Geral

Comércio busca lucro com política nas toalhas

Vendedores dizem que vendas ainda estão tímidas, mas a expectativa é que cresçam conforme o pleito se aproxime

Modificado em 20/09/2024, 00:14

Toalhas com rostos de políticos à venda em cruzamento no setor Vila Redenção, em Goiânia

Toalhas com rostos de políticos à venda em cruzamento no setor Vila Redenção, em Goiânia (Fábio Lima)

Toalhas diversas com os rostos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estampam o cruzamento que liga a Vila Redenção ao Alto da Glória, em Goiânia. A polarização política que se desenha para a eleição presidencial deste ano motivou comerciantes goianos a investirem nas vendas dos artigos que fazem referência aos dois polos desse antagonismo.

Diferente do esperado, porém, as vendas ainda são tímidas em Goiânia. A esperança de alguns dos vendedores com quem a reportagem conversou é de que a arrecadação com as toalhas aumente conforme a data do pleito for se aproximando.

Nos itens em exposição, além do rosto dos pré-candidatos à Presidência da República, há frases que já foram lemas de eleições passadas de ambos os presidenciáveis, como "O Brasil feliz de novo", de Lula, e "Deus acima de tudo, Brasil acima de todos", de Bolsonaro.

No ponto há 13 anos, o vendedor Adão Ferreira conta que começou a vender bandeiras dos pré-candidatos há cerca de uma semana, mas diz que o movimento é fraco. "Está devagar. Hoje, mesmo eu não vendi nenhuma", disse nesta quarta-feira (1º). Ele afirma que a última vez que vendeu uma foi na segunda-feira (30).

Cada toalha, seja de Bolsonaro ou de Lula, sai por R$ 30. Ferreira compra a R$ 16 e o lucro fica em R$ 14. A expectativa do vendedor é de que, quando a eleição se aproximar, as vendas subam.

Outra vendedora, Raimunda de Oliveira comercializa toalhas de Bolsonaro desde o ano passado, na época de uma das manifestações favoráveis ao presidente em Goiânia. Há 60 dias, ela decidiu vender também as estampadas com o rosto de Lula.

Assim como o concorrente, Raimunda afirma que as vendas dos itens estão estagnadas. Por volta das 14h45, ela também ainda não havia vendido nenhuma das toalhas. Na terça, vendeu duas.

"Eu vendo uma média de cinco a seis por semana. Depende muito, porque tem cliente que compra 10 de uma vez e aí você faz um preço mais barato", conta Raimunda, que comercializa as toalhas a R$ 30.

Ela relata que há certas compras inusitadas, como quando vendeu toalhas de Lula e Bolsonaro para uma mesma pessoa. "Ela disse que iria levar para casa porque uma parte da família votava em um candidato e a outra metade no outro. Eu achei uma graça, porque às vezes o esposo vota em Lula e a esposa em Bolsonaro."

Raimunda diz, porém, que nunca presenciou embates entre defensores de candidatos distintos. "Só o pessoal que passa buzinando, pedindo pra tirar um ou outro, mas, no geral, acho que é só pra fazer barulho", conta.

No Parque Amazônia, Raimundo Pereira acabava de vender uma toalha infantil a uma mulher quando foi abordado pela reportagem. Ele diz que o movimento de venda das toalhas de Lula e Bolsonaro está abaixo da sua expectativa.

"O pessoal não está aderindo. As infantis estão saindo mais", afirma. No fim do dia, ele diz arrecadar entre R$ 100 e R$ 120 com o comércio dos itens políticos, mas esperava conseguir ao menos R$ 300 por dia. Cada uma sai a R$ 35.

Neutralidade

Para evitar comprometimentos que prejudiquem suas vendas, ele tem uma estratégia: "O pessoal pergunta 'o senhor é de qual?'. Eu digo que eu sou nulo, não posso falar de quem eu sou. Não posso puxar nem para o lado A nem para o B".

Ele começou a vender os itens na semana passada e vendeu 30 até agora. O vendedor espera que o movimento aumente e cogita até comprar camisetas e bonés quando a eleição estiver mais próxima.

