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Camilla será coroada rainha junto com Charles a despeito do pedido de Elizabeth 2ª

Folhapress

Modificado em 19/09/2024, 00:21

Camilla será coroada rainha junto com Charles a despeito do pedido de Elizabeth 2ª

(Chris Jackson/Getty Images)

O rei Charles 3º, de 74 anos, depois de ser coroado neste sábado (6), vai contrariar um pedido de sua mãe. Cerca de três meses antes de morrer, Elizabeth 2ª expressou, durante as comemorações de seus 70 anos de reinado, o "desejo sincero" de que a nora, Camilla, de 75, fosse considerada rainha consorte após a morte da soberana.

O pedido, porém, não será atendido. Pouco depois de Charles receber formalmente a coroa na Abadia de Westminster, em Londres, será a vez de Camilla ser ungida com o óleo sagrado e receber um anel e um cetro antes de seguir para o trono ao lado do marido.

Rainha consorte é o título da esposa de um monarca. Mas "rainha" também pode ser a soberana em pessoa, como a própria Elizabeth 2ª foi --o que não significa que Camilla entrará na linha sucessória. Apesar de o documento oficial que traz a liturgia da cerimônia de sábado se referir a Camilla como consorte, não foi o que se viu nos convites enviados às 2.200 pessoas que irão à Abadia de Westminster.

Neles, se lê: "A coroação de suas Majestades, o rei Charles 3º e a rainha Camilla. Por ordem do rei, o conde marechal tem o prazer de convidar...". No convite, desenhado pelo artista heráldico e ilustrador de manuscritos Andrew Jamieson, a palavra "consorte" desapareceu, misteriosa e oficialmente.

Quando o então príncipe Charles se casou com Camilla, em 2005, assessores reais insistiram que ela não queria ser rainha e disseram que a então sra. Parker Bowles "pretendia" ser conhecida como princesa consorte, a primeira na história britânica.

Foi um pouco mais complicado que isso. Em 1993, quando Charles ainda era casado com Diana Spencer --e Camilla com o militar Andrew Parker Bowles-- explodiu o Camillagate, ou Tampongate. Tabloides ingleses publicaram a transcrição de uma conversa íntima entre os amantes, uma conversa que teve o seguinte trecho:

Camilla: "Mmm, eu também. Preciso de você a semana toda. O tempo todo."

Charles: "Oh Deus. Vou viver dentro de suas calças ou algo assim. Seria muito mais fácil!".

Camilla (rindo): "O que você vai virar, uma calcinha? [Ambos riem]. Oh, você vai voltar como um par de calcinhas".

Charles: "Ou, Deus me livre, um Tampax. Que sorte a minha! (risos)".

A humilhação acabou com o casamento de Charles e Diana, e, doze anos depois, o príncipe se casou com Camilla. Os súditos tiveram dificuldades para aceitar a mulher com quem Charles traía a amada Diana. Por esse motivo, ao se casar com o então príncipe de Gales, Camilla decidiu não usar o título de princesa de Gales, que havia sido usado por Lady Di. Em vez disso, escolheu duquesa da Cornualha.

"Fui escrutinada por tanto tempo que você precisa encontrar uma maneira de viver com isso. Ninguém gosta de ser olhado o tempo todo e, você sabe, criticado... Mas acho que no final, eu meio que supero isso e sigo em frente", declarou anos depois, em uma entrevista.

No final das contas, a rainha Elizabeth 2ª acabou aceitando a situação e recebeu Camilla na família real. Mas não imaginou que a nora algum dia fosse ostentar o mesmíssimo título que ela carregou por 70 anos.

