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Laudo descarta insanidade de réu por morte de estudante em Goiânia

Perícia aponta que servente de pedreiro Reidimar Silva Santos tinha compreensão do crime cometido contra Luana Alves, em novembro de 2022, e que ele não demonstra arrependimento e pode reincidir se for solto. Acusado responde também por outro crime semelhante

Modificado em 19/09/2024, 01:22

Reidimar Silva Santos está preso desde 29 de novembro de 2022

Reidimar Silva Santos está preso desde 29 de novembro de 2022 (Reprodução/TV Anhanguera)

Exame de insanidade mental aponta que o servente de pedreiro Reidimar Silva Santos, de 32 anos, tinha plena capacidade de compreensão dos fatos quando matou e estuprou a estudante Luana Marcelo Alves, de 12 anos, no Setor Madre Germana, em novembro de 2022. O laudo foi feito pela perícia da Junta Médica do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) a pedido da defesa de Reidimar. Ele também responde pela morte de Thaís Lara da Silva, aos 13 anos, em agosto de 2019 e em circunstâncias parecidas.

Apesar de o servente de pedreiro até então se defender dizendo que era usuário de crack e que no dia do crime estaria sob forte efeito da droga, ao ser ouvido pela perícia afirmou que há oito anos não fazia mais uso do entorpecente, apenas de forma ocasional, mas sem dependência. Segundo ele, isso se deu após o nascimento do filho. O pedido do exame -- feito durante audiência de instrução e julgamento do caso Luana -- foi com intuito de provar que Reidimar é dependente químico.

A morte de Luana causou forte comoção na época pela forma brutal como ocorreu. Ela tinha saído de casa para comprar um lanche perto e foi abordada por Reidimar no caminho de volta. O corpo foi encontrado dias depois carbonizado e enterrado no quintal de uma residência onde o servente morava. Em janeiro, ele confessou ter matado de forma semelhante três anos antes Thaís Lara. A Polícia Civil suspeita que ambas tenham sido estupradas, mas sempre negou.

Ao falar sobre o caso durante o exame pela Junta Médica, Reidimar contou que "deu essa tentação" de abordar Luana ao vê-la sozinha na rua e que a convenceu a entrar no carro falando que tinha uma dívida para acertar com o pai dela. Já no interior da residência, tentou ter uma relação sexual com a vítima, mas com a resistência dela decidiu mata-la. O resumo feito no laudo sugere que ele forçou um ato sexual já com a menina morta. "Aí eu tive de matar ela e consegui ter relação com ela", diz o resumo do depoimento.

A perícia aponta que o acusado não possui nenhuma doença mental alienante, mas um quadro compatível com "transtorno de personalidade dissocial" que pode ser considerada uma perturbação de saúde mental, uma "forma de ser" que não tem tratamento, seja medicamentoso ou psicoterápico. Por isso, o laudo informa que existe uma "grande chance de reincidência" caso ele seja solto futuramente, visto que "não terá se arrependido do que fez".

"As pessoas portadoras de tal tipo de transtorno costumam ser frias de ânimo, não se importam com o sofrimento alheio, agem com intuito de satisfazerem seus prazeres imediatos, sem se importarem com as consequências disso na vida de terceiros. (...) Não aprendem com seus erros. Todavia são pessoas capazes de entenderem o mundo que os cerca e também são capazes de se determinar diante dos fatos, escolhendo o melhor momento para praticar os seus atos delituosos. E isso foi o que ocorreu", afirma o laudo.

Histórico

O servente também afirmou que fumava crack desde os 14 anos e que chegou a ficar internado para tratamento por 21 dias, mas isso antes de o filho dele nascer e que, a partir de então, decidiu largar o vício. "Depois eu usava muito de vez em quando, mas só quando eu bebia", afirmou, segundo o documento protocolado na Justiça nesta semana. Ele também admitiu que ficou 11 meses na cadeia antes, por causa de crimes de roubo e receptação.

Segundo o laudo, Reidimar abordou brevemente um caso de estupro pelo qual ele foi acusado em 2015 e acabou absolvido. O Daqui mostrou este caso com exclusividade no começo do ano. O processo foi arquivado porque a partir do momento em que chegou na Justiça a vítima não foi mais localizada e não foi interrogada. A reportagem a localizou em 2023 e ela explicou que se mudou por medo, porque ele continuava solto e morando próximo a sua casa.

