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Lázaro Barbosa disse em roubo que tinha ordens para matar alguém

Morto após 20 dias de buscas pela polícia, fugitivo aparece em inquérito perguntando sobre policial em chácara de Ceilândia e dizendo que deveria "levar a cabeça de alguém", mas que entrou na casa errada.

Modificado em 21/09/2024, 00:41

Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos

Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos (Divulgação )

Um inquérito que apura o envolvimento de Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos, em um roubo a uma chácara em Ceilândia (DF) apura os motivos que levaram ele a ter dito para as vítimas que havia entrado na "casa errada" e que tinha "ordens para levar a cabeça de alguém". Durante o crime, que durou das 19h à meia-noite de 17 de maio deste ano, o criminoso -- que foi identificado por meio de fotos pelas testemunhas sendo Lázaro -- insistia em saber se no local morava algum policial ali ou se algum deles era parente de um.

A tese de que Lázaro não agia sozinho e que poderia estar a serviço de alguém nos crimes a ele atribuídos ganhou força na Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) a partir da prisão do proprietário rural Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos, no dia 24, acusado de ajudar Lázaro na fuga dando abrigo e tentando despistar as forças policiais envolvidas na operação.

Após a morte de Lázaro, na manhã de segunda-feira (24), o titular da pasta, Rodney Miranda, disse que as investigações continuavam para identificar e prender todos que integrariam o que ele chama de "rede apoio". Ele afirmou ter certeza de que há outras pessoas envolvidas. "Não sabemos se é um grupo grande ou restrito. Ainda temos mais gente para buscar e vamos buscar", disse horas após o fim das buscas.

O crime em Ceilândia aconteceu 23 dias antes da chacina de uma família em outra chácara, na mesma região, o Incra 9. Lázaro entrou na propriedade com uma pistola e uma faca, um colete balístico, luvas e máscaras. Rendeu o caseiro, as duas filhas e a neta dele e um casal de amigos que o visitavam. Fez isso mandando que todos tirassem as roupas e deitassem de bruços no chão. Depois dividiu os homens em um quarto, as mulheres noutro e ficou com uma vítima andando pela casa.

De imediato chamou a atenção das testemunhas que ele marcou no celular o alarme para tocar meia-noite e demonstrou preocupação com o horário, dizendo que precisava ficar no local até aquele momento. Ele também mandou todos rezarem um Pai Nosso e ameaçou matar quem não soubesse.

As ameaças foram constantes no período em que esteve lá, mas sempre demonstrando muita calma. Ele teria dito que passou o dia observando a casa e citou coisas que viu e ouviu dos presentes durante a vigília. E como faz em todos os crimes pelo qual é acusado pediu por armas e dinheiro.

Enquanto revistava a casa atrás do que procurava, ele perguntou insistentemente se alguém ali era policial, parente de policial e se morava alguém ali que era policial. Como a vítima que foi mantida próxima respondia sempre com negativas, ele passou a dizer que se enganou de casa e chegou a pedir desculpas na hora de ir embora.

Em depoimento, ao qual O POPULAR teve acesso, uma vítima ouviu ele se desculpando e explicando que "haviam encomendado uma cabeça, mas que ele havia entrado na casa errada". Esta última afirmação ele teria repetido diversas vezes, segundo os depoimentos. Lázaro também teria dito que tinha informações de que naquele imóvel havia armas, mas segundo as vítimas não havia nenhuma.

Essa vítima teve de preparar comida para ele e foi obrigada a beber todo vinho que havia na geladeira. Lázaro também teria filmado e feito fotos de todos sem roupa e ameaçou jogar as imagens na internet caso a polícia fosse atrás dele. Também disse, mais de uma vez, que as imagens "é que salvariam a vida deles".

Nas cinco horas que ficou no local, Lázaro informou que teria de ficar ali até meia-noite, demonstrando ansiedade com o horário e chegou a "pregar a palavra de Deus" intercalando com ameaças e conversas aleatórias. Ele também procurou informações no celular de uma das depoentes.

O inquérito segue em tramitação no 24º Distrito Policial, de Ceilândia, e o delegado responsável pelo caso, Vitor Falcão Araújo Corte Real, disse apenas que nenhuma hipótese estava descarta, mas que não era possível ainda bater o martelo sobre o motivo que levou Lázaro a dizer que tinha ordens para levar uma cabeça dali e perguntar se havia algum policial na chácara.

O criminoso fugiu levando três celulares e dinheiro. Saiu tranquilamente da chácara, segundo as testemunhas. Depois deste crime, ele cometeu mais dois roubos violentos parecidos -- um em Ceilândia mesmo, mas em outro bairro, e também no distrito de Girassol, em Cocalzinho. E também teria matado um caseiro em Girassol, no dia 5 de junho. Em todos estes crimes Lázaro foi reconhecido pelas vítimas como o autor.

Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos

Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos (Divulgação )

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Início das buscas por Lázaro Barbosa completa um ano

Mais de 270 agentes trabalharam nas buscas pelo suspeito, informa Secretaria de Segurança Pública

Modificado em 20/09/2024, 00:56

Buscas por Lázaro em Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás

Buscas por Lázaro em Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás (Fábio Lima/ O Popular )

No dia 9 de junho de 2021, os moradores de Cocalzinho de Goiás e Águas Lindas de Goiás, no Entorno do Distrito Federal, receberam mais de 270 agentes da Segurança Pública do estado para as buscas por Lázaro Barbosa, de 32 anos. Nesta quinta-feira (9), completa um ano do início da força-tarefa para encontrar o suspeito de matar uma família na região e cometer vários crimes pelo Brasil.

Com repercussão nacional, o caso Lázaro se tornou emblemático devido à união de forças entre as polícias Militar, Civil, Federal, Rodoviária Federal e o Corpo de Bombeiros, com custo de R$ 19 milhões.

Durante quase 20 dias, os agentes se dividiram em uma das matas fechadas da região para encontrar o suspeito, que parecia brincar de "pique-esconde" com os policiais, que utilizaram até mesmo helicópteros e drones na ação.

As buscas só finalizaram no dia 28 de junho após uma intensa troca de tiros entre Lázaro e os agentes de segurança pública. O suspeito acabou sendo capturado com vida, mas com diversos ferimentos e, por isso, foi levado para o hospital de Águas Lindas de Goiás. Entretanto, ele morreu antes mesmo de chegar ao local, segundo o Instituto Médico Legal (IML).

A reportagem entrou em contato com o delegado que foi responsável pela investigação na época, Cleber Martins, de Águas Lindas de Goiás, por ligações e mensagens, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

Relembre

Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos, era suspeito de ter matado quatro pessoas da mesma família a tiros na zona rural de Ceilândia, no DF, ter roubado um carro em uma fazenda no Incra 9 e feito um casal e um adolescente reféns, em Edilândia. Na época, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) informou que ele era investigado por mais de 30 crimes, cometidos no estado, na Bahia e no DF.

Além disso, afirmou que a "megaoperação policial" durou 15 dias, mobilizou mais de 270 agentes e contou com apoio de quatro helicópteros e cerca de 10 drones. A captura do suspeito foi anunciada pelo Governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que parabenizou as forças de segurança do estado e ainda publicou nas redes sociais que "Goiás não é Disneylândia de bandido".

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Acusado de ajudar Lázaro Barbosa tinha câncer e estava internado há uma semana em Brasília

Comerciante de Águas Lindas de Goiás era acusado de participar de uma rede de proteção a Lázaro Barbosa formada por fazendeiros da região

Modificado em 20/09/2024, 00:09

Elmi aborda Rodney Miranda para relatar suposto arrombamento

Elmi aborda Rodney Miranda para relatar suposto arrombamento (Wesley Costa/O Popular)

O chacareiro e comerciante Elmi Caetano Evangelista, de 74 anos, acusado de ajudar na fuga de Lázaro Barbosa, tinha câncer no esôfago, diabetes e morreu devido a problemas no coração, segundo a defesa do acusado. A causa oficial da morte não foi divulgada. Elmi estava internado há uma semana em um hospital de Brasília e vivia em Águas Lindas de Goiás.

Acusado de ajudar em fuga

Lázaro Barbosa se refugiou na zona rural de Cocalzinho de Goiás após cometer uma chacina em Ceilândia, no Distrito Federal, e matar quatro pessoas da mesma família, em 9 de junho de 2021. O comerciante de Águas Lindas de Goiás, Elmi Cavalcante, foi preso no dia 24 de junho de 2021, em sua chácara, acusado de oferecer abrigo e comida para o fugitivo.

A força-tarefa criada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Goiás para encontrar Lázaro descobriu que um dos lugares que ele usava como esconderijo era a chácara de Elmi. A desconfiança teria vindo quando o comerciante se recusou a deixar os policiais entrarem na propriedade no dia 23.

O processo judicial no qual Elmi respondia está parado desde o dia 5 de novembro, quando a Justiça adiou o julgamento previsto para o dia 8 daquele mês e liberou o réu de usar tornozeleira eletrônica. O titular da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP), Rodney Miranda, disse que Elmi integrava uma rede de proteção a Lázaro. Elmi negava as acusações, afirmando que não conhecia Lázaro. A rede de proteção ao fugitivo não foi identificada.