Geral

Empresária presa por engano na frente dos filhos em Londres desabafa

Alline Fernandes Dutra foi levada em um camburão e passou mais de 30 horas presa. Ela foi confundida com homônima

Modificado em 17/09/2024, 16:31

Alline em frente à corte depois da última audiência, quando foi confirmado de uma vez por todas a sua inocência

Alline em frente à corte depois da última audiência, quando foi confirmado de uma vez por todas a sua inocência (Arquivo pessoal/Alline Fernandes Dutra)

A empresária goiana Alline Fernandes Dutra, de 36 anos, foi presa por engano no aeroporto de Londres por ter o nome parecido com uma mulher procurada por dirigir bêbada. Mesmo após apontar que a foto e os dados da pessoa procurada não eram iguais aos seus, Alline foi levada em um camburão e chegou a ficar 30 horas em uma cela.

Foram os piores momentos da minha vida. Fui a loucura dentro da cela, estava sozinha em uma cela, mas rodeada de outros presos. Dava pra escutar os outros presos", afirmou.

Alline contou que não conseguiu dormir. "Teve uma hora que eu estava em crise incontrolável, eu esmurrava a porta da cela pedindo remédio para dor e uma janta", conta. Disse que pediu remédio porque estava sentindo dores nos braços e na cabeça. "Eles me algemaram muito apertado, ficou inchado. Mas também tive uma dor na cabeça terrível talvez por tanta pressão do stress que eu estava e por ter chorado praticamente as 30 horas que estava sob custódia da polícia", afirmou.

Ela contou ao POPULAR que a digital dela assinalou vermelho no sistema, o que significa que não era a mesma do registro da pessoa procurada. Alline contou que a, durante a detenção, os policiais se recusara a mostrar os dados básicos que que tinham da suspeita presa em 2022 - como data de nascimento, endereço, qual carro ela dirigia ou onde foi presa. "Após ir à corte, descobrimos que nenhum dos dados que eles tinham em mãos eram iguais aos meus", afirmou.

No dia seguinte após a prisão, Alline foi colocada diante ao juiz. "Durante a audiência, vimos que a polícia havia sumido com a foto da suspeita e também não passaram a informação de que minha impressão digital havia voltado vermelha, já provando a minha inocência", disse. Ela ainda informou que, enquanto ouvia o juiz falar, percebeu que a polícia teria editado o documento da prisão de 2022.

Segundo Alline, o nome dela completo e endereço foram adicionados ao documento, o que deixou "tudo mais confuso no sistema, para parecer que eu tinha algo a ver com o crime". Ela somente foi solta após o juiz ver em um vídeo da mulher procurada sendo presa, em 2022. "Enfim confirmaram que não era eu a pessoa e então fui solta, em liberdade condicional com data marcada para retornar à corte", contou. Atualmente, o processo continua aberto e a suspeita continua procurada.

Foi uma situação desesperadora, de muita aflição. Meu marido chorava ao falar com os policiais. Meu filho mais velho também. Minha filha de 1 ano e 3 meses ficou muito assustada", disse Alline.

O Itamaraty, em nota, afirmou que o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral em Londres, acompanha o caso e presta assistência consular à brasileira. Ainda recomenda que, em casos de emergências no exterior, que brasileiros contatem a repartição consular mais próxima.

É bem nítido aqui a indiferença com que tratam quem não é nato daqui. Sou casada com inglês e sempre que precisamos do serviço público ele liga ou vai à frente pois o tratamento é melhor. A discriminação é nítida", disse Alline.

Entenda o caso

No dia 13 de junho, quinta-feira, Alline Fernandes Dutra, estava no aeroporto de Londres para embarcar num voo para Florença para celebrar um casamento e curtir férias. No check-in, ao despachar as malas, Alline foi abordada por policiais. "Três policiais, dois homens e uma mulher, chegaram até mim muito armados e perguntaram se eu era Aline Fernandes". Ela confirmou, acrescentando seu último sobrenome, Dutra, ao responder aos agentes. Foi quando recebeu voz de prisão, por, segundo eles, ter cometido um crime em 2022 e não comparecer à corte no prazo devido.

Os policiais informaram a ela que, no dia 15 de janeiro daquele ano, teria sido flagrada dirigindo embriagada. O suposto crime de Alline (com dois Ls) Fernandes Dutra, na verdade, teve uma Alinne Fernandes (com dois Ns e sem Dutra no nome) como autora. "A questão é que eu não dirijo, não tenho carteira de motorista e não estava nas redondezas do local quando a outra pessoa foi presa", relatou Alline ao jornal. Foi o que ela argumentou também com os agentes que insistiram em levá-la presa.