Clodoaldo Barbosa, que vende toalhas por R$ 40 no Jardim Goiás, foi o único mais animado com o comércio dos artigos políticos. Ele afirma que já chegou a vender R$ 1,2 mil em um único dia.

O cientista político Guilherme Carvalho considera que a chegada das toalhas ao comércio informal é um reflexo da previsão de especialistas de que esta tende a ser a eleição mais polarizada da história do Brasil. Para ele, já é um clima de segundo turno antecipado.

Por outro lado, Carvalho afirma que essa intenção não é suficiente para que a maioria do eleitorado comece a "ostentar símbolos". "As pessoas estão, em certa medida, um pouco precavidas. E ainda tem aquele medo da violência por pura opinião política", lembra.

Propaganda

Para o advogado eleitoral Luciano Hanna, que já foi juiz membro do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), as toalhas podem, sim, significar propaganda eleitoral antecipada. "A mensagem implícita nessas vendas é de pedido de voto", diz.

Ele lembra que as toalhas trazem conteúdo eleitoral e podem, por isso, violar o Artigo 3º da Resolução 23.610, de 2019, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que trata da propaganda extemporânea.

O Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI) mandou os vendedores recolherem toalhas com imagens de Lula e Bolsonaro das ruas de Teresina, capital do estado. A ordem foi dada após provocação do Ministério Público Eleitoral (MPE).

O juiz justificou que a medida servia para garantir o cumprimento da norma e o princípio da isonomia entre candidatos ou eventuais candidatos, além de evitar prejuízos à coletividade. Para Hanna, a decisão do TRE-PI é correta e serve como precedente.

Toalhas com rostos de políticos à venda em cruzamento no setor Vila Redenção, em Goiânia

Toalhas com rostos de políticos à venda em cruzamento no setor Vila Redenção, em Goiânia (Fábio Lima)

Geral

Renda até R$ 5 mil será isenta de IR, e quem ganha até R$ 7 mil terá desconto

Texto também prevê desconto parcial para quem ganha entre R$ 5 mil e R$ 7 mil mensais. As medidas, se aprovadas, valem a partir de 2026.

Modificado em 19/03/2025, 08:28

Promessa de campanha de Lula e aposta para conter a queda de popularidade do presidente, projeto beneficia a classe média e precisa da aprovação da Câmara e do Senado

Promessa de campanha de Lula e aposta para conter a queda de popularidade do presidente, projeto beneficia a classe média e precisa da aprovação da Câmara e do Senado (Diogo Zacarias/MF)

Os contribuintes que ganham até R$ 5.000 por mês ficarão 100% isentos do Imposto de Renda (IR), de acordo com projeto de lei encaminhado nesta terça-feira (18) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Congresso Nacional.

Para esse grupo de contribuintes, a proposta prevê um desconto de até R$ 312,89 do imposto a pagar para garantir que ao final o IR devido seja zero. O governo estima que 10 milhões de contribuintes que hoje são tributados ficarão isentos com a medida.

Quem tiver renda na faixa entre R$ 5.000,01 até R$ 7.000 também será beneficiado, mas a isenção será parcial. Nesses casos, o desconto sobre o imposto a pagar será decrescente, até zerar para rendimentos a partir de R$ 7.000.

Dessa forma, quem ganha R$ 5.500 mensais, por exemplo, terá um desconto de 75% sobre o imposto a pagar. Esse desconto cai para 50% para quem ganha R$ 6.000 de renda e para 2% no caso de quem ganha acima de R$ 6.900.

Esse modelo evita que uma pessoa que ganhe abaixo de R$ 5.000 receba um aumento salarial e passe a pagar o IR de forma muito abrupta, ainda que a nova remuneração fique pouco acima desse valor (R$ 5.010, por exemplo).

Veja mais exemplos de como vai funcionar a cobrança:

Quem ganha a partir de R$ 7.000 não será beneficiado pelo desconto. Para esses contribuintes, segue a aplicação da tabela do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física). Mas esse grupo de contribuintes passará a pagar um pouco menos, pois a tabela atualmente em vigor será ajustada ainda em 2025.

