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Saiba os perigos do uso do PMMA para fins estéticos

Veja por que entidades médicas não recomendam o uso do produto em casos como da influencer Aline Ferreira

Modificado em 17/09/2024, 16:35

Morte da modelo e influenciadora digital Aline Ferreira reacende o alerta para os perigos do uso do PMMA para fins estéticos.

Morte da modelo e influenciadora digital Aline Ferreira reacende o alerta para os perigos do uso do PMMA para fins estéticos. (Reprodução/Redes sociais)

O caso da morte da modelo e influenciadora digital Aline Ferreira, de 33 anos, reavivou o alerta para os perigos do uso do PMMA para fins estéticos. O polimetilmetacrilato foi injetado nos glúteos de Aline em uma clínica estética de Goiânia por Grazielly da Silva Barbosa, que não possui formação acadêmica e se autointitulava biomédica para realizar os atendimentos. A substância, no entanto, é contraindicada em procedimentos estéticos pelas entidades médicas pelos riscos à saúde, principalmente pelo fato de ser um preenchedor definitivo (que não é absorvido pelo corpo). O risco é ainda maior quando o produto é administrado por pessoas sem preparo.

A advogada Katia Diniz, de 60 anos, procurou um médico em 2019 para realizar um procedimento em seu rosto para amenizar rugas e linhas de expressão na região conhecida como 'bigode chinês', próxima à boca e nariz. "Tive informação que foi usado um tipo de colágeno no meu rosto", conta. Ela foi enganada. Após apresentar as primeiras complicações, cerca de um ano depois, exames de imagem revelaram que a substância usada em Katia era, na realidade, o PMMA.

Dores, inchaço e edemas no rosto levaram a advogada a procurar os médicos para entender o que estava acontecendo. Na maioria dos casos, é preciso um procedimento cirúrgico para fazer a retirada do produto. O quadro de Katia pôde ser revertido com o uso de um medicamento chamado tofacitinibe, em um tratamento experimental.

O polimetilmetacrilato (PMMA) é um componente plástico com diversas utilizações na área de saúde e em outros setores, com uso em lentes de contato, implantes de esôfago, cimento ortopédico, entre outros. Uma das aplicações desse tipo de produto é para o preenchimento cutâneo, com uso específico por profissionais habilitados. A Anvisa esclarece que o produto não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos, porém, não há indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial. Cabe, portanto, ao profissional médico responsável avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto.

O cirurgião plástico Marcelo Soares, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), destaca que "novas formas de PMMA", que surgem vez ou outra, seguem não sendo seguras para fins estéticos. "O PMMA tem ciclos. Depois de repercussões dos problemas causados pela substância, esquecem de tudo, ele ressurge como se tivesse uma nova roupagem, mas segue sendo o polimetilmetacrilato, não é um PMMA diferente", diz. Ele lembra também do caso de recente de Wesley Murakami, médico que foi denunciado por 14 pacientes por complicações após o uso do PMMA.

Complicações

O PMMA pode causar complicações semelhantes às de outros preenchedores, esclarece a médica dermatologista e professora da UFG Mayra Ianhez. No entanto, pelo fato de ser um preenchedor definitivo, as complicações são permanentes. "A mais grave delas é a embolia pulmonar, que pode ocorrer quando se injeta grandes quantidades para volumização", diz. Ela lembra do caso do 'Doutor Bumbum', que escandalizou o País há três anos. O médico Denis Cesar Barros Furtado, conhecido por Doutor Bumbum, realizava os procedimentos na sala de um apartamento e foi responsável pela morte de uma mulher após a aplicação de PMMA, que teria ocasionado uma embolia pulmonar.

"Só que no caso de outros preenchedores, como o ácido hialurônico, é possível dissolver a substância com um antídoto, no caso a hialuronidase", explica. As complicações pelo PMMA são permanentes, não possuem um "antídoto" e nem um método eficaz para a retirada do produto, pois a cirurgia consegue remover apenas parcialmente.

Aplicado na face, o produto pode provocar necrose de nariz, lábios e até a cegueira também é uma reação temida. Novamente: tal complicação pode ocorrer com qualquer tipo de preenchedor, mas no caso do PMMA não há tratamento que seja eficaz para impedir o dano ao tecido isquêmico. O caso de Mariana Michelini, de 35 anos, que perdeu o lábio superior após preenchimento com PMMA, também teve grande repercussão recente.