O Ministério Pùblico do Estado de Goiás (MP-GO) havia se posicionado contra o exame de insanidade. O processo se encontra suspenso até a validação do laudo pela Justiça.

Processos

O servente de pedreiro responde dois processos por feminicídio quadruplamente qualificado, com agravante por as vítimas serem crianças. Luana e Thaís moravam no mesmo bairro que Reidimar, sendo que o caso de 2019 só foi descoberto após a morte de Luana, quando a Polícia Civil suspeitou das semelhanças no perfil das jovens e a proximidade geográfica do desaparecimento desta com a casa do servente.

No caso de quatro anos atrás, Thaís havia se separado de uma tia em um ponto de ônibus no bairro e foi até uma feira livre. Ao passar em frente à casa do acusado, entrou pelo portão e perguntou pelo filho dele. Foi neste momento que foi rendida. Até a prisão de Reidimar em 2022, a polícia e a família acreditaram que ela havia fugido da casa em que morava.

Nas duas confissões, Reidimar conta que estava sob efeito de drogas ou de álcool. Desde a prisão, porém, os depoimentos do servente têm apresentado algumas contradições, principalmente envolvendo a forma como as meninas foram mortas, que não batem com o que a Polícia encontrou nos locais.

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Servente de pedreiro é condenado a 30 anos de prisão pela morte de estudante

Reidimar Silva Santos vai ser julgado em 7 de abril pelo estupro e assassinato de Thaís Lara, crime cometido de forma semelhante ao que o levou à prisão

Reidimar Silva Santos está preso desde 29 de novembro de 2022: ele confessou os dois assassinatos

Reidimar Silva Santos está preso desde 29 de novembro de 2022: ele confessou os dois assassinatos (Reprodução)

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Homem que matou estudantes em Goiânia irá passar por exame de insanidade

Justiça acatou pedido da defesa sob alegação de que Reidimar Silva Santos, acusado de matar e ocultar o corpo de Luana Marcelo Alves, de 12 anos, e Thaís Lara da Silva, de 13, estava sob forte influência da dependência do crack. Ele está preso desde 29 de novembro de 2022

Modificado em 19/09/2024, 01:09

Reidimar Silva Santos está preso desde 29 de novembro de 2022

Reidimar Silva Santos está preso desde 29 de novembro de 2022 (Reprodução/TV Anhanguera)

A Justiça autorizou que o servente de pedreiro Reidimar Silva Santos, de 31 anos, faça exame de insanidade mental. O pedido foi feito pela defesa dele dentro do processo que responde pela morte da estudante Luana Marcelo Alves, de 12 anos, em novembro de 2022. Reidimar confessou esse crime e também a morte da também estudante Thaís Lara da Silva, aos 13 anos, em agosto de 2019. Ele está preso desde 29 de novembro.

A morte de Luana causou forte comoção social pela forma brutal como ocorreu. Ela tinha saído de casa para comprar um lanche no Setor Madre Germana II, em Goiânia, e foi abordada por Reidimar no caminho de volta. O corpo foi encontrado dias depois carbonizado e enterrado no quintal de uma casa onde o servente morava. Em janeiro, ele confessou ter matado de forma semelhante três anos antes Thaís Lara, no mesmo bairro. A Polícia Civil suspeita que ambas tenham sido estupradas antes de mortas, mas ele nega.

Reidimar diz que é usuário de crack, que na época dos crimes estava sob forte dependência da droga e agora a sua defesa usa isso como argumento para justificar o exame de insanidade. O pedido foi feito após audiência de instrução e julgamento no caso de Luana. Este processo encontra-se sob sigilo. Já o de Thaís encontra-se na fase de aguardar a audiência, marcada para 18 de setembro.

O Ministério Pùblico do Estado de Goiás (MP-GO) se posicionou contra o exame e pediu, caso a defesa fosse atendida, que pelo menos o processo não fosse suspenso até a entrega do resultado. Entretanto, o juiz Antônio Fernandes de Oliveira, da 4ª Vara Criminal dos Crimes Dolosos Contra a Vida e Tribunal do Júri de Goiânia, suspendeu até a conclusão do laudo.

