Expansão do sistema de abastecimento de Senador Canedo garante água para até 90 dias de estiagem
Município inaugurou segunda represa, com capacidade para armazenar 458 milhões de litros de água. Poder público acredita que seca não deve impactar tanto os moradores como em 2023
Redação DAQUI
8 de junho de 2024 às 15:54
Modificado em 17/09/2024, 15:57

Maior represa já construída na cidade de Senador Canedo, a Haras 2 possui capacidade para armazenar 458 milhões de litros de água não tratada, aumento de 80% nas reservas da Sanesc (Wildes Barbosa)
++GABRIELLA BRAGA++
Com a nova estrutura para reservação de água, Senador Canedo terá capacidade para abastecer o município por até 90 dias durante o período de seca. Marcado pela crise hídrica durante a estiagem, a cidade localizada na Região Metropolitana de Goiânia conta agora com mais uma represa, inaugurada nesta sexta-feira (7). A expectativa é que neste ano os moradores não sofram com a falta de água como, a exemplo, em 2023, quando setores chegaram a ficar mais de 10 dias sem o recurso hídrico.
Com capacidade para armazenar 458 milhões de litros de água bruta, ou seja, aquela ainda não tratada, a represa Haras 2 deve aumentar em 80% a capacidade de acúmulo do recurso pela Agência de Saneamento de Senador Canedo (Sanesc). Ela é ainda maior que a primeira, que represa 324 milhões de litros. Mas, no caso da nova, o volume será exclusivo para a época de estiagem, garantindo cerca de 60 dias a mais de abastecimento durante o período.
Neste ano, a previsão da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) é que Goiás enfrente a maior crise hídrica dos últimos tempos. A fala foi feita pela titular da pasta, Andréa Vulcanis, durante entrevista ao programa do jornalista Jackson Abrão. Na ocasião, a secretária também admitiu que 2024 será desafiador para o abastecimento de água em todo o Estado. O Rio Meia Ponte, a exemplo, entrou em nível de alerta, conforme o jornal O POPULAR mostrou nesta quinta-feira (6).
"Não é a solução definitiva, até porque é um problema mundial a falta do recurso hídrico. No histórico do município já é conhecida a falta de água. O reservatório que foi inaugurado vem dar um reforço a mais na reserva de água bruta para tratamento. (A expectativa) é que a gente consiga passar o período de estiagem sem ter a falta de água generalizada, que a companhia não tenha o controle", pondera o presidente da Sanesc, Cleverson Neto.
No final do período de estiagem do ano passado, moradores locais sofreram com a falta de água. O POPULAR mostrou em novembro relatos de residentes de parte dos setores que estavam há mais de dez dias sem o recurso encanado. Na ocasião, a prefeitura justificou que o abastecimento estava prejudicado pela falta de chuvas e que a captação de água estava em 30% do normal. O problema, conforme Neto, é que as chuvas demoraram a voltar para retomar o nível dos reservatórios.
"O período de estiagem dura de junho a outubro, com inicio das chuvas em novembro. Mas (em 2023) as chuvas não vieram em novembro, vieram mais fortes na segunda quinzena de dezembro e janeiro. Já começaram a melhorar o sistema, mas ainda tinha problema de distribuição. O sistema avançou muito, mas a falta de água não é problema pontual, tem que ter obras em três sentidos: reservação, tratamento e distribuição", acrescenta o presidente.
Prefeito de Senador Canedo, Fernando Pellozo adianta que o problema da água no município ainda não está resolvido, "pois depende do clima e do consumo". Mas, garante, a situação atual do abastecimento é de estabilização. "A gente ainda vê com cuidado, mas hoje a situação está equilibrada. Como a cidade cresceu muito em pouco tempo, se (o sistema) tivesse acompanhado já seria um desafio, mas o fornecimento de água não acompanhou (a expansão). Ainda temos que aumentar mais conforme a cidade vai crescendo. Mas a gente também depende do uso consciente deste recurso", pontua.
O crescimento a qual o prefeito se refere foi demonstrado pelo Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra que Senador Canedo foi a cidade brasileira com mais de 100 mil habitantes que mais expandiu em número de moradores em 10 anos, considerando o último levantamento, de 2010. Naquele ano, eram 84,4 mil residentes. Dez anos depois, 155,6 mil, um aumento de 84%. Pellozo adianta que, com as intervenções já feitas no abastecimento, as que estão em andamento, e as futuras, a expectativa é que o sistema suporte o crescimento da cidade para até 250 mil habitantes.
A promotora de Justiça Marta Moriya Loyola também acrescenta que o abastecimento público é "um problema estrutural, pois o município não para de crescer". "O problema é justamente esse, não pode parar de fazer obra. Tem que fazer obra, diagnóstico e outras novas. Mas no nosso caso estamos melhores do que no ano passado. Acreditamos que não teremos problema neste ano", comenta.
Custo de R$ 10 milhões
Para a realização da obra de R$ 10 milhões, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) foi responsável pela intermediação com empresas privadas responsáveis por loteamentos no município. Os recursos foram advindos de Atestados de Viabilidade Técnico Operacional (AVTOs), e a intervenção foi feita pelas próprias empresas. Do montante gasto, quase a metade foi paga em indenização para desapropriação da área onde foi feito o barramento.
Conforme a promotora, a obra foi concluída em outubro e, desde então, o local já começou a represar as primeiras chuvas que caíram no final do ano. "E está cheio hoje", comenta. Mas, para ela, além das obras de infraestrutura necessárias para o abastecimento, é preciso investir na conscientização dos usuários do sistema e na preservação das nascentes para garantir o recurso hídrico. Outros projetos, como a expansão de uma das estações de tratamento de água, também estão sendo discutidos pelo órgão ministerial, prefeitura, e setor privado. "É um trabalho que não para."