Reações tardias também podem ser ocasionadas pelo uso do PMMA, como os nódulos inflamatórios, não inflamatórios e migração do produto, que podem acontecer de meses até anos depois da injeção do produto. "Já acompanhamos pacientes internados com infecções repetidas, que usam corticoides a vida inteira para controlar as inflamações e acabam desenvolvendo outros problemas, como diabetes, osteoporose e glaucoma por conta da medicação", diz.

Mayra lida com complicações relacionadas a preenchedores há muitos anos, mas somente há dois anos tomou conhecimento de uma outra complicação pelo uso de PMMA: insuficiência renal. A Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) está realizando um estudo sobre alterações renais ligadas à substância, que podem acontecer de meses a anos após a injeção do produto. "No momento, estou tratando quatro pacientes em consultório com o problema."

Casos como o da influencer não são uma novidade em Goiânia. Em outubro de 2014 houve uma grande repercussão devido à morte de Maria José Medrado de Souza Brandão, 39, após uma aplicação de hidrogel para aumentar o bumbum em uma clínica estética capital. Na época, a família informou que o procedimento havia sido realizado por uma mulher que se apresentou como biomédica. Durante a investigação, a polícia constatou que a mulher não era biomédica, e simplesmente havia feito um curso de bioplastia estética com duração de 15 dias. Mais de 15 pacientes prestaram depoimento relatando complicações.

Apesar dos alertas desde então, os problemas continuam recorrentes no noticiário. No mês passado, a Polícia Civil cumpriu dois mandados de busca e apreensão contra uma enfermeira em Goiânia, suspeita de causar lesões e infecções em pacientes ao fazer uso de PMMA em procedimentos estéticos em diversas regiões do corpo das vítimas, como glúteos, coxas, peitos e partes íntimas.

Em dezembro de 2022, o cantor Naldo Benny dividiu em suas redes sociais uma complicação após uma bioplastia no nariz, também chamada de rinomodelação. A intervenção causou um princípio de necrose do nariz e foi feita com aplicação de ácido hialurônico de alta densidade. O procedimento também é frequentemente feito com PMMA, algo denunciado pelo perfil Vítimas da Bioplastia no Instagram (@vitimasdabioplastia). Na bio da página há um formulário para que pacientes com complicações pelo uso de PMMA contribuam para um estudo sobre reações adversas e riscos à saúde.

Cuidado

A Anvisa orienta que o produto só pode ser administrado por profissionais treinados e, para cada paciente, o médico deve determinar as doses e o número de injeções necessárias, dependendo das características de cada paciente, das áreas a serem tratadas e do tipo de indicação.

"O carro sempre foi o mesmo, o problema é quem dirige. As complicações de preenchedores estão ligadas principalmente a infecção e técnica inadequada. Vimos recentemente o caso do uso do fenol, que usamos há mais de 50 anos na medicina e agora estamos proibidos de usar por causa da morte pelas mãos de uma pessoa que não é capacitada", diz Mayra.
Registro

Além de não possuir curso superior algum, a dona da clínica Ame-se, em Goiânia, Grazielly da Silva Barbosa, responsável pela morte da influenciadora Aline Maria Ferreira, afirmava ser biomédica. O Conselho Regional de Biomedicina (CRBM) de Goiás afirmou que não foi encontrado nenhum registro profissional no nome de Grazielly. O presidente do CRBM, Renato Pedreiro Miguel, esclarece que a atuação dos biomédicos em estética está restrita a procedimentos não invasivos de acordo com a resolução nº 241.
"As pessoas não podem agir de forma leviana. É preciso procurar um profissional devidamente habilitado. Essa pessoa que se intitulou biomédica sequer estudou", comenta. Ele orienta a população que antes de se submeter a procedimentos do tipo e colocar a saúde e a vida em risco, entre no site dos conselhos regionais para consultar o nome e/ou CPF do profissional para conferir se é habilitado ou não.

