Geral

Cigarros de palha têm adesão dos jovens e os prejudicam

No Dia Mundial sem Tabaco e de Combate ao Fumo, pneumologista alerta que eles são tão prejudiciais quanto os industrializados

Modificado em 17/09/2024, 16:04

Cigarros de palha têm adesão dos jovens e os prejudicam

Típico do interior do Brasil, o uso do cigarro de palha está aumentando nos últimos anos, principalmente entre os jovens. Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve um aumento do consumo de cigarro de palha entre jovens adultos de 18 a 24 anos, tanto na área urbana (2,0% em 2013 vs 3,2% em 2019) como na área rural (2,2% em 2013 vs 4,5% em 2019). Dados que chamam a atenção neste 31 de maio, que é o Dia Mundial sem Tabaco e também o Dia Mundial de Combate ao Fumo.

Muitos pensam que esses cigarros são menos prejudiciais que os industrializados, mas a pneumologista Fernanda Miranda, destaca que isso é um mito. "Os cigarros de palha são frequentemente considerados menos prejudiciais do que os cigarros convencionais devido à ausência de alguns aditivos químicos presentes nos industrializados, mas essa é uma impressão equivocada. Os cigarros de palha ainda contêm tabaco e produzem fumaça, o que os torna prejudiciais à saúde, causando as mesmas doenças que os convencionais, chamados comumente de cigarros brancos".

A especialista, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, analisa alguns fatores que costumam influenciar os jovens para o consumo deste produto, também chamados de "paieros" ou "palheiros". "O modismo em torno dos cigarros de palha e outros produtos do tabaco pode ser atribuído a diversos fatores, como influência da mídia, marketing agressivo da indústria do tabaco, pressão social e até mesmo a busca por uma imagem de rebeldia ou pertencimento a um grupo específico".

Montagem
Fernanda Miranda salienta também que tanto os cigarros de palha que são comprados prontos quanto os que são montados na hora do consumo são prejudiciais. "A montagem dos cigarros de palha na hora, de forma artesanal, não faz diferença significativa em termos de malefícios à saúde em comparação com os palheiros prontos. Ambos contêm tabaco e produzem fumaça", explica sobre os pontos principais que fazem mal à saúde.

A pneumologista explica ainda que as pessoas que estão por perto de quem fuma os palheiros também são prejudicadas. "Os fumantes passivos de cigarros de palha, assim como dos outros tipos de cigarros, também correm riscos para a saúde, pois a fumaça contém substâncias tóxicas que podem afetar negativamente o sistema respiratório e cardiovascular", salienta.

A médica destaca a relevância de datas sobre o tema. "No Dia Mundial sem Tabaco e Dia Mundial de Combate ao Fumo é importante alertar as pessoas, especialmente os jovens, sobre os malefícios do tabagismo por meio de campanhas educativas, informações sobre os riscos para a saúde, apoio para deixar o hábito de fumar e incentivo a um estilo de vida saudável. Inclusive este ano teremos em agosto a 12ª Edição da Corrida de rua Largue o Cigarro Correndo".

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Corrida de rua ajuda fumantes a abandonarem o vício

12ª edição da Corrida Largue o Cigarro Correndo acontece dia 18 de agosto e inscrições seguem até dia 14

Modificado em 17/09/2024, 17:26

Corrida de rua ajuda fumantes a abandonarem o vício

(Divulgação)

De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em janeiro, o consumo de tabaco no Brasil caiu cerca de 35% desde 2010. Com o resultado, o país se tornou um dos "líderes mundiais" na redução do consumo do tabaco.

Mesmo assim, as estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o triênio 2023/2025 é de 32 mil casos de câncer de pulmão, sendo que o tabagismo está relacionado com vários tipos de câncer, inclusive com cerca de 90% das mortes por câncer de pulmão.

Para seguir alertando as pessoas dos malefícios do cigarro, 29 de agosto é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Em Goiânia, o Órion Business & Health Complex e a Sociedade Goiana de Pneumologia e Tisiologia (SGPT) realizam a 12ª edição da Corrida Largue o Cigarro Correndo.

As inscrições se encerram nesta quarta-feira (14) pelo site e a prova será no próximo domingo (18), com largada às 6h30. Para a corrida estão disponíveis percursos de 5 km, para pessoas a partir de 14 anos, e 10 km, apenas maiores de 18 anos.