O ajuste decorre do fato de que a primeira faixa da tabela do IRPF está vinculada atualmente ao valor do salário mínimo, que passou em 2025 de R$ 1.412 para R$ 1.518.

Assim, a faixa de isenção da tabela do IRPF, que corresponde a 80% de dois salários mínimos, será ampliada de R$ 2.259,20 para R$ 2.428,80 mensais. Ou seja, uma parte maior da renda ficará livre da tributação.

Na prática, quem ganha até dois salários (R$ 3.036 mensais) já ficaria isento de imposto com esse ajuste, uma vez que a tabela do IRPF se aplica não sobre a renda bruta, mas sobre a renda líquida, após deduções legais previstas no IRPF.

O ato formal de assinatura do projeto pelo presidente ocorreu nesta terça-feira (18) em cerimônia no Palácio do Planalto, após quase quatro meses do anúncio oficial.

Para entrar em vigor em 2026, a proposta precisa ser aprovada ainda este ano pelo Congresso Nacional.

O mecanismo do desconto mitiga a perda de arrecadação que ocorreria se a isenção fosse feita por meio da correção de toda a tabela progressiva do IRPF, o que acabaria beneficiando não só quem ganha até R$ 5.000, mas todos as pessoas hoje sujeitas ao pagamento do imposto.

Nesse caso, o custo da isenção chegaria a R$ 120 bilhões, segundo estimativas da Receita Federal. Restringir a isenção somente para as pessoas que ganham até R$ 5.000 reduz a renúncia para R$ 25,84 bilhões em 2026, como antecipou a Folha na semana passada. Em 2027, o valor sobe para R$ 27,7 bilhões.

A previsão inicial era uma perda de arrecadação de R$ 35 bilhões, mas os técnicos refizeram as contas com base nos dados novos coletados da declaração de ajuste do IRPF de 2024 (ano-base 2023). Os números anteriores usaram como referência valores da declaração de ajuste de 2023 (ano-base de 2023).

Pela proposta do governo, a perda de arrecadação será compensada com a criação de um imposto mínimo sobre a alta renda (quem ganha a partir de R$ 600 mil por ano).

O ajuste na faixa de isenção da tabela do IRPF de 2025 só será feito depois da aprovação do Orçamento deste ano pelo Congresso. A data será definida pelo presidente Lula. A perda de arrecadação é de R$ 5 bilhões em termos anuais, mas o impacto efetivo neste ano será menor porque a medida entrará em vigor no decorrer do exercício.

Se aprovado pelo Congresso, o projeto de aumento da faixa de isenção, combinado com a criação do imposto mínimo, promoverá uma forte mudança na estrutura do Imposto de Renda no Brasil. O IR foi criado há mais de 100 anos, em 1922, sendo que o primeiro regulamento só saiu do papel em 1924.

O diagnóstico do Ministério da Fazenda é que, ao longo de todas essas décadas, a tributação do IR sempre foi mais pesada sobre a renda do trabalhador e mais leve em relação a outros tipos de renda que não as do trabalho.

Entre as razões, as inúmeras exceções do sistema tributário brasileiro adotadas ao longo desses 100 anos que acabaram gerando distorções do sistema tributário brasileiro. A renda recebida de lucro e dividendos e aplicações financeiras, por exemplo, é isenta de IR. São rendas obtidas na maioria das vezes obtidas pela pela população mais rica.

Hoje, praticamente toda a renda do trabalhador que ganha em torno de R$ 5.000 é tributada pela tabela do Imposto de Renda. Esse modelo faz com que, na prática, a carga tributária sobre os contribuintes mais ricos seja mais baixa do que a dos mais pobres.

O projeto da desoneração do IR para quem ganha até R$ 5.000 foi anunciado no dia 27 de novembro pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em cadeia de rádio e TV junto com as medidas de contenção de despesas.

Geral

Governo Lula avalia ampliar renda do Minha Casa, Minha Vida para até R$ 12 mil

Governo quer aumentar limite de renda do programa habitacional de R$ 8 mil para R$ 12 mil

Modificado em 18/03/2025, 09:30

Medida está em discussão num momento de queda popularidade do presidente, inclusive entre o eleitorado de classe média

Medida está em discussão num momento de queda popularidade do presidente, inclusive entre o eleitorado de classe média (Ricardo Stuckert / PR)

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estuda criar uma faixa estendida no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida para contemplar famílias com renda bruta mensal entre R$ 8.000 e R$ 12 mil, público hoje fora do alcance da política.