Elmi aborda Rodney Miranda para relatar suposto arrombamento

Elmi aborda Rodney Miranda para relatar suposto arrombamento (Wesley Costa/O Popular)

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Caso Lázaro Barbosa: ex-mulher responderá por crime de favorecimento pessoal por ajudá-lo na fuga

Testemunhas afirmaram à polícia que Lázaro Barbosa chegou à casa onde vivem a ex-mulher, a ex-sogra, e o filho, no sábado antes de sua morte, e não no domingo como alegaram

Modificado em 21/09/2024, 00:42

Lázaro visitou a casa onde mora a ex-mulher, a ex-sogra e um filho de 3 anos e 9 meses

Lázaro visitou a casa onde mora a ex-mulher, a ex-sogra e um filho de 3 anos e 9 meses (Fábio Lima/O Popular)

A ex-mulher de Lázaro Barbosa, morto durante confronto com a polícia na última segunda-feira (30), responderá por favorecimento pessoal, após ter confessado que o então foragido foi até sua casa horas antes de ser localizado pela polícia. O crime pelo qual a mulher é investigada consiste no auxílio prestado para que o autor do delito não seja alcançado pela autoridade pública, com pena de detenção de um a seis meses, além de multa.

A polícia confirmou que testemunhas afirmaram que Lázaro chegou até a casa da ex-mulher, em Águas Lindas de Goiás, no sábado antes de sua morte. Diferentemente do que a mulher havia informado à polícia, que o fugitivo havia a procurado no domingo. Agora, a investigação irá apurar se a ex-sogra também responderá pelo crime.

Relembre

Antes de ser localizado pela polícia, após 20 dias de fuga, Lázaro Barbosa visitou a casa onde mora a ex-mulher, a ex-sogra, e o filho de 3 anos e 9 meses. Ao POPULAR, a ex-sogra disse que estava colocando o neto para dormir quando Lázaro chegou. Ele teria conversado com a ex-mulher por alguns instantes e deixado uma quantia em dinheiro para o filho. Depois fugiu.

A mulher negou que ela e a filha tenham escondido Lázaro, como algumas testemunhas afirmaram à polícia. Entretanto, alegou que não pensou em entregar o fugitivo à polícia . As duas mulheres foram ouvidas informalmente pela polícia e devem prestar depoimento em breve.

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Polícia confirma que vítima de Lázaro foi estuprada antes de ser morta

Exame de DNA ficará pronto na sexta-feira e confirmará autor do crime

Modificado em 21/09/2024, 00:42

Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos

Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos (Divulgação )

Uma das vítimas de uma chacina em uma chácara em Ceilândia, no Entorno do Distrito Federal (DF), foi estuprada por Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos, morto durante uma ação policial na última segunda-feira (28) em Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás. Em entrevista coletiva, na tarde desta terça-feira (29), o delegado-chefe da 24ª Distrito Policial do DF, Raphael Seixas, afirmou que Cleonice Marques, de 43, foi violentada antes de ser morta com um tiro por Lázaro.

Leia também:

  • Caso Lázaro Barbosa: ex-mulher responderá por crime de favorecimento pessoal por ajudá-lo na fuga
  • Corpo de Lázaro Barbosa será enterrado em cerimônia fechada
  • DF apura se Lázaro Barbosa fez roubo por encomenda em chácara
  • O delegado explicou que o laudo comprovando o estupro deve ficar pronto até esta sexta-feira (2). Além da violência, informações do laudo mostram que uma das orelhas da vítima foi cortada, possivelmente, com ela ainda estava viva. A suspeita inicial era que o membro tinha sido decepado devido ao disparo.

    Segundo Seixas, há vestígios e foi coletado material genético no corpo da vítima, espermatozoide, que está sendo confrontado com o padrão de Lázaro e do marido de Cleonice, que foi colhido no Instituto Médico Legal (IML). O investigador explica que o estudo é uma análise por exclusão e que vai definir o que realmente aconteceu. "Ela pode ter praticado ato sexual com o marido antes de ser vítima de estupro. Ela tinha lesões de arrastamento na região posterior da coxa, o que indica até o ato de ter sido arrastada ou o próprio ato de estupro e a negativa dela."

    De acordo com a investigação da polícia, Lázaro invadiu a propriedade da família em 9 de junho e assassinou o empresário Cláudio Vidal, 48, e os dois filhos do casal, Gustavo Marques Vidal, 21, e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15. Ao deixar a chácara, ele levou Cleonice. O corpo dela foi encontrado sem roupas no dia 12 de junho em um córrego em uma zona de mata próxima a BR-070.

    Seixas afirmou ainda que não resta dúvidas de que Lázaro praticou esse quádruplo homicídio contra a família. "Foi identificado rapidamente e já havia outras investigações em andamento em que ele já estava identificado como autor."

    O delegado definiu Lázaro como audacioso, destemido e não pretendia se entregar a policia. "Circulou uma imagem dele praticando um roubo em Águas Lindas de Goiás e sozinho rendeu aproximadamente 12 pessoas. Ele não tinha medo. Pelo pouco que consegui apurar com parentes, não iria se entregar."

    Sete inquéritos

    Lázaro é investigado em sete inquéritos na Polícia Civil do Distrito Federal, mas com sua morte será aplicado à extinção de punibilidade e as apurações continuam, estão sob sigilo judicial e nada será excluído. Seixas afirmou que tinha a expectativa de ouvi-lo, para entender se há outros envolvidos e as motivações. No entanto, o delegado afirmou que há outros meios para seguir com as investigações.