"O principal objetivo desse evento é conscientizar a população sobre os efeitos prejudiciais do tabagismo e incentivar a adoção de hábitos de vida mais saudáveis. Queremos motivar os participantes e a comunidade a repensarem o uso do cigarro, mostrando que o esporte pode ser uma ferramenta poderosa na luta contra o vício", destaca a pneumologista Fernanda Miranda, que é a presidente da SGPT e atende no centro clínico do Órion Complex.

A taxa para se inscrever é de R$ 64,90 ou R$ 109,90, de acordo com o kit atleta escolhido. Porém, para ambas as opções, no dia da retirada do kit é preciso realizar a doação de um quilo de alimento não perecível ou pagar mais R$ 7. Há desconto para idosos e portadores de necessidades especiais.

Este ano haverá ainda, pela primeira vez, a versão Kids da prova, para crianças de 1 a 12 anos e com percursos de 40m a 150m. A taxa de inscrição para os pequenos é de R$ 69,90, mais o quilo de alimento. A largada para eles será a partir das 9h.

Trocar um mau hábito por um bom
Fernanda Miranda explica que a prática de atividades físicas, como a corrida, pode ser um grande aliado no processo de abandono do cigarro. "O exercício físico ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade, que muitas vezes são gatilhos para o uso do tabaco. Além disso, ao melhorar a saúde física e mental, o esporte promove uma sensação de bem-estar que pode substituir a necessidade de fumar, tornando-se uma alternativa saudável ao vício".

Um exemplo dessa troca de um mau hábito por um bom é a influenciadora goiana Wellen Rocha. Ela fumou cigarro eletrônico por um ano, mas o trocou pelos exercícios físicos. "Não me sentia bem, estava afetando minha saúde. Estou em um processo de mudança de hábitos e me cuidando mais. Faço musculação e dança pra compensar a ansiedade, que era um dos fatores que me influenciou a fumar", pontua ela, que também participará da 12ª edição da Corrida Largue o Cigarro Correndo.

A pneumologista acredita que a corrida "Largue o Cigarro Correndo" tem cumprido seu papel ao longo de todas suas edições. "Temos observado um aumento significativo na conscientização da população sobre os danos do tabagismo, o Brasil é um exemplo para o mundo em redução no número de tabagistas e ações como a nossa contribuem para isso. Temos relatos de participantes que conseguiram reduzir ou até abandonar o vício após se envolverem na corrida. A cada ano, mais pessoas aderem ao evento, o que mostra que estamos no caminho certo para alcançar nosso objetivo de uma sociedade mais saudável e livre do cigarro".

Serviço: 12ª edição da corrida Largue o Cigarro Correndo
Inscrições: Até 14 de agosto **pelo link **
Taxa de inscrição: R$ 64,90 ou R$ 109,90, de acordo com o kit atleta escolhido
R$ 69,90 corrida Kids, mais a doação de um quilo de alimento não perecível ou R$ 7
Percursos : 5 km e 10 km
Retirada do kit atleta : Dia 16 de agosto, das 14h às 19h, e dia 17, das 9h às 13h, no piso 1 do Shopping Órion
Prova : Domingo, 18 de agosto
Horário : Largada às 6h30 adultos e 9 horas corrida kids
Local: Órion Business & Health Complex, Av. Portugal, nº 1148, Setor Marista.

Geral

Vício de fumar pode aumentar na quarentena; veja dicas para controlar

Período de restrições pode gerar gatilhos psicoemocionais que despertam o desejo pelo cigarro, mas momento também é oportunidade para rever o hábito

Modificado em 24/09/2024, 01:45

Vício de fumar pode aumentar na quarentena; veja dicas para controlar

(Shutterstock)

"Estou fumando muito mais na quarentena." Esse foi o tipo de resposta que obtive ao perguntar a algumas pessoas do meu círculo social mais próximo se o hábito delas de fumar havia mudado nesse período. Com a pandemia do novo coronavírus, quem pode ficar em casa se vê mais livre e com acesso mais fácil a uma tragada ao mesmo tempo que a situação pode gerar gatilhos psicoemocionais que despertam o desejo pelo cigarro.

O estudante Vinícius Buono, de 25 anos, afirma que tem permanecido em casa desde o início da quarentena no Estado de São Paulo, em março, e sai apenas para atividades essenciais. No caso dele, comprar cigarro é uma delas. Ele não faz muita conta de quantos fuma por dia, mas estima que acaba com um maço em 24 horas, ou seja, 20 unidades. Às vezes, passa disso.

