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Desenhos criados por inteligência artificial viram febre e levantam discussão sobre arte

Fenômeno dos avatares criados por inteligência artificial inundou o feed das redes sociais na última semana e acende a discussão: se trata ou não de um tipo de arte?

Modificado em 20/09/2024, 06:26

Carlo Batistella: “Logo de início, o que me impressionou foi o realismo e a qualidade artística das imagens”

Carlo Batistella: “Logo de início, o que me impressionou foi o realismo e a qualidade artística das imagens” (Fábio Lima)

Nos últimos dias, o feed das redes sociais ganhou uma cara diferente. As selfies dos amigos ganharam elementos fantásticos e lúdicos, enquanto alguns ganharam até mesmo novos estilos de cabelo. Os cenários dessas fotos não poderiam existir na vida real - e não existem mesmo.

A "mágica" é criada pelo aplicativo de edição de imagens Lensa, que ganhou recentemente um novo recurso que cria avatares ilustrados por intermédio de inteligência artificial.

Para criar as suas selfies ilustradas é bem simples. Basta baixar o aplicativo, selecionar algumas fotos do seu rolo da câmera e deixar a inteligência artificial da plataforma cuidar do resto. Ah! É preciso estar disposto a desembolsar uma quantia em dinheiro para garantir o pacote de avatares únicos e de estilos variados. Para obter 50 avatares, por exemplo, o valor é R$ 22,90.

Os desenhos rapidamente se tornaram um fenômeno entre anônimos e famosos, inundando as redes sociais com as selfies coloridas e "diferentonas". O artista plástico Carlo Batistella não ficou de fora da nova onda. "Eu conheci o aplicativo por meio de um amigo, fotógrafo, que postou os avatares em seu perfil do Instagram. Logo de início, o que me impressionou foi o realismo e a qualidade artística das imagens", comenta.

A postagem o convenceu a criar os seus próprios desenhos. "Eu gostei bastante do resultado dos meus avatares, principalmente porque eles me remeteram à infância, ao universo dos desenhos animados, da ficção científica e da fantasia. Achei bacana me ver, em poucos minutos, transformado em um astronauta", conta. Ele adianta que já tem planos, inclusive, de imprimir os seus com qualidade artística e fazer alguns quadrinhos.

Aplicativos que criam ilustrações e pinturas a partir de um algoritmo de inteligência artificial não são novidade. O próprio Lensa, responsável pelas selfies viralizadas na última semana, existe desde meados de 2016. O que se está acompanhando, no entanto, são os avanços das criações desses desenhos feitos por inteligência artificial - e, junto a esses avanços, vêm também algumas polêmicas e debates em torno.

"Mesmo aplicativos que usam I.A. para transformar nossos rostos em cartoons ou anime, por exemplo, não são novidade. Eu já tinha visto muitas dessas imagens na internet", observa Carlo. "Porém, a tecnologia do Lensa me chamou bastante atenção e me levou a querer pagar pela experiência. Acredito que essa qualidade visual e a diversidade de imagens que o aplicativo cria sejam o motivo por trás do sucesso repentino e pela trend", opina.

O publicitário e criador de conteúdo Matheus Cerutti, de 28 anos, confessa que não sentiu vontade de entrar "na onda" nas primeiras 24 horas em que as fotos ilustradas inundaram o seu feed. "Não sou de entrar nessas modinhas tão facilmente, mas o resultado das fotos de um amigo em específico me surpreendeu. Elas beiravam a perfeição", conta. A vontade de criar os próprios avatares surgiu daí.

Ele atribui o sucesso estrondoso da trend à alta qualidade das imagens criadas e à variedade de cenários, elementos e cores fornecidos pelo aplicativo. "Já tinha visto outras artes criadas por inteligência artificial viralizando, mas nenhuma teve tanto apelo quanto essas. É um fenômeno comparável ao criado pelo TikTok, mesmo que o aplicativo seja pago", observa.

É arte ou não é?

Há cerca de três meses, uma notícia repercutiu mundo afora e acendeu novamente um debate dentro do campo de encontro entre artes e tecnologia. Na edição deste ano da Feira Estadual do Colorado, nos Estados Unidos, o premiado em primeiro lugar foi um trabalho criado por um programa de inteligência artificial chamado Midjourney, que transforma textos em desenhos hiperrealistas. Chamada de "Théâtre d'Opéra Spatial", a obra é assinada por Jason M. Allen, que desde então tem se defendido de acusações de ser um trapaceiro.

