GABRIELLA BRAGACom a previsão de tempestades, Goiânia deve ter mais momentos de ventos fortes durante a semana. Especialistas ouvidos pelo POPULAR explicam que as condições estruturais da cidade contribuem para que estes fenômenos causem estragos. A verticalização pode proporcionar a ocorrência de corredores de ventos.O geógrafo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), o doutor em Climatologia Diego Tarley Ferreira Nascimento explica que a ação do homem tem influência. “Não é apenas a culpa da chuva. Tem de considerar a forma como ocupamos o espaço. Retirando as árvores dos lugares que mais precisam e impermeabilizando mais o solo, tornando a cidade e a população mais exposta. A árvore é uma proteção natural, a vegetação faz uma barreira. A verticalização (da cidade) acaba criando corredores de vento, barra o evento mas o direciona para outra região, então vai ser mais intenso nesses locais”, pontua.O que o especialista explica tem relação com a ventania deste domingo (26), que causou transtornos na capital, com a queda de árvores e postes em diferentes regiões e, ainda, o destelhamento de uma academia no Setor Leste Universitário. Para se ter ideia da força dos ventos, apenas nos últimos 25 dias, foram registradas 289 quedas de árvores em todo o município, conforme levantado pela Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg).Para Tarley, a intensidade do vento em uma tempestade está também associada ao poder de destruição, e não apenas à velocidade. “O vento é o ar em movimento, e ocorre pela influência da variação da pressão atmosférica. Quando ocorre chuvas tem a instabilidade atmosférica, e há variação nos ventos. Em uma condição de maior temperatura vai ocorrer uma chuva mais intensa, pois há maior variação da pressão atmosférica”, acrescenta.Conforme ele, os eventos extremos, como as tempestades, serão mais frequentes diante do atraso no período chuvoso. “Não vai haver mudança da quantidade, mas em distribuição mensal. A chuva vai ocorrer no mesmo volume mas num período menor”, explica. Por isso, considera que danos à infraestrutura urbana se tornem mais comuns, ao menos até o final da influência do El Niño. O fenômeno deve se intensificar em dezembro e dissipar até março.Na região do Setor Leste Universitário, onde o telhado da WI Personal Studio foi levado pela força do vento, a queda d’água atingiu 50 mm em 24 horas. Gerente do Centro de Informação Meteorológica e Hidrológica do Estado de Goiás (Cimehgo), André Amorim explica que a situação ocorre por conta de um corredor de vento no local. “O vento entra num corredor e tenta sair para um lado e bate numa parede, para o outro, e bate em outra parede, até sair lá na frente. É muito rápido, questão de segundos. Essas barreiras artificiais acabam conduzindo (o vento)”.Entre domingo (26) e esta segunda-feira (27), foram 41 quedas. De acordo com o Cimehgo, as rajadas de vento alcançaram média de 55 quilômetros por hora (km/h). A precipitação máxima foi de 121,6 milímetros (mm) na região Leste da capital.Um vídeo que circula na internet mostra a cobertura do estabelecimento sendo levada em segundos. O POPULAR esteve no local na manhã desta segunda-feira (27) e a academia seguia sem o telhado. A unidade publicou nas redes sociais, na noite de domingo (26), que todas as atividades ficarão “temporariamente suspensas devido aos danos no nosso espaço físico após as chuvas”. Ainda não há data para retorno do funcionamento. A reportagem tentou contato, mas sem sucesso.A tempestade que atingiu a capital no final de semana também causou transtorno aos moradores do Conjunto Vera Cruz II. Na Rua VC-57 uma árvore e um poste caíram após a ventania. Na região, de acordo com a Equatorial Energia, ao menos 11 postes foram danificados, com comprometimento do fornecimento de energia elétrica aos moradores locais. A concessionária registrou queda de ao menos 600 postes em novembro. Entre sábado (25) e domingo (26), foram 42 ocorrências de postes caídos.“Entre os principais motivos para o tombamento das estruturas estão: tempestades, ventos intensos, árvores, objetos estranhos que são lançados contra a rede e ainda colisões de veículos contra os postes”, diz a Equatorial, em nota. A concessionária explica ainda que os curtos-circuitos são comuns em épocas de chuvas. “Eles são provocados quando um cabo se parte, em função de um raio que atinge o fio, ou quando uma árvore cai sobre a rede. Com isso os elos fusíveis são rompidos e o curto é registrado”, detalha.Semana deve ter tempestadesAmorim destaca que a previsão para a semana é de tempestades. O tempo, entretanto, vai ficar irregular, com partes do dia variando entre sol e chuva. A combinação entre calor e umidade é, inclusive, um dos fatores para a formação de fortes chuvas. “Estava muito quente e o contato da massa quente com massa úmida gera formação de nuvens de chuva, gera áreas de instabilidade, de tempestades. No próximo final de semana teremos outra frente fria, não entra em Goiás, mas vai influenciar”, explica.As temperaturas são influenciadas pelo fenômeno climático El Niño, que as mantém mais altas. “O tempo fica com temperaturas mais elevadas. Vem frente fria e aí não tem como”, diz. As fortes chuvas conhecidas como tempestades são acompanhadas de rajadas de vento e descargas elétricas, como os raios.O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou que deve haver chuvas intensas em Goiás entre esta terça-feira (28) e o dia 6 de dezembro, com volumes acima de 90 milímetros (mm), e possibilidade de tempestades. Para dezembro, a previsão é quedas d’água acima da média, com volumes que podem superar 300 mm.