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Moradores vão escolher empresa para analisar segurança de prédio vizinho a desmoronamento em Goiânia

Construtora liberou retorno para um dos edifícios afetados por deslizamento em Goiânia, mas residentes não se sentem seguros. Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o acidente

Modificado em 17/09/2024, 15:41

Moradores de prédio afetado por deslizamento de terra em obra ainda temem retorno. Na foto, Jaqueline Camargo, síndica do Edifício Catas Altas, no Setor Marista, em Goiânia. Local foi liberado nesta terça-feira para retorno dos moradores

Moradores de prédio afetado por deslizamento de terra em obra ainda temem retorno. Na foto, Jaqueline Camargo, síndica do Edifício Catas Altas, no Setor Marista, em Goiânia. Local foi liberado nesta terça-feira para retorno dos moradores (Wildes Barbosa)

++GABRIELLA BRAGA++

Moradores de um dos edifícios afetados pelo deslizamento de terra em construção predial no Setor Marista, em Goiânia, vão contratar uma empresa terceirizada para elaborar um novo laudo sobre a situação estrutural do imóvel. A construtora responsável pela obra entregou nesta terça-feira (16), um dia após o acidente, o primeiro laudo técnico do segundo prédio evacuado. A avaliação aponta que não haveria riscos estruturais e que os residentes já podem retornar aos apartamentos.

Tecnicamente chamado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) de deslocamento de maciço de terra, o incidente ocorrido na madrugada de segunda-feira (15), na Rua 1.118, fez com que dois prédios fossem evacuados. Parte da pista cedeu, e foi interditada. Ao menos 30 famílias nos dois imóveis tiveram de deixar as moradias. Parte delas foi realocada em um hotel da região, pago pela Opus Incorporadora, responsável pelo empreendimento.

Logo após o deslizamento de terra que assustou os vizinhos, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBM-GO) foi acionado e fez a evacuação preventiva do Edifício Villa Lobos pela proximidade com o terreno de 3 mil metros quadrados (m²), onde está sendo feita a construção de prédio comercial e residencial. A área, que tem entrada pela Avenida 136 e pela Rua 1.128, também faz divisa com os fundos do Edifício Catas Altas, localizado na Rua 1.117.

O prédio foi o segundo a ser evacuado, ainda pela manhã desta segunda-feira, quando rachaduras foram percebidas no subsolo do imóvel. Ainda na noite do mesmo dia, equipe técnica da Opus esteve no hotel onde moradores estão hospedados para informar que o retorno daqueles que residem no Edifício Catas Altas poderia ser de forma imediata. Pela manhã desta terça, foi entregue o laudo às famílias, em reunião conjunta entre as partes, a Defesa Civil de Goiânia, CBM-GO, e Crea-GO.

"Fizemos todas as verificações necessárias (no Edifício Catas Altas) e podemos atestar com plena segurança que não existem riscos ao edifício decorrentes do evento ocorrido. Quanto às pequenas fissuras no piso do subsolo, podemos afirmar que não estão relacionadas ao evento. Fizemos o monitoramento e não apresentaram qualquer movimentação", diz o laudo. O parecer foi assinado pelo engenheiro civil Antônio Aparecido de Oliveira, diretor da Geometria Fundações, empresa de serviços de engenharia de São José do Rio Preto, em São Paulo. Nas redes sociais, é descrito que a empresa é especializada em elaboração de projetos e consultoria geotécnica, com quase 15 anos no mercado.

Além do laudo, foi feita a emissão da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) pelo Crea-GO. O documento é obrigatório desde 1997, quando foi instituído por lei para qualquer contrato de prestação de serviço de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Serve para definir, "para os efeitos legais", os responsáveis técnicos pelo empreendimento.

Com os documentos, o coordenador municipal da Defesa Civil, Robledo Mendonça, diz que o órgão não pode mais impedir o retorno dos moradores ao edifício. Um relatório só deve ser emitido após os laudos dos dois edifícios feitos por terceirizadas da construtora ficarem prontos, além de colhidas todas as licenças para a obra. "É mais demorado porque esperamos as manifestações de todas as partes. Escutamos construtora, síndicas, engenheiros, Corpo de Bombeiros. Fazemos um apanhado geral e elaboramos o relatório", explica. E acrescenta: "Para a Defesa Civil, a apresentação do laudo com a ART garante a segurança dos moradores. O profissional habilitado assumiu a responsabilidade. Mas continuamos monitorando o caso."

