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Justiça aumenta para R$ 6,1 milhões sequestro de bens de dona de clínica e do marido investigados por deformar pacientes

Juíz Inácio Pereira de Siqueira afirmou que novas provas obtidas pela operação “Face Oculta” revelaram o aumento do número de vítimas, inicialmente estimado em 23, para mais de 60

Modificado em 17/01/2025, 12:17

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica. (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica. (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

A Justiça determinou o aumento do valor sequestrado de bens dos donos da clínica de estética presos por deformar rostos de pacientes. Na decisão expedida na última quarta-feira (15), o juíz Inácio Pereira de Siqueira, da 1ª Vara das Garantias, determinou que R$ 6,1 milhões de Karine Giselle Gouveia Silva, Paulo César Dias Gonçalves e de oito pessoas jurídicas sejam bloqueados.

Ao DAQUI , os advogados de Karine Gouveia e Paulo César informaram que o aumento do valor de sequestro de bens do casal, a defesa entende como natural para garantir uma eventual indenização em casos de ações cíveis. A defesa reforça mais uma vez que se for constatado que casal teve culpa, eles não se furtarão das responsabilidades, assim como nunca se furtaram. Mas têm o direito de se defenderem (veja a nota na íntegra abaixo) .

A defesa frisou ainda que Karine Gouveia e Paulo César nunca tiveram a intenção de praticar qualquer crime. Sobre as acusações das mais de 60 pessoas que procuraram a delegacia, a defesa esclarece que todo procedimento estético exige cuidados pós-operatórios adequados e o acompanhamento contínuo do paciente.

Entenda o caso

A Operação Face Oculta, deflagrada pela Polícia Civil, investiga a clínica de estética Karine Gouveia por realizar procedimentos estéticos ilegais e perigosos. O casal de donos, Karine Gouveia e Paulo Cesar Dias Gonçalves, está preso desde o dia 18 de dezembro na Casa do Albergado, em Goiânia.

Eles são suspeitos de aplicar substâncias proibidas, como PMMA e óleo de silicone, e realizar cirurgias sem a qualificação necessária. Pelo menos 60 pacientes sofreram complicações graves, incluindo deformidades permanentes, infecções e até perda de visão.

As investigações apontaram diversas irregularidades, como uso de medicamentos vencidos, seringas não esterilizadas e falta de licenciamento. Os procedimentos realizados, como rinoplastia e lipoaspiração, só poderiam ser feitos por médicos especializados.

Ainda segundo a PC, uma vítima chegou a contrair hepatite C devido às condições inadequadas da clínica, enquanto outras relataram danos irreversíveis e sofrimento intenso. A polícia segue apurando a extensão dos danos e a responsabilidade de outros profissionais envolvidos.

Quem são os donos da clínica?

Os donos da clínica de estética Karine Gouveia são Karine Giselle Gouveia Silva, de 34 anos, e seu marido, Paulo Cesar Dias Gonçalves, de 44. O casal está preso desde a deflagração da operação, no dia 18 de dezembro, e permanece na Casa do Albergado, em Goiânia. Karine e Paulo são suspeitos de comandar o local onde os procedimentos estéticos eram realizados sem a qualificação necessária, o que levou a complicações sérias nos pacientes.

Apesar da prisão, a defesa de Karine e Paulo nega as acusações e questiona a prisão temporária. Para a defesa, a prisão é desproporcional, especialmente durante o período de festas. A defesa considera ainda que a medida afetou gravemente a vida pessoal da família, destacando que um de seus filhos, de 7 anos, foi afastado de seus pais abruptamente.

Quais são os crimes investigados?

Os crimes investigados pela polícia incluem a realização de procedimentos estéticos ilegais, aplicação de substâncias proibidas, como o PMMA, e falhas graves em termos de qualificação profissional. A clínica oferecia procedimentos como rinoplastia, lipoaspiração e outras cirurgias que, segundo a PC, só poderiam ser realizadas por médicos especializados. Além disso, as investigações apontam que produtos de saúde foram usados de forma inadequada, com medicamentos e materiais vencidos ou sem registro na Anvisa, além do uso de substâncias como PMMA e óleo de silicone, ambos com risco elevado à saúde.

A operação também identificou diversas irregularidades no funcionamento da clínica, como armazenamento inadequado de produtos médicos, falta de esterilização de instrumentos cirúrgicos e até o uso de seringas não esterilizadas, que resultaram em uma das vítimas contraindo hepatite C. A polícia investiga ainda a atuação dos profissionais da clínica, que realizavam procedimentos sem a qualificação necessária, colocando em risco a saúde e o bem-estar dos pacientes.

Quem são as vítimas?

As vítimas da clínica Karine Gouveia são pessoas que passaram por procedimentos estéticos como rinoplastia, lipoaspiração e outros tratamentos invasivos. Pelo menos 60 pacientes procuraram a polícia após sofrerem complicações graves em decorrência dos procedimentos, que variaram desde cicatrizes e necroses até infecções severas e perda de funções corporais, como a visão. Em alguns casos, as vítimas precisaram de várias cirurgias corretivas e até de enxertos de pele para tentar reparar os danos causados.

Uma das vítimas precisou ser entubada após passar por um procedimento na clínica e ficou com o nariz necrosado, e outras tiveram complicações que resultaram em deformidades permanentes. As vítimas relataram ainda que, durante os atendimentos, sofreram dores intensas e, em muitos casos, não receberam o suporte médico necessário. De acordo com a polícia, a clínica foi responsável por uma série de danos irreversíveis que exigem reparações complexas e contínuas.

O que dizem os Conselhos?

O Conselho Regional de Odontologia (CRO/GO) informou que "eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos". A instituição disse ainda que cirurgiões-dentistas têm formação e capacidade técnica para realizar procedimentos de harmonização orofacial, desde que respeitados os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.

A clínica conta com outra responsável técnica, que é biomédica. O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) declarou que está apurando as informações divulgadas e só vai comentar o caso após ser notificado.

Segundo a Polícia Civil, Karine não possui qualificação acadêmica e o áudio reforça indícios dos crimes de estelionato. A reportagem pediu por e-mail um posicionamento para o Conselho Regional de Biomedicina do Paraná - 6ª Região (CRBM6). Porém, o veículo não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.