A medida é uma promessa do presidente desde 2023 e pode sair do papel a partir da injeção de R$ 15 bilhões do Fundo Social do Pré-Sal para operações de financiamento do programa, solicitada pelo governo em ofício ao relator do Orçamento de 2025, senador Angelo Coronel (PSD-BA).

Segundo um técnico do governo, o foco do governo é alavancar a compra da casa própria pela classe média, que enfrenta um gargalo diante da escassez de recursos da poupança, uma das principais fontes de financiamento barato para o setor imobiliário.

A medida está em discussão num momento de queda popularidade do presidente, inclusive entre o eleitorado de classe média. Como as linhas do Minha Casa, Minha Vida têm taxas de juros reduzidas, a maior abrangência do programa daria um alívio significativo para essas famílias, com efeito indireto sobre aquelas que ganham acima de R$ 12 mil mensais, uma vez que a disputa pelos recursos da poupança ficaria menos acirrada.

Lula ainda não bateu o martelo sobre qual será o modelo adotado, mas pessoas envolvidas nas discussões afirmam que o objetivo já está fechado: facilitar a compra da casa própria para as famílias que ganham até R$ 12 mil por mês. A nova política deve ser anunciada no início de abril após viagem de Lula ao Japão, no fim de março.

Segundo um técnico, há boas chances de a faixa estendida finalmente sair do papel, mas o governo ainda discute os detalhes de como essas famílias serão atendidas e qual será o limite do valor do imóvel.

Hoje, na faixa 3 do programa (para famílias que ganham de R$ 4.700,01 a R$ 8.000 mensais), o teto para o valor de venda do imóvel é de R$ 350 mil. Para a faixa estendida, técnicos debatem a possibilidade de um valor entre R$ 400 mil e R$ 450 mil, mas não descartam cifras acima disso.

Outro ponto em aberto é se a nova modalidade vai permitir a compra de imóveis usados.

A ampliação dos financiamentos do Minha Casa, Minha Vida será viabilizada com a transferência de recursos do Fundo Social. Uma MP (medida provisória) editada recentemente por Lula autorizou o uso dessas receitas para ações voltadas à habitação de interesse social. Trata-se de uma despesa financeira, sem impacto nas regras fiscais, como o limite de despesas do arcabouço fiscal ou a meta de resultado primário, embora seu uso tenha reflexo sobre o endividamento do país.

Na última sexta-feira (14), o Executivo enviou ao relator do Orçamento um ofício pedindo o remanejamento de R$ 15 bilhões em receitas financeiras do Fundo Social para o financiamento de operações do Minha Casa, Minha Vida. Serão R$ 14,37 bilhões para atender a faixa 3 e outros R$ 630 milhões para a faixa 1 (até R$ 2.850 mensais), categorias que já existem no programa.

Normalmente, esses contratos utilizam recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Com o repasse do Fundo Social, parte do orçamento destinado pelo FGTS ao programa habitacional ficará livre e poderá ser usado para lançar a faixa estendida.

A mudança pode ser feita por decreto presidencial e depende de aprovação no Conselho Curador do FGTS, formado por representantes do governo, dos trabalhadores e dos empregadores.

Como alternativa, o governo também discute a possibilidade de permitir que o FGTS compre títulos da carteira de crédito imobiliário da Caixa, para dar novo fôlego ao banco nos empréstimos.

As novas medidas também deve incluir uma linha de crédito para famílias reformarem a casa. A ideia foi citada por Lula na última sexta-feira (14). Na ocasião, o presidente afirmou que o governo ajudaria quem quer fazer "um puxadinho, um banheiro, um quartinho a mais para a filha ou alguma coisa a mais na garagem".

Ainda não está definido se o dinheiro para a linha de crédito destinada a melhorias virá dos mesmos R$ 15 bilhões repassados pelo Fundo Social, ou se será possível obter recursos adicionais dentro do Orçamento para essa medida.

