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Inflação estoura a meta e fecha 2021 em 10,06%, maior alta desde 2015

O resultado veio acima das expectativas do mercado financeiro

Folhapress

Modificado em 20/09/2024, 00:05

A taxa em 12 meses alcançada em fevereiro foi a mais baixa para o mês em toda a série histórica do IPCA

A taxa em 12 meses alcançada em fevereiro foi a mais baixa para o mês em toda a série histórica do IPCA (Marcos Santos / Fotos Públicas)

Em 2021, o poder de compra do brasileiro voltou a ser assombrado por uma inflação de dois dígitos. Nos 12 meses do ano passado, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou variação de 10,06%.

A alta é a maior para o período de janeiro a dezembro desde 2015 (10,67%), apontam dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado veio acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 9,96% no acumulado de 2021.

O IPCA é o indicador oficial de inflação no país. Com o resultado, o índice estourou com folga a meta perseguida pelo BC (Banco Central).

A meta de inflação era de 3,75% no ano passado, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, podendo chegar até a máxima de 5,25%.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de escrever uma carta explicando o avanço do IPCA acima do intervalo de referência. Será a sexta desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999.

A carta mais recente foi escrita pelo antecessor de Campos Neto, Ilan Goldfajn, em janeiro de 2018. O texto era relativo à inflação de 2017, mas, na ocasião, o então presidente do BC se justificava por resultado ligeiramente inferior ao limite mínimo estabelecido.

No ano passado, a disparada do IPCA foi impulsionada por uma combinação de fatores díspares.

Houve carestia de preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, aumento de itens básicos para as famílias, como alimentos, inclusive por alterações climáticas que afetaram plantio e colheita de diferentes produtos, além de persistente ruptura na cadeia global de abastecimento de insumos industriais, especialmente chips.

No recorte mensal, o IPCA desacelerou para 0,73% em dezembro, informou o IBGE nesta terça-feira.

Analistas consultados pela Bloomberg projetavam variação de 0,64% nessa base de comparação. Em novembro, o IPCA havia subido 0,95%.

"Uma inflação acumulada na faixa de 10% não estava no radar de ninguém no começo do ano passado. Ela se desgarrou de um padrão normal", afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.

"A inflação ainda não dá sinais de tranquilidade. O cenário é preocupante no início de 2022. Não vai ser fácil trazer a inflação de volta para a meta", completa.

Choques na pandemia De acordo com analistas, uma sucessão de choques vista ao longo do ano passado está por trás da escalada dos preços.

Depois de desalinhar cadeias produtivas globais, a pandemia seguiu provocando escassez de insumos no mercado internacional em 2021. Com a falta de matérias-primas e a reabertura da economia, os preços ficaram mais caros em diferentes regiões.

No Brasil, a pressão foi intensificada pela desvalorização do real ante o dólar. A moeda americana subiu em meio a turbulências na área política protagonizadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

O câmbio elevado também encareceu os combustíveis. Isso ocorreu porque o dólar é levado em consideração pela Petrobras na hora de definir os preços nas refinarias de itens como a gasolina, com grande peso no IPCA.

A inflação brasileira ainda foi turbinada pelos choques climáticos no ano passado. A severa crise hídrica que atingiu o país aumentou os custos para geração de energia elétrica e, como consequência, as contas de luz dos consumidores. A seca, aliada ao registro de geadas, também pressionou os alimentos no ano passado.

O avanço generalizado dos preços penaliza sobretudo os mais pobres. O Brasil passou a ter uma sucessão de casos de pessoas em busca de doações e até de restos de comida para alimentação.

Ionara Jesus Santos, 40, moradora de uma comunidade na zona sul de São Paulo, conta que atravessou 2021 sofrendo com a escalada dos preços de itens básicos. Quase tudo foi ficando mais caro. Ao mesmo tempo, ela amargou perda de renda.

Antes da pandemia, Ionara trabalhava como diarista. Com a crise, as oportunidades sumiram. Não consegue trabalho e busca doações para alimentar os quatro filhos.

Hoje, a renda familiar se resume ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) recebido pela filha de 21 anos, que teve paralisia cerebral, diz a diarista. O valor do benefício é de um salário mínimo mensal.