Mesmo com a liberação, a síndica do Edifício Catas Altas, Jaqueline Camargo, de 29 anos, diz que os moradores ainda não devem voltar às casas, o que só deve ocorrer após um novo laudo de uma empresa independente comprovar a segurança estrutural. Conforme ela, o serviço será pago pela Opus, que se comprometeu a arcar durante a reunião desta terça. "Estamos apenas aguardando um documento formal de autorização", comenta. Até o fechamento desta matéria não havia definição de qual empresa faria a nova avaliação. A expectativa, entretanto, é que os próprios residentes do imóvel façam a escolha.

A Opus Incorporadora confirmou, em nota, que ambas as partes "concordaram em também contratar um laudo emitido por profissional indicado de comum acordo entre incorporadora e condomínio", diante do receio de moradores locais. "A incorporadora ressalta que, embora o atual parecer já ateste a ausência de riscos para que o prédio volte a ser habitado, os esforços da empresa visam a atender ao pedido dos moradores para que se sintam igualmente seguros", completa.

Para Jaqueline, não há segurança para os moradores retornarem para os apartamentos. "Apresentaram um laudo que nem é um laudo. Não está escrito como chegaram a essa conclusão, que método se utilizaram para investigar (o risco)", pondera. Por isso, acrescenta, ainda está preocupada com a situação e não sente segura com o retorno.

"Eles ainda não sabem a causa do desabamento de terra, e mesmo sem saber mandaram a gente voltar para os nossos apartamentos. A gente fica sem entender, porque em um ano de obra não teve movimentação de terra. Agora que teve eles dizem que é zero risco de desabamento", pondera. A síndica acrescenta ainda que o desejo dos moradores é de retornar o mais rápido, mas com segurança. Conforme ela, que saiu de um apartamento de 118 m², onde vive, passou para um quarto de hotel de aproximadamente 19 m², onde precisa ficar hospedada com o esposo e dois cachorros.

Já o Edifício Villa Lobos, o mais afetado, ainda deve ficar em monitoramento pelos próximos dias. "Devido a maior proximidade com o ponto do acidente, por precaução, a previsão é liberação do laudo em aproximadamente 72 horas, uma vez que estão ainda estão sendo feitas as medições", diz a Opus, em nota. O documento pontua também que a investigação de possíveis causas teve início ainda na segunda, "com a participação de especialistas no assunto tanto de Goiânia como de São Paulo."

Investigação

A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) instaurou, nesta terça-feira (16), inquérito policial para identificar as causas do deslizamento de terra. Representantes dos dois edifícios afetados estiveram na delegacia para registrar a ocorrência. Conforme o titular da delegacia, Luziano Carvalho, já foi requisitado com urgência a elaboração de um laudo pericial da Polícia Técnico-Científica (PTC). Responsáveis pela obra também devem prestar depoimento à corporação, além de outras partes possivelmente envolvidas.

Conforme Carvalho, a linha de investigação seguirá o artigo 256 do Código Penal, que tipifica como crime "causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem". Para ele, há indícios de crime. "De forma dolosa (com intenção) claro que não teve. Mas de qualquer forma tem concorrência humana. E pode não ter sido só uma causa."

Órgãos da Prefeitura de Goiânia informam que todas as licenças da obra estavam regularizadas. A Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) informa que "todas as licenças ambientais da construtora estão em dia e com validade até 2027". Já a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) diz que "o projeto foi devidamente aprovado junto ao Poder Público Municipal, conforme regula o Plano Diretor de Goiânia e o Código de Obras e Edificações."

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Motociclista morre após ser atropelado na Avenida 85, em Goiânia; vídeo

Corpo de Bombeiros foi acionado e constatou a morte do motociclista ainda no local. Caso será investigado pela Polícia Civil

Modificado em 05/02/2025, 16:08

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Um motociclista morreu após ser atropelado na Avenida 85, no setor Marista, em Goiânia. O acidente aconteceu na manhã desta quarta-feira (5).

Imagens de uma câmera de segurança registraram o momento em que uma caminhonete, ao mudar para a faixa da direita, onde a motocicleta seguia, bateu no motociclista e o atropelou (assista acima) .

O Corpo de Bombeiros foi acionado e constatou a morte do motociclista ainda no local.

