Não será, necessariamente, uma fase que todos os goianos almejam em termos de temperatura, mas é certo que estão por vir dias mais amenos e maior umidade do ar. É o que apontam os modelos meteorológicos para as próximas semanas, até o fim de outubro. Além de um volume maior de precipitações pelas áreas central e do sul, a previsão de tempestades preocupa em razão da possibilidade de fortes rajadas de ventos e também granizo, que podem provocar estragos. No domingo, a cidade de Goiás registrou a maior temperatura do País, 44,5°C, superando Cuiabá (MT), segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).Gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), vinculado ao governo estadual, André Amorim explica que a partir desta quarta-feira (9), com o acoplamento do corredor de umidade vindo da Região Norte e uma frente fria da Região Sul, o território goiano será favorecido com áreas de instabilidade. Embora irregulares e muito provavelmente no formato de tempestades, essas chuvas vão dar uma trégua ao calor exorbitante que os goianos vêm enfrentando desde o último mês que, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foi o setembro mais quente em 63 anos.As pancadas de chuvas anunciadas como mudanças importantes no clima em Goiás começaram na noite de domingo (6) e entraram pela madrugada em algumas localidades, principalmente ao norte do Estado, como Porangatu, Bonópolis e São Miguel do Araguaia. Também choveu em Itapaci e Ceres, mais na área central. Algumas dessas pancadas de chuva foram precipitações precedidas de muita ventania. Nesta segunda-feira (7), embora com a temperatura em torno dos 40 graus, a umidade relativa do ar ficou mais alta, superando a marca dos 60%, em algumas cidades, de acordo com o Inmet.André Amorim lembra que essas chuvas irregulares na primeira quinzena de outubro não deverão molhar adequadamente o solo, que está muito seco em razão do longo período de estiagem. “Esse é um recado para os agricultores”, afirma. Ele lembra também que a expectativa é que “as chuvas limpem a atmosfera, já que a qualidade do ar está muito ruim.” O Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), detectou, de janeiro até domingo (6), 6.060 focos de incêndio em Goiás, 264 deles neste mês de outubro.Meteorologista do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais (Cempa Cerrado), ancorado na Universidade Federal de Goiás, Angel Dominguez reforça que as chuvas do mês de outubro em Goiás serão com valores abaixo da média. “Como La Nina não se concretizou, as chuvas serão associadas a tempestades intensas em áreas específicas e irregulares. E serão de baixa qualidade, porque não serão permanentes.” O La Nina costuma resfriar os oceanos, favorecendo a umidade na área central do país. O fenômeno tem sido monitorado com muito interesse, mas não há garantia de que ele ocorra em 2024. As águas do Atlântico Norte e algumas áreas do Pacífico Norte mostram aquecimento significativo, o que explica a intensa estiagem.Angel Dominguez ressalta também que, como o solo está muito seco, não terá capacidade de absorver de imediato as águas da chuva, podendo provocar processos erosivos em espaços agrícolas. “A partir de quarta-feira (9), haverá aumento de nebulosidade, com eventos de precipitação típicos da época, da primavera, mas não está previsto o começo oficial do período chuvoso”, alerta o meteorologista.TemperaturasSegundo o Inmet, no domingo (6) a estação meteorológica da cidade de Goiás apontou o maior valor de temperatura máxima do País, chegando a 44,5°C, superando até mesmo Cuiabá, com 44,1°C, e Nhumirim (MS), com 43,3°C. Para a terça-feira (8) em Goiás, o Cimehgo prevê pancadas de chuvas nas regiões oeste, norte, leste e central do Estado, com temperaturas ainda muito elevadas.É bom lembrar que as mudanças climáticas estão provocando a elevação da temperatura e afetam a saúde humana. Beber água constantemente para manter o corpo hidratado, não ficar exposto ao sol em horários de pico – das 10 às 16 horas –, usar roupas leves, permanecer em locais ventilados e inserir muitas frutas e legumes na dieta alimentar são algumas dicas dos especialistas para enfrentar o que parece ser, de agora em diante, uma realidade constante na vida dos brasileiros. Em julho, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que o calor tem tirado a vida de 500 mil pessoas por ano, cerca de 30 vezes mais do que os ciclones tropicais. Este ano, pela primeira vez, o Ministério da Saúde publicou um guia direcionado aos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. O material visa proporcionar acesso rápido às informações necessárias para orientações aos pacientes. Trata-se de um guia de bolso, com mais de 130 páginas, que traz dados sobre alterações provocadas pelo calor nos sistemas cardiovascular, respiratório, renal, oftalmológico, cutâneo, gastrointestinal e neurológico. O guia está disponível no site da pasta.O material possui recomendações sobre zoonoses e doenças de transmissão vetorial. Com a chegada das primeiras chuvas, o alerta aumenta para as arboviroses, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti: dengue, zika e chikungunya. A proliferação do mosquito ganha ritmo acelerado com a junção de temperaturas elevadas e chuvas. É nessa época que o período reprodutivo fica mais curto.