"É difícil ver um filho com fome e não ter muito o que fazer. Estou dependendo de doações. Tudo ficou caro na pandemia", afirma.

"Gostaria de voltar a ter um emprego, de ter um dinheiro para manter a família. No mercado, a gente não pode comprar carne ou um arroz mais decente, escolhemos sempre o mais barato", acrescenta.

Para tentar conter a alta dos preços, o BC vem subindo a taxa básica de juros. O efeito colateral da Selic mais alta, atualmente em 9,25% ao ano, é inibir investimentos produtivos na economia, já que as linhas de crédito ficam mais caras. Falta de investimentos também tende a frear a geração de empregos e retardar ainda mais a retomada.

"A inflação mais alta requer juros mais altos, o que afeta o crescimento econômico. É um ciclo. Por isso, a inflação é tão perigosa", afirma a economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte.

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Ovo sobe mais de 15% e tem a maior inflação no Plano Real; café avança quase 11%

Produtos pressionaram a inflação do grupo alimentação e bebidas no IPCA

Ovos na cartela

Ovos na cartela (Reprodução/Pixabay)

O ovo de galinha e o café moído, dois produtos tradicionais da mesa do brasileiro, registraram inflação de dois dígitos em fevereiro, segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados nesta quarta (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta dos preços do ovo foi de 15,39% no mês passado. É a maior inflação mensal desde o início do Plano Real. Na série histórica do IPCA, uma elevação mais intensa do que essa havia sido registrada em junho de 1994 (56,41%), antes de o real entrar em circulação.

Já o café moído teve inflação de 10,77% em fevereiro. É a maior em 26 anos, desde fevereiro de 1999 (12,55%).

O café está em trajetória de alta no IPCA desde janeiro de 2024. Segundo Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa do IBGE, problemas de safra têm levado a uma disparada das cotações no mercado internacional.

"O café teve quebra de safra no mundo, e a gente continua com essa influência", disse.

Gonçalves afirmou que uma combinação de fatores está pressionando os preços dos ovos. O técnico citou três questões: a maior demanda em razão do retorno das aulas no país, as exportações devido a problemas de gripe aviária nos Estados Unidos e os impactos do calor na oferta no Brasil.

"O tempo quente influencia a produção dos ovos, o bem-estar das aves", disse.

Os dois produtos pressionaram a inflação do grupo alimentação e bebidas no IPCA. A alta dos preços desse segmento foi de 0,70% em fevereiro. A taxa, contudo, foi menor do que a de janeiro (0,96%).

As quedas dos preços de mercadorias como batata-inglesa (-4,10%), arroz (-1,61%) e leite longa vida (-1,04%) ajudaram a conter o resultado de alimentação e bebidas. Banana-d'água (-5,07%), laranja-pera (-3,49%) e óleo de soja (-1,98%) também mostraram baixas.

Em 12 meses, a inflação acumulada por alimentação e bebidas está em 7%. É a maior dos nove grupos do IPCA. Educação (6,35%) aparece na sequência.

A carestia da comida virou dor de cabeça para o governo Lula (PT) em um momento de queda da popularidade do presidente.

Em busca de uma redução dos preços, o governo anunciou que vai zerar a alíquota de importação de produtos como carne, café, milho, óleos e açúcar.

Associações de produtores, por outro lado, afirmaram que a medida é inócua. A ausência de fornecedores competitivos é apontada como uma das explicações para essa análise.

Lula diz que brasileiros devem evitar comprar alimentos caros para driblar inflação

Para melhorar o atual cenário, o presidente incentiva que os consumidores substituam itens caros por produtos similares que tenham preços mais acessíveis

Modificado em 06/02/2025, 20:32

Presidente Lula diz que brasileiros devem evitar comprar alimentos caros

Presidente Lula diz que brasileiros devem evitar comprar alimentos caros (Reprodução / Instagram)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na manhã desta quinta-feira (6), que os brasileiros devem evitar comprar produtos caros para controlar a alta da inflação de alimentos. Segundo o presidente, "uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo".