"Acho que com isso de ficar só em casa, às vezes você se vê sem nada para fazer e pensa 'ah, vou fumar' e isso acontece com frequência", diz o jovem, que fuma desde os 17 anos. "Eu já fumava bastante antes, agora está ainda pior."

Vinícius acredita que, para ele, o aumento de cigarros fumados por dia tem mais a ver com o "marasmo" da quarentena do que com um possível estresse provocado pela pandemia. Talvez, essa seja uma exceção, porque estudos indicam prejuízos à saúde mental durante o distanciamento social.

Uma revisão científica publicada na renomada revista The Lancet reuniu 24 artigos que falam do impacto psicológico da quarentena. A maioria relatou efeitos negativos, incluindo sintomas de estresse pós-traumático, confusão e raiva. Entre os agentes estressores estavam duração da quarentena, medo da infecção, frustração, tédio, perda financeira e estigma.

Para alguns fumantes, todas essas consequências podem ser gatilhos para acender um cigarro. Por isso, a psicóloga Alessandra Gomes Jacinto faz uma ponderação. "Em um momento em que você perde muitos prazeres, fumar acaba sendo um prazer justificável", diz. Mas isso não significa que fumar deixa de ser prejudicial.

"O cigarro é responsável por 30% dos casos de câncer de pulmão", alerta William Nassib William Júnior, oncologista na BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Segundo ele, "não existe nível de cigarro que seja seguro para saúde", ou seja, fumar um por dia é tão arriscado quanto dez.

A preocupação com a saúde, e agora o medo do novo coronavírus, foi um dos motivos que levaram a assessora de investimentos Camila Leão, de 29 anos, a frear a quantidade de cigarros que fuma diariamente. Como a profissão dela sempre a permitiu trabalhar de casa, ela diz que a quarentena não foi uma grande questão --- exceto que agora, em vez de sozinha, ela fica sempre na companhia do marido e dos três filhos.

Porém, o isolamento mais rígido teve certo impacto para ela. "Eu não fumo dentro de casa por causa dos meus filhos, então isso também me ajudou a reduzir, já que moro em apartamento e toda vez que tenho de fumar tenho de descer até o estacionamento", explica Camila, que também diminuiu as descidas para fumar devido ao risco de contaminação.

A empatia foi outro fator que influenciou o plano que a assessora de investimentos já tinha de reduzir e depois parar de fumar, hábito que ela mantém desde os 14 anos de idade. "Com o vírus, comecei a me sentir mal fumando enquanto tantas pessoas estavam nos hospitais sem conseguir respirar direito."

De 20 cigarros por dia, Camila passou a cinco. Isso já tem um mês. Além disso, ela tem controlado os gatilhos que a levam a fumar, como ansiedade e compulsão alimentar. "A questão da ociosidade da quarentena faz com que a gente queira fumar mais, então também comecei um tratamento contra ansiedade e tem me ajudado bastante", conta.

Independente da situação em que uma pessoa que fuma está vivendo nesta quarentena, a psicóloga afirma que a mudança repentina da rotina tem grande interferência na vida e no emocional. Embora essa reclusão maior também possa servir como um momento de mais atenção à saúde, parar nem sempre é fácil.

"A mudança causa muita ansiedade e a abstinência [ao ficar sem cigarro] tem muitos sintomas negativos e é isso que faz com que a pessoa não consiga parar", explica Alessandra, que atua no Núcleo de Apoio à Saúde da Família da UBS Jardim Coimbra, administrada pelo Cejam, onde faz parte da equipe que trata pessoas que querem parar de fumar. Interromper o hábito definitivamente ou por alguns dias pode levar ao aumento da ansiedade, irritabilidade, sentimento de tristeza, tontura, dor de cabeça e falta de concentração, diz a especialista.

Cigarro e o novo coronavírus

Em meados de abril, foi publicado um artigo indicando que a nicotina teria um papel protetor contra o novo coronavírus. A pesquisa foi questionada por especialistas devido à fragilidade científica e o oncologista William Júnior reforça o risco da covid-19 para os fumantes. "A maioria das evidências apontam que quem faz uso de cigarro tem maiores causas de doença cardiovascular, hipertensão, e esses fatores de risco estão associadas à evolução pior do paciente que se infecta", diz.