Segundo a Polícia Militar, a condutora da caminhonete ficou à disposição para depoimento. Todos os pertences da vítima foram entregues à equipe da Delegacia de Investigação de Crime de Trânsito (Dict).

A Polícia Civil informou que o caso será investigado pela Dict.

Atropelamento aconteceu na avenida 85, no Setor Marista (Reprodução/TV Anhanguera)

Atropelamento aconteceu na avenida 85, no Setor Marista (Reprodução/TV Anhanguera)

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Aproveite o tempo de seca para acelerar sua obra

Confira cinco dicas para garantir uma obra célere, econômica e sem muita dor de cabeça.

Modificado em 17/09/2024, 17:32

Aproveite o tempo de seca para acelerar sua obra

(Freepik)

Tradicionalmente o período de estiagem é o mais indicado para as etapas iniciais de uma obra de construção, como a fundação, alvenaria e todas as outras que envolvem a parte externa de uma edificação. Quem dá a dica é o diretor da rede de lojas de materiais de construção Irmãos Soares e da Essence Acabamentos, Robson Soares.

Segundo ele, a ausência de chuva ajuda a evitar problemas como a erosão do solo e a dificuldade da secagem do concreto. Além disso, durante o período de estiagem é mais fácil o transporte e manuseio dos materiais de construção, garantindo com que as etapas críticas, como a fundação e a estrutura, sejam realizadas sem interrupções.

"Muitos encarregados de obras intensificam o trabalho neste período de estiagem, que aqui em Goiás costuma ir até o fim de outubro, porque a umidade trazida pelo clima chuvoso de fato pode atrapalhar algumas etapas das construção, como os serviços de terraplanagem, concretagem e até a pintura externa", esclarece Robson, que dá outras dicas a seguir para uma obra célere e econômica, sem muitos contratempos, confira:

1- Escolha de fornecedores confiáveis : Opte por fornecedores que ofereçam materiais de qualidade, com garantia e bom prazo de entrega. Além disso, uma dica complementar do gerente de compras da Irmãos Soares, Raphael Monteiro, é escolher produtos que seguem normatizações, que garantem a segurança que é necessária para os insumos. Segundo ele, isso trará tranquilidade quanto a garantia e suporte quando for necessário, além de economia, visto que produtos que seguem normativas oferecem melhor rendimento evitando desperdício. Converse com seu fornecedor a respeito do atendimento às normas de qualidade dos produtos.

2 - Contratação de mão de obra qualificada : Uma equipe bem treinada e experiente reduz desperdícios e retrabalhos. Um conselho dado por Raphael Monteiro é pedir indicações, conversar com proprietários de obras que já foram executadas pelo profissional e, se possível, ir até o local do serviço executado para se certificar da qualidade do trabalho realizado.

3 - Controle de estoque : Mantenha um controle rigoroso do estoque de materiais para evitar desperdícios e garantir que nada falte durante a obra. O gerente da rede de lojas destaca que é sempre bom ter um alinhamento entre o profissional e dono da obra/reforma para que a solicitação dos materiais chegue com antecedência, evitando a falta de produto para a realização do serviço, também é muito importante que se anote tudo que foi usado na obra.

"Essa anotação pode ser feita de forma simples em em um caderno ou até mesmo de forma mais elaborada criando uma planilha de gastos. Isso ajudará a ter ciência do custo da obra e facilitará o controle dos recursos disponíveis até a finalização do serviço", completa ele.

4 - Tecnologia : Utilize ferramentas e tecnologias que ajudem a monitorar o progresso da obra e a gestão de materiais. De acordo com Monteiro, existem aplicativos de uso gratuito para a indicação de mão de obra, tanto para grandes serviços quanto para pequenos reparos, além de ferramentas que podem ajudar a calcular as estimativas de matérias gastos na obra. Conheça alguns exemplos:

  • Getninja - Neste app, o usuário pode encontrar profissionais e contratar serviços para tudo que precisar na obra. São mais de 500 tipos de serviços oferecidos.
  • Habitissimo - Encontre profissionais de confiança: Pintores, marceneiros, arquitetos, mudanças e outros serviços de obras e reformas para o seu imóvel.
  • Reforma simples - O Reforma Simples é um app móvel que permite obter uma estimativa da quantidade e do preço dos materiais para diversos serviços de construção ou reforma.
  • 5 - Planeje a compra de materiais de construção por etapas: Esta decisão, permite ajustar o orçamento conforme a obra avança e economizar. No caso da fundação, os materiais básicos são aço, cimento e madeira. A dica para essa fase é comprar cimento de boa qualidade e verificar a procedência do aço para garantir resistência.

