Duplicação da BR-153 após Anápolis começa em 2025
Concessionária do trecho até a divisa com Tocantins promete serviços para o próximo ano, o quarto desde concessão. Uruaçu, Campinorte, Rialma e Rianápolis serão contempladas
Vandré Abreu
12 de novembro de 2024 às 08:58
Modificado em 12/11/2024, 15:20

BR-153, no sentido Norte, entre os municípios de Jaraguá e São Francisco de Goiás: obras da Ecovias do Araguaia para duplicação se concentraram até agora apenas em Tocantins (Diomício Gomes)
A duplicação dos primeiros trechos da BR-153 no tramo norte em Goiás, entre Anápolis e a divisa com o Tocantins, devem ser iniciadas no próximo ano e com a previsão de término até outubro, conforme aponta o contrato de concessão da Ecovias do Araguaia, empresa responsável pelo trecho desde 2021. A concessionária informa que, em Goiás, a previsão é que "até o final do 4º ano de concessão sejam realizados cerca de 53,44 quilômetros (km) de duplicações, contemplando Uruaçu (16,4 km), Campinorte (7 km), Rialma (28,6 km) e Rianápolis (1,4 km)". No 3º ano de concessão (2024), a Ecovias finalizou o primeiro trecho duplicado da rodovia que administra, com 12,85 km na região de Gurupi (TO).
As obras neste ano foram iniciadas em maio e entregues no final de setembro, sendo realizadas antes do período chuvoso. A Ecovias do Araguaia não sinalizou ao jornal qual é o cronograma dos serviços estimados para 2025, quanto a data de início ou término, mas confirmou a realização dos primeiros trechos de duplicação no Estado de Goiás. A ampliação da malha rodoviária no trecho norte é uma demanda antiga da população e motoristas que trafegam na região. Apesar de já ter realizado obras de requalificação asfáltica no trecho, há ainda preocupação com acidentes na via que já foi considerada a pior do Estado.
A rodovia BR-153 foi iniciada em 1959 e seu tramo norte em território goiano, a partir de Anápolis, ficou conhecido como Belém-Brasília, por ser a ligação da capital federal até a região norte. A fundação da via se deu no governo do presidente Juscelino Kubitschek, caracterizado pelas obras de desenvolvimento para as regiões, até então, com menor investimento federal (Centro-Oeste e Norte). Oficialmente, a rodovia é chamada de Presidente João Goulart, mas há trecho também denominado Bernardo Sayão, que foi o engenheiro responsável pela obra. O tramo sul, de Anápolis a Itumbiara, passando por Goiânia, foi duplicado nos anos 2000, com término da obra no início dos anos 2010, o que nunca ocorreu no outro trecho.
A falta de duplicação no local é vista como o principal motivo para os altos números de acidentes atualmente, visto que já não há a alta presença de buracos, como ocorria até 2022. Isso ocorre porque, com a alta demanda de tráfego no trecho, sobretudo de caminhões para o transporte da produção à região Norte do Brasil e vice-versa, não há espaços para ultrapassagens, o que leva a casos de saídas de pista. Na segunda-feira (4), um casal morreu na região de Porangatu. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou na ocasião que o veículo em que o homem de 47 anos e uma mulher estavam, por motivo desconhecido, atravessou a pista em uma curva e chocou-se com um caminhão no sentido contrário.
A duplicação da pista no local poderia ter evitado a colisão, embora ainda pudesse ocorrer a saída da pista. O casal ia de Uruaçu a Porangatu, onde moravam. A Ecovias do Araguaia aponta o município de Uruaçu como um dos contemplados com a duplicação, mas isso deve ocorrer, neste ano, no trecho até Campinorte, assim como de Rialma e Rianápolis. De acordo com a Superintendência da PRF em Goiás, em todo o ano de 2023, no trecho de Anápolis ao Tocantins foram registrados 352 sinistros, sendo 116 graves, com 50 mortos e 434 feridos, ou seja, uma média de uma ocorrência por dia. Neste ano, até o dia 6 deste mês, foram 228 registros, sendo 61 graves, com 16 mortos e 266 feridos, o que gera uma média de 0,73 por dia.
De acordo com a Ecovias do Araguaia, no trecho sob concessão da empresa, "no comparativo entre janeiro e outubro de 2023 e janeiro a outubro de 2024, houve uma redução de 35% no número de acidentes com vítimas fatais, resultado de um trabalho constante de melhoria da infraestrutura rodoviária e conscientização dos motoristas". Já com relação aos atendimentos operacionais, que são aqueles oferecidos em diferentes situações na rodovia, a concessionária já efetuou, até outubro, cerca de 130 mil atendimentos. Dentre estes, estão a remoção de veículo (34.091), o socorro mecânico (8.452), socorro médico (6.848), apreensão/resgate de animais (449), combate a incêndio (2.115) e a inspeção da rodovia (75.093).
Obras
A Ecovias do Araguaia informa que as obras de duplicação previstas para 2025, em Goiás e Tocantins, terão um investimento de R$ 410 milhões. Além disso, "as obras do 4º ano contemplam ainda serviços de ampliação como dois viadutos, retornos, três pontes, quase 30 km de vias marginais, quatro acessos e passarelas". Em Goiás, até o final do contrato, serão 448,54 quilômetros de rodovias duplicadas, segundo a concessionária. Ao todo, o contrato de concessão firmado em 2021 prevê 622 quilômetros de duplicações, sendo que 57% desse total tem a previsão de conclusão até o 10º ano (outubro de 2032).