Além disso, o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3), que atua em Goiás, informou à polícia que Karine não possui registro de biomédica. "Não há registro de Karine Giselle Gouveia Silva neste Conselho Regional, e nunca houve", diz parte do documento (veja print abaixo) .

Documento no qual o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3) afirma que Karine Gouveia não possui registro no órgão. (Divulgação/Polícia Civil)

Documento no qual o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3) afirma que Karine Gouveia não possui registro no órgão. (Divulgação/Polícia Civil)

Quais foram as irregularidades encontradas?

A inspeção feita em conjunto com a Vigilância Sanitária, no dia 18 de dezembro, nas unidades de Goiânia e Anápolis documentou as seguintes irregularidades:

  • Armazenamento inadequado de produtos médicos e equipamentos;
  • Falta de rótulos em produtos armazenados;
  • Manutenção de medicamentos em condições de temperatura incompatíveis;
  • Armazenamento de produtos que deveriam ser descartados;
  • Medicamentos sem tampa e expostos a condições insalubres;
  • Comercialização de produtos clandestinos e sem registro;
  • Apreensão de medicamentos sem registro na Anvisa;
  • Produção e armazenamento de produtos manipulados em larga escala destinados à venda;
  • Ausência de notas fiscais dos produtos armazenados ou comercializados;
  • Ausência de controle de esterilização de equipamentos e produtos;
  • Medicamentos armazenados em locais inadequados, como salas de máquinas sem controle de temperatura, tornando-os impróprios para o uso humano;
  • Depósitos de medicamentos sem prescrição médica;
  • Produtos como botox abertos, com prazo de uso vencido, armazenados indevidamente para futuro uso, quando deveriam ter sido descartados;
  • Falta de refrigeradores adequados para o armazenamento de medicamentos, ausência de fontes alternativas de energia e inexistência de instrumentos para monitoramento da temperatura nas salas de armazenamento;
  • Detecção de instrumentos cirúrgicos, como cânulas utilizadas para lipoaspiração, que não eram esterilizados de forma adequada;
  • Realização de procedimentos cirúrgicos incompatíveis com a capacidade técnica e qualificação profissional dos envolvidos;
  • Ausência de controle sobre o armazenamento dos produtos utilizados em pacientes;
  • Uso de produtos com prazo de validade expirado.
  • Na unidade de Anápolis, o relatório da Vigilância Sanitária apontou "que a empresa não possui alvará de licença sanitária e nem projeto arquitetônico aprovado pelo órgão sanitário competente".

    Também foram encontrados receitas e atestados assinados, mas não preenchidos, e diversos medicamentos e instrumentos utilizados na realização de cirurgias, sem a autorização para funcionamento. Em decorrência, também foram lavrados termo de interdição e auto de infração.

    (Colaborou Fabiana Pulcineli)

    Nota a imprensa da defesa de Karine Gouveia e Paulo César

    Os advogados dos investigados Karine Gouveia e Paulo César, Romero Ferraz Filho, Tito Souza do Amaral e Caio Victor Lopes Tito, respectivamente informam:

    Karine Gouveia e Paulo César nunca tiveram a intenção de praticar qualquer crime. Sobre as acusações das mais de 60 pessoas que procuraram a delegacia, a defesa esclarece que todo procedimento estético exige cuidados pós-operatórios adequados e o acompanhamento contínuo do paciente. A fase pós-procedimento é fundamental para garantir resultados satisfatórios e evitar complicações. Os casos em que a defesa teve conhecimento até o momento são, na maioria, referentes a intervenções realizadas em anos anteriores e necessitam ser avaliados de forma detalhada. Em todos os casos em que a clínica teve conhecimento, sempre atuou com transparência, oferecendo todo o suporte necessário para a resolução de eventuais questões que possam ter surgido.

    Sobre a prorrogação da prisão temporária, os advogados dos empresários Karine Gouveia e Paulo Cesar Dias Gonçalves, Drs. Romero Ferraz, Tito Amaral e Caio Tito, respectivamente, discordam absolutamente, e irão recorrer. A defesa esclarece que não há qualquer motivação para a manutenção da prisão, uma vez que não há demonstração da sua necessidade para as investigações e que ambos podem responder às acusações em liberdade sem qualquer prejuízo para o processo. Importante lembrar que o casal possui um filho de 7 anos que está afastado dos pais há um mês. Inclusive, o STF reconhece que esse tipo de prisão, para constranger investigados e pressioná-los a renunciar aos seus direitos constitucionais, é inconstitucional.

    Sobre a decisão judicial que aumentou o valor de sequestro de bens do casal, a defesa entende como natural para garantir uma eventual indenização em casos de ações cíveis. A defesa reforça mais uma vez que se for constatado que casal teve culpa, eles não se furtarão das responsabilidades, assim como nunca se furtaram. Mas têm o direito de se defenderem.

    Sobre o bloqueio das contas da rede social, a defesa esclarece que já foram desativadas.

    Nota do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego)

    De acordo com a LEI Nº 12.842, DE 10 DE JULHO DE 2013, que dispõe sobre o exercício da medicina, a indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, são atos exclusivos de médicos, portanto, não devem ser exercidos por outros profissionais.

    Nota do Conselho Regional de Odontologia

    O Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO-GO) informa que não teve conhecimento prévio da operação policial realizada na manhã da última quarta-feira, 18 de dezembro de 2024, que resultou na prisão de profissionais cirurgiões-dentistas inscritos neste Conselho. Conforme divulgado pela mídia, os profissionais são acusados de realizar procedimentos estéticos e cirúrgicos que teriam causado danos físicos a pacientes.

    Esclarecemos que, de acordo com a Resolução CFO nº 198/2019, os cirurgiões-dentistas possuem formação e capacidade técnica para a realização de procedimentos de Harmonização Orofacial (HOF), respeitando os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.

    O CRO-GO repudia veementemente qualquer ato que exponha negativamente a imagem dos profissionais da área, que, em sua grande maioria, exercem sua profissão com excelência, dedicação e respeito à sociedade. Reforçamos nosso compromisso de zelar pela ética e pela segurança dos pacientes, promovendo uma Odontologia responsável e de qualidade.Informamos que eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos.

