Goiânia e Aparecida de Goiânia terão a ‘xepinha’ da vacina contra a Covid-19 para crianças com idade de 6 meses a menores de 3 anos. Nos dois municípios, será preciso deixar o nome em uma lista de espera nos postos de saúde. Entretanto, as prefeituras reforçam que o esquema não é uma garantia de vacinação das crianças que estão fora do grupo prioritário. Por enquanto, o Ministério da Saúde liberou o uso do imunizante apenas em crianças que sejam portadores de comorbidades. Na capital, a imunização do grupo começa nesta sexta-feira (18). De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a orientação é para que as unidades de vacinação façam, diariamente, uma lista nominal de crianças de 6 meses a menores de 3 anos sem comorbidades que tenham interesse na ‘xepinha’. A lista deve conter no máximo nove nomes, pois cada frasco contém 10 doses. Após às 17 horas, os responsáveis devem voltar ao posto onde inscreveram os nomes e, caso sobre algum frasco aberto, serão atendidos os primeiros nomes da lista, respeitando a quantidade de doses remanescentes. O município recebeu 2,2 mil doses de imunizantes para ser usado nessa faixa etária. Mesmo assim, a SMS destacou que a ‘xepinha’ não é uma garantia de vacinação de crianças sem comorbidades, mas sim uma estratégia para evitar desperdícios. A pasta reforçou ainda, com o intuito de não gerar ansiedade nos pais e mães, que assim que o Ministério da Saúde enviar doses para esse público, a vacinação estará disponível de imediato nos postos da cidade. Em Goiânia, a vacinação do grupo acontece no Centro Municipal de Vacinação (CMV), Centro Integrado de Atenção Médico Sanitária (Ciams) Urias Magalhães, Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Goiá e Unidade de Saúde da Família (USF) São Carlos, entre 8 e 17 horas. Rio Verde também irá adotar a prática da ‘xepinha’, seguindo a mesma lógica da capital. No município, a vacinação do grupo também terá início nesta sexta e acontece na Clínica da Família Benjamin Spadoni, no Bairro Martins, e na Clínica da Família Nenzinho Ribeiro, no Bairro São Tomaz, entre 8 e 16 horas. Aparecida de GoiâniaJá em Aparecida de Goiânia, a vacinação do grupo começou nesta quinta-feira (17) e acontece em sete locais diferentes. Para se candidatar à ‘xepinha’, é preciso procurar um desses locais e deixar o nome e telefone em uma lista. Caso a unidade tenha excedente de doses no final do dia, eles irão ligar. Em todas as cidades, para receber a vacina, a criança ou o bebê precisam estar acompanhados de um responsável. Também é necessário levar os documentos de identificação. Em Aparecida, a vacinação acontece na Central de Imunização, Unidade Básica de Saúde (UBS) Cruzeiro do Sul, UBS Santa Luzia, UBS Bairro Cardoso, UBS Veiga Jardim, UBS Bandeirantes e Maternidade Marlene Teixeira. As UBSs funcionam de segunda a sexta, entre 8 e 16 horas. A Central de Imunização está aberta de segunda a sexta, entre 8 e 18 horas, e aos sábado, entre 8 e 13 horas. Já a sala de vacinação da Maternidade Marlene Teixeira funciona de segunda a sexta, entre 8 e 18 horas. Doses O Ministério da Saúde distribuiu 1 milhão de doses da Pfizer destinadas para crianças com idade de 6 meses a 4 anos que tenham comorbidades. Goiás recebeu 35 mil doses em 11 de novembro e nesta quarta-feira (16), fez o repasse para os municípios. A recomendação do Ministério da Saúde é que a administração da vacina seja feita de forma concomitante aos demais imunizantes do calendário vacinal ou em qualquer intervalo na faixa etária de 6 meses de idade ou mais. A dose dessa vacina da Pfizer equivale a um décimo da dose para adultos. A imunização é por meio de um esquema de três doses. A segunda dose será administrada três semanas depois da primeira e a terceira dose, ao menos oito semanas após a segunda dose. O frasco terá tampa de cor vinho porque tem dosagem e composição diferentes. No Brasil, a vacina de qualquer criança com idade a partir de 3 anos pode ser feita com a Coronavac. Já a Pfizer pediátrica é liberada para crianças com idade entre 5 e 11 anos. Aflição Apesar de a vacinação contra a Covid-19 ter tido início em janeiro de 2021, os pais e mães de crianças com menos de 3 anos ainda enfrentam a agonia de verem os filhos desprotegidos contra a doença. À reportagem, mães relataram o medo de verem os filhos infectados com o vírus, especialmente em um momento de aumento de casos e circulação de uma nova variante da Covid-19 no Brasil. Desde setembro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso do imunizante da Pfizer para pessoas com idade de 6 meses a 4 anos. Entretanto, por enquanto, o Ministério da Saúde liberou o uso apenas em crianças que sejam portadores de comorbidades. O DAQUI mostrou nesta quinta-feira mostrou que o número de casos confirmados da Covid-19 em Goiás dobrou entre a primeira e a segunda semana de novembro. O número saltou de 477 para 974. A Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) alertou que o crescimento, que tem sido consistente, deve continuar nas próximas semanas e sinaliza para uma nova onda da doença. Em Goiânia, a procura pela testagem tem aumentado e a positividade saltou de 