Uma semana após assumir 51,1% da coleta de lixo nas regiões Leste e Norte de Goiânia, o Consórcio Limpa Gyn ainda não regularizou o serviço nos 201 setores. Ao contrário da previsão de que o recolhimento estaria estabelecido até o fim da última semana, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), responsável pelo contrato com as terceirizadas, aponta que a normalização deve ocorrer “nos próximos dias”. Diante da incerteza, moradores seguem reclamando do mau cheiro e acúmulo de resíduos.O contrato, no valor de R$ 470,3 milhões por dois anos, ou R$ 19,5 milhões ao mês, transfere três serviços até então prestados pela Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg), e também dá início à varrição mecanizada, para as empresas que formam o consórcio – Quebec Ambiental (Goiânia), Clean Master Ambiental (Catalão) e CGC Concessões (Brasília). A transição dos serviços às terceirizadas foi iniciada no último dia 22, e deve ser concluída no dia 24 de junho. A coleta de lixo, entretanto, deve ser totalmente repassada ao consórcio até o dia 27 de maio. Mas a menos de um mês para assumir todo o serviço na capital, os bairros já admitidos continuam com as lixeiras cheias. No dia em que a transição foi iniciada, a pasta havia informado ao jornal que até o fim daquela semana estaria normalizada a coleta, mas sem apontar como faria para suprir os atrasos. Já em comunicado à imprensa divulgado na última sexta-feira (26), a expectativa informada foi de uma semana.Agora, a Seinfra diz em nota que “nos setores onde a coleta é diária, 95% está regularizada”. “Nos setores cuja coleta é feita em dias alternados, a demanda continua alta, mas deve ser normalizada nos próximos dias. A concessionária está 100% envolvida na operação, 24h por dia e 7 dias por semana, desde o início da operação, na terça-feira (23). E assim continuará, até que a situação seja normalizada”, conclui.O trabalho de recolhimento de resíduos em dois turnos tem atendido, conforme a pasta, a 23 setores no período diurno, e outros 23 no noturno. O contrato prevê a coleta diária com equipes atuando entre 7h e 15h20, e de 18h às 2h20, exceto aos domingos. A contratante, entretanto, comenta que, para normalizar a operação, o serviço foi feito no último domingo (28) e também será realizado no feriado desta quarta-feira (1º).Ao anunciar o início da operação, a Prefeitura informou que o consórcio contará com frota própria de 48 caminhões para a coleta domiciliar – além de 18 destinados à seletiva, e 128 para a remoção de entulho. A falta de veículos para o recolhimento dos resíduos, diante da quebra dos mesmos, era tido como um dos principais fatores para os constantes atrasos na prestação do serviço pela Comurg, conforme o jornal mostrou em várias ocasiões.A reportagem questionou à Seinfra quantos caminhões estão saindo diariamente para as ruas, mas a pasta não especificou quantitativo exato. A pasta disse apenas que “por dia, a empresa tem utilizado de 15% a 20% a mais de caminhões para dar apoio ao recolhimento de lixo doméstico, pois há uma demanda represada de coleta, em diversos setores de Goiânia”. O jornal também entrou em contato com o Consórcio Limpa Gyn, mas foi informado de que toda a comunicação dos serviços será feita pela contratante.Atraso segueMoradores do Setor Jaó, na região Norte da capital, aguardam há quase um mês a normalização da coleta de lixo. Presidente da Associação dos Moradores e do Conselho de Segurança do Setor Jaó, Adriana Dourado comenta que uma equipe esteve no bairro no último domingo (28), mas fez a coleta de apenas algumas ruas. “Eles não estão dando conta de colocar em dia porque a coleta aqui era segunda, quarta e sexta. Desregulou de tal forma que está esse caos. Eu não sei quanto que vai conseguir colocar essa casa em dia, porque está transbordando”, diz.Ela conta ainda que aguardam há 20 dias o recolhimento dos resíduos. “Está uma zona. Eles vêm aqui, fazem um pedaço e deixam outro sem. Não tem uma métrica igual a que a gente tinha antigamente. Era segunda, quarta e sexta-feira (coleta de) orgânico, e sábado de reciclado. Agora não, eles passam 15 dias sem vir, e aí faz uma metade do bairro, e não faz a outra”, lamenta.O relato é semelhante em outros setores de Goiânia que já foram repassados ao consórcio. Na Vila Itatiaia, um morador comenta que parte das ruas ainda não recebeu o serviço de coleta feito pelas terceirizadas, mesmo após uma semana do início da transição. E a situação é narrada também por quem mora no Santa Genoveva. Já um residente do Residencial Vale dos Sonhos acrescenta que no bairro tem “lixo para todo lado”. Moradores de bairros como Novo Mundo, Recanto das Minas Gerais, Parque Atheneu, Chácara do Governador, Brisa da Mata, Parque das Laranjeiras, Residencial Antônio Barbosa, Residencial Barravento, Vila Santa Helena, Vila Cristina, Estrela Dalva, Setor Central, e Morada do Sol, também reclamaram à TV Anhanguera sobre o acúmulo dos resíduos. A matéria veiculada no fim da manhã desta segunda-feira (29) mostra ainda a situação caótica na Rua 20, na Vila Morais. Após a reportagem feita pela emissora, o jornal esteve durante a tarde no local citado. Às 14h59, o cenário era de lixão a céu aberto, com sacolas espalhadas por toda a calçada. Mas mesmo após um caminhão do Consórcio Limpa Gyn passar naquela via às 15h03, os resíduos continuaram amontoados nas lixeiras. O flagrante feito pela equipe fotográfica do jornal às 17h24 constata que apenas parte do lixo foi recolhido na ocasião.Titular da 15ª Promotoria de Justiça da comarca de Goiânia do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), o promotor Juliano de Barros Araújo aponta que a Seinfra apresentou um plano de trabalho para os serviços que estão sendo transferidos. Conforme ele, o órgão ministerial tem acompanhado a transição, mas pondera ainda ser “cedo” para avaliar se o mesmo tem sido seguido. Vale lembrar que o MP-GO recomendou a terceirização da coleta de lixo, diante das sucessivas crises na prestação do serviço pela Comurg.