Internos alegaram que sofriam violência psicológica e passavam fome. Idosos eram cuidados por dois ex-dependentes químicos sem nenhuma formação, segundo a polícia

Havia fezes e urina no colchão, além de idosos dopados (Divulgação/Polícia Civil)
Uma clínica clandestina foi interditada por condições insalubres e maus-tratos contra idosos, em Joanápolis, distrito de Anápolis, de acordo com a Polícia Civil (PC). Durante a visita, os policiais notaram que o local estava infestado de fezes e urina, tinha comida estragada e havia internos dopados. O dono da clínica, que é advogado, está foragido, segundo a PC.
Por não ter o nome divulgado, a reportagem não conseguiu localizar a defesa dele para que pudesse se posicionar. A reportagem pediu posicionamento para a Ordem dos Advogados do Brasil -- Seção Goiás (OAB-GO), mas a instituição disse não ter sido informada da ocorrência e que ainda não sabe o nome do suspeito.
A inspeção ocorreu na manhã desta sexta-feira (21) após a Delegacia do Idoso de Anápolis (Deai) receber uma denúncia anônima de uma família que resgatou uma interna. A idosa teria conseguido fazer uma ligação, no dia anterior, para seus parentes e contado a situação que estava vivendo.
À TV Anhanguera, o delegado responsável pelo caso, Manoel Vanderic, descreveu que os agentes se surpreenderam quando entraram no abrigo a viram as condições do local.
Estava caótico. Muitas fezes, muita urina nos colchões, mau cheiro. A geladeira sem alimento, produtos vencidos, comida muito fermentada já na panela na cozinha para o dia seguinte. A gente percebeu que alguns idosos estavam meio dopados. [...] Alguns idosos estavam com muita coceira, com muita ferida no braço. A gente não sabe se é sarna ou se é uma reação alérgica ou de medicação", explicou
Segundo o delegado, idosos reclamaram que sofriam violência psicológica, fome e a comida não era apropriada: "Alguns não conseguiam mastigar e ficavam sem comer. Eles reclamaram que no lanche da tarde era bolacha e a janta às vezes era só macarrão", disse Vanderic.

Na clínica havia alimentos vencidos na geladeira e tinha comida "fermentada" para o outro dia (Divulgação/Polícia Civil)
Funcionários
A polícia apontou que os dois funcionários que trabalhavam na clínica eram ex-dependentes químicos, que já foram internos do dono do abrigo. Eles ficavam responsáveis pelos idosos, inclusive pela entrega da medicação.
Eles estavam em uma outra clínica desse dono e então ele os levou para trabalhar lá, com a promessa de que iria pagar um salário mínimo, mas não pagou. Eles ficavam 24 horas na clínica. [...] Quem dava medicação para os idosos, muita coisa pesada psiquiátrica, era um ex-dependente químico que não tem nenhuma formação.", disse o investigador.
De acordo com PC, os internos foram resgatados e enviados para dois abrigos de Anápolis, São Vicente e Guardalupe. Ao POPULAR, a Secretaria Municipal de Assistência Social informou que enviou uma equipe para acompanhar a ocorrência e dar suporte às vítimas, que foram encaminhadas para uma instituição de longa permanência do município, onde aguardam a chegada dos familiares.
Foragido
Conforme a polícia, o dono da clínica soube da operação e fugiu do local. Ele não foi encontrado nos endereços dele e é considerado foragido.
O delegado citou que o suspeito já havia sido preso e indiciado por cárcere privado, maus-tratos, apropriação de aposentadoria, retenção de documentação do idoso e trabalho análogo à escravo, devido às clínicas que ele tinha em Anápolis e Abadiânia. Agora, poderá responder pelos mesmos crimes, conforme o investigador.
O local onde a clínica funcionava foi alugado há três meses, mas o aluguel não foi pago e a proprietária já havia pedido o despejo, segundo a polícia. O caso segue sendo investigado.
(Colaborou Elisângela Nogueira, da TV Anhanguera - Anápolis)