Obras geradas por I.A. existem há anos, mas a complexidade dos trabalhos criados por programas e aplicativos mais recentes têm levado o debate a ganhar corpo. Entre as críticas, estaria o próprio futuro dos artistas - afinal, se qualquer um pode "criar" obras de arte, por que continuar a pagar artistas para produzi-las? Outro ponto defendido por uma parcela é que esse tipo de inteligência artificial se baseia em milhões de obras já existentes para criar essas novas, o que seria uma espécie de plágio.

Para Carlo Batistella, mesmo que seja algo gerado por I.A. e não pelas mãos humanas, se trata de um tipo de arte. "Até porque por trás do desenvolvimento dessas tecnologias há o trabalho de artistas gráficos e visuais. A propósito, muita gente não sabe, por exemplo, que o Google Earth foi idealizado e desenvolvido por um estudante de artes visuais, e não por um gênio da tecnologia", observa. "Particularmente, acredito que a tecnologia é uma ferramenta a mais dentro do universo das artes visuais, e não algo que possa substituir ou suplantar a criatividade artística humana. No mais, vejo essa função do Lensa apenas como um brinquedo novo que a gente usa e logo em seguida esquece no fundo da caixa", conclui.

Matheus Cerutti vem refletindo sobre o assunto a partir de discussões que acompanhou nos últimos dias. "Tenho amigos artistas plásticos, artistas visuais e designers. Vi muitos deles criticando o fato de o aplicativo ser pago e, na hora de pagar um artista para criar um desenho exclusivo, as pessoas não querem, não valorizam. Mas vejo que o fenômeno do Lensa se deu justamente nesse sentido: ele transforma as obras em padronização. Tantas pessoas entraram na onda porque assim se encaixam onde todo mundo está", diz.

"É curioso, porque não existe uma resposta pronta para isso, se o que vem sendo feito com esses programas é arte ou não. Walter Benjamin publicou um texto quando a fotografia virou arte em que levou essa questão da reprodução técnica gerada por ela - o que, para ele, esvazia o sentido da arte", comenta o designer e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG, Marcio Alves da Rocha. "O grande ponto que eu observo, aqui, é que a própria noção de arte se modifica através do tempo. O que é considerado arte hoje amanhã pode não ser e vice versa", diz.

Ele destaca que arte tecnológica já há algum tempo tem sido aceita como uma forma legítima de arte. "A exemplo do game art, generative art, as diversas formas de mediaArt, entre outras, que utilizam computadores. Inclusive, com movimentos artísticos que surgiram totalmente e exclusivamente na internet, como a glitch art, e estilos artísticos como o vaporwave. Então, não se pode Negligenciar essas manifestações artísticas", aponta Marcio. "O que se está se colocando em discussão, aqui, é a questão de autoria e, com isso, do esvaziamento da noção da arte", observa.

Essa questão se torna mais complexa ainda com o uso de inteligência artificial, ele aponta. "Afinal, sabemos que quem alimenta os algoritmos da inteligência artificial de forma indireta é a inteligência humana por trás dela. A questão de autoria se torna ainda mais complexa com esses aplicativos, porque eles utilizam várias imagens de outros autores para alimentar sua base de dados e aprender com ela, para que com isso ela possa gerar uma outra arte. Vemos, aqui, essa questão da violação dos direitos autorais dessas obras, assim como a dissolução da noção de autoria", explica.

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Referência digital na América Latina, Martha Gabriel realiza palestra gratuita em Goiânia

Modificado em 04/11/2024, 08:52

Referência digital na América Latina, Martha Gabriel realiza palestra gratuita em Goiânia

(Divulgação)

Considerada um ícone nas áreas de negócios, tendências e inovação, Martha Gabriel desembarca em Goiânia dia 9 de outubro para realizar a abertura do 11º Encontro Internacional de Comércio Exterior (EICE), no Centro de Convenções da PUC-GO. Esta edição da EICE ocorrerá paralelamente à 1ª Expoind - Feira de Fornecedores de Tecnologias e Soluções para a Indústria de Goiás, ambos promovidos pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg).

Martha vai palestrar sobre Inteligência Artificial (IA) em negócios, com ênfase em indústria e comércio exterior. Ela é engenheira formada na Universidade de Campinas (Unicamp), futurista pelo Institute For The Future (IFTF), com pós-graduações em Marketing na ESPM e design na Belas Artes, além de ser mestre e PhD em artes pela ECA/USP e ter formação executiva pelo MIT Sloan. A palestra será aberta ao público e gratuita, com vagas limitadas, pelo link https://www.sympla.com.br/11-eice----encontro-internacional-de-comercio-exterior__2549542.