    Nota Conselho Regional de Biomedicina

    O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) informa que está apurando as informações divulgadas pela imprensa e só vai comentar o caso após ser notificado. Informa ainda que a Clínica que pertence à empresária Karine Giselle Gouveia Silva tem registro de Pessoa Jurídica no Conselho. A referida profissional não é biomédica.

    Geral

    Justiça mantém prisão de casal dono de clínica suspeito de causar deformação em pacientes

    Karine Giselle Gouveia e Paulo César Dias Gonçalves tiveram a prisão preventiva mantida pela juíza Ana Cláudia Veloso Magalhães, em audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (13)

    Modificado em 13/03/2025, 21:06

    À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

    À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

    A Justiça manteve a prisão preventiva do casal Karine Giselle Gouveia, de 34 anos, e Paulo César Dias Gonçalves, 44, donos de uma clínica de estética acusada de deformar pacientes em Goiânia, em audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (13).

    Em nota enviada ao POPULAR , o advogado de Paulo César, Tito Amaral, classificou a decisão como "absurda".

    São apenas falácias e narrativas na tentativa de induzir a erro o Poder Judiciário. Já estamos trabalhando, elaborando os recursos cabíveis e necessários, e iremos acionar todas as instâncias do Poder Judiciário, até mesmo, se necessário, o STJ e o STF, objetivando cessar esta absoluta ilegalidade", disse em um trecho da nota (leia na íntegra ao final da matéria).

    A reportagem também solicitou um posicionamento para a defesa de Karine Gouveia, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria.

    Segundo um trecho do documento da audiência, assinado pela juíza Ana Cláudia Veloso Magalhães, os elementos da prisão preventiva contra o casal persistem, "uma vez que permanecem sólidas as provas da materialidade dos delitos e os indícios de autoria".

    Karine Gouveia e Paulo César foram presos novamente na quarta-feira (12). Ainda de acordo com o documento, o casal deve ser encaminhado ao complexo prisional.

    O casal foi preso pela primeira vez em 18 de dezembro do ano passado. Aos dois, a ministra do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) Daniela Teixeira concedeu liberdade com medidas cautelares, em 8 de fevereiro.

    Na decisão do STJ, eles estavam proibidos de manter contato com os funcionários das clínicas e fazer qualquer divulgação na internet sobre procedimentos estéticos.

    Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

    Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

    Entenda o caso

    Em dezembro de 2024, a Polícia Civil (PC) prendeu preventivamente Karine Gouveia e o seu marido, Paulo César, proprietários da clínica Karine Gouveia Estética (KGG), localizada na capital.

    A prisão, realizada pela 4ª Delegacia de Polícia de Goiânia, foi decretada pela 1ª Vara das Garantias da Comarca de Goiânia, sob graves acusações de crimes relacionados a procedimentos estéticos e cirúrgicos realizados na clínica.

    De acordo com a polícia, a investigação foi iniciada em fevereiro de 2024, quando foi revelado que a clínica KGG realizava procedimentos de alto risco, como rinoplastias, lipoaspirações, aplicações de botox e preenchimentos faciais, sem a devida autorização e com o uso de substâncias proibidas, como o (PMMA), e agora a apuração indica também a utilização de óleo de silicone.

    O delegado Daniel José de Oliveira apontou que a clínica funcionava de forma organizada e hierárquica, com estratégias de marketing agressivas e a participação de profissionais sem a qualificação necessária.

    Além disso, a clínica comercializava medicamentos manipulados de forma irregular, incluindo substâncias proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

    Conforme Oliveira, essas substâncias podem causar deformidades permanentes, necroses, infecções graves e outras complicações de saúde. Ao todo, mais de 70 pessoas procuraram a delegacia como vítimas dos investigados, segundo o delegado.

    Nessa nova fase das investigações, a polícia suspeita que o número de vítimas chegue a 954, com base nos atendimentos realizados também entre março de 2028 e março de 2019. Para Oliveira, esses pacientes podem ter sido submetidos a aplicação de óleo de silicone durante procedimentos estéticos, o que pode causar inflamações, deformidades e outros danos à saúde.

    Diante de riscos à saúde, o delegado recomendou que os pacientes da clínica KGG procurem um médico com urgência e solicitem um exame de ultrassom dermatológico com doppler. Esse exame, segundo o investigador, pode detectar substâncias não absorvíveis pelo corpo, como o óleo de silicone. E, se o resultado der positivo, a pessoa é orientada a procurar a 4ª Delegacia Distrital de Goiânia para prestar depoimento e colaborar com as investigações.

    Acusações contra os proprietários da clínica:

  • Formação de organização criminosa;
  • Falsificação de produtos terapêuticos;
  • Lesões corporais gravíssimas;
  • Exercício ilegal da medicina;
  • EstelionatoTráfico de medicamentos.
  • Nota da defesa de Paulo César

    A decretação da prisão preventiva de Paulo Cesar Dias Gonçalves é uma decisão absurda, que não se sustenta juridicamente. O próprio STJ, através da ministra Daniela Teixeira, já disse que, neste caso, é desproporcional e desnecessária, portanto, ilegal. Paulo César estava submisso a medidas cautelares diversas da prisão, as cumprindo na íntegra. O que está havendo é uma série de situações inventadas pela Polícia Civil de Goiás, sem nenhum documento e sem nenhuma prova ou indício.

    São apenas falácias e narrativas na tentativa de induzir a erro o Poder Judiciário. Já estamos trabalhando, elaborando os recursos cabíveis e necessários, e iremos acionar todas as instâncias do Poder Judiciário, até mesmo, se necessário, o STJ e o STF, objetivando cessar esta absoluta ilegalidade.

    Goiânia - GO, 13 de março de 2025.

    Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

    Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

    Geral

    Casal dono de clínica investigado por deformar pacientes volta a ser preso

    Karine Gouveia e o marido Paulo César foram presos após orientar funcionários a permanecerem em silêncio, e por continuar anunciando venda de medicamentos, segundo as investigações

    Karine Giselle Gouveia e marido Paulo César Dias Gonçalves, donos das clínicas Karine Gouveia (Reprodução/Redes sociais)

    Karine Giselle Gouveia e marido Paulo César Dias Gonçalves, donos das clínicas Karine Gouveia (Reprodução/Redes sociais)

    O casal dono das clínicas de estética Karine Gouveia, investigado por deformar pacientes, voltou a ser preso, nesta quarta-feira (12), em Goiânia. De acordo com a Polícia Civil (PC), Karine Giselle Gouveia, de 34 anos, e Paulo César Dias Gonçalves, de 44, foram presos preventivamente após orientar outros investigados a permanecerem em silêncio sobre os fatos, e por continuar anunciando venda de medicamentos.

    À reportagem, a defesa do casal suspeito, o advogado Tito Amaral, considerou como "absurda" a renovação da prisão. Segundo ele, há uma série de alegações "inventadas" pela polícia, sem documentos ou provas (veja a nota completa no final).

    São apenas falácias, versões e narrativas que estão induzindo a erro o Ministério Público e o Poder Judiciário. Nós já estamos trabalhando, elaborando os recursos e iremos a todas as instâncias. Vamos pedir, em primeiro lugar, ao Tribunal de Justiça, para que essa prisão absolutamente ilegal seja imediatamente revogada", acrescentou o advogado.

    Karine e Paulo foram presos pela primeira vez no dia 18 de dezembro de 2024. Contudo, após o habeas corpus concedido pela ministra do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) Daniela Teixeira, o casal foi solto no dia 8 de fevereiro. Entretanto, a decisão impôs medidas cautelares como, não manter contato com os funcionários e nem ir à clínica, nem fazer divulgação de fins estéticos em qualquer rede social.

    Dessa forma, segundo a apuração da polícia, que foi aceita pela Justiça quando concedeu as prisões, os investigados utilizaram suas redes sociais para anunciar a venda de medicamentos e outras substâncias medicinais.

    Além disso, o casal teria tentado atrapalhar as investigações após subcontratar escritórios de advogados "que, sob a aparência de defensores independentes, orientaram outros investigados a permanecerem em silêncio e a não colaborarem com as investigações, mesmo que eventualmente isso pudesse ser benéfico para esses outros envolvidos", segundo a PC.

    Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

    Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

    Possíveis novas mil vítimas

    A polícia identificou, com base nas investigações, que todos os pacientes que realizaram preenchimentos faciais na clínica Karine Gouveia entre março de 2018 e março de 2019 (aproximadamente 954 pessoas), têm grande chance de terem sido submetidos a aplicação com óleo de silicone. Conforme a PC, a substância, quando aplicada de forma inadequada, pode migrar para outras áreas do corpo, causando inflamações, deformidades e outros danos à saúde.

    Dessa forma, diante do risco à saúde, a delegacia orienta que esses pacientes procurem um médico com urgência e solicitem a realização do exame de ultrassonografia dermatológica com doppler, capaz de detectar a presença de substâncias não biodegradáveis no corpo, como o óleo de silicone.

    Caso o resultado ateste positivo, essas vítimas deverão procurar a 4ª Delegacia Distrital de Goiânia, mediante agendamento, para prestar depoimento e contribuir para as investigações.

    Foto mostra vítimas com sequelas, deformações e infecções. (Divulgação/Polícia Civil)

    Foto mostra vítimas com sequelas, deformações e infecções. (Divulgação/Polícia Civil)

    Crimes

    Os donos das clínicas Karine Gouveia são investigados por formação de organização criminosa, falsificação de produtos terapêuticos, lesões corporais gravíssimas, exercício ilegal da medicina, estelionato e outros crimes relacionados à prática de procedimentos estéticos e cirúrgicos sem a devida qualificação técnica e autorização legal. Até o momento, mais de 100 vítimas denunciaram o casal.

    A investigação, que teve início em fevereiro de 2024, apurou que a clínica realizava procedimentos estéticos e cirúrgicos de alto risco como, rinoplastias, lipoaspirações, aplicações de botox e preenchimentos faciais, sem a devida autorização e com o uso de substâncias proibidas, como óleo de silicone e polimetilmetacrilato (PMMA).

    Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

    Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

    Segundo a polícia, essas substâncias, quando injetadas no corpo, podem causar deformidades permanentes, necroses, infecções graves e outras complicações de saúde.

    Os investigados agiam de forma organizada e hierárquica, com a utilização de estratégias de marketing agressivas e a participação de profissionais sem a qualificação necessária para realizar os procedimentos oferecidos. Além disso, foi constatado que a clínica comercializava medicamentos manipulados de forma irregular, incluindo substâncias proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que pode configurar tráfico de medicamentos", informou a PC.

    Nota completa da defesa do casal

    Essa renovação da prisão preventiva é uma decisão absurda, o próprio STJ, através da ministra Daniela, já disse que essa prisão é desproporcional e desnecessária. Eles estavam sob medidas cautelares diversas da prisão. O que está havendo é uma série de coisas inventadas pelo delegado, sem nenhum documento, sem nenhuma prova, são apenas versões falácias da prisão.

    São apenas falácias, versões e narrativas que estão induzindo a erro o Ministério Público e o Poder Judiciário. Nós já estamos trabalhando, elaborando os recursos e iremos a todas as instâncias. Faremos uma reclamação ao STJ e, se for o caso, até o STF.

    Vamos pedir, em primeiro lugar, ao Tribunal de Justiça, para que essa prisão absolutamente ilegal seja imediatamente revogada. Apesar da lei determinar expressamente que a mãe de um filho de menos de 12 anos não fique presa, a polícia levou os dois, e ficou uma criança de 7 anos sozinha chorando em casa. Se fosse calcado em fatos reais, em provas, em documentos, ok. Mas é uma fantasia que a polícia está criando.

    Advogado Tito Amaral

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    Donos de clínica de estética suspeitos de deformar pacientes são soltos

    Ministra do Supremo Tribunal de Justiça determinou medidas cautelares para Karine Gouveia e Paulo César Dias

    Modificado em 08/02/2025, 14:57

    Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos de clínica de estética investigada em Goiânia.

    Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos de clínica de estética investigada em Goiânia. (Reprodução/Redes Sociais )

    Os donos de clínica de estética suspeitos de deformar pacientes , Karine Gouveia e Paulo César Dias, foram soltos pela Justiça. A decisão é do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), que revogou a decisão proferida anteriormente. O casal, que estava preso desde o dia 18 de dezembro, deixou a prisão na manhã deste sábado (8), informou a Diretoria-Geral de Polícia Penal (DGPP).

    Em nota, a defesa do casal afirmou que sempre acreditou na Justiça que a ilegalidade da prisão, sustentada desde o início, seria reconhecida. "Não têm dúvidas de que a Karine e o Paulo César, com a liberdade restabelecida, poderão esclarecer todos os fatos ao Poder Judiciário, que, inclusive, deverá enfrentar todas as ilegalidades praticadas no âmbito da investigação que já foram denunciadas", diz um trecho do comunicado (leia íntegra ao final da reportagem) .

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    Em sua decisão, a ministra Daniela Teixeira afirmou que "a privação de liberdade antes da formação definitiva de culpa somente encontra respaldo quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e não for cabível a sua substituição por medidas alternativas mais brandas". Baseado nisso, a ministra afirmou que, no caso do casal, é suficiente a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão.

    Segundo a ministra, foi levado em conta, entre outros fatores, o fato de eles serem pais de uma criança de sete anos de idade que necessita de intervenção cirúrgica e cuidados.

    A ministra determinou, para ambos, medidas cautelares como: comparecimento mensal em juízo para informar e justificar suas atividades, com manutenção atualizada e completa de seu respectivo endereço, entrega de passaporte, caso possua, e proibição de deixar o país, proibição de ausentar-se de seu local de domicílio, por prazo superior a oito dias, sem comunicar ao juízo onde poderá ser encontrado.

    Além disso, também estão entre as medidas a proibição de acesso ou frequência ao local onde a clínica funcionava, bem como de contato com quaisquer funcionários da empresa, proibição de atuação profissional na área de estética, biomedicina e das demais atividades que estão sob investigação, que eram realizadas na respectiva clínica, proibição de manter contato com as vítimas e testemunhas do fato que está em apuração e a proibição de divulgar procedimentos estéticos em qualquer rede social.

    Prisão

    Na decisão do STJ, consta que o casal havia sido preso temporariamente em decorrência de investigação instaurada em razão dos supostos crimes de exercício ilegal da medicina, lesão corporal, alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, estelionato, contra o consumidor e organização criminosa.

    Entenda o caso

    A Operação Face Oculta, deflagrada pela Polícia Civil (PC), investiga a clínica de estética Karine Gouveia por realizar procedimentos estéticos ilegais e perigosos. O casal de donos, Karine Gouveia e Paulo é suspeito de aplicar substâncias proibidas, como PMMA e óleo de silicone, e realizar cirurgias sem a qualificação necessária. Pelo menos 70 pacientes sofreram complicações graves, incluindo deformidades permanentes, infecções e até perda de visão.

    As investigações apontaram diversas irregularidades, como uso de medicamentos vencidos , seringas não esterilizadas e falta de licenciamento. Os procedimentos realizados, como rinoplastia e lipoaspiração, só poderiam ser feitos por médicos especializados.

    Ainda segundo a PC, uma vítima chegou a contrair hepatite C devido às condições inadequadas da clínica, enquanto outras relataram danos irreversíveis e sofrimento intenso. A polícia segue apurando a extensão dos danos e a responsabilidade de outros profissionais envolvidos.

    Quais são os crimes investigados?

    Os crimes investigados pela polícia incluem a realização de procedimentos estéticos ilegais, aplicação de substâncias proibidas, como o PMMA, e falhas graves em termos de qualificação profissional. A clínica oferecia procedimentos como rinoplastia, lipoaspiração e outras cirurgias que, segundo a PC, só poderiam ser realizadas por médicos especializados. Além disso, as investigações apontam que produtos de saúde foram usados de forma inadequada, com medicamentos e materiais vencidos ou sem registro na Anvisa, além do uso de substâncias como PMMA e óleo de silicone, ambos com risco elevado à saúde.

    A operação também identificou diversas irregularidades no funcionamento da clínica, como armazenamento inadequado de produtos médicos, falta de esterilização de instrumentos cirúrgicos e até o uso de seringas não esterilizadas, que resultaram em uma das vítimas contraindo hepatite C. A polícia investiga ainda a atuação dos profissionais da clínica, que realizavam procedimentos sem a qualificação necessária, colocando em risco a saúde e o bem-estar dos pacientes.

    Quem são as vítimas?

    As vítimas da clínica Karine Gouveia são pessoas que passaram por procedimentos estéticos como rinoplastia, lipoaspiração e outros tratamentos invasivos. Pelo menos 70 pacientes procuraram a polícia após sofrerem complicações graves em decorrência dos procedimentos, que variaram desde cicatrizes e necroses até infecções severas e perda de funções corporais, como a visão. Em alguns casos, as vítimas precisaram de várias cirurgias corretivas e até de enxertos de pele para tentar reparar os danos causados.

    Uma das vítimas precisou ser entubada após passar por um procedimento na clínica e ficou com o nariz necrosado, e outras tiveram complicações que resultaram em deformidades permanentes. As vítimas relataram ainda que, durante os atendimentos, sofreram dores intensas e, em muitos casos, não receberam o suporte médico necessário. De acordo com a polícia, a clínica foi responsável por uma série de danos irreversíveis que exigem reparações complexas e contínuas.

    O que dizem os Conselhos?

    O Conselho Regional de Odontologia (CRO/GO) informou que "eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos". A instituição disse ainda que cirurgiões-dentistas têm formação e capacidade técnica para realizar procedimentos de harmonização orofacial, desde que respeitados os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.

    A clínica conta com outra responsável técnica, que é biomédica. O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) declarou que está apurando as informações divulgadas e só vai comentar o caso após ser notificado.

    Segundo a Polícia Civil, Karine não possui qualificação acadêmica e um áudio reforça indícios dos crimes de estelionato. O POPULAR pediu por e-mail um posicionamento para o Conselho Regional de Biomedicina do Paraná - 6ª Região (CRBM6). Porém, o veículo não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.

    Além disso, o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3), que atua em Goiás, informou à polícia que Karine não possui registro de biomédica. "Não há registro de Karine Giselle Gouveia Silva neste Conselho Regional, e nunca houve", diz parte do documento (veja print abaixo) .