    Na parte da alvenaria (paredes e lajes) os materiais essenciais são cimento e argamassa, e a orientação de Robson Soares é ficar atento à proporção no preparo da argamassa e assim evitar desperdício. Já para o reboco será usado muita areia fina, cimento e cal hidratada. Para essa fase da obra a dica é usar bem a peneirada para evitar imperfeições no acabamento.

    Para o telhado haverá um grande uso de madeira, telhas ou estrutura metálica, além de pregos e parafusos. A orientação do especialista é buscar telhas que ofereçam boa eficiência em termos de durabilidade e isolamento térmico.

    Para a fase do acabamento, os itens de porcelana, como pisos, revestimentos para paredes, tintas, louças sanitárias e metais são essenciais. Para essa etapa, a sugestão de Robson é avaliar bem o custo benefício dos itens a serem comprados para a obra e fugir do barato, que no futuro sairá muito caro. "Invista em acabamentos de boa qualidade, pois são os itens que mais influenciam na estética e funcionalidade do imóvel", orienta.

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    Vítimas sofrem com sequelas um ano após queda de rampa no Serra Dourada

    Ao menos 75 pessoas ficaram feridas após desabamento de estrutura durante festival de música em Goiânia. Acidente completa um ano nesta terça-feira (9)

    Modificado em 17/09/2024, 16:35

    Do alto, a rampa que protagonizou o acidente, no Estádio Serra Dourada

    Do alto, a rampa que protagonizou o acidente, no Estádio Serra Dourada (José Washington/TV Anhanguera)

    ++GABRIELLA BRAGA++

    Passado exatamente um ano desde o desabamento de uma rampa no Rap Mix Festival, vítimas ainda precisam conviver com as sequelas físicas adquiridas. Naquele 9 de julho de 2023, a expectativa para ao menos 75 pessoas era de um dia de diversão junto a familiares e amigos no evento que lotou o Estádio Serra Dourada, em Goiânia. Mas, no fim daquela noite, o cenário se transformou em desespero. Escoriações, fraturas expostas e até traumatismo craniano foram consequências para essas pessoas, após a estrutura metálica que ligava o gramado à arquibancada desabar de uma altura de até cinco metros.

    Após a queda da rampa, a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) deu início às investigações para apurar causas e responsáveis pelo ocorrido. Um laudo pericial feito ainda no mês do desabamento demonstrou que a causa foi a montagem inadequada da estrutura. Já em abril deste ano, o inquérito foi remetido ao Judiciário, com o indiciamento de oito funcionários de empresas de montagem e de segurança. Nenhum proprietário foi indiciado.

    Para as vítimas, o relatório final do inquérito não foi o esperado. "Acho injusto o resultado. Se o funcionário fez, foi porque a ordem veio de cima, dos responsáveis das empresas. Eles é quem deveriam responder, já que estavam à frente", comenta a autônoma Letycia Oliveira, de 24 anos. O resultado da queda, para a jovem, foi uma fratura na coluna, além de rompimento dos ligamentos da vértebra e outros ferimentos.

    "Coloquei seis parafusos na coluna. Sinto dores todos os dias. Os parafusos doem no frio, minha coluna trava, não posso pegar peso, não aguento andar grandes distâncias, sinto desconforto a maior parte do tempo. E precisei ficar afastada do trabalho, no meu próprio salão. Hoje não consigo atender da mesma forma, minha renda diminuiu muito", lamenta, ao acrescentar que o último ano tem sido para "reaprender a viver".

    Diante da sensação de injustiça, Letycia buscou um advogado para ingressar com processo judicial cobrando indenização por danos morais e materiais. "Não tivemos nenhuma decisão. Fazem pouco caso de nós, me sinto humilhada, como se a culpa fosse minha por ter caído daquela estrutura. A culpa não é minha, mas deles, que foram extremamente irresponsáveis e hoje ficam agindo como se a gente nem existisse."

    Tia e sobrinho, Adriana da Cunha, de 45 anos, e Marcos Paulo Torquato, de 20, subiam do gramado para a arquibancada quando o chão cedeu. "Estava no alto, já no final, indo embora, quando senti o chão mexer e olhei para baixo. Daí, vi um buraco se abrindo embaixo dos meus pés e não tinha nada para segurar. Pensei que iria morrer", relata. Ela teve fratura no tornozelo, além de tíbia e fíbula. No joelho, fratura exposta. "Uso dois pinos no joelho. No tornozelo são muitos, e placas também."