"A inteligência artificial hoje é um dos assuntos mais falados e menos compreendidos. Assim, a palestra tem como objetivo o letramento em IA, focando nos impactos em negócios, mais especificamente indústria e comércio exterior", diz Martha, que também é professora de IA da PUC-SP e na pós-graduação do TIDD, embaixadora no Brasil da ONG de Educação Geek Girls LatAm e palestrante em oito edições do TEDx speaker.

Martha Gabriel explica que a IA é uma das tecnologias mais poderosas já inventadas pela humanidade, que evolui em um ritmo acelerado sem precedentes, e que deve ser usada a favor da economia. "Pensando na indústria, ela pode, por exemplo, auxiliar na predição de manutenção preventiva, predição de demanda de mercado, na otimização da cadeia logística, automação de processos e operações, etc. Combinada com a robótica, a IA pode avançar no mundo físico da indústria, otimizando a performance dos tradicionais robôs industriais. Em relação ao mercado externo, a IA pode facilitar a conciliação de protocolos para atender a leis e procedimentos nos processos de transação entre países distintos, traduções, compreensão de legislação, rotas, etc. Ou seja, a IA é uma tecnologia horizontal que tende a impactar virtualmente qualquer setor da existência humana, inclusive negócios, indústria e comércio exterior".

Para a analista de comércio exterior do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fieg, Juliana Souza Tormin, a participação de Martha na abertura do 11º EICE e da 1ª Expoind é de extrema importância pela urgência do tema IA nas relações comerciais. "O rápido avanço da inteligência artificial em suas várias modalidades tem transformado profunda e aceleradamente o mundo, trazendo oportunidades espetaculares para os negócios. No entanto, para podermos nos beneficiar disso, é necessário conhecer e saber utilizar essa tecnologia. A palestra apresenta a IA e seus impactos nos negócios, discutindo a seguir sua aplicação na área da indústria e do comércio exterior", diz a analista.

SERVIÇO Palestra de abertura do 11º EICE e 1ª EXPOIND com Martha Gabriel
Dia e horário: 9 de outubro, quarta-feira, às 19h
Local: Centro de Convenções da PUC-GO.
Entrada e inscrições - gratuitas, pelo link https://www.sympla.com.br/11-eice----encontro-internacional-de-comercio-exterior__2549542.

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Vila Cultural Cora Coralina inaugura duas exposições nesta quinta-feira (6)

Abertura simultânea das mostras “Distorção”, do artista plástico Gabriel Augusto, e “O tempo frio que esquenta a gente”, do artista visual Badu, será a partir das 18h. Entrada gratuita

Modificado em 17/09/2024, 16:19

Vila Cultural Cora Coralina inaugura duas exposições nesta quinta-feira (6)

(Divulgação Secult)

A Vila Cultural Cora Coralina, unidade da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), inaugura, simultaneamente, duas exposições individuais nesta quinta-feira (06). "Distorção", do artista plástico Gabriel Augusto, será aberta às 18h, na sala Sebastião Barbosa; e "O tempo frio que esquenta a gente", do artista visual Badu, às 18h30, na sala Antônio Poteiro. As mostras seguem em cartaz até 30 de junho.

"Distorção" reúne obras impactantes, tanto pela temática - a sombra na psique humana -, quanto pela força da qualidade técnica. A curadoria e a expografia da mostra são assinadas por Ricardo Braudes. O artista Gabriel Augusto dá forma a imagens bastante orgânicas e ao mesmo tempo etéreas, que num primeiro momento podem parecer o mórbidas, mas que se analisadas sob outros vieses, como a antropologia e a psicologia, podem ser vistas de forma muito mais profunda e poética.

De acordo com o curador, a obra de Gabriel Augusto é importante para a sociedade por estar vinculado a questões de saúde mental e enfrentamento de dores recentemente provocadas pelas catástrofes que ocorrem atualmente no mundo, como guerras, destruição e desastres naturais, doenças do sono, estresse e consumo em excesso, fobias sociais e pânico ocorridos durante o isolamento na Pandemia e luto pelas mortes causadas pelo Covid-19.

Já a exposição "O tempo frio que esquenta a gente", de Badu, aborda os festejos juninos goianos a partir de obras que reúnem linguagens como o bordado, a fotografia e a instalação. A mostra é produzida pelo coletivo Arapuá em parceria com a Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG); e presta, também, uma homenagem à Quadrilha Junina Arriba Saia, grupo goianiense com diversos títulos estaduais e campeão nacional de Quadrilhas Juninas (2017).

Partindo de um recorte autobiográfico, Badu se aproveita de suas vivências em torno das festividades da cultura brasileira. Já tendo tratado do universo do Carnaval em exposições passadas, o artista agora leva em conta, principalmente, sua posição como nordestino que, através das festas de São João, encontra forças para continuar celebrando suas raízes em terras goianas.