A empresária e o marido viram que, nos papéis que foram apresentados, havia uma foto da pessoa procurada, que não se parecia com Alline. Um dos policiais chegou a falar que não adiantava colocar o foco na questão da foto. A agente disse que se as impressões digitais não conferissem, seria liberada, mas nem a impressão digital dela ter assinalado vermelho no sistema (quando não confere com o registro da pessoa procurada) fez com que a liberassem.

A goiana só foi solta após passar o vídeo da mulher procurada sendo presa, em 2022. "Disseram para mim que ainda estão atrás da pessoa e por isso não puderam fechar o caso. Ficou uma situação ainda aberta, por isso tenho de andar com esse documento, para provar que não sou a procurada", explica. (Colaborou Elder Dias)

Posicionamento

Itamaraty

"O Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral em Londres, acompanha o caso e presta a assistência consular cabível à nacional brasileira.

Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.

Em casos de emergência no exterior, recomenda-se aos viajantes brasileiros contatar a repartição consular mais próxima."

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Esporte

Inglaterra elimina Austrália e faz final inédita contra a Espanha na Copa do Mundo

Inglaterra elimina Austrália e faz final inédita contra a Espanha na Copa do Mundo

Modificado em 19/09/2024, 00:45

Jogadoras da Inglaterra celebram classificação à final da Copa do Mundo

Jogadoras da Inglaterra celebram classificação à final da Copa do Mundo (Divulgação/@FifaWWC)

Desfalcada de suas duas principais jogadoras desde o início da Copa do Mundo feminina e com outra estrela suspensa, a Inglaterra desafiou os contratempos para ir à final.

Nesta quarta-feira (16), a equipe venceu a Austrália por 3 a 1 pela semi. No próximo domingo (20), faz a decisão contra a Espanha. A certeza é que o Mundial feminino terá uma campeã inédita.

Já é o melhor resultado da história da seleção inglesa e a confirmação do favoritismo da equipe que chegou à competição como campeã continental. No ano passado, venceu a Eurocopa.

Em 2015 e 2019, a Inglaterra havia sido derrotada nas semifinais. Em 38 jogos sob o comando da treinadora holandesa Sarina Wiegman, o time perdeu apenas uma vez. Mas este revés havia acontecido em amistoso diante da Austrália, neste ano.

A finalista desembarcou na Oceania sem Beth Mead, artilheira do título europeu do ano passado, e a volante/capitã Leah Williamson. Ambas não foram convocadas por causa de lesões no joelho. Na vitória sobre a Nigéria, pelas oitavas de final, a atacante Lauren James foi expulsa e recebeu dois jogos de suspensão. Ela retorna apenas na decisão de domingo.

A Inglaterra dominou o primeiro tempo, em parte porque a Austrália decidiu que o melhor caminho era se fechar e usar os contra-ataques. Algo que não aconteceu nos primeiros 45 minutos. No único lançamento que pegou a zaga rival desguarnecida, Sam Kerr saiu na cara do gol, mas já havia sido marcado impedimento.

A recompensa pelo melhor desempenho inglês veio aos 35, quando Ella Toone acertou chute no ângulo para abrir o placar. No restante da etapa inicial, as donas da casa não conseguiram pressionar pelo empate e as britânicas continuaram com domínio territorial.

A Austrália precisava sair mais para o jogo e que a sua craque Sam Kerr aparecesse. Se o segundo tempo não teve um cenário muito diferente nos primeiros minutos, a Inglaterra arrefeceu seu ritmo e o empate chegou graças ao brilhantismo da camisa 20.

Recuperada de lesão, a semifinal foi o primeiro jogo em que começou como titular na Copa. E aos 28 minutos, Kerr acertou um arremate de longa distância, indefensável para ao goleira Earps, e igualou o placar.