"Se você vai num supermercado aí em Salvador e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar [o preço], senão vai estragar", disse Lula em entrevista às rádios Metrópole e Sociedade, da Bahia.

O petista afirma que o controle nas compras faz parte da "sabedoria do ser humano" e que esse é um processo educacional que precisará ser feito com o povo brasileiro. Durante a entrevista, Lula também declarou que o povo não pode ser extorquido e que é necessário que todos os setores da cadeia produtiva tenham responsabilidade.

Para melhorar o atual cenário, o presidente incentiva que os consumidores substituam itens caros por produtos similares que tenham preços mais acessíveis.

O chefe do Executivo disse ainda que o aumento do dólar aconteceu porque o BC (Banco Central) teve uma gestão "totalmente irresponsável" e deixou "uma arapuca que a gente não pode desmontar de uma hora para a outra".

Afirmou também que o aumento do salário mínimo deve ser compensado com redução dos preços dos alimentos e que sua gestão pretende "ver o que pode fazer para garantir que a cesta básica caiba dentro do orçamento do trabalhador".

Nas redes sociais, as afirmações do presidente foram criticadas por políticos da oposição. "Para Lula, a população, para combater a inflação, não deve comprar o produto se estiver caro. Já quando os gastos são do Lula, o céu é o limite", disse o senador pelo Paraná, Sergio Moro.

"Nada de cortar gastos nos ministérios, colocar gente competente nas estatais ou gerir melhor a economia. Para o governo, basta que os brasileiros parem de comer, beber e se deslocar", diz o senador pelo Piauí e presidente nacional do Progressistas, Ciro Nogueira.

Mudar a fruta?

Em janeiro deste ano, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também em meio a alta da inflação, sugeriu que os brasileiros "trocassem a laranja por outra fruta".

Durante uma coletiva, o ministro explicou que os preços dentro do Brasil e fora estão elevados, em grande parte por causa de doenças nas produções. A sugestão do ministro foi, então, de que os produtos mais caros também fossem substituídos por outros.

"O preço internacional está tão caro como aqui. O que se pode fazer? Mudar a fruta que a gente vai consumir. Em vez da laranja, [comer] outra fruta. Não adianta você baixar a alíquota, porque não tem produto lá fora para colocar aqui dentro. Então focaremos, evidentemente, no produto que estiver mais barato lá fora", disse.

Melhoria nos preços?

Desde a última semana, o presidente afirma que o governo está trabalhando para solucionar a alta nos preços. Ainda durante a entrevista desta quinta (6), Lula diz que conversas estão sendo realizadas com empresários e que a competência da Fazenda, do Ministério da Agricultura e do Ministério do Desenvolvimento Agrário está sendo utilizada.

"Isso não é programa de governo. É quase uma profissão de fé. Comida barata na mesa do trabalhador é uma coisa que nós estamos perseguindo", afirmou o petista.

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Ferrari de Goiás avaliada em R$ 34 milhões tem o IPVA mais caro do país

Veículo é uma edição especial da marca italiana e possui um motor 6.2 V12 com 789 cavalos de potência

LaFerrari

LaFerrari (Divulgação/Ferrari)

O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) mais caro do Brasil é de uma LaFerrari registrada no estado de Goiás, no valor de R$ 1,2 milhão, segundo levantamento do g1 Carros. O veículo é avaliado em R$ 34,8 milhões e é uma edição especial da marca italiana.

A máquina foi produzida pela Ferrari entre os anos de 2013 e 2018 como o primeiro carro híbrido da marca. Ela possui um motor 6.2 V12 com 789 cavalos de potência e é um modelo raro, com apenas 499 exemplares fabricados no mundo.

Governo diz que IPVA atrasado de 2024 pode ser parcelado
Calendário do IPVA 2025 é divulgado com desconto de 10% para pagamento até 31 de janeiro

A LaFerrari atinge os 100 km/h em apenas 2,6 segundos, e sua velocidade máxima é de 350 km/h. Seu IPVA no ano de 2025 foi de R$ 1.200.738 exatos.