"Em que pese a argumentação ministerial, compreendo que em atenção ao contraditório e à ampla defesa, além da necessidade de apuração da higidez mental do acusado, que pode sobremaneira vir a interferir em futuros atos processuais, acompanho parecer defensivo e defiro a instauração do incidente de insanidade mental de Reidimar Silva Santos", escreveu o magistrado.

Entenda o caso

O servente de pedreiro responde dois processos por feminicídio quadruplamente qualificado, com agravante por as vítimas serem crianças. Luana e Thaís moravam no mesmo bairro que Reidimar, sendo que o caso de 2019 só foi descoberto depois que a Polícia Civil suspeitou das semelhanças no perfil das jovens e a proximidade geográfica do desaparecimento desta com a casa de Reidimar.

No dia 28 de agosto de 2019, ela se separou da tia em um ponto de ônibus no bairro e foi até uma feira livre. Ao passar em frente à casa do acusado, entrou pelo portão e perguntou pela criança. Foi neste momento que foi rendida. Por mais de três anos, a polícia e a família acreditaram que ela havia fugido de casa.

Reidimar também chegou a responder pelo estupro de uma adolescente de 15 anos, fato ocorrido em 2015, mas conforme mostrou O POPULAR o processo foi arquivado porque no dia do julgamento nem a polícia nem o Ministério Público conseguiram localizar a vítima e a Justiça ficou com a versão do acusado. Para o jornal, a mãe da jovem disse que eles se mudaram com medo do servente, que respondeu ao processo parte em liberdade e que o MP-GO tinha, sim, seu contato.

Nas duas mortes confessadas, o servente conta que estava sob efeito de drogas ou de bebida alcoólica.

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Caso Luana Marcelo: Reidimar foi absolvido por estupro em 2017 após vítima não ser encontrada

Homem que confessou ter matado Luana Alves foi denunciado por estupro de outra jovem em 2015, mas vítima não foi localizada para audiência e, segundo juiz, ficaram dúvidas sobre acusação

Modificado em 20/09/2024, 06:26

Jovem contou para a Polícia Civil que foi agredida pelo servente, chegou a desmaiar dentro da casa abandonada e que ele a teria ameaçado de morte várias vezes

Jovem contou para a Polícia Civil que foi agredida pelo servente, chegou a desmaiar dentro da casa abandonada e que ele a teria ameaçado de morte várias vezes (Reprodução / TV Anhanguera)

Atualizada às 20h07

O servente de pedreiro Reidimar Silva Santos, de 31 anos, que confessou ter matado e abusado sexualmente do corpo da estudante Luana Marcelo Alves, de 12 anos, foi absolvido de uma acusação de estupro contra uma adolescente de 15 anos após a Justiça não tê-la encontrado a tempo para notificá-la da audiência que resultou na decisão pela inocência dele.

Sem o depoimento da vítima e da mãe dela, o juiz acatou o posicionamento da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), conforme consta em processo ao qual a reportagem teve acesso com exclusividade.

Reidimar - que na época tinha 24 anos - havia sido indiciado pela Polícia Civil e denunciado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) por estupro cometido duas vezes na mesma ocasião contra a jovem de 15 anos na madrugada do dia 18 de janeiro de 2015, um domingo, ao encontra-la voltando a pé de uma distribuidora de bebidas próxima onde estava com amigas. Ele apareceu atrás de bicicleta e a teria abordado com uma faca, obrigando-a a entrar em uma casa abandonada na rua em que a vítima morava.

Quase oito anos depois, o servente foi preso no dia 29 de novembro último pela morte de Luana, que estava desaparecida desde a manhã de dois dias antes, quando saiu de casa, no Madre Germana II, em Goiânia, para comprar salgados em um mercado a 330 metros de distância. Em depoimento, ele confessou que a convenceu a entrar no carro e a levou para sua casa, no mesmo bairro, tentou estupra-la e a matou por estrangulamento. Em seguida, violentou o corpo e o queimou, enterrando-o no quintal.

Na sentença que absolveu Reidimar pela acusação de estupro de 2015, o juiz João Divino Moreira Silvério Sousa, na época da 11ª Vara Criminal de Goiânia, citou mais de uma vez que a ausência da vítima na audiência judicial que antecedeu sua decisão impediu que dúvidas surgidas na apresentação feita pela acusação e defesa fossem esclarecidas. A família da vítima havia mudado para outro bairro na mesma semana que a jovem denunciou Reidimar.