Foi o lance que fez a Inglaterra despertar e retomar o mesmo ritmo com o qual iniciou a partida. Lucy Bronze quase anotou um gol espírita, em um cruzamento, e Alessia Russo chegou perto de desempatar com chute cruzado. A vantagem aconteceu aos 25, quando Lauren Hemp aproveitou a falha da zaga australiana para marcar o segundo inglês.

A Austrália estava acostumada a passar aperto nesta Copa do Mundo. Na fase de grupos, chegou à última rodada precisando vencer o Canadá para se classificar depois de ter sido batida pela Nigéria. Nas quartas de final, apelou a uma longa disputa de pênaltis para passar pelas francesas após empate em 0 a 0.

A derrota significa que o país perdeu a chance de igualar algo que foi obtido apenas pelos Estados Unidos em 1999: sediar a competição e ser campeã.

Nos 20 minutos finais, o time tentou. Vine e Kerr tentaram mas Earps fez duas defesas. Foi Sam Kerr quem teve a melhor oportunidade de igualar de novo o placar. Aos 40, a bola caiu nos seus pés dentro da pequena área após rebote da goleira. Ela chutou para fora. O castigo foi imediato.

No ataque seguinte, Alessia Russo bateu cruzado, anotou o terceiro inglês e carimbou a vaga para a inédita final.

FICHA TÉCNICA
AUSTRÁLIA : Mackenzie Arnold; Ellie Carpenter, Clare Hunt, Clare Polkinghorne (Emily van Egmond) e Steph Catley; Hayley Raso (Cortnee Vine), Katrina Gorry (Alex Chidiac), Kyra Cooney-Cross e Caitlin Foord; Sam Kerr e Mary Fowler. Treinador: Tony Gustavsson.

INGLATERRA : Mary Earps; Jess Carter, Millie Bright e Alex Greenwood; Lucy Bronze, Keira Walsh, Georgia Stanway, Rachel Daly e Ella Toone (Niamh Charles); Alessia Russo (Chloe Kelly) e Lauren Hemp. Treinador: Sarina Wiegman

Estádio: Accor Stadium, em Sydney (Austrália)
Público: 75.784 presentes
Árbitra: Tori Penso
Auxiliares: Brooke Mayo e Mijensa Rensch Tess Olofsson (quarta árbitra);
VAR: Massimiliano Irrati
Cartões amarelos: Alex Greenwood e Chloe Kelly (ING)
Gols: Ella Toone (ING), aos 36'/1ºT; Sam Kerr (AUS), aos 17' (AUS), Lauren Hemp (ING), aos 25'; e Alessia Russo (ING), aos 40'/2ºT

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Famosos

Rainha Camilla deu bronca em filha de William durante velório, diz jornal

Príncipe George e a princesa Charlotte acabaram incomodando a rainha-consorte Camilla ao interagirem de forma travessa durante o velório da bisavó

Modificado em 20/09/2024, 03:03

Símbolo da monarquia, Elizabeth 2ª ocupou o trono por sete décadas e faleceu serenamente, segundo o comunicado oficial.

Símbolo da monarquia, Elizabeth 2ª ocupou o trono por sete décadas e faleceu serenamente, segundo o comunicado oficial. (Royal.uk)

Filhos mais velhos do príncipe William e da princesa Kate Middleton, o príncipe George e a princesa Charlotte acabaram incomodando a rainha-consorte Camilla ao interagirem de forma travessa durante o velório da bisavó, a rainha Elizabeth 2ª, na segunda-feira (19).

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra quando, próximo ao Arco de Wellington, George provoca Charlotte e a esposa do rei Charles 3º faz uma aparente reclamação à mãe deles, Kate, sobre a conduta 'inapropriada' das duas crianças.

O jornal britânico Daily Star consultou Jeremy Freeman, expert em leitura labial, para entender mais detalhes da situação. Segundo o especialista, a menina de 7 anos reage com um 'ai' à provocação do primogênito de William, que tem 9.

