Geral

Vegetação cobre parte do Reservatório do João Leite

Diomício Gomes
Espelho d´água da barragem do Ribeirão João Leite forrado por algas e macrófitas: indicativo de poluição

Quem passa pela BR-060 entre Goiânia e Terezópolis de Goiás atualmente não consegue mais visualizar o espelho d´água formado pela barragem do Ribeirão João Leite, pois a lagoa está forrada por algas e macrófitas, que são plantas aquáticas. O fenômeno é comum nesta época do ano, especialmente em razão do período de estiagem, o que faz com que se tenha uma maior concentração da matéria orgânica que chega à água, e maior luminosidade na região. O engenheiro agrônomo e professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Antônio Pasqualetto, afirma que a presença da vegetação é indicativo de poluição no local.

Pasqualetto explica que, a princípio, a presença das plantas aquáticas demonstram o processo de eutrofização da água, o que ocorre porque a lagoa recebe matéria orgânica provenientes da ocupação da bacia do João Leite, como das propriedades rurais e até mesmo da rodovia e as cidades. As plantas se proliferam principalmente pela presença de fósforo e nitrogênio, que são substâncias comuns em fertilizantes usados na agricultura. A pequena distância entre os imóveis rurais e a barragem facilita que os resíduos dos materiais e mesmo de agrotóxicos ou efluentes domiciliares cheguem até a água.

Nesta época do ano, com a estiagem, há uma redução natural no volume da água da barragem e mesmo que não se tenha um aumento no depósito de matéria orgânica no local, há uma maior concentração. Esta, aliada com a maior luminosidade direta na lagoa, cria o ambiente ideal para o crescimento das macrófitas e de algas. Segundo Pasqualetto, a proliferação das plantas sobre a lagoa pode gerar uma baixa na oxigenação da água, o que é medido pelo oxigênio dissolvido, e também perda de luminosidade, já que foi criada uma barreira física para a incidência da luz natural.

“Aumenta a demanda bioquímica de oxigênio na lagoa. Uma grande concentração das plantas prejudicaria animais e plantas. Os peixes ficam mais sensíveis pela falta do oxigênio e de iluminação, e o sistema radicular também libera dióxido de carbono para o ambiente”, diz Pasqualetto. No entanto, o engenheiro afirma que esta não é a situação da lagoa formada pela barragem do João Leite. “Lá tem uma poluição difusa, pelo uso da bacia. Pode até ter efluente doméstico, mas é mais de agricultura e da própria rodovia.”

Não afeta qualidade da água

A Saneago, que é responsável pela barragem do Ribeirão João Leite, informa que “as plantas aquáticas existentes no reservatório estão localizadas em área de água bruta e não afetam a qualidade da água tratada distribuída à população”. Válido lembrar que o sistema João Leite abastece parte da região metropolitana de Goiânia, incluindo a capital, em complemento ao sistema Meia Ponte. A companhia de abastecimento complementa que a vegetação sobre a lagoa faz parte do ecossistema e costuma aparecer e aumentar nesta época do ano.

A empresa informa também que “realiza o monitoramento das macrófitas, visando o controle de proliferação das plantas e a manutenção da oxigenação do reservatório”. “A quantidade de plantas existente no manancial não prejudica o abastecimento e não há necessidade de retirada da vegetação. Ou seja, no momento, não há necessidade de intervenção no ecossistema aquático, pois não há alterações físico-químicas da água bruta”, considera a Saneago. Para Pasqualetto, a retirada ou não das plantas, por meio de processo físico, depende da quantidade e se há prejuízo ambiental e para a água.

O professor considera que mais importante seria remediar a situação, como com a construção de curvas de níveis, que são estruturas que melhoram a infiltração da água pelo solo, e o reflorestamento da barragem. “Não são só as macrófitas, também tem as algas cianofíceas, que prejudicam a qualidade da água e, por isso, gera aumento no custo do tratamento da água com carvão ativado para levar ao abastecimento”, diz.

Pasqualetto explica que as plantas indicam a presença de processos erosivos, pois as raízes fixam em solo e mostram que há carreamento de solo. “Algumas fazem essa fixação, então tem solo ali, ela retém o solo.” Até por isso, em sua visão, seria necessário prevenir que as plantas aparecessem, com um maior cuidado com a bacia do João Leite, como realizando a criação da faixa de prevenção de 200 metros ao longo do ribeirão, o que está previsto para a Área de Proteção Ambiental (APA), mas nunca foi executado.

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