Justiça aumenta para R$ 6,1 milhões sequestro de bens de dona de clínica e do marido investigados por deformar pacientes
Juíz Inácio Pereira de Siqueira afirmou que novas provas obtidas pela operação “Face Oculta” revelaram o aumento do número de vítimas, inicialmente estimado em 23, para mais de 60
Ildeu Iussef
17 de janeiro de 2025 às 11:09
Modificado em 17/01/2025, 12:17

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica. (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)
A Justiça determinou o aumento do valor sequestrado de bens dos donos da clínica de estética presos por deformar rostos de pacientes. Na decisão expedida na última quarta-feira (15), o juíz Inácio Pereira de Siqueira, da 1ª Vara das Garantias, determinou que R$ 6,1 milhões de Karine Giselle Gouveia Silva, Paulo César Dias Gonçalves e de oito pessoas jurídicas sejam bloqueados.
Ao DAQUI , os advogados de Karine Gouveia e Paulo César informaram que o aumento do valor de sequestro de bens do casal, a defesa entende como natural para garantir uma eventual indenização em casos de ações cíveis. A defesa reforça mais uma vez que se for constatado que casal teve culpa, eles não se furtarão das responsabilidades, assim como nunca se furtaram. Mas têm o direito de se defenderem (veja a nota na íntegra abaixo) .
A defesa frisou ainda que Karine Gouveia e Paulo César nunca tiveram a intenção de praticar qualquer crime. Sobre as acusações das mais de 60 pessoas que procuraram a delegacia, a defesa esclarece que todo procedimento estético exige cuidados pós-operatórios adequados e o acompanhamento contínuo do paciente.
Entenda o caso
A Operação Face Oculta, deflagrada pela Polícia Civil, investiga a clínica de estética Karine Gouveia por realizar procedimentos estéticos ilegais e perigosos. O casal de donos, Karine Gouveia e Paulo Cesar Dias Gonçalves, está preso desde o dia 18 de dezembro na Casa do Albergado, em Goiânia.
Eles são suspeitos de aplicar substâncias proibidas, como PMMA e óleo de silicone, e realizar cirurgias sem a qualificação necessária. Pelo menos 60 pacientes sofreram complicações graves, incluindo deformidades permanentes, infecções e até perda de visão.
As investigações apontaram diversas irregularidades, como uso de medicamentos vencidos, seringas não esterilizadas e falta de licenciamento. Os procedimentos realizados, como rinoplastia e lipoaspiração, só poderiam ser feitos por médicos especializados.
Ainda segundo a PC, uma vítima chegou a contrair hepatite C devido às condições inadequadas da clínica, enquanto outras relataram danos irreversíveis e sofrimento intenso. A polícia segue apurando a extensão dos danos e a responsabilidade de outros profissionais envolvidos.
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Quem são os donos da clínica?
Os donos da clínica de estética Karine Gouveia são Karine Giselle Gouveia Silva, de 34 anos, e seu marido, Paulo Cesar Dias Gonçalves, de 44. O casal está preso desde a deflagração da operação, no dia 18 de dezembro, e permanece na Casa do Albergado, em Goiânia. Karine e Paulo são suspeitos de comandar o local onde os procedimentos estéticos eram realizados sem a qualificação necessária, o que levou a complicações sérias nos pacientes.
Apesar da prisão, a defesa de Karine e Paulo nega as acusações e questiona a prisão temporária. Para a defesa, a prisão é desproporcional, especialmente durante o período de festas. A defesa considera ainda que a medida afetou gravemente a vida pessoal da família, destacando que um de seus filhos, de 7 anos, foi afastado de seus pais abruptamente.
Quais são os crimes investigados?
Os crimes investigados pela polícia incluem a realização de procedimentos estéticos ilegais, aplicação de substâncias proibidas, como o PMMA, e falhas graves em termos de qualificação profissional. A clínica oferecia procedimentos como rinoplastia, lipoaspiração e outras cirurgias que, segundo a PC, só poderiam ser realizadas por médicos especializados. Além disso, as investigações apontam que produtos de saúde foram usados de forma inadequada, com medicamentos e materiais vencidos ou sem registro na Anvisa, além do uso de substâncias como PMMA e óleo de silicone, ambos com risco elevado à saúde.
A operação também identificou diversas irregularidades no funcionamento da clínica, como armazenamento inadequado de produtos médicos, falta de esterilização de instrumentos cirúrgicos e até o uso de seringas não esterilizadas, que resultaram em uma das vítimas contraindo hepatite C. A polícia investiga ainda a atuação dos profissionais da clínica, que realizavam procedimentos sem a qualificação necessária, colocando em risco a saúde e o bem-estar dos pacientes.
Quem são as vítimas?
As vítimas da clínica Karine Gouveia são pessoas que passaram por procedimentos estéticos como rinoplastia, lipoaspiração e outros tratamentos invasivos. Pelo menos 60 pacientes procuraram a polícia após sofrerem complicações graves em decorrência dos procedimentos, que variaram desde cicatrizes e necroses até infecções severas e perda de funções corporais, como a visão. Em alguns casos, as vítimas precisaram de várias cirurgias corretivas e até de enxertos de pele para tentar reparar os danos causados.
Uma das vítimas precisou ser entubada após passar por um procedimento na clínica e ficou com o nariz necrosado, e outras tiveram complicações que resultaram em deformidades permanentes. As vítimas relataram ainda que, durante os atendimentos, sofreram dores intensas e, em muitos casos, não receberam o suporte médico necessário. De acordo com a polícia, a clínica foi responsável por uma série de danos irreversíveis que exigem reparações complexas e contínuas.