O médico se preocupa com o fato de que, além de colocar em risco a própria saúde, uma pessoa que fuma, mora com outras pessoas e aumentou o hábito na quarentena está colocando os demais em risco também. Outro problema que ele aponta é que, por medo do vírus, muitos fumantes deixaram de fazer acompanhamento médico regular, o que pode comprometer o tratamento de quem tem câncer de pulmão, por exemplo.

"Hospitais têm colocado medidas para prevenir [o contágio]. Os pacientes devem continuar fazendo acompanhamentos e se estão pensando em diminuir, isso não pode ser feito sem discussão com equipe médica", orienta William Júnior. Do ponto de vista da oncologia, ele teme também que o possível aumento do hábito de fumar eleve as chances de desenvolver câncer, não só de pulmão, mas de bexiga e rim.

Para quem já tem algum tumor, o oncologista diz que a covid-19 não faz piorar o quadro, mas estudos recentes indicam que, entre esse público, aqueles com câncer de pulmão e hematológico tem risco maior de morrer pelo novo coronavírus.

Dicas para conter o hábito de fumar na quarentena

Para algumas pessoas como o estudante Vinícius, pode ser "impossível" parar de fumar, ainda mais nesse período de isolamento social. "Eu já cogitei parar de fumar nessa quarentena justamente porque estou fumando demais, mas não dá. Ficar sem o cigarrinho depois das refeições é impossível", diz ele.

Apesar de todas as dificuldades que o hábito impõe para quem quer deixá-lo, uma vez que o vício provoca alterações químicas no cérebro que levam à busca por cigarro, é possível adotar estratégias para contê-lo. Neste Dia Mundial Sem Tabaco, lembrado em todo 31 de maio, os especialistas ouvidos pelo E+ e a Camila, que conseguiu mudar o hábito, dão sugestões que podem ajudar.

"Buscar apoio profissional, de maneira remota, ajuda muito a parar de fumar e o apoio não profissional também. Você se apoiar nos seus familiares, nos amigos é extremamente importante, se não para parar, mas para não aumentar", diz William Júnior. Outra recomendação dele é eliminar os gatilhos: higienizar roupas com cheiro de fumo, evitar alimentos e bebidas que despertam o desejo pelo cigarro.

A psicóloga Alessandra indica trabalhar o nível de estresse. Praticar atividade física, caminhando dentro de casa ou fazendo alongamentos, aumenta a produção de serotonina, hormônio que traz sensação de prazer e desvia da vontade de fumar. Diminuir açúcar, café, álcool e sal também é bom para evitar picos de estresse. Ela sugere apostar também nas terapias de relaxamento e evitar ter o controle de tudo, o que vai gerar desgaste emocional.

Camila, que há um mês conseguiu reduzir o número de cigarros fumados por dia, sugere que as pessoas não pensem no cigarro como única válvula de escape. "Um copo de água ajuda, ver um vídeo na internet e falar que vai fumar depois ajuda, deixar para amanhã ajuda", diz. Se, mesmo assim, for muito difícil, o ideal é procurar ajuda profissional.

Atendimento profissional para fumantes

O Sistema Único de Saúde disponibiliza grupos de apoio e tratamento gratuito para os dependentes do cigarro. Na cidade de São Paulo, os serviços são oferecidos nas Unidades Básicas de Saúde e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Em todo o Estado, o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) também dispõe de atendimento em diferentes unidades. Confira a lista em cada região aqui.

Devido à pandemia do novo coronavírus, os encontros presenciais em grupo foram cancelados. Porém, a Prefeitura de São Paulo afirmou, em nota, que mantém a continuidade dos serviços assistenciais, como o CAPS Adulto, com suporte às pessoas que tenham quadros graves e que estão em tratamento terapêutico em progresso.

"O Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) foi reorganizado com o objetivo de reduzir o risco de contaminação do vírus e manter o cuidado com o paciente, considerando a gravidade da pandemia e as complicações respiratórias, que podem ser fatais, se somadas aos danos causados pelo tabagismo", diz a gestão.

Para quem já fazia tratamento individual ou em grupo, foi garantida a entrega de medicação para o período necessário. Além disso, pela necessidade de distanciamento social, a Prefeitura afirma que as orientações terapêuticas foram mantidas por meio de aplicativos de mensagens e ligação.