Impostos mais caros do Brasil

O cálculo do IPVA varia de estado para estado, com alíquota girando entre 1% e 4%, sendo assim, os modelos iguais podem ter valores diferentes.

1° lugar

LaFerrari

LaFerrari (Divulgação/Ferrari)

LaFerrari (Divulgação/Ferrari)

Em Goiás a LaFerrari, avaliada em R$ 34.804.000, possui o IPVA mais caro do Brasil, no valor de R$ 1.200.738.

2° lugar

LaFerrari 2016

No estado de Sergipe, uma LaFerrari avaliada em R$ 36.492,246, tem um IPVA no valor de R$ 1.094.767,38.

3° lugar

LaFerrari

No Distrito Federal o IPVA mais caro custou R$ 1.044.140,04 e é de uma LaFerrari avaliada em R$ 34.804,668.

4° lugar

LaFerrari 2016

Em Santa Catarina, assim como em Goiás, existem os carros mais caros. Uma LaFerrari de 2016 avaliada em R$ 38.093.218 gerou um imposto de R$ 761.864,36 em 2025.

5° lugar

Aston Martin Valour

Aston Martin Valour (Divulgação/Aston Martin)

Aston Martin Valour (Divulgação/Aston Martin)

Este diferente carro localizado em São Paulo é avaliado em R$ 15.412.514, gerando um imposto de R$ 616.500,56.

6° lugar

Ferrari Daytona SP3

Ferrari Daytona SP3 (Divulgação/Ferrari)

Ferrari Daytona SP3 (Divulgação/Ferrari)

Uma Ferrari Daytona SP3, localizada na Paraíba, foi avaliada pela Secretaria da Fazenda por R$ 10.574.470,21, gerando um IPVA no valor de R$ 447.243,10.

7° lugar

Porsche 918 Spyder

Porsche 918 Spyder (Divulgação/Porsche)

Porsche 918 Spyder (Divulgação/Porsche)

No Rio Grande do Sul, uma Porsche de 2014 com valor de R$ 13 milhões, gera um imposto de R$ 393.486,90.

8° lugar

Lamborghini Revuelto

Lamborghini Revuelto (Divulgação/Lamborghini)

Lamborghini Revuelto (Divulgação/Lamborghini)

No Rio de Janeiro tem uma Lamborghini avaliada em R$ 7.220.901 que gera um IPVA de R$ 288.836,04.

9° lugar

Ferrari SF90 Spider

Ferrari SF90 Spider (Divulgação/Ferrari)

Ferrari SF90 Spider (Divulgação/Ferrari)

Uma Ferrari SF90 Spider de 2023 localizada no Paraná, avaliada por R$ 7.628.728, gera um imposto de R$ 267.005,48.

10° lugar

Ferrari 812 GTS

Ferrari 812 GTS (Divulgação/Ferrari)

Ferrari 812 GTS (Divulgação/Ferrari)

Em Minas Gerais, o IPVA no valor de R$ 263.085,18, é de uma Ferrari 812 GTS do ano de 2023, avaliada em R$ 6.577.130.

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Inflação fica maior para mais pobres com pressão de alimentos

Alta é de quase 5% segundo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

Inflação fica maior para mais pobres com pressão de alimentos

(Divulgação)

Com a pressão dos alimentos e da energia elétrica, a inflação acelerou principalmente para os consumidores mais pobres no Brasil. É o que indicam dados publicados neste mês pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Para as famílias com renda domiciliar muito baixa (menos de R$ 2.105,99 por mês), a inflação acumulada em 12 meses passou de 4,34% até setembro para 4,99% até outubro.

A alta de quase 5% é a mais intensa para essa faixa de consumidores desde fevereiro de 2023 (5,86%), período inicial do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

À época, o acumulado ainda era influenciado, em grande medida, pela carestia de itens como alimentos durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Ao marcar 4,99%, a inflação das famílias com renda muito baixa superou em outubro as taxas registradas pelos outros cinco grupos de rendimento pesquisados pelo Ipea.

Isso mostra uma diferença na comparação com o cenário até setembro deste ano. Naquele mês, eram as famílias do outro extremo da distribuição, com renda considerada alta (acima de R$ 21.059,92), que acumulavam a maior alta de preços: 4,72%.