    Para Adriana, o pós-festival se resumiu a exames e consultas médicas e, ainda, quatro cirurgias. "Vivi os piores dias da minha vida. Foram três meses em uma cama e depois usei muleta e cadeira de rodas. Até hoje minha perna incha muito e dói se eu ficar muito tempo de pé. Quando fico em repouso, tenho dificuldade para andar logo que coloco o pé no chão. Preciso ir devagar para aquecer e andar mais tranquila", relata.

    A mulher rechaça ainda o resultado do inquérito. "Acho que os organizadores do show são os responsáveis, porque foi neles que confiei quando comprei o ingresso. Eles tinham de contratar pessoas capacitadas. Eu não contratei engenheiro, foi o evento que contratou. A responsabilidade é deles", conclui Adriana.

    O sobrinho dela também tem convivido com sequelas, mesmo que mais amenas. "Não sinto toque em algumas regiões abaixo do joelho (direito). Fiquei um bom tempo sem praticar alguns esportes e sem trabalhar também. Foi bastante complicado, acabei perdendo o serviço por faltas, porque senti muitas dores por meses", comenta Marcos Paulo.

    A designer de sobrancelhas Marcela Silva Noleto, de 22 anos, estava com o marido quando o desabamento da estrutura ocorreu. Após a queda de cerca de quatro metros de altura, teve fratura no fêmur e precisou passar por duas cirurgias. Ele quebrou o pé. "Faz um ano e ainda parece que foi ontem. É um dia que jamais vai ser esquecido. Na época eu amamentava meu neném e tiver de o desmamar, porque fiquei internada no hospital."

    A jovem acrescenta ainda que teve de buscar alternativas para conseguir adquirir itens essenciais, como medicamentos e fraldas, já que o casal não teve ajuda da organização. E, por conta dos ferimentos, tiveram de deixar o trabalho e morar com a sogra dela, que ficou responsável pelos cuidados dos feridos. "Já entramos na Justiça, mas até agora nada, não quiseram acordo. É muito difícil, sinto dor na perna todos os dias, tenho certas limitações, não posso correr ou ficar em pé por muito tempo. É uma coisa que ficará marcada para o resto da minha vida, fora os traumas psicológicos. Só quero justiça."

    Em consonância com a história de Marcela, todas as outras vítimas ouvidas pelo jornal relatam que não obtiveram auxílio por parte da organização do evento. Algumas comentaram que foram procuradas, mas, mesmo assim, não conseguiram a ajuda necessária para prosseguir com os tratamentos. A reportagem buscou a assessoria de imprensa do evento para comentar o caso, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

    Polícia

    O jornal questionou à Polícia Civil (PC-GO) o motivo de o inquérito ter indiciado só funcionários e não proprietários das empresas. No relatório final assinado pelo delegado Leonardo Dias, consta que os donos das empresas de montagem não foram indiciados por terem contratado profissional habilitado para a execução do serviço. Já aqueles das empresas de segurança "não tiveram condutas delineadas que se amoldam ao tipo penal, pois apenas figuram como proprietários".

    A proprietária da Winner Records, Maria Viviane Santos de Araújo, e seu irmão Marcos Aurélio Santos de Araújo, detentor da marca Rap Mix, também não foram indiciados e sequer compareceram em sede policial, respondendo apenas por depoimentos escritos. No inquérito, foram apontados como testemunhas de fato e constam como possível "polo passivo em ações de indenização na esfera cível".

    Vale destacar que o inquérito estava, até então, com o delegado Thiago Martiniano. Em abril deste ano, a investigação foi repassada a Dias, que concluiu o inquérito no mesmo mês. A reportagem também questionou à corporação o motivo da mudança. Em resposta, a PC-GO disse que "todas as diligências necessárias para a elucidação do fato foram devidamente realizadas, com o inquérito policial concluído, e remetido ao Poder Judiciário". O jornal também buscou a assessoria de imprensa do evento, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

    Geral

    Peritos encontram indícios que contrariam versão de PMs em duplo homicídio

    Simulação feita pelo Instituto de Criminalística de abordagem que resultou na morte de duas pessoas por policiais próximo ao Batalhão do COD aponta que armas teriam sido plantadas e celular e bolsa de vítima sumiu com a conivência dos acusados