A preocupação central do governo neste momento, segundo um técnico, é suprir a falta de recursos da poupança.

Num momento de aquecimento do mercado imobiliário, a queda no volume de recursos depositados na poupança tem limitado a capacidade dos bancos de oferecer às famílias opções de crédito mais barato para a compra da casa própria.

No ano passado, a Caixa Econômica Federal, principal operador de crédito imobiliário no país, precisou endurecer as regras de suas linhas de crédito diante do risco de os recursos acabarem. Neste ano, a instituição deve manter em cerca de R$ 60 bilhões o orçamento para empréstimos com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), mas decidiu estabelecer internamente um cronograma mensal para a liberação dos recursos.

O uso de recursos do Fundo Social para viabilizar a criação da faixa estendida, porém, enfrentou ressalvas dentro do próprio governo, uma vez que a medida foca um público de renda mais elevada. No entanto, prevaleceu a intenção de reduzir os gargalos no SBPE.

Outra ala do governo almejava aprimorar o uso dos recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), que recebe recursos do Orçamento Federal para bancar a construção subsidiada (não financiada) de casas.

O FAR recebeu R$ 19 bilhões entre 2023 e 2024 e já tem outros R$ 10,7 bilhões reservados no Orçamento deste ano. Parte do dinheiro ainda está parado, mas, segundo um técnico, os recursos estão comprometidos com a execução das 130 mil unidades habitacionais já contratadas, com custo médio de R$ 164 mil. Os imóveis serão entregues nos próximos anos.

FAIXAS DO MINHA CASA, MINHA VIDA

  • Faixa 1 - renda bruta mensal familiar de R$ 2.850, com subsídio de 95%; a taxa de juros do financiamento varia de 4% a 5% ao ano
  • Faixa 2 - renda bruta mensal familiar de R$ 2.850,01 até R$ 4.700, com subsídio até R$ 55 mil; a taxa de juros do financiamento varia de 4,75% a 7% ao ano
  • Faixa 3 - renda bruta mensal familiar de R$ 4.700,01 até R$ 8.000; a taxa de juros do financiamento pode chegar a 8,16% ao ano
  • Geral

    Comércio registra falta de peixes, que ficam caros

    Período da piracema e a forte seca na Amazônia em 2024 são apontados como motivos da escassez; Quaresma faz procura aumentar

    Maiara Souza, gerente da Peixaria Pescados & Cia: espécies como pintado são ainda mais procuradas na Quaresma

    Maiara Souza, gerente da Peixaria Pescados & Cia: espécies como pintado são ainda mais procuradas na Quaresma (Wesley Costa / O Popular)

    Muitas peixarias de Goiânia estão enfrentando a escassez de alguns peixes de rio justamente durante este período da Quaresma, quando as vendas aumentam até 30% em relação aos demais meses do ano. A movimentação em busca de pescados já aumentou em praticamente todos os estabelecimentos da capital, mas a falta de algumas espécies tem preocupado as empresas e feito os preços de alguns peixes subirem acima do esperado no mercado.

    Entre os motivos, estão a forte seca nos rios da Amazônia em 2024, que desabasteceu muitos distribuidores, e até o período da piracema ou de defeso, que, neste ano, se estendeu até o último dia 28 de fevereiro, quando a pesca foi liberada. Isso acabou atrasando o início do período de pesca para o mês de março, quando a Quaresma já havia começado.

    A assistente administrativa da Nova Peixaria, no setor Leste Vila Nova, Adriana Rocha da Silva, informa que, geralmente quando começa o período da Quaresma, o movimento cresce de 30% a 50% em relação aos dias normais. "Neste ano, o movimento já aumentou desde a Quarta-feira de Cinzas, quando já notamos um aumento na procura pelos peixes", conta. Espécies como pintado e caranha, além dos filés de tilápia e de salmão estão entre os mais procurados pelos clientes que seguem a tradição religiosa.

    Porém, neste ano, estão faltando muitos peixes, principalmente as espécies com escamas, como tucunaré, traíra e piau. Por conta disso, segundo Adriana, os preços subiram de 20% a 30% em relação ao ano passado.