Além das obras de duplicação, em Goiás, o contrato de concessão, firmado junto ao governo federal, estão previstas, ao longo do contrato, a implantação de "144 novos retornos, 42 dispositivos de interconexão, 27 quilômetros de faixas adicionais, 16 novos acessos e a implantação de 6 quilômetros de novas pistas na construção do contorno de Corumbá". A Ecovias informa ainda que nos trechos urbanos, "serão instaladas 19 passarelas para pedestres e 110 pontos de ônibus, além da iluminação de travessias urbanas e a implantação de 90 quilômetros de vias marginais".
Na região de Anápolis, por exemplo, estão previstas obras de 11,98 km de duplicação, 17,26 km de faixa adicional e 22,32 km de vias marginais, além de 8 passarelas e 2 retornos. Já em Porangatu, no extremo norte do trecho concessionado, haverá a obra mais extensa de duplicação, com 85,81 km, além de 7,9 km de vias marginais. A segunda maior extensão de duplicação será em Campinorte, com um total de 41,15 km, sendo 7 km realizados em 2025, conforme a previsão da concessionária.
Setor produtivo aguarda grupo como cronograma
As entidades representativas do setor produtivo em Goiás entendem que a duplicação da BR-153 entre Anápolis e a divisa com o Tocantins é primordial para a segurança e para o desenvolvimento e competitividade da produção goiana. Em setembro passado, um seminário realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e a Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Estado de Goiás (Facieg) discutiu a importância da obra e ficou acordado com a concessionária responsável pelo trecho, Ecovias do Araguaia, a formação de um grupo de trabalho para a discussão quando da realização do serviço nos perímetros urbanos dos municípios.
Presidente da Facieg, Márcio Luís da Silva diz que o encontro foi importante para entender o planejamento e abrir o canal de comunicação com a concessionária. "Mas desde então nós tentamos outros contatos e não tivemos retorno. O contrato é bem generoso com os prazos das obras de duplicação, mas no ano que vem tem essa previsão de começar a duplicação. Não sabemos quando vai começar, nem por onde", conta. Segundo ele, o grupo de trabalho teria o objetivo de esclarecer o organograma e a dinâmica das obras para que os empresários locais pudessem se organizar.
Segundo relata o presidente da Facieg, as obras no Tocantins foram realizadas sem esse diálogo e muitos empresários se sentiram prejudicados com as obras no perímetro urbano das cidades, já que atingiam diretamente ou indiretamente seus negócios. "Não queremos que isso ocorra em Goiás. Então acordamos que fosse montado esse grupo de trabalho, mas até hoje não formaram, não falaram mais nada", diz. Márcio Luís considera que o trecho norte da BR-153 é uma das principais vias de desenvolvimento para o Estado de Goiás por sua localização estratégica.
"O volume de veículos aumentou bastante, principalmente de caminhões, que hoje em dia são maiores, mais extensos e velozes. É uma rodovia simples e sem pontos de ultrapassagem, com muitos radares. Isso afeta muito a questão econômica, além da segurança em si", acredita o empresário. No entanto, ele reforça que é "inegável a melhoria da pista" desde a entrada da nova concessionária em 2021. "Enquanto não tem a duplicação poderia ampliar a terceira pista pelo menos. Poderiam informar também onde vai começar, como vai ser, para a gente poder tomar as providências, mas até agora nada", afirma.
Presidente do do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Fieg, Célio Eustáquio de Moura, afirma que a duplicação do trecho norte da BR-153 "tem uma importância vital para a melhoria da logística rodoviária do estado". Segundo ele, o aumento da trafegabilidade no local implica em maior fluidez, mais segurança para os usuários da rodovia e "principalmente maior modicidade para o transporte de cargas do setor produtivo". Moura reforçou que a concessionária informou que obedecerá os prazos estabelecidos pela concessão. "Temos expectativa que com índices positivos de crescimento da nossa região, venha estimulá-los a promover a antecipação do cronograma de entrega das melhorias previstas. Continuaremos firmes no intuito de contribuirmos para melhoria de toda logística do estado, melhorando as condições de competitividade das empresas e a vida dos cidadãos."
Pedágio
Uma das principais reclamações dos motoristas que se locomovem pela BR-153 no trecho norte é o valor do pedágio, que chega a ser de R$ 15,30 para um automóvel de passeio. Para se ter uma ideia, para ir de carro de Anápolis ao Tocantins, o motorista vai ter de pagar R$ 66,60 ao passar por cinco praças de pedágio. Uma passagem de ônibus de Anápolis a Porangatu, por exemplo, tem o custo entre R$ 120 e R$ 150, a depender da empresa responsável. O último reajuste ocorreu em outubro passado, sendo o segundo realizado para essa concessão. Válido lembrar que entre 2010 e 2017, o trecho ficou sob responsabilidade da concessionária Galvão, que sofreu a perda do contrato por caducidade e a nova licitação ocorreu em 2021.