6% na primeira semana de novembro, para 18% na segunda semana. No Brasil, o número de casos da doença apresentou aumento com o início da circulação da subvariante BQ.1 da Ômicron que apresenta indícios de ser mais transmissível. Ela já foi encontrada em pelo menos cinco estados brasileiros: São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Amazonas. Até o momento, o sequenciamento genético de amostras feito pela SES-GO, não revelou a presença da subvariante no estado. Mães A produtora cultural Giselle Moreira é mãe do Francisco, de 2 anos, e aguarda ansiosa pelo momento em que o filho poderá se vacinar. Todas as outras pessoas que moram em sua casa já foram vacinadas contra a Covid. Ele tem o calendário vacinal completo, exceto pelo imunizante que protege contra a doença. “Meu maior medo é de que o Francisco desenvolva um quadro mais grave numa possível nova contaminação e principalmente que haja sequelas no organismo dele que possa prejudicar seu desenvolvimento”, compartilha a mãe de Francisco. Ela conta que adiou a ida do filho para a creche neste ano justamente por conta do aumento do número de casos da doença e a quantidade limitada de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pediátricas. “A notícia de que a vacina para bebês de 6 meses a menores de 3 anos foi aprovada chegou trazendo um grande alívio. Mas infelizmente até o momento a mesma não está disponível. A ida dele para creche no próximo ano também está condicionada à liberação da vacina.” A professora universitária Andrelisa Jesus é mãe do Hugo, de 1 ano, e compartilha da mesma angústia de Giselle. Ela e o marido já se infectaram com a Covid. Apesar de não ter feito o teste, a professora acredita que o filho também se infectou, pois apresentou sintomas da doença. “Temos muito medo que nosso filho seja contaminado novamente. Para além da preocupação extrema com a vida, nos preocupamos com as possíveis sequelas de uma reinfecção. A ciência tem demonstrado que pode haver várias complicações sistêmicas no pós-Covid.” Ela também não matriculou o filho em nenhuma creche porque ele não se vacinou contra a doença e Andrelisa considera os protocolos das instituições para prevenção da Covid muito brandos. “Muitos consideram nossa conduta um excesso de zelo, mas nós temos consciência da necessidade e do direito do nosso filho receber suas doses de vacina. O Estado brasileiro está usurpando um direito fundamental do meu filho e de todas as crianças com menos de 3 anos. Meu filho está invisibilizado nas políticas públicas de prevenção da Covid-19. Onde uma criança é inviabilizada, uma mãe é inviabilizada e essa é uma grande violência tácita tanto para mulheres mães como para crianças.” A estudante Thays Benicio é mãe de Érico, de 2 anos. Ela, o companheiro e o filho também pegaram Covid. Eles foram infectados no começo de 2021, quando Érico tinha apenas 5 meses. O maior medo dela é que o filho se contamine de novo, especialmente agora que ele está matriculado em um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei). “Meu maior medo é que ele desenvolva a pior face da doença e fique com sequelas. Sabemos que a vacina não protege contra a infecção, mas ajuda a gente a ficar mais forte para enfrentar o vírus.” Thays relata que a circulação da nova subvariante da Ômicron a deixa ainda mais angustiada em relação à possibilidade do filho se infectar com a doença. Ela considera a demora do governo em enviar imunizantes para a vacinação de crianças com menos de 3 anos como um descaso do poder público. “A gente vê as notícias de casos aumentando e se apavora. Parece que falta vontade do governo de colocar isso para acontecer. É preocupante pois estamos vivendo um novo ciclo de contágio”, desabafa. Poder público De acordo com o Ministério da Saúde, a vacinação de crianças com idade de 6 meses a menores de 3 anos tem caráter cautelar. A pasta explicou que com o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) deverá avaliar a possibilidade de ampliação das doses para crianças nessa faixa etária que não tenham comorbidades. No dia 10, os estados brasileiros pediram para que o Ministério da Saúde distribuísse doses de vacina contra a Covid suficientes para todas as crianças com idade de 6 meses a menores de 3 anos. Em nota, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defendeu que “a vacinação seja oferecida para esse grupo sem restrições” e ressaltou que é de extrema importância vacinar este grupo etário “tendo em vista que, conforme destaca o Boletim InfoGripe, da Fiocruz, no que se refere aos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, causada pela Covid, na última semana epidemiológica 43 – referente aos dias 23 a 29 de outubro, as crianças de 0-4 anos foram o grupo com maior risco, considerando-se a população até 60 anos de idade.” Em nota, a SES-GO comunicou que “as crianças que ainda não foram vacinadas são uma preocupação, visto o risco de adoecerem com as formas graves da doença.” A pasta informou ainda que fez a solicitação para o Ministério da Saúde de 728,8 mil doses da vacina, quantidade suficiente para aplicar as três doses nas 242,9 mil crianças nessa faixa etária.