Segundo o gestor municipal de Morrinhos, mesmo estando abalada, a profissional se encontrava em uma situação melhor no dia seguinte ao fato
A enfermeira que foi feita refém por um paciente em surto, no Hospital Municipal de Morrinhos, precisou ser medicada, segundo o prefeito do município, Maycllyn Max Carreiro. Imagens gravadas dentro do hospital mostram o momento em que o homem, que foi morto pela Polícia Militar (PM), faz a profissional refém (assista acima) .
O gestor municipal informou que conversou com a enfermeira no dia seguinte ao fato, que aconteceu no último sábado (18) e que ela, mesmo estando abalada, se encontrava em uma situação melhor.
Ela não se machucou, só estava totalmente abalada. Ela foi medicada, dormiu, segue abalada, mas em uma situação melhor. Ela não quer dar entrevista por conta dessa situação, ela está em choque ainda", afirmou Maycllyn Max Carneiro.
O prefeito ressaltou ainda que o paciente, identificado como Luiz Cláudio Dias, era de outro município e que a regulação estadual o encaminhou para o Hospital Municipal da cidade.
"Ele [o paciente] não tem histórico de crises psicóticas e estava em tratamento renal em Morrinhos há três dias. Não é incomum pacientes terem delírios ou surtos durante o tratamento em uma UTI. Foi um fato totalmente atípico", disse o prefeito.
Versão da PM
Segundo a PM, o paciente estava em surto psicótico e manteve uma enfermeira refém na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ameaçando-a com um pedaço de vidro. Após a chegada dos policiais, foram iniciados protocolos para liberação da profissional, em que não se obteve sucesso.
A PM informou que, pelo risco iminente à enfermeira, foi necessário a realização de um disparo de arma de fogo para neutralizar a ação do homem. O paciente foi socorrido pela equipe médica, mas não resistiu aos ferimentos. De acordo com a corporação, um procedimento administrativo será aberto para apurar os fatos.
A reportagem solicitou um novo posicionamento à Polícia Militar na manhã desta segunda-feira (20) sobre os questionamentos da família acerca da ação da PM. A corporação manteve o mesmo posicionamento citado acima.

Paciente faz enfermeira refém em Morrinhos (Reprodução/Redes Sociais)
Família pede justiça
A família de Luiz Cláudio Dias divulgou uma carta em que pede justiça. Na nota, a família informa que o Luiz Cláudio, de 59 anos, era um paciente renal crônico, diabético, debilitado por pneumonia e internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Morrinhos em estado de extrema fragilidade e que, em um momento de surto hipoglicêmico, ele ameaçou uma enfermeira com um caco de vidro.
A família afirma que Luiz Cláudio, que estava fisicamente enfraquecido, foi rendido e imobilizado. "Mesmo nessas condições, foi pisoteado e executado à queima-roupa por dois policiais, de forma desproporcional, cruel e absolutamente inadmissível. A conduta esperada da equipe de saúde e da força policial era outra: técnica, responsável, humana e proporcional à situação, o que poderia ter evitado essa tragédia", diz um trecho do comunicado (leia íntegra ao final da reportagem) .
Em sua manifestação, a família reforça que buscará por justiça "para que os responsáveis por essa violência brutal sejam responsabilizados e para que o caso se torne um marco na reflexão sobre as falhas do poder público em lidar com situações de crise envolvendo pessoas vulneráveis", diz um trecho da nota. Para os familiares, não apenas Luiz Cláudio foi negligenciado. A segurança da enfermeira e de todos os envolvidos também foi colocada em risco.
"A técnica já tinha saído e o policial atirou no meu pai após ele estar deitado. Por que que não usou uma arma de choque, porque não só mobilizou o paciente?", afirmou Luiz Henrique Dias, filho de Luiz Cláudio, em vídeo enviado à TV Anhanguera.
Prefeitura de Morrinhos
O prefeito de Morrinhos lamentou o ocorrido, o qual classificou como 'uma tragédia'. "Era uma situação difícil, pois era um paciente que estava em surto e a profissional da saúde que estava trabalhando e que estava com risco de vida pela condição de refém. Foi uma fatalidade o que aconteceu, as negociações foram conduzidas pela Polícia Militar diante da gravidade da situação", declarou.
Em nota, a Prefeitura de Morrinhos afirmou que se solidariza com a família enlutada e assegura que será oferecido acompanhamento psicológico e social tanto aos familiares quanto à profissional e demais envolvidos na situação (leia íntegra ao final da reportagem) .
A reportagem também solicitou à Prefeitura de Morrinhos um novo posicionamento acerca do questionamento da família sobre a conduta da equipe médica, que informou que o posicionamento se mantém o mesmo enviado anteriormente.