Camilla, porém, reage com aparente irritação à exclamação de Charlotte e se dirige a Kate, apontando para a filha da princesa e lhe dizendo, com caras de poucos amigos: "pegue ela". O trecho viral não exibe a reação da princesa à exigência da 'sogra postiça'.

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Famosos

Charles é o novo rei do Reino Unido após 70 anos como 'príncipe profissional'

Com a morte da rainha Elizabeth 2ª, nesta quinta-feira (8), o Charles "príncipe" enfim deixará de existir aos 73 anos

Modificado em 20/09/2024, 03:21

Charles, antes príncipe, agora se torna rei

Charles, antes príncipe, agora se torna rei (Wikimedia Commons)

Formal ao extremo, ocasionalmente desengonçado e com uma personalidade que se tornou sinônimo de falta de carisma, Charles Philip Arthur George passou 70 anos como príncipe herdeiro do Reino Unido, exercendo esse papel como se fosse uma profissão.

Com a morte da rainha Elizabeth 2ª, nesta quinta-feira (8), o Charles "príncipe" enfim deixará de existir aos 73 anos. Em seu lugar, surge o Charles soberano, o mais velho a assumir o trono britânico na história, o que deve fazer de seu reinado um período de transição entre o da mãe, venerada pela dedicação ao serviço público, e o do filho William, visto como a modernização --e, para alguns, salvação-- da realeza.

"Mas talvez não seja tão transitório assim. Charles herdou os genes da mãe e do pai e pode muito bem reinar por 20 anos", afirma Annette Mayer, especialista em monarquia britânica da Universidade de Oxford.

Príncipe de longa data

A longa trajetória como príncipe herdeiro, maior que a de qualquer outro na história do Reino Unido, estimulou em Charles um certo sentimento de resignação e até autoironia. "Ser herdeiro do trono não é uma profissão. É uma enrascada", ele costuma dizer, bem-humorado, quando questionado sobre o tema, segundo relata a biógrafa Catherine Mayer no livro "Born to Be King" (nascido para ser rei), de 2015.

Sob o olhar público desde que nasceu, em 1948, Charles precisou encontrar cedo uma forma de conviver com essa enrascada. Nunca houve um modelo único de como o herdeiro do trono britânico deveria se comportar, e ele teve ainda de lidar com o fato de ser o primeiro príncipe da era televisiva.

Seus passos foram seguidos na juventude, durante a carreira militar e sobretudo em relação à atribulada vida amorosa, que incluiu o desastroso casamento com a princesa Diana e a união com Camilla Parker Bowles, em 2005. Nada contribuiu mais para a imagem de homem insensível, e até cruel, do que o divórcio de Diana, cujo ápice foi a famosa entrevista dada por ela em 1995 à BBC, em que sutilmente sugeriu que Charles não teria condições psicológicas de ser rei e deveria passar o bastão direto para William.

Para a professora de Oxford, o novo rei recuperou parte de sua popularidade desde os distantes anos 1990, em parte porque conseguiu focar sua atuação às inúmeras causas ambientais e sociais que patrocina. "Ele melhorou sua imagem desde os tempos difíceis que teve. Charles agora é um homem mais velho e mais sábio, então é mais respeitado. Mas é difícil ser tão respeitado como sua mãe", afirma.

O ativismo, que inclui um interesse especial pela Amazônia, tornou-se marca registrada. Nunca houve um príncipe tão engajado em assuntos que afetam diretamente os súditos como ele, da defesa do ambiente à educação para jovens desfavorecidos, causa que defende por meio da sua organização Prince's Trust.

Mesmo se Charles for um monarca de transição, por outro lado deverá marcar o padrão pelo qual futuros príncipes herdeiros serão julgados. Depois dele, inaugurar prédios públicos não será o bastante.