Geral

Vício de fumar pode aumentar na quarentena; veja dicas para controlar

Período de restrições pode gerar gatilhos psicoemocionais que despertam o desejo pelo cigarro, mas momento também é oportunidade para rever o hábito

Modificado em 24/09/2024, 01:45

Vício de fumar pode aumentar na quarentena; veja dicas para controlar

(Shutterstock)

"Estou fumando muito mais na quarentena." Esse foi o tipo de resposta que obtive ao perguntar a algumas pessoas do meu círculo social mais próximo se o hábito delas de fumar havia mudado nesse período. Com a pandemia do novo coronavírus, quem pode ficar em casa se vê mais livre e com acesso mais fácil a uma tragada ao mesmo tempo que a situação pode gerar gatilhos psicoemocionais que despertam o desejo pelo cigarro.

O estudante Vinícius Buono, de 25 anos, afirma que tem permanecido em casa desde o início da quarentena no Estado de São Paulo, em março, e sai apenas para atividades essenciais. No caso dele, comprar cigarro é uma delas. Ele não faz muita conta de quantos fuma por dia, mas estima que acaba com um maço em 24 horas, ou seja, 20 unidades. Às vezes, passa disso.

"Acho que com isso de ficar só em casa, às vezes você se vê sem nada para fazer e pensa 'ah, vou fumar' e isso acontece com frequência", diz o jovem, que fuma desde os 17 anos. "Eu já fumava bastante antes, agora está ainda pior."

Vinícius acredita que, para ele, o aumento de cigarros fumados por dia tem mais a ver com o "marasmo" da quarentena do que com um possível estresse provocado pela pandemia. Talvez, essa seja uma exceção, porque estudos indicam prejuízos à saúde mental durante o distanciamento social.

Uma revisão científica publicada na renomada revista The Lancet reuniu 24 artigos que falam do impacto psicológico da quarentena. A maioria relatou efeitos negativos, incluindo sintomas de estresse pós-traumático, confusão e raiva. Entre os agentes estressores estavam duração da quarentena, medo da infecção, frustração, tédio, perda financeira e estigma.

Para alguns fumantes, todas essas consequências podem ser gatilhos para acender um cigarro. Por isso, a psicóloga Alessandra Gomes Jacinto faz uma ponderação. "Em um momento em que você perde muitos prazeres, fumar acaba sendo um prazer justificável", diz. Mas isso não significa que fumar deixa de ser prejudicial.

"O cigarro é responsável por 30% dos casos de câncer de pulmão", alerta William Nassib William Júnior, oncologista na BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Segundo ele, "não existe nível de cigarro que seja seguro para saúde", ou seja, fumar um por dia é tão arriscado quanto dez.

A preocupação com a saúde, e agora o medo do novo coronavírus, foi um dos motivos que levaram a assessora de investimentos Camila Leão, de 29 anos, a frear a quantidade de cigarros que fuma diariamente. Como a profissão dela sempre a permitiu trabalhar de casa, ela diz que a quarentena não foi uma grande questão --- exceto que agora, em vez de sozinha, ela fica sempre na companhia do marido e dos três filhos.

Porém, o isolamento mais rígido teve certo impacto para ela. "Eu não fumo dentro de casa por causa dos meus filhos, então isso também me ajudou a reduzir, já que moro em apartamento e toda vez que tenho de fumar tenho de descer até o estacionamento", explica Camila, que também diminuiu as descidas para fumar devido ao risco de contaminação.

A empatia foi outro fator que influenciou o plano que a assessora de investimentos já tinha de reduzir e depois parar de fumar, hábito que ela mantém desde os 14 anos de idade. "Com o vírus, comecei a me sentir mal fumando enquanto tantas pessoas estavam nos hospitais sem conseguir respirar direito."

De 20 cigarros por dia, Camila passou a cinco. Isso já tem um mês. Além disso, ela tem controlado os gatilhos que a levam a fumar, como ansiedade e compulsão alimentar. "A questão da ociosidade da quarentena faz com que a gente queira fumar mais, então também comecei um tratamento contra ansiedade e tem me ajudado bastante", conta.

Independente da situação em que uma pessoa que fuma está vivendo nesta quarentena, a psicóloga afirma que a mudança repentina da rotina tem grande interferência na vida e no emocional. Embora essa reclusão maior também possa servir como um momento de mais atenção à saúde, parar nem sempre é fácil.