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Bolsonaro segue estável em UTI com recomendação de não receber visitas

Ex-presidente passou por uma cirurgia de 12 horas para desobstrução intestinal. Procedimento correu bem, segundo médicos

Modificado em 15/04/2025, 16:58

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)  internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília (Reprodução/Instagram)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) permanece internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, nesta terça-feira (15), com quadro estável,sem previsão de alta e com a recomendação de não receber visitas.

Em nota divulgada nesta manhã, o hospital afirmou queBolsonaro está em acompanhamento do pós-operatório e fará fisioterapias.

"Mantém estabilidade clínica, sem dor, sangramentos ou outras intercorrências. Tem previsão de fisioterapias motora (com deambulação) e respiratória. Persiste a recomendação de não receber visitas e não há previsão de alta da UTI."

Mais cedo, em redes sociais, Bolsonaro disse que "as primeiras 48 horas após a cirurgia são fundamentais para avaliar nossa recuperação" e que, por orientação médica, só "familiares e profissionais de saúde estão autorizados a acompanhar de perto".

"Permaneço concentrado no processo de recuperação, que pelo que entendo foi procedimento mais invasivo que aconteceu, buscando forças para levantar da cama mais uma vez, após enfrentar a sexta cirurgia decorrente da facada sofrida por um antigo integrante do PSOL, aliado histórico do PT", escreveu, voltando a citar a facada da qual foi alvo em 2018.

Declarado inelegível até 2030 e réu no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a acusação de tentativa de golpe de Estado no final de seu governo, Bolsonaro está internado em Brasília desde sábado (12), após passar mal em evento em Natal no dia anterior.

No domingo (13),passou por uma cirurgia de 12 horas para desobstrução intestinal , procedimento que correu bem, segundo seus médicos, e foi o mais longo dos já realizados desde que o ex-presidente levou a facada na campanha eleitoral de 2018.

Bolsonaro deverá ficar internado pelo menos mais duas semanas e enfrentar restrições no pós-operatório por um período de dois a três meses.

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Mutilações fazem estética virar caso de saúde pública

Desde 2023, o Estado registrou pelo menos 10 casos de grande repercussão que acabaram na polícia. Em dois episódios, mulheres morreram após aplicações de produtos

Modificado em 22/03/2025, 08:21

Polícia Civil prende Maria Silvânia na Operação Beleza Sem B.O.

Polícia Civil prende Maria Silvânia na Operação Beleza Sem B.O. (Divulgação/Policia Civil)

O aumento de casos de procedimentos estéticos que resultam em lesões, mutilações e deformidades, dentre outras sequelas, tornou o assunto uma questão de saúde pública. Desde 2023, Goiás registrou pelo menos dez casos de grande repercussão que acabaram na polícia. Em dois episódios, ocorridos no segundo semestre de 2024, mulheres morreram após se submeterem a aplicações de diferentes produtos.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2018 a 2023 os serviços de estética e embelezamento figuraram como os mais denunciados junto à agência dentre os "serviços de interesse à saúde", categoria que inclui também serviços de hotelaria, estúdios de tatuagem e instituições de longa permanência para idosos, por exemplo. Em 2023, 61,3% das denúncias estavam relacionadas a serviços de estética e embelezamento.

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Nos casos ocorridos em Goiás levantados pela redação, foram verificados alguns padrões. Em pelo menos seis situações, as pessoas que faziam os procedimentos não tinham nenhum tipo de habilitação, mas se passavam por profissionais capacitados. Além disso, algumas das clínicas eram de pessoas famosas nas redes sociais. O uso de PMMA, sigla para polimetilmetacrilato -- substância que já foi usada como preenchedor, mas se mostrou arriscada --, também foi verificado em parte dos casos.

Karine Giselle Gouveia, dona de uma clínica de estética fechada em 2024 por conta da suspeita de realização de uma série de procedimentos estéticos malsucedidos, é um exemplo. Apesar de não possuir formação na área, tinha quase 950 mil seguidores apenas no Instagram, rede social em que fazia publicações sobre procedimentos estéticos e sobre a própria rotina. A defesa de Karine nega que a clínica já tenha utilizado qualquer substância ilícita ou proibida.