"As provas constantes nos autos não infundem certeza para o decreto condenatório em desfavor do acusado. (...) Assim, diante da fragilidade das provas carreadas para o feito, a absolvição do acusado se impõe, vez que, em caso de dúvidas sobre a existência do crime, há de se decidir a favor do acusado", escreveu o juiz em sua decisão.

O magistrado afirmou na sentença que não seria possível com base nas provas apresentadas confirmar a acusação feita pela jovem. Além disso, para confirmar que a versão de Reidimar tem respaldo, ele grifou trechos de depoimentos das testemunhas de acusação que apontam a vítima como alguém que "dava bastante trabalho para a mãe" e "que ia para festas sem consentimento da mãe", além de "rumores de que a vítima usava drogas". O juiz também marcou o trecho de uma fala de uma vizinha de que ao sair da casa abandonada a jovem estava "transtornada, chorando muito, mas com o olho vidrado".

Versões

Em depoimento prestado para a Polícia Civil, a jovem contou que foi agredida pelo servente, chegou a desmaiar dentro da casa abandonada e que ele a teria ameaçado de morte várias vezes. Por um momento, Reidimar - demonstrando estar sob efeito de drogas -- se afastou pedindo perdão e dizendo que estava "fora de si". Em seguida, voltou-se contra ela e tentou mata-la estrangulada, mas a jovem mordeu a mão do agressor e conseguiu gritar por socorro.

Ainda segundo a jovem, Reidimar teria fugido ao ouvi-la gritar e os vizinhos foram para a rua, assustados, mas ela permaneceu no interior do imóvel, em choque. O servente teria voltado minutos depois para pegar o celular, fato que a fez correr para fora da casa ainda nua e novamente gritar por socorro. Neste momento, os vizinhos imobilizaram o suposto agressor, mas o soltaram após ele alegar que a jovem estava drogada e que a relação sexual foi consentida. Ele só voltou a ser localizado quando teve a prisão preventiva decretada e a Justiça descobriu que já estava detido no semiaberto por causa de um roubo.

Ao ser interrogado pela Justiça, Reidimar disse que a relação sexual foi consentida e que teria sido a segunda vez que ficou com ela. Ainda segundo ele, ambos estavam sob efeito de álcool e drogas naquela noite, e estavam na mesma distribuidora cada um com seus amigos, mas que na hora de irem embora caminharam juntos pela rua, momento em que ela o teria chamado para a casa abandonada. Para ele, ou a jovem surtou por estar, ela sim, sob efeito de drogas ou o efeito passou e ela se arrependeu, por isso os gritos e o pedido de socorro.

Uma contradição destacada pelo juiz que não pôde ser esclarecida pela vítima por não ter sido localizada na audiência foi o fato de ela ter dito que sua roupa foi rasgada pelo agressor, mas um vizinho ter dito que viu as roupas dela organizadas dentro da casa abandonada.

Um dos lados feitos no Instituto Médico Legal (IML), anexados ao processo em fevereiro de 2017, constatou diversas agressões no corpo da jovem, inclusive ferimentos no nariz e em outras partes do corpo que sugerem que Reidimar a mordeu. Ela citou isso em depoimento. Porém, os ferimentos não foram considerados na sentença.

Sem localizar

Não consta no processo nem no sistema do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) nada que indique ter havido recurso contra a absolvição ou uma nova tentativa de localizar a jovem ou sua mãe. A primeira audiência foi realizada no dia 5 de dezembro de 2017 e a pedido do MP-GO foi concluída apenas no dia 27 de abril de 2018 para que houve tempo de encontrar a vítima.

A jovem era, na época, vizinha de Reidimar e morava perto da casa de Luana, cerca de 1,2 km. Conforme O POPULAR apurou, após o fato, ela se mudou com a família para um bairro na região noroeste de Goiânia e voltou para o Madre Germana durante a pandemia. Ela não foi localizada pela reportagem e uma parente próxima disse que estava muito abalada para relembrar o que aconteceu.

