Moradores passam Natal em meio à lama em Goiânia
No Jardim Balneário Meia Ponte, região norte de Goiânia, grande volume de enxurrada derrubou muro e provocou vários danos
Malu Longo
26 de dezembro de 2024 às 11:01

Wanilda Rodrigues Gonçalves lamenta as perdas materiais, mas se emociona ao receber o apoio dos amigos (Fábio Lima / O Popular)
A véspera de Natal em algumas casas do Residencial Balneário 2 e residências próximas, na região Norte de Goiânia, foi assustadora. Pelo segundo ano consecutivo, essa área do Jardim Balneário Meia Ponte foi invadida por fortes enxurradas após uma chuva torrencial no meio da tarde. A água tomou conta de várias moradias, derrubou o muro e saiu carregando um grande volume de lama que atingiu a casa vizinha, provocando muitos estragos. De acordo com moradores, o problema teve início após a construção do BRT na região, que desviou a água da chuva para o local do condomínio. A força dos detritos causou vários danos.
A dona de casa Wanilda Rodrigues Gonçalves, 54 anos, lavava roupa quando percebeu que o quintal de casa estava sendo invadido por lama. Logo depois, o muro caiu e água e lama tomaram conta de sua moradia. "A minha reação foi sair correndo. Gritei por socorro e pedi que desligassem o padrão. Tive medo de que todos nós morrêssemos de choque elétrico porque a máquina de lavar estava ligada", contou chorando. A mulher estava em casa com o neto de 12 anos e o marido, o aposentado Mauro Gonçalves do Nascimento, 68, que passou mal e teve que ser levado na manhã desta quarta-feira para atendimento médico.
A residência de Wanilda e Mauro recebeu toda a água da parte alta do bairro e saiu carregando tudo o que tinha pela frente, principalmente terra. Os estragos foram muitos. A família perdeu móveis e eletrodomésticos, entre eles a geladeira onde fica armazenada a insulina utilizada por Mauro, que é diabético, hipertenso e já sofreu um Acidente Vascular Cerebral. "Os vizinhos estão guardando pra mim, mas preciso de uma geladeira nova", afirmou ela. Ainda assustada, Wanilda passou o Natal chorando, de tristeza pela necessidade de reconstrução da casa e renovação dos bens materiais, e de alegria pela generosidade de dezenas de pessoas que passaram o dia fazendo a limpeza de sua casa. "Deus é tão maravilhoso, que mandou tanta gente para limpar os entulhos. Lavaram até meus armários."

Maccione Machado (à esq.) limpa a área de serviço de sua casa, onde o muro desabou sobre a residência de Wanilda Rodrigues (à dir.) (Fábio Lima / O Popular)
Wanilda e a família não moram no residencial, mas o muro que desabou faz divisa com o condomínio, mais precisamente com Maccione Machado Salunes da Mata, o síndico. Ele revela que há 20 anos vive no local e esta é a segunda vez que enfrenta situação parecida. "Ano passado teve uma enchente que arrancou o asfalto, quebrou nosso muro e até atingiu as instalações da empresa Ita Transportes", conta. Segundo Maccione, tudo começou após a construção do BRT no prolongamento da Avenida Goiás Norte. "Foi feita uma barreira para que carros não passassem de um lado para o outro. Com isso, na primeira brecha a água da chuva desce em direção ao condomínio depois de se encontrar com o volume que passa pela Avenida Genésio de Lima Brito, uma das principais do bairro."
Em 2023, depois que o muro do condomínio foi ao chão e ele e vizinhos perderam eletrodomésticos e tiveram que enfrentar danos nas casas, Maccione decidiu procurar as autoridades. "Fizeram um quebra-mola aqui, mas não resolve em dias de chuva forte. Este ano meu portão entortou, o muro voltou a cair e mais uma vez perdi eletrodomésticos." Para tentar minimizar o problema, o síndico, com ajuda de vizinhos, fez um buraco no muro da Ita na esperança de que a água dispersasse e não chegasse com tanta força às casas, mas não adiantou. "Ano passado, a Ita nos procurou achando que o condomínio tinha culpa, mas estamos tentando alertar as autoridades. Estou pensando agora em acionar judicialmente a Prefeitura de Goiânia e a empresa responsável pela construção do BRT."
Enquanto isso, a dona de casa Wanilda, que mora no endereço há três anos e meio e enfrenta dificuldades financeiras, se pergunta: "E agora?. Sei que Deus está no controle e vai nos ajudar a reconstruir tudo." Por enquanto, ela chora de gratidão pela presença de familiares, vizinhos, desconhecidos e irmãos da igreja que frequenta que passaram o Natal com ela imbuídos do espírito natalino. Ela mal conseguiu se alimentar diante do cenário de devastação, mas ficou feliz pela ajuda que recebeu para deixar sua morada minimamente habitável. Quem quiser ajudar a família de alguma maneira, a chave PIX é (62) 99239-8109.
Chuva deve se manter em Goiânia até dia 30
Na tarde de terça-feira (24), segundo informações do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Jardim Balneário Meia Ponte recebeu 41,8 mm de chuvas. Foi uma precipitação rápida, mas torrencial que atingiu outras regiões da cidade como no Recanto do Bosque, ali perto, onde um carro foi arrastado pela correnteza. Houve alagamentos em diversos pontos da região Norte e parte do asfalto foi arrancado na Avenida Tropical no Setor Brisas da Mata. No Jardim Curitiba, na região Noroeste, choveu 50,8 mm.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Goiânia ainda não está livre de chuvas fortes nesta reta final de 2024. Uma nova Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) deverá manter o tempo instável tanto nas regiões Sudeste quanto no Centro-Oeste, pelo menos até o dia 30. Para esta quinta-feira (26) há previsão de pancadas de chuva e trovoadas isoladas na capital, com risco de novos alagamentos e quedas de árvores.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) informou que as equipes da pasta estão de recesso e só retornarão após o dia 6 de janeiro. A nova gestão municipal assume no primeiro dia do ano de 2025. O POPULAR não conseguiu retorno do consórcio responsável pela construção do BRT.