Buscas por vítimas da queda de ponte são feitas a 40 metros de profundidade e com luz de lanternas, relatam bombeiros
Ponte JK desabou entre o Tocantins e Maranhão e deixou 12 mortos e cinco desaparecidos até a última atualização. Buscas devem ser retomadas após um dia de paralisação
Ana Paula Rehbein, Patrício Reis
3 de janeiro de 2025 às 11:53
Modificado em 03/01/2025, 12:02

A profundidade e a escuridão são alguns dos desafios enfrentados diariamente pelos mergulhadores durante as buscas pelas vítimas do desabamento da ponte entre Tocantins e Maranhão. A tragédia tem 12 óbitos confirmados e cinco pessoas continuam desaparecidas, segundo última atualização da Marinha do Brasil.
Os trabalhos devem ser retomados nesta sexta-feira (3) depois de um dia inteiro de paralisação após a abertura das comportas da usina Hidrelétrica de Estreito. A medida foi devido ao grande volume de água e ao aumento da vazão no rio Tocantins.
A força-tarefa que atua nas buscas conta com homens da Marinha, dos Bombeiros do Tocantins, Maranhão, Distrito Federal e, mais recentemente, de São Paulo.
A tecnologia tem sido grande aliada no trabalho, com drones, robôs e uma câmara hiperbárica. Mas os equipamentos não substituem a mão humana. A cada mergulho é preciso uma grande dose de coragem e determinação para tentar entregar o que as famílias das vítimas mais esperam: um desfecho e uma despedida digna.
Um dos corpos resgatados pelos mergulhadores do Tocantins foi do caminhoneiro Beroaldo dos Santos, 51 anos, que foi oficialmente identificado pelo Instituto Médico Legal de Araguaína e liberado nesta quinta-feira (2). Para resgatá-lo, foram necessários três mergulhos.
A primeira descida, que foi a 40 metros, nós descemos para um reconhecimento e estratégia: ver o posicionamento do corpo, como estava a cabine, a posição de melhor retirada e a estratégia que utilizaríamos. A segunda descida foi a tentativa em si onde adentramos à cabine e realizamos uma amarração para retirar o corpo, mas não foi possível. Na terceira tentativa que nós logramos êxito", contou o cabo Alexandre Velasco Gomes.
Na segunda tentativa resgatar o corpo do caminhoneiro, Velasco acabou ficando preso dentro da cabine e o cabo Adriano Rocha, seu parceiro no mergulho, precisou agir rápido.
"Nessa situação nós deveríamos acessar a cabine. Era um local muito estreito e eu consegui entrar, mas não consegui sair. Sendo necessária a retirada do equipamento [de mergulho] a 40 metros de profundidade", contou Velasco.

Mergulhadores contam detalhes da busca por motorista de caminho na queda da ponte JK (Reprodução/TV Anhanguera)
Falta de visibilidade e pouco tempo
Durante as buscas pelas vítimas estão sendo empregados mergulhos autônomos e dependentes. No primeiro, os mergulhadores usam cilindros de oxigênio. No segundo tipo, se desce com um capacete especial, recebendo oxigênio por uma mangueira.
Os bombeiros do Tocantins fazem o mergulho autônomo. O tempo de autonomia para ficar dentro da água é curto e o trabalho precisa ser rápido.
"Esse cilindro amarelo, o S80, nos dá autonomia a 40 metros de profundidade, de oito a dez minutos. Então, foi mais ou menos esse o tempo que nós trabalhamos para a retirada do senhor Beroaldo", explicou.
A profundidade é um dos maiores desafios. "Você gasta de três a quatro minutos só para chegar no local e vai ter uma atuação de cinco a seis minutos de trabalho no fundo. Então, tem que descer focado, executar e subir", explicou o cabo Adriano Rocha.
As águas do rio Tocantins nesta profundidade são escuras, quase não chega luz solar. Por isso, os mergulhadores trabalham apenas com a luz das lanternas.
"Lá não consegue infiltrar os raios solares e a gente enxerga basicamente o feixe de luz da lanterna. Então, você está envolvido em uma escuridão total. Por isso a gente leva duas lanternas, o colega tem mais duas para não ficar desprevenido", explicou.
O trabalho precisa ser feito em duplas para evitar acidentes com os escombros da ponte.
Buscas interrompidas
As buscas submersas foram temporariamente interrompidas nesta quinta-feira (2) devido à abertura das comportas da Usina Hidrelétrica de Estreito, segundo a Marinha. Estão restringidas as operações de mergulho no rio Tocantins, além do uso de drones aquáticos usados pelas equipes de resgate.
O Consórcio Estreito Energia (Ceste) informou à Marinha que há a necessidade de regularizar o volume de água represado na barragem devido à maior incidência de chuvas na região. A operação de buscas continua por meio de embarcações e drones aéreos.

Carro retirado do Rio Tocantins pela Marinha e Bombeiros (Marinha do Brasil/Divulgação)
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Vítimas localizadas
O desabamento
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do governo federal, o desabamento ocorreu porque o vão central da ponte cedeu. A causa do colapso ainda será investigada, de acordo com o órgão.
A ponte foi completamente interditada, e os motoristas devem usar rotas alternativas.
O momento em que estrutura cedeu foi registrado pelo vereador Elias Junior (Republicanos). Em entrevista ao JTo , ele contou que estava no local para gravar imagens sobre as condições precárias da ponte.
Uma força-tarefa foi criada identificar os corpos das vítimas encontrados pelas equipes de buscas. Conforme a Secretaria de Segurança Pública, os trabalhos são realizados por um perito oficial médico, peritos criminais, agentes de necrotomia e papiloscopista.
Um consórcio foi contratado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para reconstruir a ponte da BR-226, entre Tocantins e Maranhão. A dispensa de licitação de quase R$ 172 milhões prevê que a obra seja finalizada até o dia 22 de dezembro de 2025.