    Documento no qual o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3) afirma que Karine Gouveia não possui registro no órgão. (Divulgação/Polícia Civil)

    Documento no qual o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3) afirma que Karine Gouveia não possui registro no órgão. (Divulgação/Polícia Civil)

    Quais foram as irregularidades encontradas?

    A inspeção feita em conjunto com a Vigilância Sanitária, no dia 18 de dezembro, nas unidades de Goiânia e Anápolis documentou as seguintes irregularidades:

  • Armazenamento inadequado de produtos médicos e equipamentos;
  • Falta de rótulos em produtos armazenados;
  • Manutenção de medicamentos em condições de temperatura incompatíveis;
  • Armazenamento de produtos que deveriam ser descartados;
  • Medicamentos sem tampa e expostos a condições insalubres;
  • Comercialização de produtos clandestinos e sem registro;
  • Apreensão de medicamentos sem registro na Anvisa;
  • Produção e armazenamento de produtos manipulados em larga escala destinados à venda;
  • Ausência de notas fiscais dos produtos armazenados ou comercializados;
  • Ausência de controle de esterilização de equipamentos e produtos;
  • Medicamentos armazenados em locais inadequados, como salas de máquinas sem controle de temperatura, tornando-os impróprios para o uso humano;
  • Depósitos de medicamentos sem prescrição médica;
  • Produtos como botox abertos, com prazo de uso vencido, armazenados indevidamente para futuro uso, quando deveriam ter sido descartados;
  • Falta de refrigeradores adequados para o armazenamento de medicamentos, ausência de fontes alternativas de energia e inexistência de instrumentos para monitoramento da temperatura nas salas de armazenamento;
  • Detecção de instrumentos cirúrgicos, como cânulas utilizadas para lipoaspiração, que não eram esterilizados de forma adequada;
  • Realização de procedimentos cirúrgicos incompatíveis com a capacidade técnica e qualificação profissional dos envolvidos;
  • Ausência de controle sobre o armazenamento dos produtos utilizados em pacientes;
  • Uso de produtos com prazo de validade expirado.
  • Na unidade de Anápolis, o relatório da Vigilância Sanitária apontou "que a empresa não possui alvará de licença sanitária e nem projeto arquitetônico aprovado pelo órgão sanitário competente".

    Também foram encontrados receitas e atestados assinados, mas não preenchidos, e diversos medicamentos e instrumentos utilizados na realização de cirurgias, sem a autorização para funcionamento. Em decorrência, também foram lavrados termo de interdição e auto de infração.

    Nota de defesa de Karine Gouveia e Paulo César Dias

    "O Superior Tribunal de Justiça reconheceu a ilegalidade das prisões da Karine Gouveia e do Paulo César Dias Gonçalves. Na decisão, a ministra Daniela Teixeira afirmou: "Logo, considerando os elementos individualizados do caso concreto sob julgamento, revela-se desproporcional e injustificada a manutenção da prisão cautelar dos recorrentes. Pelo exposto, reconsidero a decisão proferida e concedo a ordem para determinar a revogação da prisão cautelar."

    O advogado de Karine Gouveia, Romero Ferraz Filho e os advogados de Paulo César, Tito Souza do Amaral e Caio Victor Lopes Tito, em que pese o profundo respeito que têm pelas instituições, no exercício da atividade de advocacia, sempre apontaram com vigor a ilegalidade da prisão temporária que seus clientes foram submetidos. Essa prisão nunca foi necessária.

    Desde o início da operação, foram denunciadas várias ilegalidades na investigação, a qual, inclusive, nunca foi apresentada ao Poder Judiciário para controle de legalidade. A metodologia abusiva da Autoridade Policial nos vazamentos seletivos diários de documentos sigilosos, promovendo o repudiado julgamento pela mídia, manteve uma prisão absolutamente ilegal que foi utilizada para extrair confissões forçadas de investigados. Se manifestava pela soltura apenas se "contribuísse" com as investigações. Nada mais absurdo e inconstitucional.

    As defesas sempre acreditaram na Justiça e que de fato a ilegalidade da prisão, sustentada desde o início, seria reconhecida. A decisão do STJ deixa claro que não é possível a prisão para extrair confissões, em clara violação aos direitos fundamentais. Não têm dúvidas de que a Karine e o Paulo César, com a liberdade restabelecida, poderão esclarecer todos os fatos ao Poder Judiciário, que, inclusive, deverá enfrentar todas as ilegalidades praticadas no âmbito da investigação que já foram denunciadas."

    Geral

    Donos de clínica suspeitos de deformar pacientes mantinham empresa para venda clandestina de medicamentos, diz polícia

    De acordo com investigação, distribuidora de remédios seguiu funcionando normalmente durante prisões de suspeitos

    Modificado em 21/01/2025, 14:18

    À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

    À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

    A Polícia Civil realizou uma segunda fase da Operação Face Oculta, que investiga a clínica de estética Karine Gouveia por realizar procedimentos estéticos ilegais e perigosos . De acordo com o delegado Daniel José da Silva Oliveira, o alvo das operações foi a empresa WE Care Aesthetic, que pertence ao mesmo grupo da clínica de estética. Na Receita Federal, a Wecare Aesthetic está no nome de Paulo César Dias, esposo de Karine. Eles tiveram a prisão mantida pela Justiça.

    Ao POPULAR, os advogados de Karine Gouveia e Paulo César disseram que os vazamentos seletivos de informações sigilosas, as quais sequer a defesa habilitada nos autos possui acesso, continuam. A defesa ainda acrescentou que após o devido acesso amplo, conforme a Constituição Federal e a Lei preveem, acredita que os fatos serão esclarecidos no seu tempo e com os documentos necessários (veja a nota na íntegra abaixo) .

    O delegado Daniel José esclareceu que a segunda etapa passou a investigar a continuação das atividades da empresa, que é suspeita de vender medicamentos para procedimentos cirúrgicos. De acordo com as investigações, a distribuidora seguiu funcionando mesmo no decorrer da primeira etapa da Operação Face Oculta.

