Em 1º de outubro, é celebrado o Dia Nacional do Idoso, data instituída a partir da aprovação da Lei 10.741, em 2003, que estabelece o Estatuto da Pessoa Idosa, no qual são reconhecidos os direitos à saúde, alimentação, cultura, lazer, cidadania e liberdade dos idosos. A data é celebrada ao longo desta semana inteira e chama a atenção para os cuidados com a saúde.
De acordo com o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira acima de 60 anos de idade atingiu a quantidade de mais de 32,1 milhões de pessoas, totalizando 15,8% do total da população do País.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a pessoa idosa a partir dos 60 anos, nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil; e com 65 anos ou mais, nos países desenvolvidos. É importante ressaltar que algumas doenças são mais frequentes nesta fase e afetam significativamente a qualidade de vida.
A médica otorrinolaringologista Juliana Caixeta destaca algumas delas, como a perda de audição, os distúrbios do equilíbrio e os distúrbios do sono. A especialista fala sobre a prevenção, os cuidados e os tratamentos adequados.
Distúrbio de equilíbrio
A perda de equilíbrio é um problema que pode ocorrer com pessoas de qualquer faixa etária, sendo mais comum após os 50 anos. Diversos fatores contribuem para isso, incluindo a perda da função labiríntica decorrente do próprio envelhecimento; a polifarmácia, que é o uso concomitante de quatro ou mais medicamentos simultaneamente; e o sedentarismo.
Como algumas outras doenças, como hipertensão arterial e a diabetes, são mais comuns em idosos, o uso concomitante de várias medicações pode causar interações entre si, afetando diretamente o labirinto. Além disso, algumas medicações para tratamento de ansiedade, depressão e insônia, podem causar alterações do equilíbrio, mesmo se utilizadas isoladamente.
Um outro fator que pode agravar a situação são as alterações articulares, com o surgimento de artrite e artrose. Devido à dor, muitas pessoas têm sua mobilidade reduzida, o que diminui progressivamente a função do labirinto.
O maior problema da perda de equilíbrio são as quedas. Segundo dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, a estimativa entre os idosos com 80 anos ou mais, é que 40% sofram quedas todos os anos. Dos que moram em instituições de longa permanência, asilos ou casas de repouso, a frequência de quedas é ainda maior: destes, 50% podem cair.
Muitas vezes as quedas podem ser ocasionadas por conta das condições do ambiente, mas geralmente são causadas por questões de saúde. Nessa faixa etária as quedas podem levar a fraturas, com necessidade de internação e cirurgias. Esses eventos desencadeiam uma série de intervenções que pioram a qualidade de vida, diminuem a mobilidade e a independência do paciente, explica Juliana Caixeta.
Como tratar a perda de equilíbrio
O tratamento da tontura só é possível a partir do diagnóstico da causa desse sintoma. É importante lembrar que, apesar de popularizado, o termo labirintite só se aplica a algumas situações muito específicas e que são a minoria dos casos.
O tratamento pode incluir a retirada parcial e progressiva de algumas medicações, uso de medicações próprias para o equilíbrio, mudanças na alimentação e, também, tratamentos com o fonoaudiólogo e fisioterapeuta.
O objetivo da reabilitação é reduzir o uso de medicamentos. Muitas vezes é possível administrar os medicamentos somente nos momentos de crise e, aos poucos, trabalhar apenas com os exercícios e a reabilitação para oferecer uma melhor qualidade de vida ao paciente.
Quando procurar ajuda médica
É importante trabalhar com a prevenção quando o assunto está relacionado às doenças do equilíbrio. Principalmente no caso dos idosos, essa é uma atitude que pode evitar problemas mais graves causados pelas quedas. Por isso, sempre que o paciente perceber que está com dificuldade de caminhar e se sentir inseguro, deve realizar uma avaliação labiríntica.
Existem diversos exames que podem ser utilizados para a avaliação do labirinto, como a vectoeletronistagmografia, comumente associada à audiometria, uma vez que os nervos da audição e do equilíbrio estão intimamente relacionados anatomicamente.
Outro exame completo que pode avaliar as doenças relacionadas à falta de equilíbrio é o V-HIT. Este, além da avaliação labiríntica, associa manobras para melhorar acurácia diagnóstica.
Perda auditiva
A perda auditiva é mais comum a partir dos 50 anos, sendo um processo natural de envelhecimento do sistema auditivo. Os sintomas da perda auditiva no idoso, chamada de presbiacusia, incluem dificuldade de compreensão da fala em ambientes ruidosos e ao conversar ao telefone, zumbido e maior dificuldade em ouvir vozes femininas em comparação às masculinas.
Segundo Juliana Caixeta, é comum que os pacientes não percebam a conexão entre esses sintomas. “Os primeiros sintomas da perda auditiva não são relacionados pelos pacientes como a sensação de surdez”. Infelizmente, a maioria dos pacientes se adapta a esses sintomas, procurando ajuda médica quando o sintoma de perda auditiva já se instalou.
Dados da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia revelam que as pessoas demoram cerca de sete anos para procurar um especialista após perceberem algum dano à audição e mais de dois anos para escolherem um tratamento.
“A perda auditiva proveniente do envelhecimento não tem cura, mas existem tratamentos”, informa a médica. Além disso, segundo a OMS, a perda auditiva é a principal causa prevenível de demência. Diversos estudos já demonstram uma associação entre ouvir mal e alterações cognitivas, de raciocínio e memória.
Os tratamentos variam de acordo com o grau da perda auditiva, podendo incluir acompanhamento médico e fonoaudiológico para a realização de exames periódicos, até o uso de aparelho auditivo e cirurgias.
Vale ressaltar que hoje, a indicação de uso de aparelhos auditivos está cada vez mais precoce, e isso se deve a dois fatores: a modernização dos equipamentos e a necessidade em manter a viabilidade das vias centrais da audição.
Quanto mais tempo privado de som, mais dificuldade o paciente terá em se adaptar aos aparelhos e maior a chance de perda de capacidade cognitiva, interação social e memória. Por isso é tão importante procurar ajuda assim que os primeiros sintomas aparecerem, frisa Juliana Caixeta.