrasada (28). A expectativa é de que o acerto seja retomado: após o anúncio na Arábia Saudita, o americano disse que irá convidar o ucraniano a voltar a Washington.

MOSCOU VAI SER INFORMADA DE TERMOS

A única manifestação em Moscou foi da chancelaria, que disse de forma lacônica "que não descartamos contatos com os americanos nos próximos dias", um tom abaixo do "seremos informados pelos EUA" de mais cedo.

Antes também, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, havia alertado a políticos do país empolgados com o alinhamento da Casa Branca à Rússia no conflito que "não colocassem óculos com lentes róseas". "É sempre bom esperar pelo pior", disse.

Se foi presciente acerca do encontro em Jeddah, duas semanas após uma delegação de Moscou se encontrar com o mesmo Rubio e outros negociadores em Riad, a capital saudita, ainda não se sabe, mas o tom geral nesta terça parecia na superfície favorável a Zelenski.

O próprio Rubio buscou tirar a impressão de vaivém do chefe, que vem sendo criticado mesmo nos EUA por sua proximidade com a visão de Putin do conflito. "Isso é coisa séria. Não é 'Meninas Malvadas', não é algum episódio de alguma série de TV. isso é bem sério", afirmou, citando uma comédia adolescente de costumes.

Particularmente ruim para Moscou é a volta da assistência, embora seus termos também não tenham sido divulgados, logo depois de Kiev tentar mostrar força com o maior ataque de Kiev na guerra.

KIEV FEZ MAIOR ATAQUE HORAS ANTES DA REUNIÃO

Ele ocorreu poucas horas antes do encontro, com o envio de 343 drones contra diversas regiões russas. O foco em Moscou deixou três mortos perto da capital, a segunda ocorrência do tipo até aqui.

O duro ataque visava passar uma mensagem de força em um momento de pressão militar e política extrema sobre a Ucrânia, com Kiev talvez acreditando que Trump só entenda a linguagem da força.

O momento é péssimo em campo para a Ucrânia, não só pelas perdas territoriais no leste para os russos, mas pelo avanço de Moscou na retomada da região de Kursk, invadida por Zelenski para servir de ficha de barganha em negociações. Nesta terça, a Rússia anunciou ter reconquistado 100 km2, deixando Kiev com menos de um quarto do que havia dominado em agosto passado.

Quando foi à Casa Branca, na sexta retrasada, Zelenski falou grosso sobre o alinhamento de Trump com Putin acerca dos motivos da guerra e, em troca, recebeu uma descompostura pública inédita para um presidente.

A crise já vinha cozinhando desde o dia 12 de fevereiro, quando o americano ligou para o russo e começou um processo de negociação bilateral sem Kiev ou a Europa. Houve vaivéns e Rubio chegou com palavras relativamente suaves à Arábia Saudita, que havia sido palco do primeiro encontro com os russos, há duas semanas.

Mas ele repetiu o que Trump vinha dizendo, por sua vez repetindo Putin: era preciso saber se Zelenski quer a paz. O ucraniano mostra que está disposto a lutar, mesmo que só com o apoio dos europeus, para não receber um prato feito pelos russos e americanos.

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Trump assina decreto preparando demissões em massa do governo dos EUA

Elon Musk e sua equipe avaliarão a folha de pagamento e decidirão que cortes serão feitos

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (Reprodução/Instagram)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto nesta terça-feira (11) ordenando que as agências do governo federal americano preparem um plano de demissões em massa a ser liderado pelo bilionário Elon Musk, à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês).

O texto diz que todos os órgãos federais devem se colocar à disposição de Musk e sua equipe, que avaliarão a folha de pagamento e decidirão que cortes serão feitos. Além das demissões, o decreto prevê novas contratações para cargos-chave -parte da iniciativa de Trump, discutida ainda na campanha eleitoral, de garantir que apenas pessoas leais a ele ocupem as posições mais importantes da burocracia americana.

O decreto, entretanto, estabelece que, para cada quatro servidores federais demitidos, as agências poderão contratar somente um novo trabalhador. A regra não vale para órgãos que lidem com segurança pública ou imigração, e as Forças Armadas não estão inclusas no plano de demissões.

O texto assinado por Trump diz ainda que todas as novas contratações devem ser feitas "em consulta com o chefe da equipe do Doge", Elon Musk, que decidirá ainda quais vagas devem ser permanentemente fechadas.

O Doge, que não é um departamento propriamente dito, foi criado por Trump para que Musk pudesse diminuir o tamanho do aparato estatal americano. Na prática, o bilionário vem usando seu poder para pressionar servidores federais a se demitir e fechar agências e programas que ele julga "de esquerda" ou desperdício de dinheiro -como a Usaid, de ajuda externa, hoje num limbo jurídico.

Em entrevista coletiva no Salão Oval da Casa Branca ao lado de Trump, Musk disse que os EUA irão à falência sem os cortes de gastos no governo federal propostos por ele. Foi a primeira vez que o bilionário conversou diretamente com a imprensa desde que se mudou para Washington para assumir o Doge.

O empresário disse que suas ações à frente da iniciativa buscam eliminar corrupção e fraude na burocracia, sem citar exemplos ou apresentar provas desses crimes. Segundo ele, seu objetivo principal é "restaurar a democracia". "Se a burocracia é quem manda, qual o sentido de falarmos em democracia?", perguntou.

Questionado por jornalistas, Musk descartou a ideia de que ele opera em uma zona jurídica cinzenta sem fiscalização, uma vez que não ocupa um cargo formal em uma agência estabelecida do governo americano. Segundo uma porta-voz da Casa Branca, o bilionário é um "trabalhador especial do governo".

