Ex-presidente da Goinfra é solto após ser detido em operação contra fraude milionária em contrato, diz defesa
Outros quatro detidos também estão em liberdade após o vencimento da prisão temporária
Letícia Graziely
2 de fevereiro de 2025 às 11:31

Ex-presidente da Goinfra, Lucas Vissotto (Wildes Barbosa / O Popular)
O ex-presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), Lucas Alberto Vissotto Júnior, investigado por fraude milionária em contrato do órgão, foi liberado da prisão neste domingo (2). A informação foi confimada pela defesa do ex-presidente, o advogado Marcelo Di Rezende. Thiago Carim Bucker, Gabriel Tertuliano, Vitor Andrisani Berquó e Adriano Mendes Ribeiro, ex-servidores do órgão, também estão em liberdade após o vencimento da prisão temporária.
Em nota enviada ao Daqui , a defesa de Lucas e Thiago disse que os dois "sempre estiveram à disposição das autoridades competentes, desde o início da investigação, em 2024, e permanecerão colaborando com a apuração para demonstrar a inexistência de quaisquer irregularidades." Também disse que em depoimento na última semana, Lucas e Thiago "apresentaram fatos e provas necessários para evidenciar de forma inequívoca a inocência deles".
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O Daqui não conseguiu localizar as defesas de Gabriel, Vitor e Adriano até a última atualização desta reportagem.
Os ex-servidores foram presos no dia 28 de janeiro deste ano durante a Operação Obra Simulada que apura uma fraude milionária em contrato da Goinfra com uma empresa privada do Distrito Federal para manutenção de prédios públicos nos anos de 2023 e 2024, com suspeitas de desvios de pelo menos R$ 10,4 milhões.
As irregularidades chegaram ao conhecimento da polícia por meio de relatórios técnicos e inspeções realizadas pela Gerência da Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra), pela Controladoria Geral do Estado (CGE) e pela Gerência Estratégica da PC na Seinfra.
A PC detalhou que ficou evidenciado que a empresa contratada obteve diversos pagamentos irregulares antecipados, sem que as obras ou serviços fossem suficientemente realizados para que os pagamentos fossem justificados. Há, ainda, fortes indícios de superfaturamentos nas intervenções.
Investigações
As investigações foram reveladas pelo Daqui em abril do ano passado, quando seis servidores da agência foram exonerados pelo governador Ronaldo Caiado (UB) a partir de apurações da CGE e da Seinfra, à qual a Goinfra é jurisdicionada. Na ocasião, o contrato foi rescindido e houve anúncio de abertura de processos administrativos contra a empresa e ex-servidores. Duas semanas depois, Vissotto deixou a presidência. Na mesma ocasião, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-GO) determinou a suspensão de licitação para aquisição de aduelas (estruturas de concreto) para pontes, por suspeita de sobrepreço de R$ 62 milhões, em processo que também está no inquérito da polícia.
As investigações apontaram que o respectivo contrato foi completamente alterado, uma vez que, apesar de inicialmente ter sido firmado para a realização de simples serviços de reforma e manutenção predial, acabou se transformando, indevidamente, em contrato de obras e serviços de engenharia, o que possibilitou a elevação dos preços do contrato por aditivos realizados posteriormente.
Durante a execução do contrato, conforme a polícia, houve casos de demolições totais de estruturas, apenas para justificar a emissão de notas fiscais e possibilitar pagamentos indevidos à contratada, ocorrendo fraudes em procedimentos de medições e em "atestes" das notas ideologicamente falsas emitidas pela empresa, mediante a participação de ex-membros da Diretoria de Gestão Integrada da Goinfra, gestores e fiscais do contrato.
A investigação também aponta fortes evidências de lavagem de dinheiro, uma vez que o fluxo financeiro, irregularmente obtido pelos pagamentos antecipados à empresa contratada, convergia para outras empresas sediadas no Distrito Federal, todas ligadas a familiares e amigos de um sócio oculto da empresa contratada. Além disso, há o registro de diversos saques realizados diretamente na "boca do caixa", logo depois dos pagamentos irregulares feitos pela Goinfra.
O Daqui mostrou que o empresário Marcus Emmanoel Chaves Vieira, administrador da empresa envolvida no crime, se apresentou no dia 30 de janeiro ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) da Polícia Civil do Distrito Federal. Ele permanece preso porque ainda não venceu o prazo de cinco dias da temporária dele.
A defesa do Marcus Emmanoel, o advogado Alexandre Lourenço, especialista em investigação defensiva, disse que ele já prestou depoimento e ressaltou acreditar no Poder Judiciário, "a fim de se garantir o direito à ampla defesa e ao contraditório'. O advogado ressaltou que Marcus Emmanoel "sempre esteve à disposição das autoridades competentes, desde o início das investigações e vai continuar colaborando com os trabalhos de apuração do caso".