O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, localizado na região Nordeste de Goiás, perdeu 87% da sua superfície de água nos últimos 38 anos, conforme pesquisa realizada pelo MapBiomas Água, em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). O número é bem mais alto quando comparado às outras áreas protegidas do Cerrado brasileiro, as quais perderam 66% das regiões hidrográficas. Já os reservatórios de água para geração de energia elétrica no Cerrado fecharam o ano de 2022 com a maior superfície de água dos últimos 38 anos, alcançando o patamar de 11% acima da média histórica. Se levar em conta somente a última década, esse número fica ainda maior, sendo 16,2%. Os dados apontam que este aumento “balanceia” a perda nas áreas protegidas na conta geral da cobertura de água no bioma. A área total ocupada pela água chegou a 0,8% do bioma no último ano, ou 1,6 milhões de hectares (ha). Contudo, esse resultado não quer dizer que seja algo positivo. “A perda de água em áreas protegidas afeta principalmente a vazão dos rios de importância local e ecossistemas como os campos úmidos e as veredas. É um tipo de desmatamento silencioso, pois, além de diminuir a disponibilidade hídrica, altera a estrutura da vegetação e torna essas áreas mais vulneráveis a incêndios destrutivos e à arenização”, explica Dhemerson Conciani, pesquisador no IPAM. Além do aumento das hidrelétricas, as áreas de agricultura irrigada no Cerrado cresceram em torno de 85% e, apesar do pico mapeado em 2022, a superfície de água esteve abaixo da média histórica em todo esse período, afirma Joaquim Pereira, também pesquisador no IPAM. “O avanço da agropecuária sobre os remanescentes de vegetação nativa e a intensificação na demanda por recursos hídricos podem afetar negativamente a recarga dos aquíferos e da maior parte das regiões hidrográficas do Brasil”, fala. Os três reservatórios que tiveram o maior ganho de superfície de água entre 1985 e 2022 estão na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, como exemplo a Usina Hidrelétrica ( UHE) Serra da Mesa, com mais 50,6 mil ha de superfície de água, localizada no rio Tocantins, no município de Minaçu; a UHE Luís Eduardo Magalhães, em Miracema do Tocantins (TO), com mais 24,8 mil ha e a UHE Estreito, na cidade de Estreito (MA), com mais 18,9 mil ha. Além da Chapada dos Veadeiros, o Parque Nacional do Araguaia (TO), perdeu 36% de sua superfície de água; o Parque Estadual do Cantão, com menos 24%; o Parque Estadual do Araguaia, com menos 22%; a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, com menos 81%; o Refúgio da Vida Silvestre Corixão da Mata Azul, com menos 36% e a Reserva Extrativista Lago do Cedro, com menos 29%. Especialistas avaliam que o maior volume de chuvas pode explicar os resultados. No ano de 2022, a quantidade de chuvas no Cerrado ficou acima da média na maioria das regiões hidrográficas. A professora, pesquisadora e geóloga, Joana Sánchez, da Universidade Federal de Goiás (UFG) explicou à reportagem que no caso da Chapada dos Veadeiros, o maior problema está no desmatamento do Cerrado. “Com a retirada da vegetação nativa, a qual possui raízes profundas, e com a plantação da monocultura, você não consegue recarregar os aquíferos”, diz. Joana afirma que em uma situação normal do meio ambiente, as raízes do Cerrado entram dentro das fraturas do aquífero, que é poroso e permeável, e possibilita que a água seja guardada ali dentro. Quando se retira essa vegetação e planta algo com raízes rasas, essas fraturas ficam entupidas. “Então, a água não consegue percolar mais. Isso ajuda, inclusive, nos descolamentos de serras, pois como a água não é infiltrada antes de chegar na serra, quando ela chega pertinho da borda, ela escorrega”, explica. No final de 2022, o Monitor do Fogo, também do MapBiomas, divulgou que o Cerrado foi o segundo bioma com o maior número de queimadas, ficando atrás somente da Amazonia. De toda a área queimada no país, 45% estavam no Cerrado, com 7,4 milhões de ha. O montante equivale a um aumento de 18% em relação a 2021. -Imagem (1.2616242)-Imagem (1.2616243)