    Durante o cumprimento dos mandados, na primeira etapa (da operação), identificamos um esquema de distribuição clandestina de remédios que eram solicitados e adquiridos por meio do uso de receitas falsificadas, em nome de pessoas que não eram pacientes ou destinatários finais da compra desses medicamentos", afirmou o investigador.

    Ainda de acordo com o delegado, os medicamentos adquiridos, por meio dessas receitas falsas, eram armazenados em uma sala que não tinha nenhuma identificação e eram destinados a revenda e uso na clínica Karine Gouveia. O investigador acrescentou que essas receitas eram preenchidas por colaboradores da clínica.

    O delegado disse, que a partir das apurações, nesta fase, foram feitos novos pedidos de prisão. Dois de prorrogação das prisões de Karine e Paulo César; e mais sete contra os suspeitos de envolvimento no esquema, que teria vitimado mais de 70 pessoas.

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    Entenda o caso

    A Operação Face Oculta, deflagrada pela Polícia Civil, investiga a clínica de estética Karine Gouveia por realizar procedimentos estéticos ilegais e perigosos. O casal de donos, Karine Gouveia e Paulo César Dias Gonçalves, está preso desde o dia 18 de dezembro na Casa do Albergado, em Goiânia.

    Eles são suspeitos de aplicar substâncias proibidas, como PMMA e óleo de silicone, e realizar cirurgias sem a qualificação necessária. Pelo menos 60 pacientes sofreram complicações graves, incluindo deformidades permanentes, infecções e até perda de visão.

    As investigações apontaram diversas irregularidades, como uso de medicamentos vencidos, seringas não esterilizadas e falta de licenciamento. Os procedimentos realizados, como rinoplastia e lipoaspiração, só poderiam ser feitos por médicos especializados.

    Ainda segundo a PC, uma vítima chegou a contrair hepatite C devido às condições inadequadas da clínica, enquanto outras relataram danos irreversíveis e sofrimento intenso. A polícia segue apurando a extensão dos danos e a responsabilidade de outros profissionais envolvidos.

    Quem são os donos da clínica?

    Os donos da clínica de estética Karine Gouveia são Karine Giselle Gouveia Silva, de 34 anos, e seu marido, Paulo César Dias Gonçalves, de 44. O casal está preso desde a deflagração da operação, no dia 18 de dezembro, e permanece na Casa do Albergado, em Goiânia. Karine e Paulo são suspeitos de comandar o local onde os procedimentos estéticos eram realizados sem a qualificação necessária, o que levou a complicações sérias nos pacientes.

    Apesar da prisão, a defesa de Karine e Paulo nega as acusações e questiona a prisão temporária. Para a defesa, a prisão é desproporcional, especialmente durante o período de festas. A defesa considera ainda que a medida afetou gravemente a vida pessoal da família, destacando que um de seus filhos, de 7 anos, foi afastado de seus pais abruptamente.

    Quais são os crimes investigados?

    Os crimes investigados pela polícia incluem a realização de procedimentos estéticos ilegais, aplicação de substâncias proibidas, como o PMMA, e falhas graves em termos de qualificação profissional. A clínica oferecia procedimentos como rinoplastia, lipoaspiração e outras cirurgias que, segundo a PC, só poderiam ser realizadas por médicos especializados. Além disso, as investigações apontam que produtos de saúde foram usados de forma inadequada, com medicamentos e materiais vencidos ou sem registro na Anvisa, além do uso de substâncias como PMMA e óleo de silicone, ambos com risco elevado à saúde.

    A operação também identificou diversas irregularidades no funcionamento da clínica, como armazenamento inadequado de produtos médicos, falta de esterilização de instrumentos cirúrgicos e até o uso de seringas não esterilizadas, que resultaram em uma das vítimas contraindo hepatite C. A polícia investiga ainda a atuação dos profissionais da clínica, que realizavam procedimentos sem a qualificação necessária, colocando em risco a saúde e o bem-estar dos pacientes.

    As vítimas da clínica Karine Gouveia são pessoas que passaram por procedimentos estéticos como rinoplastia, lipoaspiração e outros tratamentos invasivos. Pelo menos 60 pacientes procuraram a polícia após sofrerem complicações graves em decorrência dos procedimentos, que variaram desde cicatrizes e necroses até infecções severas e perda de funções corporais, como a visão. Em alguns casos, as vítimas precisaram de várias cirurgias corretivas e até de enxertos de pele para tentar reparar os danos causados.

    Uma das vítimas precisou ser entubada após passar por um procedimento na clínica e ficou com o nariz necrosado, e outras tiveram complicações que resultaram em deformidades permanentes. As vítimas relataram ainda que, durante os atendimentos, sofreram dores intensas e, em muitos casos, não receberam o suporte médico necessário. De acordo com a polícia, a clínica foi responsável por uma série de danos irreversíveis que exigem reparações complexas e contínuas.

    O que dizem os Conselhos?

    O Conselho Regional de Odontologia (CRO/GO) informou que "eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos". A instituição disse ainda que cirurgiões-dentistas têm formação e capacidade técnica para realizar procedimentos de harmonização orofacial, desde que respeitados os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.

    A clínica conta com outra responsável técnica, que é biomédica. O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) declarou que está apurando as informações divulgadas e só vai comentar o caso após ser notificado.

    Segundo a Polícia Civil, Karine não possui qualificação acadêmica e o áudio reforça indícios dos crimes de estelionato. O POPULAR pediu por e-mail um posicionamento para o Conselho Regional de Biomedicina do Paraná - 6ª Região (CRBM6). Porém, o veículo não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.

    Além disso, o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3), que atua em Goiás, informou à polícia que Karine não possui registro de biomédica. "Não há registro de Karine Giselle Gouveia Silva neste Conselho Regional, e nunca houve", diz parte do documento (veja print abaixo) .

    Documento no qual o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3) afirma que Karine Gouveia não possui registro no órgão. (Divulgação/Polícia Civil)

    Documento no qual o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3) afirma que Karine Gouveia não possui registro no órgão. (Divulgação/Polícia Civil)

    Quais foram as irregularidades encontradas?