56 meses sumido, três meses preso

O servente de pedreiro Reidimar Silva Santos foi indiciado pela Polícia Civil por estupro em abril de 2015 e denunciado apenas em maio de 2017 pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). A demora se deu por causa do atraso na conclusão dos laudos periciais, que ficaram prontos definitivamente apenas entre março e maio do ano em que a denúncia foi feita.

A partir de então, a Justiça tentou notificar Reidimar sem sucesso sobre o processo, para que respondesse às acusações. Em agosto daquele ano, o MP-GO pediu a prisão preventiva dele e a Justiça acatou no mesmo mês. Foi quando se descobriu que Reidimar estava detido desde fevereiro por causa de um roubo cometido em 2013 e pelo qual foi condenado a 5 anos e meio de prisão.

Em novembro de 2017, a Justiça revogou a prisão a pedido da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), visto que pelo argumento da defesa com a prisão ele já estava ciente do processo criminal e poderia responder em liberdade.

Nas alegações finais, o MP-GO destacou o depoimento dos vizinhos sobre os gritos de socorro e como a jovem estava em choque na hora escapou da casa abandonada. O órgão também ressaltou que apesar de a vítima não ter sido localizada para depor em juízo havia prestado depoimento na Polícia Civil e se submeteu a diversos exames que constataram não apenas a violência no ato sexual em si como outras agressões pelo corpo da vítima que teria sido cometidas por Reidimar.

"Mesmo que a vítima não tenha sido localizada para ser ouvida em juízo, sua versão está suprida pelos laudos acima mencionados e pelos depoimentos testemunhais prestados em juízo, nos quais todas as testemunhas foram uníssonas em afirmar que a vítima gritou por socorro e estava transtornada e nua quando foi encontrada, o que demonstra, claramente, que houve violência e grave ameaça", afirmou a promotora Keila Marluce Borges e Silva no documento.

Já da DPE-GO, alegou não haver provas de que a relação sexual não foi consentida e que "a 'história de terror" narrada na denúncia não chegou nem perto de ser confirmada em juízo". Segundo a defensoria, nenhum dos trës vizinhos ouvidos presenciou o fato, então não poderiam atestar se houve ou não estupro.

O suposto histórico da jovem, conforme relato dos três vizinhos, mesmo sem comprovação, foi usado como argumento pela defensoria a favor de Reidimar. "Na realidade, a única pessoa que talvez poderia narrar uma história diferente não foi ouvida (em juízo)."

Reidimar, que escapou de uma pena de 8 a 12 anos de prisão, não foi localizado após o julgamento para ser notificado da absolvição.

56 meses sumido, três meses preso

O servente de pedreiro Reidimar Silva Santos foi indiciado pela Polícia Civil por estupro em abril de 2015 e denunciado apenas em maio de 2017 pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). A demora se deu por causa do atraso na conclusão dos laudos periciais, que ficaram prontos definitivamente apenas entre março e maio do ano em que a denúncia foi feita.

A partir de então, a Justiça tentou notificar Reidimar sem sucesso sobre o processo, para que respondesse às acusações. Em agosto daquele ano, o MP-GO pediu a prisão preventiva dele e a Justiça acatou no mesmo mês. Foi quando se descobriu que Reidimar estava detido desde fevereiro por causa de um roubo cometido em 2013 e pelo qual foi condenado a 5 anos e meio de prisão.

Em novembro de 2017, a Justiça revogou a prisão a pedido da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), visto que pelo argumento da defesa com a prisão ele já estava ciente do processo criminal e poderia responder em liberdade.

Nas alegações finais, o MP-GO destacou o depoimento dos vizinhos sobre os gritos de socorro e como a jovem estava em choque na hora escapou da casa abandonada. O órgão também ressaltou que apesar de a vítima não ter sido localizada para depor em juízo havia prestado depoimento na Polícia Civil e se submeteu a diversos exames que constataram não apenas a violência no ato sexual em si como outras agressões pelo corpo da vítima que teria sido cometidas por Reidimar.

"Mesmo que a vítima não tenha sido localizada para ser ouvida em juízo, sua versão está suprida pelos laudos acima mencionados e pelos depoimentos testemunhais prestados em juízo, nos quais todas as testemunhas foram uníssonas em afirmar que a vítima gritou por socorro e estava transtornada e nua quando foi encontrada, o que demonstra, claramente, que houve violência e grave ameaça", afirmou a promotora Keila Marluce Borges e Silva no documento.

