Goiás está entre as 17 unidades da federação com pelo menos uma Macrorregião de Saúde de alta tendência de aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) em curto ou longo prazo, ou seja, nas próximas três ou seis semanas.Isso significa que nos próximos dias poderá haver um aumento na quantidade de hospitalizações por coronavírus (Sars-CoV-2), seguido pelo crescimento no número de mortes ocasionada pelo vírus. Os números são do último boletim epidemiológico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de sexta-feira (21).A Macrorregião de Goiás com alta tendência de aumento de Srag, segundo a Fiocruz, é a Centro-Sudoeste, que inclui as regiões de Estrada de Ferro, polo Catalão; Centro Sul, polo Aparecida de Goiânia; e Sul, polo Itumbiara. Atualmente, segundo cálculo da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), as três regiões estão na classificação “crítica”, considerada como de gravidade intermediária, a partir de índices como Srag, ocupação de leitos, óbitos e velocidade de transmissão.Levantamento da Rede Análise Covid-19 já mostra aumento de pessoas com sintomas típicos da Covid-19 no Estado, a partir de estatística da Universidade de Maryland em conjunto com o Facebook.O boletim da Fiocruz também coloca Goiás entre as unidades da federação com sinais de interrupção da tendência de queda de notificação de Srag. Para a Fiocruz, estes sinais pedem cautela na flexibilização de medidas de distanciamento social para redução da transmissão do vírus.As notificações de Srag são um dos indicadores utilizados para monitorar a pandemia do coronavírus. Segundo o titular da SES-GO, os casos de Srag pararam de cair na semana passada, enquanto a velocidade de transmissão do coronavírus, o chamado “Re”, tem subido.Além disso, a procura na porta de unidades de saúde teria aumentado. Na semana passada, a ocupação do Hospital de Campanha (HCamp) de Goiânia saiu de 82% para 94%, segundo o secretário.No entanto, ele considera que isso não vai refletir necessariamente no aumento de mortos, embora deva aumentar a taxa de ocupação dos hospitais. “Não se trata de terceira onda, mas repique de segunda, pois a segunda onda não baixou ainda”, avalia.O cientista de dados e coordenador na Rede Análise Covid-19, Isaac Schrastzhaupt, aponta para o que chama de reversão de tendência de queda em Goiás e no País.“A gente teve esse pico forte ali atrás (março), a gente conseguiu reverter com as medidas de restrição de mobilidade. Começou a cair, só que essa velocidade de queda começou a desacelerar, começou a cair cada vez mais devagar, até que começou a estabilizar e agora já está revertendo. Ou seja, já está querendo virar aumento de novo”, explica o pesquisador.Além de tendências de novos casos e mortes, a Rede Análise também trabalha com uma pesquisa da Universidade de Maryland em parceria com o Facebook, em que são feitas perguntas sobre a pandemia pela internet.“Esses dados de sintomáticos acabam prevendo o que vai acontecer lá na frente. Essa reversão de queda de sintomáticos começou a aparecer muito claramente também em todos o Estados, inclusive Goiás. Isso significa que essas pessoas, lá na frente, vão virar casos notificados, depois, infelizmente, internações hospitalares e depois óbitos. Aquele caminho triste que a gente já conhece.”No caso de Goiás, o gráfico dessa pesquisa da universidade com o Facebook mostra não só a interrupção da queda de sintomas reportados, como também uma tendência de aumento.Alertas sobre essa reversão de tendência de queda foram feitos por Isaac no mês de janeiro, o que acabou se concretizando, no caso de Goiás, no mês de março com recorde de mortes, hospitalização e fila de espera por Unidade de Terapia Intensiva (UTI).O cientista de dados aponta que a cobertura vacinal no País, o que inclui Goiás, atualmente é muito baixa e não é suficiente para evitar um aumento de casos. Isaac lembra que para a vacinação ser efetiva, ela deve ser coletiva.Para ilustrar, ele cita o processo de imunização como um jogo de futebol. A vacina seria um ótimo goleiro, que segura quase todas as bolas, que seriam a doença.No entanto, quando poucas pessoas são vacinadas, os que estão imunizados podem receber uma grande pressão, com mais “bolas” tentando entrar e talvez com jogadores melhores, o que seriam as novas variantes mais agressivas.O pesquisador explica que sem vacinação em massa, a solução para evitar mais mortes são medidas restritivas, evitando que as pessoas tenham contato umas com as outras. Ele defende que isso deve ser feito como prevenção, antes do aumento descontrolado de casos.No entanto, segundo Isaac, as medidas restritivas no País têm sido de forma reativa, depois que a doença já se espalhou muito. “Quanto antes fizer isso, menos mortes você gera.”