    A inspeção feita em conjunto com a Vigilância Sanitária, no dia 18 de dezembro, nas unidades de Goiânia e Anápolis documentou as seguintes irregularidades:

  • Armazenamento inadequado de produtos médicos e equipamentos;
  • Falta de rótulos em produtos armazenados;
  • Manutenção de medicamentos em condições de temperatura incompatíveis;
  • Armazenamento de produtos que deveriam ser descartados;
  • Medicamentos sem tampa e expostos a condições insalubres;
  • Comercialização de produtos clandestinos e sem registro;
  • Apreensão de medicamentos sem registro na Anvisa;
  • Produção e armazenamento de produtos manipulados em larga escala destinados à venda;
  • Ausência de notas fiscais dos produtos armazenados ou comercializados;
  • Ausência de controle de esterilização de equipamentos e produtos;
  • Medicamentos armazenados em locais inadequados, como salas de máquinas sem controle de temperatura, tornando-os impróprios para o uso humano;
  • Depósitos de medicamentos sem prescrição médica;
  • Produtos como botox abertos, com prazo de uso vencido, armazenados indevidamente para futuro uso, quando deveriam ter sido descartados;
  • Falta de refrigeradores adequados para o armazenamento de medicamentos, ausência de fontes alternativas de energia e inexistência de instrumentos para monitoramento da temperatura nas salas de armazenamento;
  • Detecção de instrumentos cirúrgicos, como cânulas utilizadas para lipoaspiração, que não eram esterilizados de forma adequada;
  • Realização de procedimentos cirúrgicos incompatíveis com a capacidade técnica e qualificação profissional dos envolvidos;
  • Ausência de controle sobre o armazenamento dos produtos utilizados em pacientes;
  • Uso de produtos com prazo de validade expirado.
  • Na unidade de Anápolis, o relatório da Vigilância Sanitária apontou "que a empresa não possui alvará de licença sanitária e nem projeto arquitetônico aprovado pelo órgão sanitário competente".

    Também foram encontrados receitas e atestados assinados, mas não preenchidos, e diversos medicamentos e instrumentos utilizados na realização de cirurgias, sem a autorização para funcionamento. Em decorrência, também foram lavrados termo de interdição e auto de infração.

    (Colaborou Ildeu Iussef)

    Nota à imprensa da defesa de Karine Gouveia e Paulo César

    "A defesa Karine Gouveia e Paulo César, Romero Ferraz Filho e Tito Souza do Amaral e Caio Victor Lopes Tito, respectivamente, acrescenta que os vazamentos seletivos de informações sigilosas, as quais sequer a defesa habilitada nos autos possui acesso, continuam. Após o devido acesso amplo, conforme a Constituição Federal e a Lei preveem, acredita que os fatos serão esclarecidos no seu tempo e com os documentos necessários.

    Acusações devem ser submetidas ao crivo do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. Não raras são as vezes em que a Polícia Civil (PC) acusa, mas que, ao fim do processo, a Justiça entende diferente. Isso aconteceu recentemente em Goiás, em caso envolvendo o Ipasgo (Operação Metástase), em que a Polícia Civil deflagrou uma operação midiática e irresponsável, e que, após concluir a investigação e ser submetida ao Poder Judiciário, este reconheceu que não havia crime e determinou o arquivamento.

    A Autoridade Policial, nos vazamentos seletivos, após mais de 30 dias de prisão e 1 ano de investigações, não conseguiu comprovar o uso de PMMA e outras substâncias na Clínica. Ao contrário, a fim de atingir depoimentos que possam contribuir com a hipótese acusatória -- e não a apuração de fatos, como deve ser no Estado de Direito --, requer prisões temporárias sem contemporaneidade; sem necessidade; apenas com narrativas que, aos primeiro olhar, constrangem o Magistrado a deferir os pleitos, com objetivo de negociar solturas se houver depoimentos que corroborem com a hipótese acusatória, tanto que quem fala o que se quer ouvir, é solto, quem fala a verdade e ou se vale do direito de permanecer em silêncio, permanece preso. Em passado recente o Decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Gilmar Mendes, considerou que tais práticas se assemelham a "tortura usando poder do Estado".

    As defesas dos investigados têm denunciado vários abusos e violação de direitos, no entanto, a Autoridade Policial tem se valido de uma prisão sem fundamento real que está sendo utilizada como instrumento de coação para promover investigação clandestina e fora dos parâmetros legais, manchando a credibilidade das instituições e colocando em xeque todo o processo. Independente dos fatos investigados, a sociedade civil precisa estar atenta para que casos como este não se tornem a regra: pessoas sendo condenadas sem julgamento e sem direito de defesa, afinal, não se pode tolerar um Estado que prende primeiro e pergunta depois. Uma investigação que perdura há mais de ano, até agora os investigados não foram ouvidos."

    Nota do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego)

    De acordo com a LEI Nº 12.842, DE 10 DE JULHO DE 2013, que dispõe sobre o exercício da medicina, a indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, são atos exclusivos de médicos, portanto, não devem ser exercidos por outros profissionais.

    Nota do Conselho Regional de Odontologia

    O Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO-GO) informa que não teve conhecimento prévio da operação policial realizada na manhã da última quarta-feira, 18 de dezembro de 2024, que resultou na prisão de profissionais cirurgiões-dentistas inscritos neste Conselho. Conforme divulgado pela mídia, os profissionais são acusados de realizar procedimentos estéticos e cirúrgicos que teriam causado danos físicos a pacientes.

    Esclarecemos que, de acordo com a Resolução CFO nº 198/2019, os cirurgiões-dentistas possuem formação e capacidade técnica para a realização de procedimentos de Harmonização Orofacial (HOF), respeitando os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.

    O CRO-GO repudia veementemente qualquer ato que exponha negativamente a imagem dos profissionais da área, que, em sua grande maioria, exercem sua profissão com excelência, dedicação e respeito à sociedade. Reforçamos nosso compromisso de zelar pela ética e pela segurança dos pacientes, promovendo uma Odontologia responsável e de qualidade.Informamos que eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos.

    Nota Conselho Regional de Biomedicina

    O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) informa que está apurando as informações divulgadas pela imprensa e só vai comentar o caso após ser notificado. Informa ainda que a Clínica que pertence à empresária Karine Giselle Gouveia Silva tem registro de Pessoa Jurídica no Conselho. A referida profissional não é biomédica.