Irregularidades na Saúde causaram dívida de mais de R$ 120 milhões e 'interrupção de serviços essenciais', diz MP
Investigação do MP-GO resultou na prisão do secretário da pasta, Wilson Modesto Pollara,do secretário executivo Quesede Ayres Henrique e do diretor financeiro Bruno Vianna Primoda
Samantha Souza
28 de novembro de 2024 às 12:00

Ciams Novo Horizonte está fechado para reforma na emergência (Diomício Gomes / O Popular)
Irregularidades na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) resultaram em uma dívida de mais de R$ 120 milhões e pode ter provocado a atual crise na rede pública de saúde da capital, segundo o Ministério Público de Goiás (MP-GO). As investigações do órgão constataram a existência de pagamentos irregulares, inclusive sem respeitar a ordem cronológica da folha. A investigação do MP-GO resultou na prisão do secretário da pasta, Wilson Modesto Pollara, do secretário executivo Quesede Ayres Henrique e do diretor financeiro Bruno Vianna Primoda, todos apontados como participantes do esquema criminoso.
Em nota, a Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), informou que está colaborando com as investigações e se colocou à disposição para fornecer todas as informações necessárias (veja nota na íntegra ao final do texto).
Também por meio de nota, a defesa de Wilson Modesto Pollara afirmou que "ainda não obteve acesso aos autos e que, tão logo esteja de posse dos elementos informativos referentes à operação deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), emitirá um posicionamento formal e fundamentado". Também disse que "reafirma seu compromisso com a verdade e com o pleno respeito ao contraditório e ao devido processo legal, certa de que a inocência de seu cliente será devidamente reconhecida no curso das apurações" (confira a nota na íntegra ao final da reportagem).
A reportagem não conseguiu localizar as defesas dos outros investigados até a última atualização deste texto.

Wilson Pollara em frente à Casa do Albergado, em Goiânia (Reprodução/TV Anhanguera)
De acordo o Ministério Público, os suspeitos deixaram de repassar verbas públicas previstas em convênios a empresas responsáveis pela gestão de unidades hospitalares e maternidades da capital, especialmente à Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc),"deixando as sem condições de funcionamento regular", pontuou o órgão.
O MP-GO ainda destacou que a situação resulta em violação massiva de direitos fundamentais, especialmente dos direitos à vida e à saúde da população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS).
Paralelamente à atuação do esquema criminoso, a rede pública de saúde da capital enfrenta uma crise de gestão multifatorial sem precedentes, caracterizada pela desestruturação progressiva da assistência hospitalar, restrição ao acesso a leitos de enfermaria e Unidade de Terapia Intensiva (UTI), falta de inúmeros básicos, interrupção de serviços essenciais, graves deficiências em políticas públicas de assistência básica, descumprimento reiterado de decisões judiciais, frustração e burla deliberada à atuação dos órgãos de controle externo, além de indícios de irregularidades em diversas contratações", destacou o MP-GO.
Operação
Diante disso, Pollara, Quesede Ayres Henrique e Bruno Vianna Primoda foram presos durante a operação do MP-GO, realizada na manhã desta quarta-feira (27).
A operação, além de cumprir os três mandados de prisão temporária, também realizou oito mandados de busca e apreensão contra os investigados. Além de serem presos, foi determinado ainda o afastamento cautelar e, consequentemente, a suspensão do exercício das funções públicas dos três presos.
Os mandados foram cumpridos na sede da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, nas casas dos alvos de prisão e de um empresário que presta serviços à pasta. Em posse de um dos alvos foram encontrados mais de R$ 20 mil em dinheiro.

Em um dos locais, foram encontrados R$ 20.085,00 em dinheiro (Divulgação/MP)
Afastado por 45 dias
No final de junho deste ano, Wilson Pollara chegou a ser afastado do cargo por três meses. A determinação do Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO) afirmava que o motivo seria uma contratação prejudicial para os cofres públicos. A decisão foi publicada no dia 29 de junho. Além do afastamento, a determinação também suspendeu a contratação feita pelo secretário, em caráter emergencial, de uma empresa especializada na prestação de serviços do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no período de 180 dias.
Após 45 dias afastado, o próprio TCM-GO revogou a medida cautelar que afastava o secretário do cargo, após um agravo impetrado pela Prefeitura de Goiânia. A decisão foi tomada em sessão do Tribunal Pleno no dia 14 de agosto. Com o afastamento de Pollara, o secretário executivo da pasta, Quesede Ayres Henrique, assumiu o cargo de secretário municipal de Saúde interinamente.
Quem é Wilson Pollara

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Wilson Modesto Pollara assumiu a Secretaria de Saúde de Goiânia em setembro do ano passado, quando substituiu Durval Pedroso, que estava à frente da SMS desde janeiro de 2021. Ele é médico formado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1973. Ele também é pós-graduado em Cirurgia Geral com Mestrado, Doutorado e Livre Docência.
Pollara ocupou a mesma pasta na gestão de João Doria à frente da Prefeitura de São Paulo, entre o início de 2017 e julho de 2018. Além de secretário na gestão Doria, Pollara foi coordenador-geral de cirurgia no Instituto do Câncer de São Paulo e diretor-executivo do Instituto Central do Hospital das Clínicas, no mesmo estado.
Nota da Prefeitura de Goiânia:
A Prefeitura de Goiânia informa que está colaborando plenamente com as investigações conduzidas pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) no âmbito da Operação Comorbidade.
A gestão municipal reitera seu compromisso com a transparência e com a lisura na administração pública, colocando-se à disposição para fornecer todas as informações e documentos necessários ao esclarecimento dos fatos.
A Prefeitura reforça que tomará todas medidas administrativas cabíveis, conforme o desdobramento das apurações.
Nota da defesa de Wilson Pollara
A defesa de Wilson Modesto Pollara informa que ainda não obteve acesso aos autos e que, tão logo esteja de posse dos elementos informativos referentes à operação deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), emitirá um posicionamento formal e fundamentado. Diante do histórico de Pollara, que registra mais de cinco décadas de exercício da medicina e de cargos públicos na área de saúde sem máculas, marcadas por notória contribuição técnica, social e acadêmica, a defesa reafirma seu compromisso com a verdade e com o pleno respeito ao contraditório e ao devido processo legal, certa de que a inocência de seu cliente será devidamente reconhecida no curso das apurações.
Dr. Thiago M. Peres OAB/SP 257.761 OAB/GO 70.310
(Colaboraram Kariny Bianca e Gabriela Macêdo)