Geral

Com estoque baixo, distribuição de anti-HIV é limitada em Goiás

Marco Monteiro
Farmácia do Hospital de Doenças Tropicais (HDT)

O racionamento de medicamento indicado para tratar o vírus da HIV/Aids, em Goiás, provoca insegurança em pessoas soropositivas. A distribuição que antes era realizada em uma quantidade de uso para três meses aos pacientes, está sendo contabilizada apenas para um mês. A redução afeta moradores do interior que precisam viajar para retirar o antirretroviral, considerando o aumento de duas vezes no descolamento a cada três meses. O cenário preocupa ONGs e especialistas, que julgam existir negligência para um tratamento contínuo e que exige preparo público.

A Lamivudina é utilizada em combinação com a Zidovudina e reduz a carga viral do HIV. O tratamento aumenta a contagem de células CD4, que são parasitadas pela Infecção Sexualmente Transmissível (IST). Este conjunto é capaz de desacelerar a progressão da doença e reduzir significativamente a chance de mortalidade. Tâmara Fabíola Gonçalves, de 32 anos, compõe a diretoria da Associação Grupo Aids: Apoio, Vida, Esperança (AAVE), em Goiânia, e relembra que o tratamento eficaz em pessoas que vivem com o HIV/Aids contribui para diminuir os riscos de transmissão.

“O tratamento é importante para quem tem e quem não tem, uma pessoa que adere ao tratamento correto não transmite o vírus mesmo em relação sexual não protegida, a quantidade de vírus no corpo é tão pequena que não consegue contaminar”, afirma Tâmara. A mulher alerta também para a iminência de crescimento dos casos de infecção do vírus após o período mais crítico da pandemia da Covid-19 pelo baixo controle de testagem nos últimos anos e escassez de acesso à informação de grupos de risco. “Se continuar com este tipo de redução, o perigo é que a doença volte a matar o que matava antes”, desabafa.

Quantidade

Ao todo, o Hospital de Doenças Tropicais (HDT) informou a AAVE que há em torno de 27 mil comprimidos para o tratamento, que deve ser tomado duas vezes ao dia. Cerca de 12 mil pessoas fazem tratamento e retiram a medicação na unidade. De acordo com ela, as pessoas soropositivas que integram as ONGs relatam constante medo da falta de medicação.

“Este medicamento é essencial e a primeira indicação para pessoa soropositiva, estando de acordo com o protocolo de diretrizes de saúde”. Tâmara acrescenta que chegou a protocolar uma carta pedindo posicionamento do Ministério Público de Saúde (MP-GO), mas não obteve retorno até a entrevista com o DAQUI.

A Secretaria de Saúde do Estado de Goiás (SES-GO) aponta que o racionamento não afetou os medicamentos coformulados, e está sendo feito em 16 locais no estado, normalmente ocorre no prazo de 90 dias, e está sendo realizada com 30 dias. Também, ressalta que esta redução no tempo é prevista pelo Ministério da Saúde que, por sua vez, prevê a regularização da dispensação para segunda quinzena de novembro.

Cortes

A queda de 17,4% (R$407 milhões) na previsão orçamentária do governo federal para prevenção, controle e tratamento de HIV/Aids e outras ISTs no ano de 2023 também é refutada em carta de repúdio contra a baixa de estoque do medicamento Lamivudina, a AAVE se une a movimentos sociais que atuam na luta contra a Aids no estado de Goiás: Pastoral da Aids, Grupo Pela Vidda, Centro de Apoio aos Doentes de Aids, RNP+ e Cidadãs Positivas.

O médico infectologista Marcelo Daher enfatiza que o Brasil era visto como referência no sistema de abastecimento e controle da doença e, agora, com o corte de verba, o País vai ficar mais longe um pouco dessa realidade e de uma possível modernização no tratamento oferecido para os cidadãos que convivem com o vírus HIV/Aids. “Estamos falando de medicamentos que não são tão baratos para a população comprar e que são de um programa que foi exemplo pro mundo”, comenta. “Essa diminuição de recurso impacta em exames de rotina, medicamentos e atendimentos do paciente. Isso pode trazer um prejuízo e um risco muito grande para toda a população”, diz.

Na carta de repúdio, as associações reforçam que os cortes representam um forte ataque à população brasileira. “Em especial grupos vulneráveis à Aids e outras ISTs como LGBTQIA+, profissionais do sexo, pessoas com baixa escolaridade, negros e pessoas que vivem com HIV/Aids, que são proporcionalmente impactadas com a redução de verbas”, escreve. Ainda, prejudica políticas de gênero, assistência social, educação sexual e saúde.”

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