A inflação dos mais ricos, porém, desacelerou a 4,44% nos 12 meses até outubro. Com o resultado, o grupo passou a marcar a menor taxa entre os seis pesquisados pelo Ipea.

As famílias com renda alta, aliás, foram as únicas que tiveram desaceleração nos preços no acumulado até o último mês. Esse movimento foi influenciado pela trégua no custo das passagens aéreas em outubro, diz a pesquisadora Maria Andreia Lameiras, responsável pelo levantamento do Ipea.

Os bilhetes de avião pesam mais no orçamento dos mais ricos. Quando as tarifas têm alívio, tendem a levar a inflação desse grupo para baixo.

Já a alimentação, proporcionalmente, consome uma fatia maior dos gastos dos brasileiros com renda inferior. "O alimento bate muito na inflação dos mais pobres: 25% do orçamento dessas famílias é gasto com a compra de alimentos", diz Lameiras.

"Quando tem uma alta acentuada dos preços, há uma pressão inflacionária maior para o segmento de renda mais baixa", acrescenta.

A pesquisadora lembra que, após a supersafra de 2023, já era esperada uma carestia da comida em 2024.

A questão, segundo a técnica, é que a alta foi intensificada por uma série de problemas climáticos como a forte seca e as queimadas deste ano, que afetaram diferentes cultivos no campo.

A estiagem, aponta Lameiras, também encareceu as tarifas de energia elétrica e as carnes.

"A gente já sabia que, no segundo semestre, teria menos abates e oferta menor de carnes, mas, como o pasto foi muito queimado, parte da alimentação do gado teve de ser feita via ração, e isso também encareceu o custo de produção. As carnes acabaram subindo ainda mais", afirma.

De acordo com o Ipea, as famílias com renda considerada baixa (entre R$ 2.105,99 e R$ 3.158,99) acumularam a segunda maior inflação nos 12 meses até outubro: 4,96%. Os consumidores com renda média-baixa (4,72%), média (4,68%) e média-alta (4,63%) vieram na sequência.

Para calcular as variações, o Ipea leva em consideração dados do IPCA, o índice oficial de inflação do Brasil, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os pesos dos produtos e serviços são adaptados de acordo com o perfil da cesta de consumo das famílias nas diferentes faixas de renda.

De acordo com Lameiras, os alimentos devem seguir pressionados até o final do ano, o que impactaria sobretudo a inflação dos mais pobres. Ela lembra que as mercadorias costumam subir em um movimento sazonal nesse período.

O dólar alto é outro fator que tende a influenciar parte dos alimentos, especialmente importados, aponta a pesquisadora.

A inflação da energia elétrica, por outro lado, deve mostrar alívio. Isso tende a ocorrer porque, com a melhora nas chuvas, a bandeira tarifária passou para a cor amarela em novembro, após dois meses no nível vermelho. A medida reduz a cobrança adicional nas contas de luz.

"A inflação dos mais pobres é composta basicamente por alimentos, por gastos no domicílio, gás de cozinha e energia elétrica, e também por transporte público", diz Lameiras.

A pesquisadora acrescenta que o final do ano é marcado por mais dinheiro circulando na economia graças a fatores como o 13º salário.

Segundo ela, o quadro pode impulsionar a demanda por bens industrializados e serviços e, consequentemente, pressionar os preços.

No caso dos serviços, Lameiras lembra que dezembro costuma mostrar uma procura por passagens aéreas e outros itens de lazer. São componentes que pesam mais na inflação das famílias mais ricas.

"Vamos ter uma inflação pressionando ainda todas as faixas de renda nos últimos meses do ano", prevê.

Faixas de renda mensal domiciliar consideradas pelo Ipea

Muito baixa: abaixo de R$ 2.105,99
Baixa: entre R$ 2.105,99 e R$ 3.158,99
Média-baixa: entre R$ 3.158,99 e R$ 5.264,98
Média: entre R$ 5.264,98 e R$ 10.529,96
Média-alta: entre R$ 10.529,96 e R$ 21.059,92
Alta: acima de R$ 21.059,92