"A mudança causa muita ansiedade e a abstinência [ao ficar sem cigarro] tem muitos sintomas negativos e é isso que faz com que a pessoa não consiga parar", explica Alessandra, que atua no Núcleo de Apoio à Saúde da Família da UBS Jardim Coimbra, administrada pelo Cejam, onde faz parte da equipe que trata pessoas que querem parar de fumar. Interromper o hábito definitivamente ou por alguns dias pode levar ao aumento da ansiedade, irritabilidade, sentimento de tristeza, tontura, dor de cabeça e falta de concentração, diz a especialista.

Cigarro e o novo coronavírus

Em meados de abril, foi publicado um artigo indicando que a nicotina teria um papel protetor contra o novo coronavírus. A pesquisa foi questionada por especialistas devido à fragilidade científica e o oncologista William Júnior reforça o risco da covid-19 para os fumantes. "A maioria das evidências apontam que quem faz uso de cigarro tem maiores causas de doença cardiovascular, hipertensão, e esses fatores de risco estão associadas à evolução pior do paciente que se infecta", diz.

O médico se preocupa com o fato de que, além de colocar em risco a própria saúde, uma pessoa que fuma, mora com outras pessoas e aumentou o hábito na quarentena está colocando os demais em risco também. Outro problema que ele aponta é que, por medo do vírus, muitos fumantes deixaram de fazer acompanhamento médico regular, o que pode comprometer o tratamento de quem tem câncer de pulmão, por exemplo.

"Hospitais têm colocado medidas para prevenir [o contágio]. Os pacientes devem continuar fazendo acompanhamentos e se estão pensando em diminuir, isso não pode ser feito sem discussão com equipe médica", orienta William Júnior. Do ponto de vista da oncologia, ele teme também que o possível aumento do hábito de fumar eleve as chances de desenvolver câncer, não só de pulmão, mas de bexiga e rim.

Para quem já tem algum tumor, o oncologista diz que a covid-19 não faz piorar o quadro, mas estudos recentes indicam que, entre esse público, aqueles com câncer de pulmão e hematológico tem risco maior de morrer pelo novo coronavírus.

Dicas para conter o hábito de fumar na quarentena

Para algumas pessoas como o estudante Vinícius, pode ser "impossível" parar de fumar, ainda mais nesse período de isolamento social. "Eu já cogitei parar de fumar nessa quarentena justamente porque estou fumando demais, mas não dá. Ficar sem o cigarrinho depois das refeições é impossível", diz ele.

Apesar de todas as dificuldades que o hábito impõe para quem quer deixá-lo, uma vez que o vício provoca alterações químicas no cérebro que levam à busca por cigarro, é possível adotar estratégias para contê-lo. Neste Dia Mundial Sem Tabaco, lembrado em todo 31 de maio, os especialistas ouvidos pelo E+ e a Camila, que conseguiu mudar o hábito, dão sugestões que podem ajudar.

"Buscar apoio profissional, de maneira remota, ajuda muito a parar de fumar e o apoio não profissional também. Você se apoiar nos seus familiares, nos amigos é extremamente importante, se não para parar, mas para não aumentar", diz William Júnior. Outra recomendação dele é eliminar os gatilhos: higienizar roupas com cheiro de fumo, evitar alimentos e bebidas que despertam o desejo pelo cigarro.

A psicóloga Alessandra indica trabalhar o nível de estresse. Praticar atividade física, caminhando dentro de casa ou fazendo alongamentos, aumenta a produção de serotonina, hormônio que traz sensação de prazer e desvia da vontade de fumar. Diminuir açúcar, café, álcool e sal também é bom para evitar picos de estresse. Ela sugere apostar também nas terapias de relaxamento e evitar ter o controle de tudo, o que vai gerar desgaste emocional.

Camila, que há um mês conseguiu reduzir o número de cigarros fumados por dia, sugere que as pessoas não pensem no cigarro como única válvula de escape. "Um copo de água ajuda, ver um vídeo na internet e falar que vai fumar depois ajuda, deixar para amanhã ajuda", diz. Se, mesmo assim, for muito difícil, o ideal é procurar ajuda profissional.