A Vila Cultural Cora Coralina funciona de segunda-feira a domingo, das 9h às 17h. A entrada é gratuita e o espaço é petfriendly, ou seja, animais de estimação são bem-vindos.

Serviço: Exposições
"Distorção" - Gabriel Augusto, e "O tempo frio que esquenta a gente" - Badu
Abertura : Quinta-feira (06), a partir das 18h até 21h
Visitação : De 07 a 30/06
Funcionamento : De segunda-feira a domingo, das 9h às 17h
Local : Vila Cultural Cora Coralina - R. 3, s/n - St. Central, Goiânia (Sala Antônio
Agendamento de visitas para escolas : Favor entrar em contato através do número (62)3201-9863

Geral

Sertão Negro oferece residências artísticas com bolsas mensais de R$ 2 mil em Goiânia

Ateliê criado pelo artista Dalton Paula abre edital para cinco vagas (uma internacional, duas nacionais e duas locais) com imersão em quilombo Calunga de Cavalcante

Modificado em 19/09/2024, 01:23

Ateliê Sertão Negro fica na Rua Goiazes, no Setor Shangrilá, em Goiânia

Ateliê Sertão Negro fica na Rua Goiazes, no Setor Shangrilá, em Goiânia (Fábio Lima)

O Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes lança edital para residências artísticas em Goiânia e em um quilombo Calunga, na Chapada dos Veadeiros. São cinco vagas, sendo uma internacional, duas nacionais e duas locais, com bolsa remunerada de até 2 mil reais mensais, de acordo com a modalidade. O programa segue com inscrições abertas até o dia 15 de dezembro.

A ideia da residência é unir artes visuais, meio ambiente e conhecimentos tradicionais. Para isso, propõe uma imersão de uma semana em um quilombo Calunga no município de Cavalcante, e mais três semanas na sede do Sertão Negro, localizada no Setor Shangri-la, região norte da capital. Esta proposta está prevista para ser realizada entre maio e setembro de 2024, nas modalidades nacional e internacional.

São oferecidas duas vagas para a residência na modalidade local, que também contempla essa vivência na comunidade quilombola, com duração de 12 meses e direcionada a artistas ou pessoas residentes em Goiás.

Para isso, o Sertão Negro disponibiliza estrutura, meios para a orientação, a formação e o aperfeiçoamento em arte contemporânea. Com início previsto para maio de 2024, essa modalidade oferece uma bolsa mensal de 2 mil reais.

A vida cotidiana, a relação com a terra, as expressões culturais e religiosas no quilombo farão parte dos processos de pesquisa artística e da prática e poética nos mais diversos suportes e linguagens. Como contrapartida, haverá incentivo à economia local, ao turismo de base comunitária e à valorização de saberes tradicionais.

Durante as três semanas no Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes, os artistas residentes (modalidade nacional e internacional) terão acesso a hospedagem em chalés individuais e alimentação. Neste caso, haverá do subsídio no valor de 1,5 mil dólares e o custeio de passagens aéreas. O edital e as orientações para inscrição estão disponíveis no link: https://abrir.link/FOly2

O programa de residência artística do Sertão Negro Edital 2024 é apoiado pelo Open Society Foundations, por meio do Prêmio Soros Arts Fellowship concedido ao artista Dalton Paula, criador do Sertão Negro juntamente com sua companheira Ceiça Ferreira, em 2023.

"A residência tem o intercâmbio entre diferentes territórios, países e culturas; é uma boa oportunidade para os residentes fazerem trocas de conhecimentos e conhecer pessoas. Tem esse caráter de imersão, de sair do seu lugar de conforto e isso tensiona, cria uma situação que pode ser muito favorável para o desenvolvimento de um novo trabalho no quesito criatividade. Tem essa proposta de ser um salto no profundo, de dar densidade para poder desenvolver a pesquisa", diz Dalton Paula.

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Hospital de Goiás usa nova técnica de parto e IA contra mortalidade

Anestesia peridural walking alivia sofrimento sem reduzir a força muscular da gestante. Procedimento faz parte de projeto para avanço dos partos humanizados na rede estadual de saúde

Modificado em 19/09/2024, 01:10

Tecnologia de cruzamento de dados avalia cuidado com recém-nascido

Tecnologia de cruzamento de dados avalia cuidado com recém-nascido
 (Wesley Costa)

As gestantes que vivenciarem o parto no Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano (HCN), localizado em Uruaçu, poderão se beneficiar de uma técnica de analgesia peridural que permite que a mulher em trabalho de parto tenha a dor amenizada sem diminuir a força muscular, facilitando a viabilização dos partos normais. O uso da técnica faz parte do projeto Parto Adequado, adotado pela unidade, que tem como intuito promover o avanço dos partos humanizados.

