GABRIELLA BRAGACom a nova estrutura para reservação de água, Senador Canedo terá capacidade para abastecer o município por até 90 dias durante o período de seca. Marcado pela crise hídrica durante a estiagem, a cidade localizada na Região Metropolitana de Goiânia conta agora com mais uma represa, inaugurada nesta sexta-feira (7). A expectativa é que neste ano os moradores não sofram com a falta de água como, a exemplo, em 2023, quando setores chegaram a ficar mais de 10 dias sem o recurso hídrico.Com capacidade para armazenar 458 milhões de litros de água bruta, ou seja, aquela ainda não tratada, a represa Haras 2 deve aumentar em 80% a capacidade de acúmulo do recurso pela Agência de Saneamento de Senador Canedo (Sanesc). Ela é ainda maior que a primeira, que represa 324 milhões de litros. Mas, no caso da nova, o volume será exclusivo para a época de estiagem, garantindo cerca de 60 dias a mais de abastecimento durante o período.Neste ano, a previsão da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) é que Goiás enfrente a maior crise hídrica dos últimos tempos. A fala foi feita pela titular da pasta, Andréa Vulcanis, durante entrevista ao programa do jornalista Jackson Abrão. Na ocasião, a secretária também admitiu que 2024 será desafiador para o abastecimento de água em todo o Estado. O Rio Meia Ponte, a exemplo, entrou em nível de alerta, conforme o jornal O POPULAR mostrou nesta quinta-feira (6).“Não é a solução definitiva, até porque é um problema mundial a falta do recurso hídrico. No histórico do município já é conhecida a falta de água. O reservatório que foi inaugurado vem dar um reforço a mais na reserva de água bruta para tratamento. (A expectativa) é que a gente consiga passar o período de estiagem sem ter a falta de água generalizada, que a companhia não tenha o controle”, pondera o presidente da Sanesc, Cleverson Neto.No final do período de estiagem do ano passado, moradores locais sofreram com a falta de água. O POPULAR mostrou em novembro relatos de residentes de parte dos setores que estavam há mais de dez dias sem o recurso encanado. Na ocasião, a prefeitura justificou que o abastecimento estava prejudicado pela falta de chuvas e que a captação de água estava em 30% do normal. O problema, conforme Neto, é que as chuvas demoraram a voltar para retomar o nível dos reservatórios.“O período de estiagem dura de junho a outubro, com inicio das chuvas em novembro. Mas (em 2023) as chuvas não vieram em novembro, vieram mais fortes na segunda quinzena de dezembro e janeiro. Já começaram a melhorar o sistema, mas ainda tinha problema de distribuição. O sistema avançou muito, mas a falta de água não é problema pontual, tem que ter obras em três sentidos: reservação, tratamento e distribuição”, acrescenta o presidente.Prefeito de Senador Canedo, Fernando Pellozo adianta que o problema da água no município ainda não está resolvido, “pois depende do clima e do consumo”. Mas, garante, a situação atual do abastecimento é de estabilização. “A gente ainda vê com cuidado, mas hoje a situação está equilibrada. Como a cidade cresceu muito em pouco tempo, se (o sistema) tivesse acompanhado já seria um desafio, mas o fornecimento de água não acompanhou (a expansão). Ainda temos que aumentar mais conforme a cidade vai crescendo. Mas a gente também depende do uso consciente deste recurso”, pontua.O crescimento a qual o prefeito se refere foi demonstrado pelo Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra que Senador Canedo foi a cidade brasileira com mais de 100 mil habitantes que mais expandiu em número de moradores em 10 anos, considerando o último levantamento, de 2010. Naquele ano, eram 84,4 mil residentes. Dez anos depois, 155,6 mil, um aumento de 84%. Pellozo adianta que, com as intervenções já feitas no abastecimento, as que estão em andamento, e as futuras, a expectativa é que o sistema suporte o crescimento da cidade para até 250 mil habitantes.A promotora de Justiça Marta Moriya Loyola também acrescenta que o abastecimento público é “um problema estrutural, pois o município não para de crescer”. “O problema é justamente esse, não pode parar de fazer obra. Tem que fazer obra, diagnóstico e outras novas. Mas no nosso caso estamos melhores do que no ano passado. Acreditamos que não teremos problema neste ano”, comenta.Custo de R$ 10 milhõesPara a realização da obra de R$ 10 milhões, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) foi responsável pela intermediação com empresas privadas responsáveis por loteamentos no município. Os recursos foram advindos de Atestados de Viabilidade Técnico Operacional (AVTOs), e a intervenção foi feita pelas próprias empresas. Do montante gasto, quase a metade foi paga em indenização para desapropriação da área onde foi feito o barramento.Conforme a promotora, a obra foi concluída em outubro e, desde então, o local já começou a represar as primeiras chuvas que caíram no final do ano. “E está cheio hoje”, comenta. Mas, para ela, além das obras de infraestrutura necessárias para o abastecimento, é preciso investir na conscientização dos usuários do sistema e na preservação das nascentes para garantir o recurso hídrico. Outros projetos, como a expansão de uma das estações de tratamento de água, também estão sendo discutidos pelo órgão ministerial, prefeitura, e setor privado. “É um trabalho que não para.”