Desabafo
Nas redes sociais, o filho de Luiz Cláudio, Luiz Henrique Dias, fez um desabafo. Ele afirmou que o pai levou um tiro dentro do hospital enquanto paciente e que ele não recebeu nenhum tipo de apoio. Segundo ele, o pai teve uma crise de hipoglicemia. Ele também fez uma publicação falando da situação.
"Mataram o amor da minha vida. O meu heroi, meu pai. Quanta covardia, que negligência médica e da equipe da UTI do hospital de Morrinhos. A justiça será feita", completa.
O filho informou que o velório de Luiz Cláudio aconteceu na sala Municipal de Velório de Professor Jamil. O enterro foi realizado às 19h de domingo (19).

Filho de paciente morto em UTI manifesta luto nas redes sociais (Reprodução/Redes Sociais)
Nota da Prefeitura de Morrinhos na íntegra
"A Prefeitura de Morrinhos lamenta profundamente o ocorrido na noite do último sábado, 18 de janeiro, quando um paciente em surto psicótico fez uma enfermeira refém na UTI onde estava hospitalizado há três dias.
Em virtude da gravidade da situação e do iminente risco à vida da profissional, a Polícia Militar foi acionada para conduzir as negociações com o paciente.
Diante da infrutífera negociação, a Polícia Militar realizou um disparo que ocasionou no óbito do paciente.
Informamos que a gestão da UTI onde o fato aconteceu é de responsabilidade de uma empresa terceirizada, com contrato vigente até março de 2025.
A atual gestão reafirma seu compromisso com a transparência, mantém-se à disposição para esclarecer os fatos e lamenta profundamente a morte do paciente.
Solidarizamo-nos com a família enlutada e asseguramos que será oferecido acompanhamento psicológico e social tanto aos familiares quanto à enfermeira e demais envolvidos na situação."
Nota da família de Luiz Cláudio Dias na íntegra
"A família de Luiz Cláudio Dias vem a público, por meio desta nota, pedir à imprensa que trate o caso com o máximo de responsabilidade, ética e empatia, evitando títulos sensacionalistas que possam distorcer os fatos ou agravar ainda mais a dor de quem já enfrenta um momento de luto profundo. É essencial que o trabalho de informar a sociedade seja conduzido com compromisso com a verdade, respeito ao contexto e sensibilidade, considerando que o ocorrido representa não apenas uma tragédia pessoal, mas também uma grave falha institucional.
Luiz Cláudio, de 59 anos, era um paciente renal crônico, diabético, debilitado por pneumonia e internado na UTI de Morrinhos/GO em estado de extrema fragilidade.
Em um momento de surto hipoglicêmico, ele ameaçou uma enfermeira com um caco de vidro. A família lamenta profundamente o medo vivido pela profissional de saúde e manifesta sua solidariedade, reafirmando que nenhum trabalhador deveria passar por situações que coloquem em risco sua segurança.
Entretanto, é imprescindível contextualizar os fatos de maneira justa e equilibrada. Luiz Cláudio, fisicamente enfraquecido, foi rendido e imobilizado. Mesmo nessas condições, foi pisoteado e executado à queima-roupa por dois policiais, de forma desproporcional, cruel e absolutamente inadmissível. A conduta esperada da equipe de saúde e da força policial era outra: técnica, responsável, humana e proporcional à situação, o que poderia ter evitado essa tragédia.
A família reforça que buscará por justiça, para que os responsáveis por essa violência brutal sejam responsabilizados e para que o caso se torne um marco na reflexão sobre as falhas do poder público em lidar com situações de crise envolvendo pessoas vulneráveis.
Não apenas Luiz Cláudio foi negligenciado; a segurança da enfermeira e de todos os envolvidos também foi colocada em risco por ações e omissões que demonstram imprudência, negligência e imperícia do Estado.
A imprensa desempenha um papel indispensável na construção de uma sociedade mais justa e informada. Por isso, pedimos que a cobertura desse caso seja feita com ética e comprometimento, sem sensacionalismo, e que a memória de Luiz Cláudio não seja reduzida a um estigma ou a uma narrativa incompleta. Ele era uma pessoa com história, família, e uma vida marcada pela luta contra problemas de saúde severos.
Por fim, a família agradece às pessoas que têm demonstrado solidariedade nesse momento de dor e clama por respeito à memória de Luiz Cláudio e ao nosso luto. Que essa tragédia sirva para promover mudanças que evitem novas vidas perdidas pela falta de preparo e humanidade nas respostas do Estado.
Família de Luiz Cláudio Dias"