    Modificado em 17/09/2024, 16:30

    Vídeo gravado pelo celular de vítima mostrou parte da abordagem e foi usado para embasar reprodução

    Vídeo gravado pelo celular de vítima mostrou parte da abordagem e foi usado para embasar reprodução
 (Divulgação)

    Peritos do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica (PTC) de Goiás apontaram, com base no laudo de reprodução simulada dos fatos, uma série de falhas na versão dos policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) acusados de matar duas pessoas durante abordagem feita em 1º de abril numa rua a 1,5 quilômetro do batalhão da especializada. Uma das conclusões, por exemplo, é que a arma encontrada no carro como sendo de uma das vítimas teria sido plantada por um dos acusados. A ausência dos policiais militares na execução da simulação, no dia 7 de junho, não afetou as conclusões apresentadas no laudo, ao qual o jornal teve acesso com exclusividade.

    Um vídeo gravado aparentemente por um programa espião instalado no celular de uma das vítimas, o autônomo Junio José de Aquino, de 40 anos, mostra este se aproximando do veículo em que estava um amigo seu, o corretor Marines Pereira Gonçalves, de 42 anos, e pedindo para abrir o carro porque ele estaria acompanhado dos policiais. Em seguida, ambos foram mortos em uma abordagem feita por uma equipe operacional do COD comandada pelo segundo tenente Wandson Reis dos Santos e uma do serviço de inteligência do comando chefiada pelo primeiro tenente Allan Kardec Emanuel Franco.

    A simulação dos fatos foi feita tendo como base as imagens que aparecem no vídeo e os depoimentos de Allan Kardec e do soldado Diogo Eleuterio Ferreira, que na ocasião atuava como motorista do primeiro tenente. Os outros quatro acusados se recusaram a falar nos depoimentos à Polícia Civil. O documento foi encaminhado à Justiça nesta segunda-feira (2), pois o inquérito já foi concluído pela Polícia Civil com o indiciamento dos policiais por duplo homicídio qualificado e fraude processual. O Judiciário também já acatou a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e os tornou réus.

    Armas plantadas

    Os peritos afirmam que uma das armas encontradas no interior do carro em que estava Marines, uma pistola Taurus calibre .380 é a mesma que aparece no vídeo sendo manuseada por Wandson após Junio e Marines terem sido baleados. O tenente aparece ao lado de outro policial que estava segurando uma sacola plástica e dá dois tiros com esta pistola em direção ao solo. O vídeo mostra dois estojos sendo ejetados da pistola no momento dos disparos e, após análise, foi constatado que eles coincidem com a arma no carro.

    No registro da ocorrência feito pelos policiais, a arma no carro teria sido usada por Marines. O laudo aponta o contrário. "É factível que se esteja diante de uma inovação de local promovida por tiros forjados e possível acréscimo de uma arma que, talvez, nem estivesse com nenhum dos dois indivíduo abordados naquela ocasião", afirmam os peritos.

    Eles também citam outra perícia, feita no dia da ação policial, apontando que a pistola foi deixada engatilhada, pronta para um tiro ser efetuado. Se a versão dos acusados fosse verdadeira, de que Marines não morreu imediatamente, mas que chegou a ser socorrido com vida, então eles não agiram corretamente por deixar a arma daquele jeito próxima de um suspeito vivo. "Em suma, chamou a atenção do perito responsável pela perícia de local, o fato de o socorro à vítima não ter sido precedido pela remoção da arma, com potencial de risco tanto para os socorristas, quanto para os próprios policiais ali presentes."

    A outra arma apontada pelos policiais como sendo a de Junio, vista ao lado de onde a vítima foi baleada, também pode ter sido plantada, na conclusão dos peritos. Isso porque o policial que aparece no vídeo segurando uma sacola plástica, o segundo sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira, em seguida tira algo envolvido em um pano, se abaixa e são ouvidos dois estampidos semelhantes a tiros de uma arma de cano curto. O revólver Taurus calibre .380 foi deixado no solo com dois estojos deflagrados.

    "Diante disso e mais uma vez, é factível que se esteja diante de uma inovação de local promovida por tiros forjados e possível acréscimo de uma arma que, talvez, nem estivesse com nenhum dos dois indivíduos abordados naquela ocasião", afirmam os peritos. Eles também voltam a citar o lado da perícia no local que a arma foi deixada em cima de uma mancha de sangue, mas com a parte de cima intacta, o que sugere que foi deixada ali por terceiros.