Já da DPE-GO, alegou não haver provas de que a relação sexual não foi consentida e que "a 'história de terror" narrada na denúncia não chegou nem perto de ser confirmada em juízo". Segundo a defensoria, nenhum dos três vizinhos ouvidos presenciou o fato, então não poderiam atestar se houve ou não estupro.
O suposto histórico da jovem, conforme relato dos três vizinhos, mesmo sem comprovação, foi usado como argumento pela defensoria a favor de Reidimar. "Na realidade, a única pessoa que talvez poderia narrar uma história diferente não foi ouvida (em juízo)."

Reidimar, que escapou de uma pena de 8 a 12 anos de prisão, não foi localizado após o julgamento para ser notificado da absolvição.

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Cidades

Donos de clínica presos usaram óleo de silicone em pacientes, diz delegado

Substância é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e traz uma série de riscos à saúde

Modificado em 14/03/2025, 11:18

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

Os donos de uma clínica de estética acusada de deformar pacientes em Goiânia , Karine Gouveia, de 34 anos, e o marido dela, Paulo César Gonçalves, de 44, usaram óleo de silicone em procedimentos estéticos. A informação foi revelada à TV Anhanguera pelo delegado do caso, Daniel José de Oliveira. O produto aplicado em pacientes é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e traz riscos à saúde, segundo o investigador.

Os procedimentos eram efetuados de forma indevida e com o uso de substâncias proibidas como óleo de silicone e o PMMA, além da comercialização ilegal de medicamentos manipulados e substâncias proibidas pela Anvisa", afirmou.

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Também à TV Anhanguera, o dermatologista Bones Júnior explicou quais são os efeitos causados pelo uso de óleo de silicone no organismo. "Ele [o corpo humano] não reconhece essa substância. Então, gera um processo inflamatório muito grande, causando nódulos carócidos, infecções. E como não existe um antídoto para retirar esse produto, a gente tem que fazer cirurgias e, dependendo do local e da quantidade, são cirurgias que podem gerar deformidades", informou.

Karine Gouveia e Paulo César foram presos pela segunda vez na última quarta-feira (12) e tiveram a prisão preventiva mantida pela Justiça nessa quinta-feira (13). Segundo a Polícia Civil (PC), além de continuar anunciando a venda de medicamentos, o casal estava orientando outros suspeitos a permanecerem em silêncio sobre o caso, atrapalhando assim a investigação.

Em nota, a defesa de Karine Gouveia disse que discorda da decisão que foi decretada referente à sua prisão preventiva. Sobre o uso de óleo de silicone, a defesa negou a aplicação do produto e classificou a fala do delegado como absurda (leia a nota completa ao final da matéria).

Também em nota, a defesa de Paulo César afirmou que jamais foi utilizada na clínica qualquer substância ilícita ou proibida. A defesa ainda esclareceu que a fala do delegado sobre o uso de óleo de silicone e PMMA não passa de mera ilação e antecipação de culpa (leia a nota completa ao final da matéria).

Óleo de silicone

A Anvisa proíbe o uso de óleo de silicone na utilização de procedimentos estéticos. Também chamado de silicone industrial, a substância tem como finalidade a limpeza de carros e peças de avião, impermeabilização de azulejos e vedação de vidros. As informações constam no site do órgão.

Segundo a Anvisa, caso seja injetado no organismo, o óleo de silicone pode gerar diversas anomalias, como deformações, dores, dificuldades para caminhar, infecção generalizada, embolia pulmonar e até a morte. Os efeitos podem surgir tanto no momento da aplicação quanto com o passar dos anos.

Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

Além disso, a aplicação ilegal do óleo de silicone no corpo humano é considerada crime contra a saúde pública e está prevista no Código Penal - exercício ilegal da medicina, curandeirismo e lesão corporal. A orientação da Anvisa para quem aplicou o produto no próprio corpo é procurar um médico, mesmo que ainda não tenha sintomas.

Todos os produtos usados em procedimentos médicos e estéticos no Brasil precisam ter registro na Anvisa. Assim, para saber se um produto é registrado e aprovado no país, a pessoa pode consultar o sistema de produtos regularizados do órgão ou entrar em contato pelo telefone 0800-6429782.

