Erosão engole rua e estrutura de esgoto e água em Aparecida
Moradores do Jardim Miramar temem avanço de voçoroca que já tem cerca de 50 metros de largura em certos trechos no setor. Saneago e Prefeitura se pronunciam
Gabriella Braga
4 de fevereiro de 2025 às 07:02

Rafaela e Victor, que vivem com 5 filhos em casa ao lado da erosão, viram parte do muro da residência desabar após forte chuva (Wildes Barbosa / O Popular)
Parte de uma rua foi engolida por uma erosão que há anos assola o setor no Jardim Miramar, em Aparecida de Goiânia, num local já considerado área de risco. A voçoroca tem aumentado ainda mais por causa das fortes chuvas que ocorrem em todo o Estado. Parte da estrutura de esgoto, água potável e drenagem urbana ficou comprometida em um trecho da Rua 100. Enquanto as tempestades continuam, moradores que residem nas proximidades do local temem o avanço do processo erosivo.
A erosão na via atinge cerca de 50 metros de largura e se apresenta visualmente também bastante profunda. A reportagem esteve no local na tarde desta segunda-feira (3) e observou dezenas de manilhas que formam a galeria de água pluvial cedidas na cratera junto à terra e ao mato e ainda a mesma coisa ocorrendo com parte da tubulação de esgotamento sanitário e de água potável. Lixo residencial também estava sendo descartado no local.
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Há três meses, a dona de casa Rafaela Andrade, de 26 anos, e o entregador Victor dos Santos, de 24, moram em uma casa situada na Rua 100, logo ao lado do início da erosão, junto com cinco filhos -- de 7 anos, gêmeos de 6, um de 2 e outro de 1 ano. Com urgência, já que a família residia na casa de terceiros e não conseguia achar outro imóvel para locação, eles se mudaram para a residência no Jardim Miramar, sem saber que um processo erosivo se desenvolvia logo ao lado.
Como a casa fica situada em um trecho mais baixo da rua, Victor explica que corre "uma enxurrada" para o trecho da erosão sempre quando chove. E foi justamente por conta de uma chuva neste domingo (2) que um muro de divisa com a casa, bem ao lado da cratera, cedeu. Por sorte, não havia nada e nem ninguém no cômodo. "A gente está aqui com criança pequena. Fico com medo de a casa cair", comenta Rafaela. Mesmo diante do impasse, o casal conta que gosta de residir ali. E, para que não precisem sair, a esperança é que a erosão seja contida.
Com a entrada da residência voltada para a Rua das Laranjeiras e o fundo para o lado da voçoroca, a cuidadora de crianças Eunice Almeida, de 57 anos, teme o pior. Ela conta que se mudou para o local há um mês, junto com o marido e dois irmãos. "Aluguei sem saber", diz, ao acrescentar que também enfrentou dificuldades para encontrar um novo lar. Mas agora, no local, o sentimento que tem é de receio. "Tenho muito medo quanto está chovendo, de (a erosão) chegar na casa. A gente escuta o barulho alto da água caindo lá, porque é fundo."
Como a erosão tem avançado para os fundos da casa e, inclusive, já ocasionou uma rachadura em parte do muro de placa de concreto, Eunice diz que tem dialogado com o proprietário do imóvel que, por sua vez, fala que a Prefeitura já está ciente do problema no local e "vai arrumar". No entanto, ela não viu nenhuma movimentação da administração municipal neste mês residindo no setor. Nem tampouco o casal vizinho.
Contudo, logo ao lado do lote onde está a casa de Eunice, a empresa BRK Ambiental -- subdelegada pela Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago) para operação de esgotamento sanitário em Aparecida -- instalou um ponto provisório com o "posto de vigilância 24 horas", além de um "gerador com abastecimento diário e toda a estrutura técnica necessária". É o que explica a Saneago, em nota.
A reportagem encontrou funcionários da empresa no local e, também, atuando no ponto à frente da casa de Rafaela e Victor. O objetivo era desviar o esgoto que corria pelo encanamento corrompido para outro.
Em nota, a Saneago diz que a BRK "tomou conhecimento da rede coletora de esgoto -- neste endereço -- no último dia 13". "Para conter os danos, a empresa providenciou a instalação de duas bombas, com o objetivo de transferir o esgoto de um poço de visita a outro, evitando o extravasamento no solo e, consequentemente, no córrego", alega na nota. E complementa: "Explicamos que a questão foi decorrente de um processo erosivo no local, agravado pelas fortes chuvas."
Após ser questionada pela reportagem sobre a situação no local, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Aparecida disse que uma equipe da Defesa Civil iria ao local ainda na tarde desta segunda-feira. A administração municipal diz que está ciente dos "pontos críticos da cidade e que está trabalhando para resolver as demandas dentro do possível." Aponta ainda que "encaminhará equipe técnica ao local para verificar a melhor intervenção neste momento de período chuvoso". "Uma obra para uma solução definitiva somente será possível após encerramento o período chuvoso e também dependerá de recursos financeiros", complementa.
A reportagem não localizou a data exata em que a erosão se iniciou, mas uma reportagem da TV Anhanguera de 2021 já noticiava o problema. Contudo, ele foi se alastrando para os trechos acima ao longo dos anos. Em 2018, a reportagem já havia mostrado que um levantamento feito pela Superintendência Municipal de Proteção e Defesa Civil (Sudec) de Aparecida listava 21 áreas de risco no município. Entre elas, classificada com risco baixo por conta de voçoroca, está a Rua 106, no Jardim Miramar. Essa é situada três ruas abaixo da Rua 100.
Naquela rua, até julho passado, o trecho desmoronado ainda não havia sido consumido, haja vista que uma imagem no Google Street View mostrava o local intacto. E, como os moradores locais relataram que o trecho já estava comprometido desde que se mudaram para residências próximas, constata-se que o processo erosivo teria então se iniciado entre aquele mês e o fim do ano passado.