Inteligência Artificial tem maior nota de corte na UFG
Professores apontam interesse pela profissão e perspectiva financeira como diferenciais
Vandré Abreu, Gabriela Lima
29 de janeiro de 2025 às 06:37

Instituto de Informática abriga o curso de Inteligência Artificial, primeira graduação em IA do Brasil (Divulgação/UFG)
Em cinco anos de existência, a graduação em Inteligência Artificial (IA) da Universidade Federal de Goiás (UFG) passou a liderar o ranking da nota de corte do Sistema de Seleção Unificado (Sisu) 2025. Para entrar em uma das 40 vagas disponibilizadas para o curso, o aluno pior colocado somou 811,01 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, o que desbancou pela primeira vez o tradicional curso de Medicina, líder ao menos nos últimos 10 anos. A nota de corte de Medicina na UFG foi de 798,15 pontos, ficando em terceiro lugar, atrás ainda de Engenharia de Software, em que a nota mínima para passar foi de 799, 89.
A mudança no ranking mostra uma disputa qualitativa nos cursos de tecnologia. Das sete maiores notas de corte, quatro foram da área. Em quarto aparece Ciência da Computação, com 781 pontos; em quinto Direito Matutino, com 773,99; seguido por Direito Noturno, com 760,78; e Sistemas de Informação, com 760,44.
O coordenador da graduação em IA, Anderson da Silva Soares, aponta que a perspectiva financeira e o interesse pela profissão são os chamativos para que mais alunos busquem o curso, que é o pioneiro no Brasil. "A demanda do mercado existe e é muito grande, os alunos são contratados com um ou dois anos na graduação e é uma profissão da qual se fala muito, há esse interesse e é o que vem na cabeça de quem tem 17 anos", conta. Segundo ele, a maior parte dos graduandos é de alunos provenientes do ensino médio, com idade entre 17 e 18 anos, e com bastante entusiasmo. "Nosso papel é mostrar para os alunos onde está o exercício dele com a profissão, é o nosso maior desafio."
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Também professor no curso de IA da UFG, Celso Camilo reforça que "o mercado é grande e tem excelentes salários", o que cria o senso de oportunidade. "Além disso, as novas gerações já estão mais familiarizadas com as tecnologias e aprenderam a gostar. Isso também atrai o perfil mais inovador", relata. Soares lembra que a questão da concorrência nos cursos e o ponto de corte depende de vários fatores, como a demanda do mercado de trabalho e a referência da própria graduação. Assim, o fato de o Centro de Excelência em IA (CEIA) ser referência no cenário nacional, não apenas como formação de recursos humanos, faz com que o curso seja bastante procurado.
Camilo explica que há dois movimentos importantes para justificar a busca pelo curso. "O primeiro é a percepção ampla da sociedade sobre a evolução da IA e a revolução que está causando na sociedade. As pessoas já percebem que o mundo está mudando e rápido. Isso gera um senso de oportunidade", diz. O segundo ponto é o desenvolvimento da excelência dessa área na UFG, com o Instituto de Informática e o (CEIA), que "são reconhecidos dentro e fora do país como um grande centro de desenvolvimento de talentos e projetos aplicados". Para ele, isso acaba atraindo mais pessoas também para a UFG.
Soares lembra que o Ceia foi formado em 2019, com uma aliança com o Governo de Goiás, e uma das metas era a criação da graduação em IA com a formação de pessoas para atuar na área e abastecer o mercado, com a indução da demanda e a realização do ensino dos recursos humanos. "O Ceia é hoje o maior do Brasil, mesmo somando todos os outros centros não dá o nosso." Até por isso, o coordenador entende que ser o maior ponto de corte da UFG não altera a realidade do Ceia, mas que o fato muda a "perspectiva na procura por competências para uma sociedade melhor".
Retomada tecnológica
Soares explica que "a escolha no curso mostra uma mudança no balanço das múltiplas competências, fica mais equilibrado, o que é bastante positivo para o País, com essa retomada da procura por cursos de tecnologia e engenharias", diz. Para Camilo, ser o principal ponto de corte da UFG tende a ser um parâmetro de dedicação dos candidatos. "Pessoas mais engajadas e dedicadas costumam fazer uma melhor formação e apoiar a formação de outros alunos - favorecendo a cultura."
Presidente do Conselho Estadual de Educação e do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiás (Sepe-GO), Flávio Roberto de Castro conta que o fato dos cursos de tecnologia passarem a ser os principais pontos de corte da UFG não altera as perspectivas das escolas de Ensino Médio. "É o primeiro sinalizador dessa procura por outras profissões. Estamos vivendo momento de novas profissões, especialmente de IA, mas lógico que Medicina e Direito ainda são muito procurados e são relevantes." Para ele, como o Enem continua sendo a prova de entrada para todos os cursos, isso não muda a perspectiva das escolas, mas que já é percebido uma demanda dos alunos pela área, como a busca por cursos de robótica, por exemplo.