A peridural walking, conhecida também como "walking epidural" ou "peri walking", é uma forma de administração de anestésicos na medula espinhal, que proporciona o alívio da dor ao mesmo tempo que permite que a paciente mantenha a mobilidade e a sensibilidade. "Mesmo com a analgesia, a mulher permanece ativa. Ela vai conseguir andar, ter tônus muscular para fazer força e sentir o bebê nascendo. O intuito é promover um parto ainda mais seguro e mais confortável para a mãe e para o bebê", explica Luciano Dias, médico anestesiologista e diretor técnico do HCN.

O Parto Adequado, desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), com o apoio do Ministério da Saúde, foi lançado em 2014 e tem o objetivo de identificar modelos inovadores e viáveis de atenção ao parto e nascimento, que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesarianas sem indicação clínica. "Na rede pública de Goiás, nós estamos dando o passo inicial", destaca Dias. Segundo a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), nas maternidades públicas municipais de Goiânia a peridural walking é uma técnica usual, mas a prioridade é para o parto normal com atendimento humanizado.

Em Goiás, de acordo com monitor do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO) ligado ao Pacto da Primeira Infância, em 2021, 67,50% dos partos foram cesáreas, fazendo o estado despontar como o vice-líder brasileiro, perdendo apenas para Rondônia (68%). Desde 2013, a porcentagem tem variado entre 65% e 68%, se mantendo sempre acima da proporção nacional. O ideal é que o número permaneça abaixo dos 30%, sendo que o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é que seja menor que 15%.

Caso a mãe esteja saudável, a primeira opção para abrandar as dores do trabalho de parto é por meios não farmacológicos. "São estratégias variadas, como o caminhar, que auxilia no progresso do parto, a presença de um familiar ou da doula para acalmar a gestante, técnicas de respiração, o uso da água quente ou fria e até a aromaterapia. Na grande parte das vezes, esse conjunto de estratégias faz com que o parto natural seja bem sucedido", explica o diretor técnico do HCN.

Entretanto, para algumas mulheres, a dor do parto é limitante. Nesses casos, entram os meios farmacológicos. "Nesse sentido, o peri walking é uma vanguarda", aponta Dias. Apesar das vantagens da peridural walking, fatores individuais, como a condição de saúde e a natureza do procedimento, devem ser considerados. Por isso, as pacientes precisam ser avaliadas por um médico anestesiologista que domina a técnica. A peridural walking se diferencia das anestesias utilizadas nas cesarianas pois, nesses casos, além da dor, a mulher também perde a sensibilidade e força motora.

A técnica da peridural walking já é feita na unidade há mais ou menos um mês. A moradora de Santa Terezinha de Goiás, Thauanne Xavier de Abreu, de 23 anos, foi uma das mulheres que usou a técnica. Ela deu à luz ao primogênito Henrique na última quarta-feira (23). "Assim que (eles) aplicam a analgesia, ficamos totalmente sem dor. Ficamos bem mais confortáveis. Eu não conhecia. Eu pensava que todo parto normal era com dor", relata a jovem.

Avanço

Inicialmente, o projeto vai ocorrer apenas no HCN, que costuma realizar de 100 a 120 partos por mês. O Centro Obstétrico do hospital possui equipe multiprofissional especializada para atendimento de gestantes e recém-nascidos de alto risco e conta com um pronto-socorro dedicado à assistência de gestantes e puérperas. Entretanto, Dias destaca que o HCN é um hospital escola e que o intuito é capacitar a maior quantidade possível de profissionais, já que eles poderão se aproveitar das técnicas aprendidas em outras unidades de saúde. "Somente na Região de Saúde Serra da Mesa (que inclui Uruaçu) são feitos cerca de 673 partos por mês", destaca.

O secretário estadual de Saúde, Sérgio Vencio, explica que a pandemia da Covid-19 fez com que a regionalização da Saúde avançasse mais rapidamente e que, posteriormente, a SES-GO buscou manter unidades de alta complexidade no interior do estado. "Buscamos sanar um vazio assistencial da obstetrícia, para aquelas gestantes que precisavam buscar atendimento na capital. É o caso do HCN, que atende o Norte goiano", destaca. Atualmente, os hospitais estaduais de Luziânia, Jataí e Formosa também oferecem atendimento obstétrico e todas as 17 policlínicas de Goiás ofertam consultas e exames para gestantes.