Igreja onde teto desabou não tinha projeto aprovado pelos Bombeiros
Cheio de rachaduras, o restante do prédio está condenado e deverá ser demolido
Mariana Carneiro, Mariana Carneiro
20 de março de 2025 às 06:45
Modificado em 20/03/2025, 08:10

Mais de 70 placas solares estavam instaladas, um peso adicional de 2 toneladas, quando o teto da igreja desabou (Wildes Barbosa / O Popular)
A instalação de placas solares na igreja em que parte do teto desabou na manhã desta quarta-feira (19), no Setor Leste Vila Nova, foi iniciada sem a aprovação prévia do projeto pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBM-GO). O desabamento ocorreu enquanto trabalhadores colocavam os equipamentos no edifício. No momento da queda, a igreja, que recebe em média 3 mil pessoas aos domingos, estava vazia, tendo apenas os seis funcionários envolvidos no acidente, sendo que um delas foi hospitalizada. Cheio de rachaduras, o restante do prédio está condenado e deverá ser demolido.
Os trabalhadores que instalavam as placas viveram momentos de pânico. Quatro deles estavam no telhado do edifício quando o desabamento começou. Eles ficaram agarrados à estrutura à espera de socorro. Os outros dois estavam no chão, viabilizando a subida das placas solares. Um deles conseguiu escapar do ocorrido sem ferimentos. O outro teve ferimentos na cabeça e foi encaminhado para o Hospital de Urgências de Goiás (Hugo).
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De acordo com o CBM, antes de realizar a instalação das placas solares, a empresa deve apresentar o projeto técnico para que ele seja avaliado e analisado se está em conformidade com as medidas de segurança contra incêndio e pânico. A instalação deve seguir as diretrizes estabelecidas na Norma Técnica 44/2025, que trata sobre a Segurança em Sistemas Fotovoltaicos.
Neste caso, o trabalho foi iniciado sem a prévia aprovação do projeto pela corporação. O recebimento, cadastro e análise dos projetos técnicos encaminhados ao CBM é realizado pelo setor de atividades técnicas. Além da falta de um projeto aprovado, a edificação não possui o Certificado de Conformidade (Cercon) da corporação, documento que atesta se um prédio está em conformidade com as normas de segurança contra incêndios.
Desabamento
O trabalhador de uma oficina mecânica que fica em frente à igreja foi quem ligou para os Bombeiros solicitando socorro quando parte do telhado da igreja desabou. Matheus Oliveira, de 27 anos, conta que os homens instalavam placas há cerca de uma semana. Quando a estrutura ruiu, por volta de 10h30, ele e outros colegas de trabalho levaram um susto. "Um barulho muito alto e muita poeira", diz.
Além do CBM, a Defesa Civil de Goiânia e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) estiveram no local após o acidente. Um laudo sobre o ocorrido será produzido pela Defesa Civil e o CBM-GO em conjunto. O CREA também emitirá um relatório técnico sobre a situação.
Capitão do CBM, Guilherme Lisita esteve no local e esclarece que, conforme informações das pessoas que trabalhavam na instalação, mais de 70 placas já tinham sido instaladas quando ocorreu o desabamento, sendo que cada uma delas pesa por volta de 30 quilos. Na prática, isso representa um peso adicional de mais de 2 toneladas ao telhado.
Até o meio da tarde desta quarta, uma das ruas laterais da igreja, que fica localizada nas proximidades da Avenida Anhanguera, estava interditada. Segundo o coordenador da Defesa Civil de Goiânia, Robledo Mendonça, o motivo é o risco de desabamento do restante da estrutura .
Para a reportagem, o pastor André Francisco, responsável pela unidade, contou que a igreja ocupa o edifício há mais de 20 anos e que toda a comunidade está entristecida com o que ocorreu. Segundo ele, o restante da estrutura será demolido e um novo prédio será reconstruído.
Laudo
O gerente de fiscalização do Crea-GO, Jeorge Frances, afirma que além das medidas administrativas ligadas à área elétrica, existe toda uma parte de engenharia envolvida no processo de instalação de placas solares. Primeiro, é necessário dimensionar a energia que poderá ser produzida no local. O quantitativo de carga que vai determinar a quantidade e o tipo de placa que será utilizada no local. Cada tipo de placa tem um peso diferente. Isto também define a forma como as placas serão acomodadas.
Para isso, é necessário a análise e confecção de um laudo por um engenheiro especialista em cálculo estrutural. Ele é o profissional que vai definir se a estrutura em questão suporta a carga estática (o peso das placas) e a carga dinâmica (o peso que envolve o processo de acomodação do material). "Às vezes, a estrutura suporta o peso das placas, mas é preciso, por exemplo, instalar as placas em sequência uniforme, ao invés de um lado primeiro e depois o outro", detalha.
Além do cuidado com a estabilidade estrutural, ele reforça a necessidade de redimensionar o sistema de segurança contra incêndio, aprovando a mudança do projeto no CBM, com exceção das residências unifamiliares. A reportagem não conseguiu localizar a empresa responsável pela instalação das placas para comentar o assunto.
Em nota, a Igreja Videira informou que todas as medidas de segurança foram adotadas prontamente para garantir a integridade de todos os envolvidos e que, imediatamente após o ocorrido, especialistas foram acionados para avaliar as causas do incidente. Comunicou que colabora com as autoridades e responsáveis técnicos para garantir que "todas as medidas corretivas sejam tomadas com a máxima responsabilidade e segurança". A igreja ainda reiterou "o compromisso com a segurança dos membros e da comunidade e seguimos à disposição para esclarecimentos".
Associação
Já a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) informou que embora ainda não haja um laudo técnico oficial sobre as causas do acidente, "a entidade acompanha de perto os desdobramentos do ocorrido". A Absolar destacou que "as instalações fotovoltaicas em telhados, fachadas e coberturas são seguras, quando projetadas e instaladas seguindo todos os protocolos de segurança e qualidade estabelecidos pelas boas práticas do setor, em linha com as exigências técnicas e legais".
A associação frisou a importância da realização de perícia técnica específica para a ocorrência em questão, "para que sejam investigadas e identificadas as causas da fatalidade, de forma precisa e transparente" e reforçou que, para a instalação e manutenção de sistemas fotovoltaicos, os profissionais devem necessariamente possuir habilitação técnica apropriada para interagir com instalações elétricas e serviços com eletricidade, além de capacitação atividades de trabalho em altura.
