Em um momento em que os casos de Covid-19 desaceleram no Brasil, mas seguem em patamar alto, a percepção de que a pandemia está sob controle no país é majoritária pela primeira vez, mostra pesquisa Datafolha.Mais da metade da população avalia que a pandemia está em parcialmente controlada (53%) ou totalmente controlada (5%). Para 41%, ela está fora do controle, e 1% não sabe.A pesquisa foi feita nos dias 7 e 8 de julho com 2.074 entrevistas presenciais com pessoas de 16 anos ou mais em 146 municípios. A margem de erro é dois pontos percentuais para mais ou para menos.A percepção de que a pandemia está fora de controle é maior entre os que têm de 16 a 24 anos, os pretos (52%), os que reprovam o governo de Jair Bolsonaro (54%) e os que nunca confiam em suas falas (52%).Mas mesmo nesses grupos ela não chega perto da observada no levantamento feito em março, pico da pandemia no país. Naquele momento, a parcela dos que viam ausência de controle chegou a ser de 79%.Agora, pouco mais de 500 dias após o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, as infecções desaceleram em 13 unidades da Federação e se estabilizam em patamares altos nas demais.O Brasil registrou na terça-feira (13) 42.466 novos casos e 1.273 mortes na média móvel semanal, números 23% e 19% menores, respectivamente, do que os de duas semanas atrás.Embora a situação esteja ainda longe de ser confortável, o avanço é atribuído principalmente à vacinação. Até terça-feira, 54,8% dos brasileiros adultos estavam imunizados com ao menos uma dose, e 19,5% com o esquema completo.Até o momento, a campanha de vacinação no Brasil conta com quatro imunizantes: Coronavac, AstraZeneca e Pfizer, que requerem duas aplicações, e Janssen, de dose única.O processo de aquisição e produção das vacinas foi marcado por morosidade e falhas de eficiência pela gestão do presidente Jair Bolsonaro, investigada em CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado. Seu governo ignorou ofertas da Pfizer em 2020 e enfrenta denúncias de pedido de propina para um suposto intermediário da AstraZeneca e de atuação suspeita para a aprovação da Covaxin.Além disso, em diversos momentos o presidente disseminou desinformação sobre as vacinas, além de criar conflitos diplomáticos com a China, país onde é fabricado o IFA (ingrediente farmacêutico ativo) usado nas doses produzidas no Brasil.Ainda assim, à medida que chegam novos lotes e a imunização avança para novas faixas etárias e grupos prioritários, melhora a avaliação do Ministério da Saúde na aquisição dos imunizantes.O índice de ótimo/bom passou de 32% para 37%. Outros 30% avaliam como regular, 31% como ruim ou péssimo, e 2% não opinaram. A insatisfação é maior entre os mais instruídos (46%) e os que reprovam o governo Bolsonaro (47%).Para 60%, a imunização ainda ainda está mais lenta do que deveria, índice majoritário, mas ainda menor do que o registrado em março (76%), no fim da gestão do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, e em maio (70%). Outros 30% avaliam que ela está dentro do prazo e 9%, mais rápida do que deveria.Junto ao aumento da percepção de eficiência, ao avanço da vacinação e à redução de casos e mortes, o Datafolha mostra que cai também a parcela dos brasileiros que dizem ter muito medo de pegar o coronavírus. Ela chegou a 55% em março e agora está em 46%. Outros 31% declaram ter um pouco de medo e 21%, não ter medo.Há diferenças significativas de gênero e regionais. Entre as mulheres, 52% ainda afirmam ter muito medo, ante 39% dos homens. No Nordeste, o índice é de 51%, e no Sul, de 38%.Apesar da redução geral da parcela da população com receio da doença, cientistas e autoridades de saúde alertam para a necessidade de manutenção das medidas de prevenção e distanciamento social, principalmente diante da circulação da variante delta, mais transmissível que as demais e detectada pela primeira vez na Índia e já presente no Brasil.Estudo recente publicado na revista Nature mostra que pessoas vacinadas com apenas uma dose das vacinas da AstraZeneca ou da Pfizer produzem anticorpos que mal têm efeito sobre a variante, que também é mais transmissível do que as demais. Proteção razoável, de mais de 60% em ambos os casos, é alcançada apenas após segunda dose.Além disso, independentemente da variante, o fato de nenhuma vacina ter 100% de eficácia aumenta os riscos comunitários de uma alta circulação do vírus.É por isso que, nas últimas semanas, países que já tiveram a pandemia mais controlada têm registrado aumento de casos, e parte deles anuncia novas medidas de prevenção.Israel, que saiu na frente na imunização, anunciou no domingo (11) que dará uma terceira dose da Pfizer a adultos com sistema imunológico enfraquecido e estuda ampliar a medida. Metade dos 46 pacientes em estado grave por Covid no país estava imunizada.Na Coreia do Sul também há alta de casos, atribuída à variante delta, o que levou o governo a intensificar as medidas de distanciamento social.Na Europa, o número de casos também aumentou 39,7% na semana de 28 de junho a 4 de julho em relação à anterior, e o de mortes, 6,4%.Na França, o presidente Emannuel Macron anunciou que um passe sanitário será exigido em bares e instituições culturais e determinou que todos os profissionais de saúde sejam imunizados até o dia 15.Por outro lado, no Reino Unido, que também enfrenta alta de casos, a exigência nacional de uso de máscaras deixa de valer na semana que vem. O acessório continuará a ser exigido no transporte público de Londres.