O doutor em Engenharia Biomédica e Sanitarista especialista em Saúde Pública, Raphael Castro, adverte que a redução da temperatura dos animais, ainda que não alcance os níveis extremos mais graves, impactam no funcionamento natural de muitos processos biológicos, como a manutenção de um sistema imunológico ativo e eficiente. Com o sistema imunológico fragilizado, os pets se tornam suscetíveis ao adoecimento por bactérias, vírus e muitos outros agentes infecciosos e parasitários.“Nessa época de frio, os animais ajustam seu comportamento visando resistir às condições adversas do meio ambiente. Cães e gatos passam a se abrigar muito próximo, por vezes em contato direto uns com os outros, objetivando melhor manutenção mútua da temperatura corporal. Essa proximidade eleva o risco da transmissão de doenças infecciosas e parasitárias, seja a partir de secreções respiratórias ou do simples contato direto (casos dos parasitas de superfície, como sarna, pulga, carrapatos e piolhos)”, destaca.Enfermidades como a cinomose e a doença respiratória infecciosa em cães são mais frequentemente observadas no inverno. Já a rinotraqueíte, a calicivirose e a panleucopenia, mesmo não sendo exatamente relacionadas ao período de inverno, podem ser potencializadas nessa época, principalmente em gatos não vacinados de abrigos ou colônias de rua.Parasitas externos como pulgas, carrapatos, sarnas e piolhos também podem se beneficiar da aglomeração de animais frente ao frio e disseminarem entre eles.“É importante manter a vacinação dos animais em dia e realizar a vermifugação e a prevenção contra parasitas externos. Em qualquer caso ou suspeita de alteração comportamental, mudanças na frequência e aspecto das fezes e urina, no apetite ou ingestão de água, na atividade física, aspecto do pelo ou emissão de sons distintos dos habituais é extremamente importante que o animal seja levado para uma avaliação com um veterinário. Somente um profissional formado em Medicina Veterinária tem a habilitação para uma avaliação médica da saúde de um animal”, esclarece o professor da Estácio.Comportamento dos pets e os cuidados no frio“Além de falarmos sobre as doenças prevalentes no inverno é extremamente importante sabermos o que o frio, por si só, causa nos animais e em seu comportamento. Cada espécie animal possui uma faixa (ou intervalo) de temperatura considerada normal, que proporciona conforto térmico e mantém seu funcionamento biológico. Dentro desse intervalo, há uma temperatura mínima e máxima consideradas normais, onde o corpo do animal trabalha biologicamente sem alterar sua eficiência”, observa.O veterinário explica que para que essa temperatura se mantenha dentro dos limites normais, os animais precisam regulá-la, ajustando-a às variações do ambiente: em condições de frio, os animais precisam conservar o calor, reduzindo sua perda para o ambiente, e, também, aumentar a sua produção. Para isso, os animais utilizam mecanismos físicos e bioquímicos, como os tremores e aumento do metabolismo, por exemplo.“Quando a temperatura cai para níveis inferiores a temperatura mínima normal, os animais começam a estabelecer ações para conservar o calor por ele naturalmente produzido, contraindo os vasos sanguíneos periféricos, mantendo o sangue, que também é uma solução condutora do calor, mais concentrado no interior do corpo, reduzindo assim a perda do calor para o ambiente”.Outra ação comum que pode ser observada nos pets, segundo Raphael Castro, é quando eles se “enrolam” sobre o próprio corpo reduzindo seu contato com o ambiente e elevam os pelos criando um espaço extra entre sua pele e o ambiente, tudo isso a fim de retardar a perda do calor interno.“Com o avanço da redução da temperatura ambiental eles começam a aumentar a sua produção de calor, seja pelo tremor muscular ou pelo aumento em seu metabolismo bioquímico. Tudo isso é controlado pelo sistema nervoso dos animais”, explica.O docente do curso de Medicina Veterinária da Estácio destaca que quando o frio é intenso, mesmo com todas as estratégias naturais, a perda de calor para o ambiente pode ser maior que sua produção ou conservação, levando o animal a um estado de hipotermia.“Quando os animais apresentam uma temperatura de 29º C, isso compromete sua capacidade de regular sua temperatura, chegando à parada cardíaca em torno de 20º C a 25º C. Cães recém-nascidos não possuem capacidade de realizar tremores, requerendo suporte térmico de sua mãe, da ninhada ou do próprio ninho. Portanto, nessa época, é crucial oferecermos condições ambientais que contribuam para o equilíbrio e conforto térmico dos animais, como a oferta de abrigos cobertos, roupas, cama e alimentos disponíveis, principalmente para os filhotes recém-nascidos de cães e gatos. Animais de rua possuem um desafio muito maior em relação a estas condições, ficando mais vulneráveis ao adoecimento e morte, no entanto, aqueles criados e mantidos nos quintais das residências ou empresas também necessitam desse cuidado e atenção”, alerta Castro.