Imóveis usados valorizaram 11% em Goiânia
Mudanças nos últimos anos nos Planos Diretores municipais, que desestimularam investimentos e reduziram a oferta em algumas regiões, projetos cada vez mais sofisticados e terrenos e custo de construção mais caros estão entre as causas da alta
Lucia Monteiro
20 de janeiro de 2025 às 07:15

Empreendimentos no Jardim América: setor atrai foco das incorporadoras e tende a maior valorização (Diomício Gomes/ O Popular)
O mercado imobiliário de Goiânia continua figurando entre os de maior valorização médias no País. O preço de venda de imóveis residenciais usados na capital goiana aumentaram, em média, 11,5% ao longo do ano passado, a terceira maior alta entre as capitais brasileiras pesquisadas pelo índice FipeZap. Mudanças nos últimos anos nos Planos Diretores municipais, que desestimularam investimentos e reduziram a oferta em algumas regiões, projetos cada vez mais sofisticados e terrenos e custo de construção mais caros estão entre as causas da alta.
Os resultados do índice acompanham os preços de apartamentos prontos em até 56 cidades, incluindo 22 capitais, em levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
O presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Felipe Melazzo, lembra que, apesar do índice medir a evolução dos preços de empreendimentos prontos e entregues, ele reflete o que acontece no segmento dos novos. "Se o que está sendo entregue está subindo, o usado também valoriza, o mesmo que acontece com veículos", avalia.
Entre os motivos, segundo ele, está a pressão do aumento do custo de matérias-primas e da mão de obra, o que deve continuar acontecendo até pelo processo inflacionário no País. "Nossa perspectiva é de que esta alta do dólar ainda não bateu em alguns insumos e que deve haver mais pressão sobre os custos da construção", prevê.
Outro ponto é o Plano Diretor, que restringiu algumas manchas de adensamento na capital, como nos setores Bueno, Marista e Oeste. "Mas alguns projetos que já haviam sido aprovados serão construídos nestes bairros com as regras do plano anterior, pois o alvará emitido após a aprovação dá dois anos para iniciar a construção", explica. Além disso, houve uma alteração legislativa que permitiu a prorrogação por mais dois anos para desafogar um pouco a cidade do grande número de construções.
Para o presidente da Ademi-GO, os projetos que serão lançados puxarão os preços ainda mais para o alto porque são bairros onde há maior demanda pelas comodidades. Por isso, a estimativa é que a valorização se mantenha em 2025 e 2026, que está acima da inflação.
"Quem está comprando, por mais que o preço esteja subindo, fez um bom investimento", afirma. Ele lembra que a maior valorização ocorre em bairros com uma gama de comércio e serviços ofertados, um grande número de pessoas residindo e até a existência de parques.
Grande potencial
Melazzo lembra que a CMO lançou um empreendimento no Alto da Glória que foi todo vendido em um dia por conta da baixa oferta. Apesar de não ter havido mudança no adensamento por lá, o bairro não tinha lançamentos há muito tempo pela falta de áreas. "As incorporadoras se voltam, agora, para bairros como o Jardim América e Pedro Ludovico, com preços mais atrativos e grande potencial de valorização", indica. Os projetos também estão cada vez mais modernos e com oferta e vários serviços, como minimercados e lavanderias.
Para Bruno Alcantara, diretor Comercial e de Marketing da Sousa Andrade Construtora, Goiânia vem passando por uma transformação grande no mercado imobiliário e sempre tem figurado entre as primeiras capitais, não só no ranking de valorização, mas também em volume geral de vendas e de unidades. "A cidade tem grandes players de incorporação, que trazem produtos muito inovadores em projetos, o que ajuda na valorização, como uso da piscina dentro dos apartamentos, uma inovação", avalia.
Para ele, a mudança do Plano Diretor de Goiânia também impactou muito o valor do metro quadrado, já que é preciso um terreno maior para ter o mesmo tamanho de prédio, o que eleva o custo do projeto. Mas, ao mesmo tempo, houve a liberação de novas áreas. Alcântara dá o exemplo do Bauhaus, empreendimento da incorporadora na esquina das avenidas T-10 e T-3, cujo metro quadrado chegou aos R$ 19,5 mil, pela localização ímpar do terreno e projeto único em arquitetura, o que agrega muito valor ao projeto, em frente ao lago e ao lado de um shopping. "O cliente já entende a diferenciação de projetos e o motivo de ser mais caro", destaca.
A valorização permite agregar novos itens ao projeto, dentro dessa conjuntura que ajuda a aquecer o mercado. "Goiânia cresceu 10% nos últimos oito anos, inclusive com a atração de profissionais de outras cidades que buscaram imóveis melhores. A valorização deve continuar", prevê o executivo.
A mão de obra da construção também é cada vez mais escassa e não está se renovando porque os jovens estão seguindo outros caminhos. "Não acredito que a cidade viva uma bolha, pois o mercado local é muito maduro e equilibrado", diz.
Para o diretor comercial da CMO, Marcelo Moreira, a qualidade de vida e as boas condições econômicas para crescer e desenvolver têm atraído investimentos e ajudado Goiânia a se manter no pódio da valorização. "A cidade cresce acima da média nacional e o mercado imobiliário cresce junto. Ela é mais segura e com bom IDH, o que resulta em boas condições para moradia. Até pouco tempo, era a capital com o metro quadrado mais barato do País, o que criou um espaço para valorização. Mesmo com as altas, ainda tem preço bem mais barato que outras capitais", explica.
Ele concorda que o custo da construção é outro fator de impacto sobre os preços de venda, principalmente no que se refere à mão de obra, que é o principal item na composição de custos, com peso de 50%.