Nesta quinta-feira (20), a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon) deflagrou a Operação Beleza Sem B.O. As investigadas são Luana Nadejda Jaime, dona de uma clínica em Goiânia, e Maria Silvânia Ribeiro da Silva, proprietária de um estabelecimento em Aparecida de Goiânia. Maria Silvânia foi presa e Luana está foragida. A reportagem não localizou a defesa de ambas.

No final de 2023, uma paciente foi internada em uma unidade de pronto atendimento (UTI) e entubada após aplicação de substância injetável na clínica de Maria Silvânia. A Vigilância Sanitária de Aparecida interditou o local e ela foi ouvida pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO). Na ocasião, ela disse que havia feito uma pós-graduação com Luana, que também passou a ser investigada. Foi apurado que ela era suspeita de cometer lesão corporal contra quatro pessoas, sendo uma delas de um homem que passou por um "preenchimento íntimo" na região peniana e alega ter perdido a funcionalidade do membro após o procedimento. O produto usado teria sido PMMA.

Em 2024, as clínicas da dupla foram fiscalizadas pela Decon em conjunto com a Vigilância Sanitária. Mesmo assim, as mulheres continuaram ofertando, nas redes sociais, procedimentos estéticos invasivos. Além disso, ambas tinham registros -- obtidos por meio da apresentação de diplomas falsos -- no Conselho Regional de Enfermagem (Coren). Eles foram cancelados no final de 2024. Entretanto, quando foi presa nesta quinta, Maria Silvânia estava atuando com um novo número de registro. Questionado, o Coren informou, em nota, que já está ciente do caso e que, como as mulheres não são enfermeiras, "cabe agora às autoridades o cumprimento da justiça e o andamento do processo conforme a legalidade". (Mariana Milioni é estagiária do GJC em convênio com a PUC Goiás)

Pacientes têm vidas arruinadas

A ação de falsos profissionais ou então de profissionais que executam procedimentos que não estão habilitados a realizarem -- como dentistas que realizaram rinoplastias -- deixa um rastro de destruição na vida das vítimas. Em 2023, a motorista de aplicativo Ana Priscila Santos da Silva, de 36 anos, procurou a enfermeira Marcilane da Silva Espíndola para realizar aplicações com fim de harmonização dos seios e glúteos. O procedimento custou R$ 5,5 mil.

Depois da aplicação, Ana Priscila começou a sentir dores. Inicialmente, ela pediu a ajuda de Marcilane, que aplicou uma injeção nela. As dores não apresentaram melhora e Ana Priscila procurou uma unidade de saúde. Então, foi encaminhada para o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), onde descobriu que o material injetado era PMMA. Ela já foi internada várias vezes para realizar a retirada do produto. O último procedimento cirúrgico ocorreu nesta quarta-feira (19). A mulher relata que, mesmo após as intervenções, ainda sente dores físicas. Ela tem dificuldade para dirigir, por exemplo. As deformidades nos seios de Ana Priscila prejudicam sua autoestima e saúde mental. "Estou péssima. Muita ansiedade", conta. A defesa afirma que Marcilane não cometeu qualquer ato censurável.

Relatos como o de Ana Priscila se repetem. Entretanto, existem casos ainda mais trágicos. No segundo semestre de 2024, duas mulheres morreram por conta de procedimentos estéticos malsucedidos. Segundo as investigações, Aline Maria Ferreira da Silva, de 33 anos, morreu após ter tido PMMA aplicados nos glúteos. A ré do caso é Grazielly da Silva Barbosa, que não tem formação na área. A defesa dela alega inocência. Já Danielle Mendes Xavier de Brito, de 44 anos, morreu após a realização de uma aplicação no rosto. A responsável pela aplicação foi a enfermeira Quesia Rodrigues Biangulo Lima. A defesa dela diz que, por enquanto, não vai se manifestar.

Vigilância sanitária promove campanhas

Com o avanço dos casos de procedimentos estéticos malsucedidos envolvendo clínicas irregulares, a utilização de produtos proibidos e a atividade de pessoas sem as credenciais adequadas para a atuação na área, a Vigilância Sanitária tem atuado na tentativa de coibir as más práticas. Segundo a Anvisa, o número elevado de denúncias relacionadas a serviços de estética e embelezamento sinaliza que a grande quantidade de estabelecimentos disponíveis e a diversidade de técnicas e procedimentos estão relacionadas ao número elevado de relatos de irregularidades.