Atendimento profissional para fumantes

O Sistema Único de Saúde disponibiliza grupos de apoio e tratamento gratuito para os dependentes do cigarro. Na cidade de São Paulo, os serviços são oferecidos nas Unidades Básicas de Saúde e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Em todo o Estado, o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) também dispõe de atendimento em diferentes unidades. Confira a lista em cada região aqui.

Devido à pandemia do novo coronavírus, os encontros presenciais em grupo foram cancelados. Porém, a Prefeitura de São Paulo afirmou, em nota, que mantém a continuidade dos serviços assistenciais, como o CAPS Adulto, com suporte às pessoas que tenham quadros graves e que estão em tratamento terapêutico em progresso.

"O Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) foi reorganizado com o objetivo de reduzir o risco de contaminação do vírus e manter o cuidado com o paciente, considerando a gravidade da pandemia e as complicações respiratórias, que podem ser fatais, se somadas aos danos causados pelo tabagismo", diz a gestão.

Para quem já fazia tratamento individual ou em grupo, foi garantida a entrega de medicação para o período necessário. Além disso, pela necessidade de distanciamento social, a Prefeitura afirma que as orientações terapêuticas foram mantidas por meio de aplicativos de mensagens e ligação.

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Juiz ordena tabacaria que indenize homem que fuma há 50 anos

"Sabem perfeitamente que estão vendendo um veneno e não param", disse o juiz.

Modificado em 29/09/2024, 00:57

Juiz ordena tabacaria que indenize homem que fuma há 50 anos

Um juiz da Argentina determinou que a tabacaria Massalin Particulares deverá indenizar com pelo menos US$ 7.000 um homem pela dependência "insuperável" que sofre ao fumar há 50 anos os cigarros vendidos pela empresa, a qual apelou da sentença, confirmou nesta quinta-feira à Agência Efe o denunciante.

O Juizado Civil e Comercial número 14 de Mar del Plata, na província de Buenos Aires, considerou que a tabacaria - que comercializa as principais marcas de cigarros, como Philip Morris e Marlboro, no país - deverá pagar a Hugo César Lespada, de 65 anos, 110.000 pesos (US$ 7.000) pela "dependência insuperável" que sofre.

Segundo contou à Efe Lespada, seu objetivo é investir tal soma, que pode chegar a 300 mil pesos (US$ 19.500) por causa dos "juros" de estar há cinco décadas fumando, em um tratamento médico "para poder terminar com este flagelo tão grande que é a nicotina".

A sentença, que ainda não é definitiva devido à apelação da empresa, afirma que "a prova fala por si só sobre so problemas de saúde" que Lespada sofre "depois de ter consumido por mais de quatro décadas os produtos oferecidos pela acusada".

O juiz José Méndez Acosta, a cargo do processo, admitiu que não pôde confirmar uma "relação causal" entre ter fumado tabaco desde os anos 70 e alguns prejuízos físicos denunciados, como as complicações em seu sistema nervoso central, a severa disfunção sexual, o aumento de glicose e lipídios e o processo degenerativo de suas artérias.

No entanto, viu que existia um vínculo entre sua "dependência insuperável" e o consumo, ao considerar que a nicotina é "a fonte principal e imediata" do "prejuízo psíquico" de Lespada.

O denunciante assegura que quando iniciou o processo judicial, há 12 anos, achava que as possibilidades de ganhar da tabacaria "eram muito poucas" e por isso comemorou que o juiz tenha decidido a favor do "doente" e não "dos poderosos que contaminam a sociedade"."A Justiça tem favorecer a saúde, não a droga", acrescentou.

O homem começou a fumar quando era um "precoce adolescente" que praticava vários esportes, como futebol e natação, porque buscava ser "mais viril, maior" e o intensificou ao sentir o "efeito prazeroso" que lhe gerava.

Em pouco tempo, o hábito se tornou uma necessidade e embora tenha sentido a "queda" que provocava em seu rendimento físico, era "impossível" evitar consumir uma quantidade menor do que 20 cigarros por dia. Isto lhe causou uma dependência da qual, afirma, "nunca" conseguiu se libertar.

Lespada justifica sua denúncia em que começou a fumar motivado pela "publicidade enganosa e indutiva" realizada pela Massalin Particulares, que, além disso, "não informava com precisão, nem em forma detalhada" sobre os riscos derivados do consumo de cigarros nem dos danos que podiam gerar em sua saúde.

"Sabem perfeitamente que estão vendendo um veneno e não param", disse à Efe.