    "Esse é o período de pesca fechada e trazemos muitos peixes da região amazônica, onde a forte seca prejudicou muito a oferta no ano passado. Hoje, cada remessa que chega, vem com um novo aumento", explica.

    Rodrigo de Souza Katu, proprietário Peixaria do Japão, na Cidade Jardim, também confirma que muitos peixes estão em falta neste ano, principalmente os nativos de rios, como o pintado, pirarara, jaú, piau e tucunaré, que estão mais difíceis de encontrar devido ao fato do final do período da piracema ter coincidido com o início da Quaresma. "A pesca foi liberada há pouco tempo, em 28 de fevereiro, e ainda não deu tempo dos peixes chegarem. Por isso, estamos correndo atrás agora, mas está faltando e estamos perdendo venda", lamenta o empresário.

    O resultado disso, segundo ele, tem sido um aumento de R$ 1 a R$ 3 no preço do quilo do pescado. Mas peixes de cativeiro, como filé da tilápia, tambaqui e pintado, também ficaram mais caros. "Mesmo assim, acho que ainda estão mais acessíveis em comparação à carne bovina, por exemplo", ressalta Rodrigo Katu.

    Semana Santa

    Ele conta que o movimento de clientes já aumentou de 20% a 30%, por isso está sendo necessário buscar mais peixes no mercado. "Até a Semana Santa a oferta deve normalizar, mas os preços devem continuar mais altos", prevê. O quilo das postas de pintado, por exemplo, que no ano passado custava entre R$ 42 a R$ 43, neste ano já está sendo vendido por R$ 53 e deve subir ainda mais até a Semana Santa, chegando a cerca de R$ 55 reais.

    Na Peixaria do Gordo, no Centro de Goiânia, a procura pelos pescados já aumentou cerca de 15%. O vendedor Túlio Medeiros informa que os peixes mais procurados são o pintado, filé de tilápia e tambaqui. Ele também reforça que os preços não subiram por conta do início da Quaresma, mas por causa da falta do produto no mercado. "Um dos motivos foi o fato da piracema ter coincidido com a Quaresma neste ano. Não está tendo peixe no mercado, como tucunaré e piau", destaca.

    Medeiros conta que a peixaria não está recebendo nem metade dos pedidos que faz para as distribuidoras. "Se pedimos mil quilos de pintado, só chegam 200 ou 300 quilos. A seca na Amazônia ainda não conseguiu recuperar os estoques das distribuidoras. O que chega no frigorífico já sai bem rápido", garante.

    Ele acha difícil a oferta se normalizar até a Semana Santa, o que vai depender muito do desempenho da produção de peixes nos cativeiros. "Os peixes de rio dependem da natureza e só agora os pescadores estão saindo pra pescar, apesar de estarem trabalhando dobrado. Estamos nos esforçando para não faltar", garante.

    Maiara Souza, gerente da peixaria Pescados & Cia, no setor Bela Vista, diz que a empresa tem conseguindo segurar os preços em relação ao ano passado. "As vendas aumentam 30% neste período e os católicos são os que mais consomem, mas temos clientes que compram o ano todo", destaca. Ela informa que as vendas começaram a crescer ainda na segunda-feira de carnaval, pois muita gente resolve estocar com medo das altas de preços.

    Os mais procurados são tilápia, pintado e até bacalhau, caranha e tambaqui. "Esta é uma época em que reforçamos o estoque e trabalhamos com promoções diferentes todas as semanas para incentivar o consumo", comenta a gerente. Entre as promoções, ela dá o exemplo do bacalhau do Porto, que está sendo vendido por R$ 140, enquanto o quilo do peixe tipo bacalhau Saithe sai por R$ 79,90.

    No Armazém do Pescado, no setor Bueno, o proprietário Rogério Naves conta que desde a Quarta-feira de Cinzas já houve um acréscimo natural das vendas, que aumentaram de 15% a 20%, apesar do grande movimento ser esperado mesmo para a Semana Santa. "Estamos com bom estoque neste ano. Os mais procurados por nossos clientes são bacalhau e salmão, além de tilápia, pintado e robalo, que estão com oferta regular", garante.

