Denúncia contra Bolsonaro cita Goiânia 18 vezes e tem 4 nomes com atuação no estado
Denúncia contra Bolsonaro e outras 33 pessoas cita capital goiana em 18 momentos, com indicação como base para algumas ações e de militares vinculados a batalhão

Fabiana Pulcineli
20 de fevereiro de 2025 às 06:28

Sede do Comando de Operações Especiais, em Goiânia: técnicas das forças especiais foram usadas pelos citados (Fabio_Lima)
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado em 2022 traz 18 menções a Goiânia, em 272 páginas, e tem quatro nomes que atuaram em batalhões do Exército em Goiás entre os denunciados. O procurador-geral Paulo Gonet aponta o peso dos chamados kids pretos no processo de articulação golpista, enquanto a capital goiana é sede do Comando de Operações Especiais (Copesp), que abriga o 1º Batalhão de Forças Especiais (BFEsp) e o 1º Batalhão de Ações de Comandos (BAC), unidades de elite do Exército Brasileiro.
Kids pretos são aqueles que têm formação nas forças especiais e, segundo Gonet, teriam "conhecimento tático especializado" e "influência sobre comandantes" para desenhar a trama golpista.
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Os quatro que atuavam ou tiveram passagem por Goiás estão no grupo de 23 militares denunciados e já tinham sido alvos de medidas cautelares nas investigações da Polícia Federal (veja quadro). A denúncia cita ainda um outro militar que teve presença em Goiânia em meio às articulações por ruptura institucional.
A capital goiana é mencionada como base para um encontro com apelos por golpe, aquisição de celulares e chips "frios", aluguel de veículos para deslocamento até Brasília, e a articulação do grupo "copa 2022", que monitorou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com suposta intenção de prendê-lo ou executá-lo.
"As técnicas das Forças Especiais eram utilizadas pela organização criminosa não apenas no contato com os movimentos populares, mas especialmente no desenho das estratégias de ruptura institucional, como já sinalizavam os planos encontrados em poder dos denunciados. A contribuição ainda mais contundente dos militares especializados ocorreu na fase de execução das operações traçadas", diz Gonet.
Em outro trecho, o PGR descreve diálogos nos grupos de mensagens dos envolvidos que indicam a preferência por reunir "exclusivamente" militares com formação em Forças Especiais "que poderiam, de algum modo, influenciar seus comandantes, valendo-se também dos seus conhecimentos táticos especializados".
"Militares que tinham em comum vínculo com as Forças Especiais reuniram-se para encontrar meio de fazer com que a alta cúpula do Exército aderisse ao golpe a que estavam dando curso (...) Esse grupo atuou para pressionar o Comandante do Exército e o Alto Comando, formulando cartas e agitando colegas em prol de ações de força no cenário político, tudo para impedir que o candidato eleito Lula da Silva assomasse ao Palácio do Planalto. Visava-se manter no Poder o então Presidente Bolsonaro", completa o procurador-geral.
Primordial para as investigações, a colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, relata um encontro com dois oficiais no Copesp em Goiânia, ainda em novembro do ano passado, quando ambos defenderam a mobilização para provocar "caos" no País e para impedir a posse do presidente então eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Cid se referia aos tenentes-coronéis Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima, que procuraram o então ajudante de ordens quando ele se preparava para assumir o BAC. A posse acabou cancelada em janeiro de 2024 diante das investigações. Antes disso, ainda em novembro, Cid marcou uma reunião dos dois com o general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro naquele ano.
Segundo a denúncia, depois da reunião, Oliveira e Ferreira Lima passaram a fazer viagens de Goiânia a Brasília para outros encontros e para monitoramento nos arredores de locais frequentados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Oliveira foi preso em fevereiro do ano passado, em Niterói (RJ), mas tinha Goiânia como local de atuação. A partir de maio, passou a usar tornozeleira eletrônica. É o nome que mais aparece em movimentações pró-golpe entre aqueles relacionados à capital goiana.
Preso em novembro do ano passado, o general da reserva Mário Fernandes, número 2 da Secretaria-Geral da Presidência na gestão de Bolsonaro, passou por Goiânia no comando do Copesp. Um dos principais argumentos da denúncia contra Fernandes é o fato de ter elaborado o documento "Punhal Verde e Amarelo", impresso no Palácio do Planalto e levado a Bolsonaro. O plano previa o assassinato de Lula, Moraes e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Os outros dois denunciados são os tenentes-coronéis Rodrigo Bezerra de Azevedo e Guilherme Marques Almeida, ambos com atuação em Goiânia até o ano passado (veja quadro). O primeiro participou das movimentações golpistas ao lado de Oliveira, de quem era próximo. Já o segundo é citado como integrante do núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral.
O POPULAR não conseguiu contato com os responsáveis pela defesa dos militares.