Piadista e metódico

Amigos dizem que o Charles distante e robótico que os britânicos se acostumaram a ver em público é bem diferente de sua personalidade em privado. Afirmam que é um bom contador de piadas e que durante um bom tempo dedicou-se a aprender mímica e ilusionismo. Outros interesses são jardinagem, pintura em aquarela e criação de ovelhas. Até a meia-idade jogou polo e participou de caçadas a raposas, duas atividades que são a expressão máxima da nobreza britânica. Abandonou a primeira por problemas nas costas, e a segunda, não devido ao interesse pelo ambiente, mas apenas porque foi banida pelo governo.

Uma afinidade inusitada é com a dança, o que não quer dizer que seja bom nela, como mostrou ao sambar totalmente sem jeito numa visita ao Rio de Janeiro em 1978, imagem que correu o mundo.

Metódico, Charles toma todos os dias um café da manhã com ovos e cereais e não almoça, para desespero de assessores que o acompanham durante longos dias de compromissos.

Costuma calcular a quantidade de água que precisa beber para não sentir sede nem vontade de ir ao banheiro, algo especialmente útil em dias de agenda pesada. Antes de dormir, dispara por escrito pedidos para auxiliares relacionados às tarefas do dia seguinte.

Seu círculo de convívio social é pequeno, em sua maioria restrito a conhecidos da juventude, incluindo algumas namoradas pré-Diana, como um dia a própria Camilla foi. Uma das amigas mais famosas é a atriz Emma Thompson, que, ao menos até onde se sabe, nunca esteve romanticamente envolvida com ele.

Na infância, o futuro rei era tímido e considerado inseguro pelo pai, o príncipe Philip, morto em 2021 aos 99 anos. "O duque [Philip] notou que Charles era uma criança sensível -ao contrário de sua irmã mais nova, Anne-- e concluiu que o melhor curso de ação seria endurecê-lo", afirma a biógrafa do novo rei.

Do choque de personalidades nasceu uma relação mal resolvida com o pai severo e uma ligação bem mais próxima com o tio-avô Louis Mountbatten, um militar condecorado, o último vice-rei da Índia e uma espécie de tutor para o jovem Charles. O assassinato de Mountbatten num atentado a bomba cometido pelo IRA (Exército Republicano Irlandês) em 1979 é tido como o maior trauma da vida do novo rei.

Morte de Diana

Num gesto de modernização notável nos anos 1950, Charles foi o primeiro herdeiro a não receber educação domiciliar. Assim, frequentou diversas escolas da elite britânica. Também cumpriu o ritual de servir nas Forças Armadas e aos dez anos recebeu o título pelo qual ficaria conhecido: príncipe de Gales.

Em 1977, conheceu Diana Spencer, de família aristocrática, com quem se casaria em 1981 e teria dois filhos, William e Harry. A tumultuada relação, desfeita em 1996, com direito a infidelidade conjugal de lado a lado, seria o período mais danoso não apenas para a imagem do príncipe, mas de toda a monarquia.

A morte de Diana, num acidente de carro em Paris, em 1997, gerou comoção global e acusações de falta de empatia pela família real. Pela primeira vez imprensa e especialistas trataram seriamente da possibilidade de o país virar uma República. Desde então, a monarquia readquiriu grande parte de seu prestígio, e hoje pesquisas indicam que tem apoio em torno de 70%.

Mas a ascensão de Charles poderá destravar o sentimento republicano, ao menos num primeiro momento, diz Mayer, de Oxford. Ela faz um paralelo entre a sucessão de Elizabeth 2ª e a de outra mulher que marcou sua época, a rainha Vitória, que morreu em 1901 após um reinado de quase 64 anos.

"Quando a rainha Vitória morreu, não houve questões sobre a sobrevivência da instituição. Mas haverá muito rapidamente perguntas sobre para onde vai a monarquia agora", afirma ela.

Isso acontece, diz a acadêmica, porque falta a Charles o peso histórico da mãe, coroada quando o Reino Unido ainda era uma potência, embora já na descendente. Hoje, ao contrário, o país vive uma crise de identidade e é claramente um ator secundário na geopolítica global. Além de ter optado por uma guinada isolacionista com o brexit, o divórcio com a União Europeia, tem sua própria existência sob risco.