Em fevereiro de 2025, a Anvisa realizou a operação Estética Com Segurança em parceria com as vigilâncias sanitárias estaduais e municipais. Clínicas de quatro Estados foram fiscalizadas. Um dos estabelecimentos interditados ficava em Goiânia e funcionava na cozinha de um apartamento. Foram encontrados produtos com prazo de validade vencido e as equipes descobriram anotações referentes a dois casos de infecção, sendo um deles por micobactéria, após procedimentos realizados na clínica. Os casos não haviam sido notificados ao sistema de saúde público, contrariando a legislação, que estabelece a notificação compulsória.

Em Goiás, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) possui a ação De Olho na Beleza. Por meio dela, a Superintendência de Vigilância Sanitária, Ambiental e Saúde do Trabalhador (Suvisa) promoveu reuniões estratégicas com os conselhos regionais de Enfermagem, Farmácia, Odontologia, Fisioterapia, Biomedicina e Biologia. O objetivo foi alinhar medidas conjuntas para aumentar a segurança nos procedimentos estéticos. "Tornou-se um problema de saúde pública", aponta Flúvia Amorim, superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás.

O auditor fiscal de Saúde Pública da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Dagoberto Costa, atua há 25 anos na área e relata que mais recentemente houve uma explosão de casos de irregularidades ligadas a procedimentos estéticos. Na capital, o órgão municipal tem procurado trabalhar em parceria com a Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO). Além da esfera criminal, no âmbito da Vigilância Sanitária os estabelecimentos irregulares podem sofrer desde multas até a apreensão de produtos e interdição.

Nesse sentido, Costa alerta para alguns sinais aos quais a população deve ficar alerta antes de se submeter a procedimentos estéticos como, por exemplo, verificar o alvará sanitário do estabelecimento, saber qual material está sendo utilizado -- inclusive se está dentro da data de validade -- e verificar se o profissional responsável está habilitado no conselho da classe. "Também é importante saber o que você realmente precisa e tomar cuidado com as redes sociais", finaliza.

Conselho de Odontologia quer liberação de cirurgias no rosto

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) quer permitir que dentistas possam fazer cirurgias plásticas no rosto. De acordo com o próprio conselho, a instituição tem trabalhado na elaboração de uma resolução sobre as "cirurgias estéticas da face", cujos estudos estão em andamento. A classe médica se posiciona contra o documento e defende que procedimentos como, por exemplo, rinoplastias, só sejam realizados por médicos. Atualmente, a Resolução CFO 198/2019, já permite aos dentistas a prática de harmonização orofacial.

Em nota, o CFO defendeu que o termo cirurgia plástica facial é "equivocado" e que "não estão definidos os procedimentos a serem englobados na futura resolução e as respectivas exigências da regulamentação", sendo que os detalhes completos sobre o tema serão divulgados após a publicação.

O conselho ainda esclareceu que "as cirurgias estéticas da face vão representar um avanço importante para a Odontologia, com reconhecimento das competências legais e técnico-científicas dos cirurgiões-dentistas para atuação na área e, principalmente, serão um passo significativo para a segurança da população, que terá acesso a novos procedimentos regulamentados de forma rígida e adequada".

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica -- Regional Goiás (SBCP-GO), Fabiano Arruda, é um crítico da movimentação do CFO. "Não é mudando o nome (de cirurgias plásticas para cirurgias estéticas da face) que vão conseguir mudar o que esses procedimentos causam e as repercussões que eles têm no organismo. Essa resolução representa, para os pacientes, um risco", argumenta.

Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou que "considera essa medida um grave risco à saúde da população, especialmente em um momento em que se multiplicam denúncias de complicações em procedimentos realizados por profissionais sem formação médica completa para essas intervenções" e que comunicou que "atuará junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM) para adotar todas as medidas necessárias a fim de impedir que essa decisão seja implementada".

