Segundo o representante das famílias, o “abalo psicológico” e “muitas incertezas” ainda persistem nos pais
As famílias que tiveram os bebês trocados no hospital , em Inhumas, estão se aproximando e criando uma boa convivência com os meninos, segundo o advogado Ítalo Camargo, que acompanha o caso. A troca foi descoberta após três anos do nascimento deles. O "abalo psicológico" e "muitas incertezas" ainda persistem, segundo o representante.
"As famílias estão buscando se aproximar e ter uma convivência familiar, compartilhando momentos e sempre que possível estão se encontrando, o que está dando certo. As crianças estão se dando muito bem. Porém, ainda é evidente o abalo emocional e psicológico nas famílias, ainda persiste o sentimento de medo e muitas incertezas", disse o advogado Ítalo Camargo.
Nesta quarta-feira (18), Yasmin Kessia da Silva e Cláudio Alves, além do casal Guilherme Luiz de Souza e Isamara Cristina Mendanha estiveram juntos com os filhos para um novo exame de DNA cruzado, desta vez, para o processo cível que tramita na Justiça. A confirmação de que os bebês foram trocados entre as duas famílias já havia sido confirmada após uma perícia da Polícia Científica.
No último sábado (14), as famílias fizeram o primeiro passeio juntas. O local escolhido foi o Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), em Goiânia, onde está montada a decoração do Natal do Bem.

Família visitou decoração de Natal, em Goiânia (Reprodução/Redes sociais)
"Para mim foi um dos momentos mais importantes da minha vida, com meus dois filhos que são a razão da minha vida. Cada batida do meu coração é pelos dois", contou Yasmin para a reportagem na época.
Nas redes sociais, Isamara tirou fotos com os três meninos, entre eles, o filho mais velho de 7 anos, além dos dois meninos que foram trocados. Em uma publicação ela disse: "como me sinto realizada por ter vocês".
Yasmin também posou para uma foto com o menino que é cuidado pelo outro casal e mencionou sorrindo "meu filho". Ela não acredita em uma destroca entre os filhos e deseja que eles convivam como uma "grande família".
Sem assistência e acordo
À reportagem, o advogado, que também representa as duas famílias, Márcio Rocha afirmou que até o momento o hospital não prestou nenhuma assistência às famílias, que inclusive tem recebido acompanhamento psicológico para lidar com a situação. Segundo ele, foi tentado também um acordo com a unidade de saúde, que não foi aceito.
"Chegamos a procurar os advogados do hospital para buscar diálogo numa tentativa de celebrar um acordo. Porém, responderam que não tem qualquer possibilidade de fazer acordo. O hospital segue inerte e sem qualquer preocupação com as famílias e sua dor, e lamentavelmente preferem sustentar uma queda de braço no âmbito judicial", disse o representante.
A reportagem entrou em contato com o Hospital da Mulher de Inhumas, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem. Anteriormente, o hospital informou que não iria se pronunciar até que as investigações fossem concluídas (leia nota na íntegra ao final da reportagem).
Entenda o caso

Yasmin Kessia da Silva e Claudio Alves, e o casal Guilherme Luiz de Souz e Isamara Cristina Mendanha (Rodrigo Melo/O Popular)
Os bebês nasceram no dia 15 de outubro de 2021, um às 7h35 e o outro às 7h49, conforme relataram as famílias. Os partos foram realizados por equipes médicas distintas, em uma maternidade em Inhumas, na Região Metropolitana de Goiânia. Os pais afirmaram que não puderam acompanhar o nascimento dos filhos devido às restrições impostas durante o período da pandemia de Covid-19.
A troca foi descoberta após um dos casais se separar, pois Cláudio Alves solicitou um exame de DNA para comprovar a paternidade do filho. A ex-mulher, Yasmin Kessia da Silva, de 22 anos, também quis fazer o exame. "Se ele não fosse filho do Cláudio, também não era meu", disse.