Relembre o caso

Em dezembro de 2024, a Polícia Civil prendeu preventivamente Karine Gouveia e o marido dela, Paulo César, proprietários da clínica Karine Gouveia Estética (KGG), localizada na capital. A prisão, realizada pela 4ª Delegacia de Polícia de Goiânia, foi decretada pela 1ª Vara das Garantias da Comarca de Goiânia, sob graves acusações de crimes relacionados a procedimentos estéticos e cirúrgicos realizados na clínica.

Conforme a polícia, a investigação foi iniciada em fevereiro de 2024, quando foi revelado que a clínica KGG realizava procedimentos de alto risco, como rinoplastias, lipoaspirações, aplicações de botox e preenchimentos faciais sem a devida autorização e com o uso de substâncias proibidas, como o PMMA . Agora, a apuração indica também a utilização de óleo de silicone.

Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

O delegado Daniel José de Oliveira apontou que a clínica funcionava de forma organizada e hierárquica, com estratégias de marketing agressivas e a participação de profissionais sem a qualificação necessária. Além disso, a clínica comercializava medicamentos manipulados de forma irregular, incluindo substâncias proibidas pela Anvisa. Segundo Oliveira, mais de 70 pessoas procuraram a delegacia como vítimas dos investigados .

Nessa nova fase das investigações, a polícia suspeita que o número de vítimas seja maior, com base nos atendimentos realizados também entre março de 2018 e março de 2019. Para o delegado, esses pacientes podem ter sido submetidos à aplicação de óleo de silicone durante procedimentos estéticos.

Diante de riscos à saúde, o delegado recomendou que os pacientes da clínica KGG procurem um médico com urgência e solicitem um exame de ultrassom dermatológico com doppler. Esse exame, segundo o investigador, pode detectar substâncias não absorvíveis pelo corpo, como o óleo de silicone. Caso o resultado seja positivo, a pessoa é orientada a procurar a 4ª Delegacia Distrital de Goiânia para prestar depoimento e colaborar com as investigações.

Acusações contra os proprietários da clínica

  • Formação de organização criminosa;
  • Falsificação de produtos terapêuticos;
  • Lesões corporais gravíssimas;
  • Exercício ilegal da medicina;
  • Tráfico de medicamentos.
  • Nota da defesa de Karine Gouveia

    A defesa de Karine Gouveia destacou que discorda absolutamente da decisão que foi decretada a sua prisão preventiva, isso porque se valeu de narrativas falsas e da repugnante criminalização da advocacia para tentar impedir o direito constitucional de defesa, evidenciando práticas de lawfare e tentando salvar uma investigação cheia de desvios do caminho legal.

    Sobre a fala do Delegado de que utilizava óleo de silicone nos procedimentos, para além de absurda, Karine nega veemente. No entanto, quem tem que provar é a acusação. E isso é objeto da investigação que sequer foi concluída. Não existe relatório final da autoridade policial. Não existe denúncia feita pelo Ministério Público. Ela tem o direito do devido processo legal justo. Se ele tem essa convicção, inclusive antecipando a culpa dela, que relate o inquérito e o MP ofereça denúncia. Ela exercerá o direito constitucional de defesa dela.

    Essa investigação subverteu a ordem constitucional, estão se investigando pessoas e não fatos, como a legislação prescreveu. A cada momento em que não se corrobora uma acusação, se busca uma nova linha acusatória para constranger pessoas. E esse excesso de acusação e atos em claro desvio do caminho legal é que está mantendo a investigação.

    Nota da defesa de Paulo César Gonçalves

    A defesa de Paulo César Dias Gonçalves esclarece que a fala do delegado sobre a utilização de óleo de silicone e PMMA, na Clínica Karine Gouveia, não passa de mera ilação e antecipação de culpa, o que caracteriza crime de abuso de autoridade. Jamais foi utilizada na clínica qualquer substância ilícita ou proibida.

    A clínica sempre observou rígidos protocolos de qualidade de medicamentos e insumos e de assepsia. Não há nexo causal entre os procedimentos realizados na clínica e a suposta presença dessas substâncias nas supostas vítimas, quase 8 anos após os procedimentos.