O que dizem os Conselhos?
O Conselho Regional de Odontologia (CRO/GO) informou que "eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos". A instituição disse ainda que cirurgiões-dentistas têm formação e capacidade técnica para realizar procedimentos de harmonização orofacial, desde que respeitados os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.
A clínica conta com outra responsável técnica, que é biomédica. O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) declarou que está apurando as informações divulgadas e só vai comentar o caso após ser notificado.
Segundo a Polícia Civil, Karine não possui qualificação acadêmica e o áudio reforça indícios dos crimes de estelionato. A reportagem pediu por e-mail um posicionamento para o Conselho Regional de Biomedicina do Paraná - 6ª Região (CRBM6). Porém, o veículo não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.
Além disso, o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3), que atua em Goiás, informou à polícia que Karine não possui registro de biomédica. "Não há registro de Karine Giselle Gouveia Silva neste Conselho Regional, e nunca houve", diz parte do documento (veja print abaixo) .

Documento no qual o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBM3) afirma que Karine Gouveia não possui registro no órgão. (Divulgação/Polícia Civil)
Quais foram as irregularidades encontradas?
A inspeção feita em conjunto com a Vigilância Sanitária, no dia 18 de dezembro, nas unidades de Goiânia e Anápolis documentou as seguintes irregularidades:
Na unidade de Anápolis, o relatório da Vigilância Sanitária apontou "que a empresa não possui alvará de licença sanitária e nem projeto arquitetônico aprovado pelo órgão sanitário competente".
Também foram encontrados receitas e atestados assinados, mas não preenchidos, e diversos medicamentos e instrumentos utilizados na realização de cirurgias, sem a autorização para funcionamento. Em decorrência, também foram lavrados termo de interdição e auto de infração.
(Colaborou Fabiana Pulcineli)
Nota a imprensa da defesa de Karine Gouveia e Paulo César
Os advogados dos investigados Karine Gouveia e Paulo César, Romero Ferraz Filho, Tito Souza do Amaral e Caio Victor Lopes Tito, respectivamente informam:
Karine Gouveia e Paulo César nunca tiveram a intenção de praticar qualquer crime. Sobre as acusações das mais de 60 pessoas que procuraram a delegacia, a defesa esclarece que todo procedimento estético exige cuidados pós-operatórios adequados e o acompanhamento contínuo do paciente. A fase pós-procedimento é fundamental para garantir resultados satisfatórios e evitar complicações. Os casos em que a defesa teve conhecimento até o momento são, na maioria, referentes a intervenções realizadas em anos anteriores e necessitam ser avaliados de forma detalhada. Em todos os casos em que a clínica teve conhecimento, sempre atuou com transparência, oferecendo todo o suporte necessário para a resolução de eventuais questões que possam ter surgido.
Sobre a prorrogação da prisão temporária, os advogados dos empresários Karine Gouveia e Paulo Cesar Dias Gonçalves, Drs. Romero Ferraz, Tito Amaral e Caio Tito, respectivamente, discordam absolutamente, e irão recorrer. A defesa esclarece que não há qualquer motivação para a manutenção da prisão, uma vez que não há demonstração da sua necessidade para as investigações e que ambos podem responder às acusações em liberdade sem qualquer prejuízo para o processo. Importante lembrar que o casal possui um filho de 7 anos que está afastado dos pais há um mês. Inclusive, o STF reconhece que esse tipo de prisão, para constranger investigados e pressioná-los a renunciar aos seus direitos constitucionais, é inconstitucional.
Sobre a decisão judicial que aumentou o valor de sequestro de bens do casal, a defesa entende como natural para garantir uma eventual indenização em casos de ações cíveis. A defesa reforça mais uma vez que se for constatado que casal teve culpa, eles não se furtarão das responsabilidades, assim como nunca se furtaram. Mas têm o direito de se defenderem.
Sobre o bloqueio das contas da rede social, a defesa esclarece que já foram desativadas.
Nota do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego)
De acordo com a LEI Nº 12.842, DE 10 DE JULHO DE 2013, que dispõe sobre o exercício da medicina, a indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, são atos exclusivos de médicos, portanto, não devem ser exercidos por outros profissionais.
Nota do Conselho Regional de Odontologia
O Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO-GO) informa que não teve conhecimento prévio da operação policial realizada na manhã da última quarta-feira, 18 de dezembro de 2024, que resultou na prisão de profissionais cirurgiões-dentistas inscritos neste Conselho. Conforme divulgado pela mídia, os profissionais são acusados de realizar procedimentos estéticos e cirúrgicos que teriam causado danos físicos a pacientes.
Esclarecemos que, de acordo com a Resolução CFO nº 198/2019, os cirurgiões-dentistas possuem formação e capacidade técnica para a realização de procedimentos de Harmonização Orofacial (HOF), respeitando os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.
O CRO-GO repudia veementemente qualquer ato que exponha negativamente a imagem dos profissionais da área, que, em sua grande maioria, exercem sua profissão com excelência, dedicação e respeito à sociedade. Reforçamos nosso compromisso de zelar pela ética e pela segurança dos pacientes, promovendo uma Odontologia responsável e de qualidade.Informamos que eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos.
Nota Conselho Regional de Biomedicina
O Conselho Regional de Biomedicina - 3ª Região (CRBM-3) informa que está apurando as informações divulgadas pela imprensa e só vai comentar o caso após ser notificado. Informa ainda que a Clínica que pertence à empresária Karine Giselle Gouveia Silva tem registro de Pessoa Jurídica no Conselho. A referida profissional não é biomédica.