Expectativas

Estão no horizonte um novo referendo sobre a independência da Escócia, pressões crescentes para a integração da Irlanda do Norte à República da Irlanda e até um ressurgente nacionalismo em Gales --algo particularmente doloroso para um homem que ficou tanto associado à região.

"Não há nada que ele possa fazer caso haja uma divisão, e é algo que pode acontecer. Ele sofrerá muito, afinal foi príncipe de Gales e tem ligações fortes com a Escócia [onde estudou na infância]", diz Mayer.

Sem autoridade política real, restará ao novo soberano o "poder suave" de tentar influenciar o humor do eleitorado, enfatizando as vantagens de manter o reino intacto, em pronunciamentos e eventos.

Segundo especialistas na realeza, ele tentará, logo de início, tomar atitudes para fugir um pouco da longa sombra da mãe e marcar um estilo próprio. Charles deverá simplificar rituais da monarquia, reduzir seus custos e focar a riqueza do reino como uma nação multicultural. Especula-se que, na coroação, fará uma adaptação do juramento, prometendo defender "as fés", em vez de "a fé" anglicana, religião oficial do país.

Outra diferença provável é na maneira de se expressar sobre temas cotidianos. Como príncipe, Charles notabilizou-se por falar o que pensa sobre diversos assuntos e chegou a enviar memorandos a ministros, arranhando o princípio basilar, que sua mãe sempre respeitou, de não envolver a Coroa na política.

A grande questão é saber se manterá essa prática como rei, o que no limite poderia levar a crises constitucionais. Analistas da monarquia apostam que Charles sabe que, sentado no trono, precisará ser mais cuidadoso com as palavras. Uma importante exceção deverá ser a questão ambiental, indelevelmente associada à imagem do novo monarca.

Neste sentido, a relação do trono britânico com o Brasil poderá se aprofundar, diz o diplomata aposentado Flávio Perri, que coordenou no Itamaraty a organização da conferência ambiental da ONU Rio-92, em que Charles foi uma das principais estrelas. "Lembro-me de um cavalheiro de alta estirpe, de educação aprimorada, culto, que tinha curiosidade sobre o Brasil, queria conhecer mais, saber das coisas brasileiras", afirma Perri, sobre os contatos com o príncipe durante o evento.

Embora tivesse um papel cerimonial, Charles comportava-se como um verdadeiro chefe de delegação, diz o diplomata. "Em uma monarquia constitucional como a britânica, todo o poder se realiza por meio do primeiro-ministro. Mas o príncipe Charles teve o valor de trazer o prestígio da Coroa britânica para a conferência do Brasil, um efeito simbólico muito importante naquele momento", afirma.

A presença do herdeiro do trono britânico se tornou, durante a conferência, uma espécie de contraponto à do então presidente dos EUA, George Bush, que confirmou sua participação apenas na última hora e era visto como porta-voz dos interesses das empresas petrolíferas do seu país.

Charles é presidente de honra do World Wildlife Fund (WWF) no Reino Unido, uma das mais influentes ONGs do planeta, além de ter criado em 2010 a International Sustainability Unit, espécie de guarda-chuvas de todas as suas iniciativas ambientais. Dificilmente abrirá mão totalmente dessas atividades, embora certamente não poderá dedicar tanto tempo a elas.

Após sete décadas de ativismo, exposição pública e escândalos que o tornaram uma das personalidades mais conhecidas do planeta, o septuagenário Charles chega ao ponto final da trajetória que foi traçada para ele no berço, sem que tivesse podido escolher. A figura vista mundialmente mais como príncipe do que como ser humano viveu períodos turbulentos, em que sofreu desprezo e até ódio em escala mundial.

Hoje, afirma sua biógrafa, dificilmente haja alguém que odeie Charles, mas também é difícil encontrar alguém que o adore. Essa personalidade cinzenta talvez combine bem com um reinado de transição.

Para Charles, começa uma nova enrascada.

Charles, antes príncipe, agora se torna rei

Charles, antes príncipe, agora se torna rei (Wikimedia Commons)