O conselho ainda explicou que "cirurgias plásticas faciais são atos complexos que demandam profundo conhecimento da anatomia humana e técnicas cirúrgicas adquiridas apenas após longos anos de formação médica: seis anos de graduação em medicina, seguidos por três anos de residência em cirurgia geral e mais três anos de residência em cirurgia plástica" e destacou que "permitir que profissionais sem essa trajetória realizem tais procedimentos é colocar em risco a segurança, a integridade e a vida dos pacientes".

Geral

Justiça mantém prisão de casal dono de clínica suspeito de causar deformação em pacientes

Karine Giselle Gouveia e Paulo César Dias Gonçalves tiveram a prisão preventiva mantida pela juíza Ana Cláudia Veloso Magalhães, em audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (13)

Modificado em 13/03/2025, 21:06

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

À esquerda, o casal Karine Gouveia e Paulo Cesar, donos da clínica investigada. À direita, paciente com nariz necrosado após um procedimento feito na clínica (Reprodução/Redes Sociais e Divulgação/Polícia Civil)

A Justiça manteve a prisão preventiva do casal Karine Giselle Gouveia, de 34 anos, e Paulo César Dias Gonçalves, 44, donos de uma clínica de estética acusada de deformar pacientes em Goiânia, em audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (13).

Em nota enviada ao POPULAR , o advogado de Paulo César, Tito Amaral, classificou a decisão como "absurda".

São apenas falácias e narrativas na tentativa de induzir a erro o Poder Judiciário. Já estamos trabalhando, elaborando os recursos cabíveis e necessários, e iremos acionar todas as instâncias do Poder Judiciário, até mesmo, se necessário, o STJ e o STF, objetivando cessar esta absoluta ilegalidade", disse em um trecho da nota (leia na íntegra ao final da matéria).

A reportagem também solicitou um posicionamento para a defesa de Karine Gouveia, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria.

Segundo um trecho do documento da audiência, assinado pela juíza Ana Cláudia Veloso Magalhães, os elementos da prisão preventiva contra o casal persistem, "uma vez que permanecem sólidas as provas da materialidade dos delitos e os indícios de autoria".

Karine Gouveia e Paulo César foram presos novamente na quarta-feira (12). Ainda de acordo com o documento, o casal deve ser encaminhado ao complexo prisional.

O casal foi preso pela primeira vez em 18 de dezembro do ano passado. Aos dois, a ministra do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) Daniela Teixeira concedeu liberdade com medidas cautelares, em 8 de fevereiro.

Na decisão do STJ, eles estavam proibidos de manter contato com os funcionários das clínicas e fazer qualquer divulgação na internet sobre procedimentos estéticos.

Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

Foto mostra vítimas com nariz necrosado e a paciente entubada após o procedimento. (Divulgação/Polícia Civil)

Entenda o caso

Em dezembro de 2024, a Polícia Civil (PC) prendeu preventivamente Karine Gouveia e o seu marido, Paulo César, proprietários da clínica Karine Gouveia Estética (KGG), localizada na capital.

A prisão, realizada pela 4ª Delegacia de Polícia de Goiânia, foi decretada pela 1ª Vara das Garantias da Comarca de Goiânia, sob graves acusações de crimes relacionados a procedimentos estéticos e cirúrgicos realizados na clínica.

De acordo com a polícia, a investigação foi iniciada em fevereiro de 2024, quando foi revelado que a clínica KGG realizava procedimentos de alto risco, como rinoplastias, lipoaspirações, aplicações de botox e preenchimentos faciais, sem a devida autorização e com o uso de substâncias proibidas, como o (PMMA), e agora a apuração indica também a utilização de óleo de silicone.

O delegado Daniel José de Oliveira apontou que a clínica funcionava de forma organizada e hierárquica, com estratégias de marketing agressivas e a participação de profissionais sem a qualificação necessária.

Além disso, a clínica comercializava medicamentos manipulados de forma irregular, incluindo substâncias proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Conforme Oliveira, essas substâncias podem causar deformidades permanentes, necroses, infecções graves e outras complicações de saúde. Ao todo, mais de 70 pessoas procuraram a delegacia como vítimas dos investigados, segundo o delegado.

Nessa nova fase das investigações, a polícia suspeita que o número de vítimas chegue a 954, com base nos atendimentos realizados também entre março de 2028 e março de 2019. Para Oliveira, esses pacientes podem ter sido submetidos a aplicação de óleo de silicone durante procedimentos estéticos, o que pode causar inflamações, deformidades e outros danos à saúde.