    Porém, os preços estão maiores que no ano passado e até podem subir um pouco mais nos próximos dias. Naves conta que o bacalhau do Porto já teve uma alta de cerca de 20%. "Nossa clientela é mais de público A e as vendas continuam boas para este período. Esperamos vender mais que na Páscoa do ano passado porque, a cada ano, as pessoas comem mais peixe", destaca o empresário.

    Geral

    Prefeitura enfrenta desafios para realocar ambulantes no Centro

    Paço quer remanejar comerciantes informais para pontos nas galerias até o fim de março. Camelôs, contudo, alegam alto custo para manter estandes

    Modificado em 28/02/2025, 07:06

    Sandro Mabel estabeleceu prazo até o dia 30 de março para a retirada dos ambulantes da Região da 44

    Sandro Mabel estabeleceu prazo até o dia 30 de março para a retirada dos ambulantes da Região da 44 (Wildes Barbosa / O Popular)

    Ao chegar na capital goiana em 2019, Geuma Conceição estabeleceu uma loja de roupas em uma das galerias localizadas na Região da 44. Durante quatro anos, manteve o sucesso na comercialização dos produtos, mas o alto custo para manter o ponto, associado ao baixo volume ocasionado pela pandemia da Covid-19, fez o negócio degringolar. Sem opção, decidiu montar uma banca na calçada para trabalhar como ambulante. E a história da comerciante não é a única dentre os ouvidos pela reportagem, o que mostra o desafio que a Prefeitura de Goiânia terá para conseguir realocar os camelôs que ocupam as vias do polo comercial.

    O prefeito Sandro Mabel (UB) disse em entrevista à TV Anhanguera, nesta quarta-feira (26), que o remanejamento será concluído até o fim de março, ou seja, em um prazo de 30 dias. O POPULAR já havia mostrado, na edição do último dia 19, que os ambulantes da 44 poderiam ser realocados por meio da criação de um aluguel social, para que eles ocupassem espaços vazios nos empreendimentos comerciais da região, ou mesmo para feiras realizadas nas proximidades. No caso do aluguel social, a cobrança será progressiva. A medida, contudo, não tem agradado quem trabalha no local.

    "Quebrei por causa do aluguel", resume Geuma. Ela conta que, à época, a locação do ponto custava em torno de R$ 2,1 mil mensais. Por conta da pandemia, houve até uma redução, caindo para R$ 1,5 mil. Mas, mesmo assim, ela não conseguiu manter. "Compreendo que tem dificuldade, mas que deixasse a gente só de madrugada, ou uma galeria só dos camelôs. Infelizmente, a gente precisa da rua, é daqui que a gente vive. Se eu tivesse condições, não ficaria aqui, pegando sol e chuva", comenta, ao mostrar a camiseta molhada nas costas, por conta da chuva que caiu na região na tarde desta quinta-feira (27).

    A vendedora ambulante de roupas femininas também relata que começa a trabalhar de madrugada, com uma meta de tirar cerca de R$ 300 por dia. Mas, nem sempre esse montante é atingido. "Está muito parado. Tem dia que a gente 'come' a peça. Estou vivendo só com o básico (comida, água e luz), e se tirar isso, estamos mortos. Tem muita mãe e pai de família aqui lutando para vender uma peça de roupa para poder levar sustento para a família. Mas acredito que ele (Mabel) fará algo que não nos prejudique", acrescenta.

    Há mais de 20 anos na Região da 44, Raimunda Gomes também teve a experiência de manter uma loja em uma galeria por oito anos. Mas, em 2023, não conseguiu mais manter. "Onde era mais barato, não vendia muito." Conforme ela, mesmo com o aluguel social, seria difícil arcar com os custos, já que desde o início teria de pagar o condomínio do empreendimento comercial. "Estão querendo tirar a gente por covardia. Nem as lojas estão vendendo. Seria um sonho (ir para a galeria), ninguém quer ficar na rua, mas não queremos ficar nas condições precárias. Vão jogar a gente lá para o 'fundão'. Queremos um lugar bom e justo. Então não é que a gente não quer, mas não temos condições", elenca.