O exame foi realizado no dia 31 de outubro de 2024 e o laboratório pediu uma contraprova, que indicou que a criança não era filha de Yasmin e nem de Cláudio.
Eles disseram que o sangue do meu filho não era compatível com o meu. Eu pensei que era um erro. Mas veio a contraprova", disse Yasmin.
A jovem se lembrou da família que estava no mesmo dia do nascimento do filho e conseguiu contato com eles por meio de um pastor. Após ela entrar em contato e contar o que houve, Isamara Cristina Mendanha, de 26 anos, e Guilherme Luiz de Souza, 27 anos, também fizeram o exame de DNA com o filho, que apresentou resultado incompatível de parentesco.
As famílias disseram que as mães não tiveram nenhum acompanhamento durante o parto. Elas só se lembram de ver os filhos no quarto, depois que passou o efeito da anestesia. Nenhuma delas se lembra se havia pulseiras de identificação nas crianças, mas uma foto tirada logo após o parto mostra o filho de Yasmin com um bracelete.
A jovem disse que passou mal durante o parto e não se lembra do que aconteceu na sala de recuperação. "Eu acordei e o bebê já estava do meu lado, minha mãe estava dentro do quarto. Eu me lembro de relances", narrou Yasmin.
Já Isamara disse que chegou ao quarto antes do bebê, que foi levado até ela logo em seguida. "Eu levei a primeira roupinha do meu primeiro filho para colocar no segundo. E para mim, veio tudo certo [a roupinha do bebê]", contou.
O marido de Isamara afirmou que sente que faltou cuidado e respeito com as famílias por parte do hospital, que recebeu a confiança deles. "É um pesadelo. Eu acho que ninguém deveria passar por isso. Esse é um erro que os profissionais da saúde jamais deveriam cometer", afirmou Guilherme.
Exame comprova troca
Na sexta-feira (13), um exame de DNA confirmou que os bebês das duas famílias de fato foram trocados após o nascimento na maternidade em Inhumas. A informação foi confirmada pelo advogado das famílias, e, de acordo com a nota emitida à imprensa, o resultado do exame apontou que o filho do casal Isamara Cristina Mendanha e Guilherme Luiz de Souza foi trocado com o filho de Yasmin Kessia da Silva e Cláudio Alves, o que já era esperado.
Recepcionamos na data de hoje (13), o resultado do Exame de DNA requerido pelo delegado de Polícia responsável pelo inquérito sobre a troca de bebês em Inhumas, o resultado foi conclusivo atestando o que se esperava", diz um trecho do comunicado.
Investigação
O delegado Miguel Mota informou que não vai se manifestar sobre o caso, pois está sob sigilo. Em nota, a Polícia Civil informou que "os envolvidos já foram ouvidos e o inquérito policial prossegue com diligências em andamento para esclarecer a dinâmica do fato e sua autoria" (confira a nota da Polícia Civil ao final da matéria) .
Nota do do Hospital da Mulher
"No momento o hospital não irá se pronunciar até que as investigações sejam concluídas.
Como o caso está sob investigação policial e tramita em sigilo por envolver menores de idade, o hospital está legalmente impedido de fornecer informações acerca do caso à imprensa, em obediência a Lei Geral de Proteção de Dados."
Nota da Polícia Civil
"A Polícia Civil de Goiás informa que a Delegacia de Inhumas - 16ª DRP investiga possível crime previsto no artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente (deixar o médico de identificar corretamente o neonato e a parturiente por ocasião do parto), em que dois bebês teriam sido trocados no hospital da cidade. O fato foi descoberto após um dos casais envolvidos resolver se separar, tendo feito exames de DNA que comprovaram que o filho não era biologicamente compatível com nenhum dos dois. Os envolvidos já foram ouvidos e o inquérito policial prossegue com diligências em andamento para esclarecer a dinâmica do fato e sua autoria.
Goiânia, 05 de dezembro de 2024.
Gerência de Comunicação e Cerimonial/PCGO"