Diante de riscos à saúde, o delegado recomendou que os pacientes da clínica KGG procurem um médico com urgência e solicitem um exame de ultrassom dermatológico com doppler. Esse exame, segundo o investigador, pode detectar substâncias não absorvíveis pelo corpo, como o óleo de silicone. E, se o resultado der positivo, a pessoa é orientada a procurar a 4ª Delegacia Distrital de Goiânia para prestar depoimento e colaborar com as investigações.

Acusações contra os proprietários da clínica:

  • Formação de organização criminosa;
  • Falsificação de produtos terapêuticos;
  • Lesões corporais gravíssimas;
  • Exercício ilegal da medicina;
  • EstelionatoTráfico de medicamentos.
  • Nota da defesa de Paulo César

    A decretação da prisão preventiva de Paulo Cesar Dias Gonçalves é uma decisão absurda, que não se sustenta juridicamente. O próprio STJ, através da ministra Daniela Teixeira, já disse que, neste caso, é desproporcional e desnecessária, portanto, ilegal. Paulo César estava submisso a medidas cautelares diversas da prisão, as cumprindo na íntegra. O que está havendo é uma série de situações inventadas pela Polícia Civil de Goiás, sem nenhum documento e sem nenhuma prova ou indício.

    São apenas falácias e narrativas na tentativa de induzir a erro o Poder Judiciário. Já estamos trabalhando, elaborando os recursos cabíveis e necessários, e iremos acionar todas as instâncias do Poder Judiciário, até mesmo, se necessário, o STJ e o STF, objetivando cessar esta absoluta ilegalidade.

    Goiânia - GO, 13 de março de 2025.

    Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

    Exames comprovaram substâncias como polimetilmetacrilato e óleo de silicone na face dos pacientes. (Divulgação/Polícia Civil)

    IcMagazine

    Famosos

    Preta Gil reaparece nas redes sociais e diz que colocou a bolsa de colostomia de forma definitiva

    Cantora explicou que ficou afastada da internet para focar na reabilitação da cirurgia de retirada de tumores

    Modificado em 27/01/2025, 10:09

    Momento em que Preta Gil falou sobre seu tratamento em um vídeo nas redes sociais.

    Momento em que Preta Gil falou sobre seu tratamento em um vídeo nas redes sociais. (Reprodução/Redes Sociais Preta Gil)

    Preta Gil, 50, usou as redes sociais neste domingo (26) para atualizar os seguidores sobre seu estado de saúde, após mais de 15 dias sem dar notícias. A cantora explicou que esteve afastada para focar na reabilitação da cirurgia de retirada de tumores, que teve duração de 21 horas, e ainda contou que irá utilizar, de forma definitiva, uma bolsa de colostomia - dispositivo que coleta fezes e gases quando o intestino não funciona adequadamente.

    A cantora iniciou o vídeo relatando que não imaginava o quão desafiadora seria a cirurgia. 'Os médicos avisaram, mas a gente nunca acredita, né?', disse. Ela também comentou que o pós-operatório tem sido ainda mais difícil. 'É um desafio diário. Estou no hospital, no Sírio-Libanês, me reabilitando. Estou me alimentando bem, andando, me exercitando e melhorando a cada dia mais'."

    A filha de Gilberto Gil não escondeu seu otimismo em relação aos resultados dos exames. "Tudo só melhora, mas é difícil. É um reaprender a fazer muitas coisas. Estou me acostumando com a minha bolsinha de colostomia. Sim, eu precisei colocar uma bolsa de colostomia novamente. Desta vez, definitiva, e não provisória como foi a do ano passado", contou a cantora." Agora vou ficar para sempre com essa bolsinha, e sou muito grata a ela por isso. Estou me adaptando"', avisou.

    Por fim, Preta agradeceu aos profissionais do hospital e aos fãs. "O amor de vocês faz toda a diferença. Sei que vocês estavam preocupados, porque estou sumida há algum tempo, e eu não gosto de deixar vocês aflitos. Por isso, quis vir aqui falar com vocês pessoalmente. Estou me cuidando", concluiu