    O ambulante Evaldo Frederico percorre as calçadas da 44 em busca de clientela desde 2013. O relato dele também é de dificuldade para manter um aluguel em uma galeria, e reclama dos poucos dias de realização das feiras nas proximidades -- Feira Hippie (sexta-feira, sábado e domingo) e da Madrugada (quarta e quinta-feira). "Acho errado fazer isso porque não tenho condições de pagar loja em galeria. Não está dando nem para pagar as contas em casa. Deveria conversar primeiro com os camelôs, esquematizar um horário para a gente trabalhar, para todos se adaptarem. É mais um pretexto para tirar a gente da rua. Está indo na brutalidade. Mas se tiver diálogo, resolve tudo", diz.

    Propostas

    Presidente da Associação Empresarial da Região da Rua 44 (Aer44), Sérgio Naves explica que a proposta de aluguel social será feita de forma progressiva. "Nos seis primeiros meses, o aluguel será isento e só se paga o condomínio. Depois, paga 30% de aluguel e condomínio. A partir de um ano, 60%, e depois de um ano e meio, arca com 100%." O subsídio para a locação, conta, será do próprio empreendimento comercial. O quantitativo de lojas a serem ofertadas por meio do aluguel social, contudo, ainda está sendo levantado.

    Conforme ele, a proposta é revitalizar a região, transformando-a não apenas em um ponto comercial, mas também em um ponto turístico. "(A realocação) já é um primeiro passo para revitalizar", comenta. Naves diz ainda que tem mantido, por intermédio da Prefeitura, diálogo com representantes dos ambulantes e cita que a conversa tem evoluído. Desta forma, cita, não deve haver um confronto em relação à medida. Para Naves, o prazo mencionado por Mabel é "exequível", haja vista que já há um levantamento com os ambulantes que estão cadastrados junto à Prefeitura que, conforme ele, foi feito em dezembro passado. "Se ele falou, é porque está de acordo."

    Conforme ele, a média de um aluguel nos shoppings centers e galerias populares que são ligadas à associação varia entre R$ 50 a R$ 1,3 mil o metro quadrado (m²), e a média do condomínio é de cerca de 10% do valor total da locação do espaço. "Varia muito, mas tem aluguel mais barato que na feira", cita. O presidente da Aer44 acrescenta que um plano de ação foi sugerido à Prefeitura e falta, apenas, a aprovação do prefeito. Uma nova reunião entre eles deve ser realizada no início de março.

    Associação diz ainda não ter sido procurada

    Presidente da Associação da Feira Hippie, Waldivino da Silva aponta que a entidade ainda não foi procurada oficialmente pela Prefeitura de Goiânia para tratar sobre a realocação de ambulantes em pontos da feira. Contudo, cita, há espaço para recebê-los. "Hoje temos cerca de 700 a 800 espaços disponíveis. Ainda não chamaram para falar sobre isso, mas estamos abertos. Mas precisa sentar e conversar para evitar um conflito, porque isso afasta o cliente. Não é com estalar de dedos", diz.

    A Prefeitura diz, em nota, que ainda "está realizando um levantamento detalhado da quantidade de ambulantes que atuam na Região da 44, com o objetivo de encontrar uma solução organizada e justa para todos". "A proposta é realocar os trabalhadores informais para um espaço adequado, garantindo melhores condições de trabalho", pontua. "A gestão está empenhada em dialogar com todas as partes envolvidas para construir uma solução equilibrada, preservando a organização e o desenvolvimento econômico da região."

    Na última semana, o POPULAR mostrou ainda que uma das propostas do prefeito Sandro Mabel (UB) era firmar uma parceria com o Sebrae para que os camelôs recebam treinamento e possam se desenvolver melhor como empreendedores para gerar renda às famílias. Após isso, o chefe do Executivo reforça que deve haver uma fiscalização mais intensiva para garantir que as calçadas não sejam mais ocupadas pelo comércio informal. "Não podemos nos esquecer de que são pais de família, pessoas que precisam trabalhar para levar o sustento para suas casas", disse, na ocasião.