Exame de DNA cruzado confirma que os bebês foram trocados após o parto, diz advogado
Segundo o advogado das famílias, exame atestou o que era esperado
Maiara Dal Bosco
13 de dezembro de 2024 às 12:00
Modificado em 13/12/2024, 12:56

Yasmin Kessia da Silva e Claudio Alves, e o casal Guilherme Luiz de Souz e Isamara Cristina Mendanha (Rodrigo Melo/O Popular)
Um exame de DNA confirmou, nesta sexta-feira (13), que os bebês de duas famílias de fato foram trocados após o nascimento em uma maternidade em Ihumas, na Região Metropolitana de Goiânia. A informação foi confirmada pelo advogado das famílias, e, de acordo com a nota emitida à imprensa, o resultado do exame apontou que o filho do casal Isamara Cristina Mendanha e Guilherme Luiz de Souza foi trocado com o filho de Yasmin Kessia da Silva e Cláudio Alves, o que já era esperado.
"Recepcionamos na data de hoje (13), o resultado do Exame de DNA requerido pelo delegado de Polícia responsável pelo inquérito sobre a troca de bebês em Inhumas, o resultado foi conclusivo atestando o que se esperava", diz um trecho do comunicado.
O POPULAR solicitou um posicionamento ao Hospital da Mulher sobre a confirmação da troca dos bebês, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Anteriormente, o Hospital informou que não irá se pronunciar até que as investigações sejam concluídas (leia nota na íntegra ao final da reportagem) .
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Possibilidade de destroca

Crianças foram trocados após o parto, denunciam famílias (Arquivo pessoal)
A mãe de um dos meninos trocados após o nascimento no Hospital da Mulher em Inhumas, na Região Metropolitana de Goiânia, afirmou que não sabe se as crianças serão destrocadas. Nascidos em 15 de outubro de 2021, hoje os meninos estão com 3 anos e 1 mês.
"Acho assim que não tem como ter troca. Foram três anos amamentando, cuidando, zelando, educando e assim, é claro que nós temos um filho biológico. O que eu sempre falo é que nós queremos aproximação, pegar esse momento e ser uma grande família. É difícil e está sendo porque ele [a criança], para mim, não tem explicação", afirmou Isamara Cristina Mendanha, em entrevista à TV Anhanguera.
Para Isamara, o impacto de destrocar os meninos pode ser maior para eles mesmos. "Por mais que a outra família seja incrível, ele [a criança] ver assim 'minha mãe que me amamentou, que cuidou e zelou de mim não é minha mãe', acho que é um choque maior para a criança do que para nós mesmos", ressaltou.
Isamara afirmou ainda que quando soube da troca das crianças, acreditou que poderia se tratar de um engano. "Vemos muito no jornal, novela, mas sinceramente eu nunca acreditei que ia acontecer comigo", completou.
Depoimentos
Na quarta-feira (12), Guilherme Luís de Souza e Isamara Cristina Mendanha, dois dos pais que tiveram os bebês trocados, prestaram depoimento na delegacia. Eles foram os últimos das duas famílias a serem ouvidos. Uma enfermeira do hospital também compareceu à Polícia Civil (PC), mas não falou com a imprensa.
Conforme o representante das duas famílias, mais de 12 funcionários do hospital estiveram diretamente envolvidos nos partos, sendo ao menos seis pessoas compondo cada equipe.
A médica pediatra que fez o atendimento após os partos dos bebês também prestou depoimento e afirmou ao POPULAR que recebeu os meninos com as pulseiras de identificação e que os entregou para as enfermeiras: "as duas crianças já estavam identificadas". Para a reportagem, a médica explicou que não participou do ato das cirurgias, mas foi ela quem pegou os bebês quando foram tirados das duas mães
A advogada da pediatra, Luciana de Castro, disse que a profissional não se lembra se houve apenas os dois partos naquela manhã. Segundo ela, durante o depoimento da médica, foi relatado ao delegado o papel dela no dia dos cirurgias e que "nada aconteceu de diferente".
"Foi esclarecido a conduta da doutora como pediatra dos bebês, a conduta que ela adotou durante os dois partos, mas não aconteceu nada de diferente. Ela não sabe precisar o que aconteceu de fato, onde houve essa troca. No momento do atendimento dela, não tem nada de diferente. Tudo dentro do normal. [...] Ela pega o neném quando ele nasce. Isso aí foi tudo dentro do normal. E depois que passa para a equipe de enfermagem, ela não sabe precisar", disse a advogada.
Investigação
O delegado Miguel Mota informou que não vai se manifestar sobre o caso, pois está sob sigilo. Em nota, a Polícia Civil informou que "os envolvidos já foram ouvidos e o inquérito policial prossegue com diligências em andamento para esclarecer a dinâmica do fato e sua autoria" (confira a nota da Polícia Civil ao final da matéria) .
Entenda o caso

Os partos aconteceram no Hospital da Mulher de Inhumas. Segundo as famílias, Yasmin Kessia da Silva, de 22 anos e Isamara Cristina Mendanha, de 26, chegaram a ficar juntas na enfermaria antes dos partos, mas depois que foram submetidas a cesarianas por equipes médicas diferentes e não se viram mais.
As famílias afirmam que depois das cirurgias, os pais não puderam acompanhar o processo de limpeza e preparo dos bebês e também não ficaram juntos no mesmo quarto devido aos protocolos adotados em razão da pandemia de Covid-19.
A descoberta da troca dos bebês só aconteceu três anos depois, no dia 31 de outubro deste ano. A suspeita da troca de duas crianças veio à tona após o então marido de Yasmim, em processo de separação, pedir o exame de DNA da criança . Cláudio Alves, de 30 anos, e Yasmin, terminavam um relacionamento de cinco anos quando ele solicitou o teste.
"Muito nervosa, eu falei pra ele: 'eu aceito fazer o DNA, mas desde que faça nós três, porque se você acha que esse filho não é seu, ele também não é meu'. E fiquei tranquila esperando o resultado", contou Yasmim emocionada.
Ao receber o resultado do exame de DNA, Yasmin afirma que ficou desesperada e foi buscar esclarecimento sobre o caso. Ela afirma que se lembrou da família que também fez o parto no mesmo dia e conseguiu contato. Isamara Cristina Mendanha, de 26 anos e Guilherme Luiz de Souza, de 27, fizeram o exame de DNA com o filho, que também apresentou resultado incompatível.
(Colaborou Rodrigo Melo)
Nota do do Hospital da Mulher
"No momento o hospital não irá se pronunciar até que as investigações sejam concluídas.
Como o caso está sob investigação policial e tramita em sigilo por envolver menores de idade, o hospital está legalmente impedido de fornecer informações acerca do caso à imprensa, em obediência a Lei Geral de Proteção de Dados."
Nota da Polícia Civil
"A Polícia Civil de Goiás informa que a Delegacia de Inhumas - 16ª DRP investiga possível crime previsto no artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente (deixar o médico de identificar corretamente o neonato e a parturiente por ocasião do parto), em que dois bebês teriam sido trocados no hospital da cidade. O fato foi descoberto após um dos casais envolvidos resolver se separar, tendo feito exames de DNA que comprovaram que o filho não era biologicamente compatível com nenhum dos dois. Os envolvidos já foram ouvidos e o inquérito policial prossegue com diligências em andamento para esclarecer a dinâmica do fato e sua autoria.
Goiânia, 05 de dezembro de 2024. Gerência de Comunicação e Cerimonial/PCGO"