Essa zona cinzenta é a lenha na fogueira dos processos judiciais em curso contra Musk e suas ações de cortes de gastos nos tribunais americanos. No sábado (8), um juiz proibiu que o bilionário e sua equipe do Doge tenham acesso ao sistema de pagamentos do Tesouro -uma decisão que Musk, Trump e o vice-presidente, J. D. Vance, criticaram fortemente nos últimos dias.

"A burocracia, que não é eleita, é o quatro Poder, e tem na verdade mais poder do que qualquer representante eleito", disse Musk nesta terça na Casa Branca -ele próprio uma das pessoas não eleitas mais poderosas do governo americano. "Ela não corresponde à vontade do povo."

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Papa Francisco afirma que deportações de Trump ferem dignidade de migrantes e vão acabar mal

O pontífice, que anteriormente já havia chamado de vergonhoso os planos do republicano em relação ao tema, disse que é errado assumir que todos os migrantes em situação irregular são criminosos.

Papa Francisco

Papa Francisco (REUTERS/Remo Casilli)

O papa Francisco condenou as medidas contra migrantes que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem empreendido em uma incomum carta aberta enviada nesta terça-feira (11) aos bispos católicos americanos.

"Tenho acompanhado com atenção a importante crise que está ocorrendo nos EUA devido ao início de um programa de deportações em massa", escreveu o papa na carta. O pontífice, que anteriormente já havia chamado de vergonhoso os planos do republicano em relação ao tema, disse que é errado assumir que todos os migrantes em situação irregular são criminosos.

"Exorto todos os fiéis da Igreja Católica (...) a não ceder a narrativas que discriminam e causam sofrimento desnecessário aos nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados", disse o pontífice. "O que é construído com base na força, e não na verdade sobre a igual dignidade de todo ser humano, começa mal e terminará mal.

O jesuíta vem defendendo repetidamente os direitos dos migrantes em seus quase 12 anos à frente da Igreja Católica. Em 2016, por exemplo, quando Trump ganhou as eleições para a Presidência dos EUA pela primeira vez, Francisco afirmou que o republicano não era cristão em suas opiniões sobre imigração.

No documento publicado nesta terça pelo Vaticano, o papa reconhece "o direito de uma nação se defender e manter suas comunidades seguras daqueles que cometeram crimes violentos ou graves enquanto estão no país ou antes de chegar".

Mas ao mesmo tempo, adverte que o "ato de deportar pessoas que em muitos casos deixaram sua própria terra por motivos de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou pelo grave deterioro do meio ambiente fere a dignidade de muitos homens e mulheres, de famílias inteiras".

"Esta questão não é menor: um verdadeiro Estado de Direito se verifica precisamente no tratamento digno que todas as pessoas merecem, especialmente os mais pobres e marginalizados", escreveu o papa. "Isso não impede a promoção da maturação de uma política que regule a migração de forma ordenada e legal. No entanto, a mencionada 'maturação' não pode ser construída por meio do privilégio de uns e do sacrifício de outros."

Após voltar ao poder, Trump emitiu uma série de ações executivas para redirecionar recursos militares ao esforço de deportação em massa e autorizou os agentes de imigração dos EUA a fazerem mais prisões, incluindo em escolas, igrejas e hospitais.

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Trump suspende tarifas sobre México por um mês após promessa de 10 mil soldados na fronteira

A decisão veio junto a uma promessa do governo mexicano de mobilizar 10 mil militares para a fronteira norte a fim de evitar o tráfico de drogas para os EUA

Trump suspende tarifas sobre México por um mês após promessa de 10 mil soldados na fronteira

A decisão veio junto a uma promessa do governo mexicano de mobilizar 10 mil militares para a fronteira norte, como forma de evitar o tráfico de drogas para os EUA, em particular do fentanil.

Em publicação no X (antigo Twitter), Sheinbaum disse que os EUA se comprometeram a "evitar o tráfico de armas de alto poder para o México". "Nossas equipes começarão a trabalhar hoje mesmo em duas frentes: segurança e comércio", escreveu a presidente mexicana.

No sábado (1º), Trump havia anunciado tarifas de 25% sobre todas as exportações do México e Canadá, acusando ambos os países de permitir o fluxo de migrantes irregulares e drogas para seu território. As barreiras comerciais passariam a valer a partir de terça (4).

Os EUA são o principal destino das exportações mexicanas, que têm se beneficiado do tratado de livre comércio da América do Norte.

O peso mexicano teve forte alta após o anúncio de Sheinbaum. O dólar virou para queda no início da tarde no Brasil.

Em publicação em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump confirmou a suspensão das tarifas e afirmou que os soldados mexicanos serão especificamente designados para interromper o fluxo de fentanil e migrantes ilegais para os EUA. "Acabei de falar com a presidente Claudia Sheinbaum do México. Foi uma conversa muito amigável", disse o presidente.

Segundo ele, durante o período de suspensão das tarifas, serão realizadas negociações com o país vizinho, lideradas pelo secretário de Estado Marco Rubio, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick.

"Estou ansioso para participar dessas negociações com a presidente Sheinbaum, enquanto tentamos alcançar um 'acordo' entre nossos dois países", publicou Trump.

No domingo, Sheinbaum já havia proposto uma mesa de diálogo com Trump sobre migração e narcotráfico, reiterando que as tarifas teriam efeitos "muito graves" para a economia americana, pois elevariam os preços dos produtos exportados do México.

Trump afirmou ter falado também com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e que conversaria novamente com ele ainda na tarde desta segunda. As tarifas sobre o Canadá e a China continuam programadas para entrar em vigor na terça-feira.

No domingo, Trump indicou que a União Europeia, composta por 27 nações, seria a próxima na linha de fogo, mas não disse quando.