    Celular sumiu

    No laudo é citado o desaparecimento do celular de Junio e de um acessório semelhante a uma pochete preta que aparece nos segundos iniciais do vídeo antes que a perícia comparecesse ao local após a abordagem. Os policiais não citam o que foi feito com estes materiais. "Nesse diapasão, a possibilidade mais concreta é que o autor das subtrações tenha sido algum (ou alguns) dos policiais que atuaram na ocorrência e aqui já nominados, ou outra pessoa, mas com o consentimento deles", afirmam os peritos que fizeram a reprodução simulada.

    Os depoimentos dados na Polícia Civil confirmam, segundo os peritos, a conclusão sobre a responsabilidade pelo sumiço do celular e da bolsa. Isso porque, pela fala de ambos, tanto Diogo como um outro soldado ficaram responsáveis por cuidar do isolamento do local, evitando a aproximação de civis e curiosos. "É inegável, portanto, que dificilmente alguém conseguiria adentrar aquele local e retirar dele os referidos objetos, sem ser visto por algum dos policiais."

    Corpo movimentado

    Chamou a atenção dos peritos também a versão apresentada por Allan Kardec, que aparece no vídeo arrastando o corpo de Junio após ter sido baleado. O tenente afirma que tomou esta decisão por ter sido informado de que o autônomo estava armado e percebeu que próximo à mão dele estava a arma. O vídeo mostra na verdade Junio segurando o celular numa mão e a outra vazia. Porém, os peritos destacam que o policial poderia ter agido de outra forma.

    "Tem-se então a exposição de um policial, corroborada por seu companheiro, de que, por medidas de segurança, optou por arrastar o corpo de uma vítima de sua posição de repouso, quando podia tão somente e empreendendo bem menos esforços, ter removido a arma do local, sem mexer no corpo, algo bem mais coerente e plausível."

    Além disso, a reprodução simulada apontou que na verdade Allan Kardec, pela posição que aparece no vídeo, teria arrastado algo ou alguém de dentro do carro. Se for mesmo um corpo, como ele disse, seria o de Marines então. "Essa sequência de ações, que Allan Kardec assumiu para si em seu depoimento, como se tivesse movimentado o corpo da vítima que foi alvejada fora do carro, se mostrou na simulação, bem mais compatível com a movimentação de um ocupante do veículo, de dentro para fora, sendo puxada pela vão da porta dianteira direita."

    A versão dos peritos que fizeram a reprodução simulada bate com a do laudo no local do crime, onde os profissionais estranharam o fato de haver mais sangue próximo à porta de passageiro do que no assento onde Marines estava ao ser baleado. "A pouca quantidade de sangue no interior do veículo indica a possibilidade da vítima ter sido retirada rapidamente, visto que apresentava lesões severas."

    Outro ponto levantado pelos peritos é que o principal alvo dos policiais foi Marines, mais do que Junio. Isso pela disposição dos policiais, das marcas de tiros no carro e dos estojos encontrados no chão. Marines foi atingido por cinco disparos, enquanto o amigo, por três.

    Entenda o caso

    Além dos policiais já citados, também participaram da abordagem e respondem ao processo como réus o sargento Wellington Soares Monteiro e o soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva. No inquérito feito pela corregedoria da PM-GO foi dito que Junio foi morto por disparos da arma de Wandson e Marines das armas de Marcos Jordão e Wellington. Pablo Henrique teria, assim como Diogo, feito a cobertura do local, impedindo a aproximação de terceiros.

    As investigações feitas pela Polícia Civil e pela corregedoria da PM-GO não avançaram na motivação para o crime cometido pelos policiais. O jornal mostrou que os acusados chegaram a pesquisar o nome de Marines no sistema da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) horas antes de ele ter sido abordado com Junio, contradizendo versão dos policiais de que só ficaram sabendo de Marines após ele ter sido baleado.

    Um vídeo que chegou ao inquérito mostra Junio comentando que iria pegar um "trem" na sede do batalhão do COD numa segunda-feira (ele e Marines foram mortos também numa segunda). No processo que tramita na Justiça, tanto a Polícia Civil como o MP-GO afirmam que Junio teria ido buscar um pacote relacionado a tráfico de drogas e que sua morte pode ter sido uma queima de arquivo.