Mantenedora do Hospital Araújo Jorge (HAJ), o maior centro de alta complexidade em oncologia do Centro-Oeste, a Associação de Combate ao Câncer de Goiás (ACCG) prepara um projeto de modernização e expansão vertical da unidade. Com orçamento previsto inicial de R$ 466 milhões, a ampliação será feita por etapas e sem paralisar as atividades hospitalares.No ano passado, o hospital atendeu 69 mil pacientes, 93% deles pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Números do Ministério da Saúde mostram que a cada ano são esperados 25 mil novos casos de câncer em Goiás e a maioria dos pacientes depende do SUS para receber assistência.Presidente da ACCG, Jales Benevides S. Filho explica que o hospital não possui área para crescer. “Tudo o que era possível ampliar, nós fizemos. Agora, a única opção é a verticalização.” Sem dinheiro em caixa para o projeto, o médico tem peregrinado por Brasília em busca de apoios.Este ano ele já sentou com toda a bancada federal goiana - deputados e senadores - quando apresentou o projeto e justificou a necessidade de expansão. “Este hospital é um patrimônio dos goianos. Pedimos que emendas parlamentares sejam destinadas à ACCG para que possamos dar início às obras.”Por enquanto, Jales Benevides lida com manifestações de boa vontade, mas nada de concreto. Nesta terça-feira (22), a convite do senador Vanderlan Cardoso (PSD), o presidente da ACCG voltou ao Distrito Federal para entregar o projeto de expansão que ele espera chegar às hostes federais.Ele lembra que em 2022 o HAJ realizou mais de 11 mil procedimentos cirúrgicos de alta e média complexidade com apenas dez leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). “Precisamos de mais espaço para atendimento ambulatorial e para aumentar nosso parque tecnológico, além de mais leitos.”Jales Benevides prefere não falar em uma data possível para o início das obras, mas quer acreditar que em janeiro de 2026, quando a ACCG completa 70 anos, a população já terá uma boa ideia do projeto de expansão. A previsão é que o hospital ganhe o dobro da área que possui atualmente, passando de 21 mil m² divididos em várias edificações para 42 mil m² em um único prédio.“Nossa ideia é fazer a ampliação vertical por etapas, nos permitindo não apenas a programação financeira de gastos, mas também a continuidade dos serviços prestados. Não haverá paralisação do atendimento.”O maior montante de recursos que mantém em funcionamento o HAJ é oriundo do SUS. Apenas 4% dos atendimentos são feitos através de convênios com planos de saúde e 3% são privados, o que não garante a sustentabilidade financeira da instituição.Jales Benevides enfatiza que a população de Goiás cresceu 276% desde o surgimento do hospital, em 1967, e o número de leitos 44,5%. “Os casos novos estão chegando. Atendemos cerca de 2 mil por mês. Estamos fazendo cinco novas salas no ambulatório e fica um monte de gente aguardando no corredor e na parte externa. É preciso humanizar o atendimento e para isso necessitamos de área física.”O presidente da ACCG aposta não somente nas emendas parlamentares para dar início às obras, mas conta também com o apoio da sociedade civil que ele chama de “a jóia do HAJ”. Campanhas de doação têm sido responsáveis nos últimos anos por reformas de alguns setores. No ano passado, a campanha Tempo é Vida, em parceria com os Ministérios Público de Goiás, Federal e do Trabalho, arrecadou recursos para ampliação e reforma do setor de Transplante de Medula Óssea (TMO), otimizando os trabalhos da equipe que realizou 29 transplantes.O projeto de expansão é, na visão de Jales Benevides, “uma ação de vital interesse público”. Além do crescimento vertiginoso da demanda, a exemplo de outras instituições filantrópicas, o HAJ lida há anos com a tabela defasada do SUS e com o aumento dos custos de insumos, um agravante quando se trata da complexidade dos tratamentos oncológicos.O movimento para captar recursos deve ganhar força nos próximos meses na expectativa de reunir pelo menos os R$ 41 milhões necessários para a etapa inicial. “Esperamos contar também com o apoio de empresas amigas que podem doar e abater os valores no imposto de renda. Se unirmos forças, vai dar certo”, acredita.Espaço físico e equipamentos de última geraçãoFundada em 1956 pelo médico Alberto Augusto de Araújo Jorge, com o apoio do Rotary Clube de Goiânia, a ACCG é certificada pelo Ministério da Saúde como Entidade Beneficente de Assistência Social na Área da Saúde. Além do HAJ, a instituição mantém a Unidade Oncológica de Anápolis e o Instituto de Ensino e Pesquisa, no qual está inserido o Programa de Residência Médica.“Nossa missão é oferecer assistência integrada. Além de receber bem os pacientes, fazemos pesquisa clínica, mas chegamos no limite”, ressalta Jales Benevides.O projeto de expansão do HAJ prevê a construção de novas instalações físicas e aquisição de equipamentos de última geração. Setores como de quimioterapia e de radioterapia deverão sentir o reflexo de imediato. Na radioterapia, por exemplo, os atuais aceleradores lineares funcionam das 7 da manhã às 2 horas da madrugada de segunda a sexta-feira.Com a ampliação quatro modernos aceleradores vão garantir agilidade e eficácia no tratamento. A atual falta de espaço físico tem impedido até mesmo a instalação de novos equipamentos, como um aparelho de ressonância magnética.A ampliação prevê estacionamento em uma área de mais de 6 mil m2, com vagas para ônibus, ambulâncias, carros de apoio e veículos do público em geral. Pioneiro no atendimento de pacientes pediátricos oncológicos, o HAJ reservou atenção especial para o setor. Além do aumento considerável de leitos, saltando de 13 para 36, a pediatria vai ganhar uma UTI própria e mais poltronas para aplicação de quimioterapia.