Lançado em março de 2022 pela Prefeitura de Goiânia, o projeto Árvore Digital - que previa a oferta de internet gratuita por meio de wi-fi em praças públicas - se encontra abandonado e “órfão”. Na época, o prefeito Rogério Cruz (SD) inaugurou uma na Praça Tamanduá, na Vila Nova, e prometido mais 10 em outros locais, porém nunca mais a administração municipal abordou o assunto. Desde então, as três pastas envolvidas mudaram de titulares - uma delas mais de uma vez -, e o projeto, aparentemente, também mudou de responsável.A reforma da praça e o contrato para a instalação da estrutura que forneceria o acesso ao wi-fi foram feitos pela Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg), por intermédio da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra). A empresa que levou o equipamento ao local foi a Solus Energias, de Maringá (PR), por meio de dispensa de licitação e ao custo de R$ 49,9 mil. Já a Secretaria Municipal de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sictec) ficaria responsável por fornecer o serviço de internet à população.Na época, quem assumiu à frente como “pai” da proposta, além do prefeito, foi a Comurg, com publicações nas redes sociais na qual se coloca como responsável pela instalação. A companhia também cuidou da seleção da empresa para a compra da estrutura. A dispensa de licitação se deu sob argumento de que a legislação permite a aquisição de materiais sem o procedimento até determinado valor. Na época, este limite era de R$ 50 mil. Já nos informativos da Prefeitura no momento da inauguração são citadas também a Seinfra, a Sictec e a Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh).Neste período, os órgãos envolvidos passaram por inúmeras mudanças. Quando a revitalização da praça teve início o presidente da Comurg era Alex Gama, que foi quem começou o processo licitatório com a Solus Energias. O contrato com a empresa, entretanto, já foi assinado por Alisson Borges, ainda como vice-presidente, mas já sem Alex oficialmente no comando. Alisson ficou no cargo até março de 2024 e na Comurg a informação é que ninguém hoje sabe o que aconteceu com o projeto.A Sictec, que forneceria a internet, também passou por mudanças. Na época, o titular era André Rodrigues Martins, mas em julho do mesmo ano assumiu o cargo Hemmanoel Feitosa e Silva, que ficou na pasta até o dia 15 de maio de 2023. Agora, o secretário é Paulo César da Silva, o Paulo da Farmácia. Nas redes sociais da Sictec não há menção ao projeto.A árvore digital foi inaugurada pelo prefeito em um evento no dia 4 de março de 2022. “Essa é a primeira de várias ‘árvores’ digitais que vamos instalar em Goiânia. O objetivo é o de modernizar a cidade, ampliar o acesso gratuito à internet e conectar pessoas”, afirmou Rogério no dia, segundo informativo oficial do Paço Municipal.No mesmo comunicado, foi dito que a obra de revitalização durou dois meses e que envolveu também a Seinfra e a Seplanh, mas sem detalhar o papel de cada. A Seinfra mudou de titularidade em outubro daquele ano e apenas a Seplanh segue com o mesmo secretário.A estrutura tem 4,5 metros e leva o nome de “árvore solar wifi”, por envolver cinco painéis para captação de energia solar que manteriam o funcionamento do mecanismo. Também serviria para a população poder recarregar até 16 aparelhos celulares no local. Ainda em março de 2022, a TV Anhanguera chegou a fazer uma reportagem mostrando que o serviço estava funcionando. No ano passado, um morador entrou em uma publicação da Comurg sobre a árvore digital para reclamar que o wifi e o carregador de bateria estavam estragados.O POPULAR esteve na praça na semana passada. Moradores e comerciantes da região afirmam que a manutenção do espaço tem sido feita, porém não souberam dizer por quanto tempo a árvore digital esteve em atividade. Das cinco pessoas ouvidas, nenhuma chegou a utilizar o wifi. A reportagem testou as entradas para carregar o celular e não encontrou nenhuma funcionando. O local é usado como bancos para quem compra sanduíches em um pitdog próximo e quer ficar mais no interior da praça.Em nota, a Prefeitura afirmou que a árvore digital na praça Tamanduá foi uma “versão piloto”, apesar de isso não ter sido mencionado na época do lançamento. Também informou ao jornal que a iniciativa foi incorporada ao projeto de iluminação de LED, por meio da implementação de luminárias tecnológicas, e que a expectativa agora é que os primeiros modelos sejam instalados na região central, como parte do programa Centraliza, de revitalização do Centro de Goiânia.Tanto o projeto de modernização da iluminação pública como o Centraliza são tocados atualmente pela Secretaria Municipal de Finanças (Sefin).A terceirização do serviço de troca do parque luminotécnico por postes com LED vem sendo prometido desde 2021 e no ano passado foi incluída em um projeto de Parceria Público-Privada (PPP), que juntou outra proposta também prometida no início da gestão, o da Cidade Inteligente. Esta proposta inclui acesso a internet gratuita em locais e prédios públicos. O edital está previsto para junho, mas não há data para que o serviço comece a funcionar.As iniciativas do programa de revitalização do centro têm sido amplamente divulgadas há meses sem falar em oferta de internet gratuita.A reportagem entrou em contato com a Solus Energias, mas não obteve retorno.