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Indiciado médico de Goiás que acorrentou funcionário em "vídeo de brincadeira"

O médico Márcio Antônio foi indiciado pelo crime de prática, incitação ou induzimento de preconceito ou discriminação de raça, etnia ou cor

Modificado em 20/09/2024, 00:12

Vídeo viralizou em fevereiro deste ano, provocando indignação

Vídeo viralizou em fevereiro deste ano, provocando indignação (Reprodução)

Atualizada às 19h52

A Polícia Civil concluiu o inquérito contra o médico Márcio Antônio Souza Júnior, da cidade de Goiás, e o indiciou pelo crime de prática, incitação ou induzimento de preconceito ou discriminação de raça, etnia ou cor. O indiciamento decorre do vídeo em que Márcio aparece conversando com um funcionário acorrentado, dizendo que o homem, que é negro, ficaria "em sua senzala" por não ter estudado.

Já concluído, o inquérito será remetido ao Poder Judiciário ainda hoje (14). As investigações tiveram início em 16 de fevereiro, tão logo a Polícia Civil teve conhecimento do vídeo.

Nas imagens, que viralizaram e provocaram indignação, o funcionário aparece acorrentado enquanto o médico diz "falei para estudar, mas ele não quer. Então vai ficar na minha senzala".

Em outro trecho, Márcio provoca, em tom de brincadeira: "tenta fugir, pode ir embora". Após a forte repercussão negativa, o médico publicou outro vídeo ao lado do funcionário, dessa vez sem correntes. Nele, Márcio disse que tudo não passou de uma brincadeira.

Já o funcionário afirmou que o médico era como "um pai" para ele.

Repúdio

Na ocasião da divulgação do vídeo, a Secretaria das Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos da Cidade de Goiás divulgou uma nota repúdio sobre o que classificou como "lamentável episódio em que uma Pessoa Negra, um Ser Humano é exposto acorrentado pelas pernas e com grilhões nos braços e no pescoço".

A nota cita o artigo 3º da Constituição Federal, que estabelece os direitos fundamentais do cidadão.

Em nota enviada ao DAQUI, a defesa de Márcio ressaltou que o vídeo não teve intenção de ofender ou de enaltecer "qualquer tipo de discriminação".

Veja abaixo:

Nota

A defesa respeita essa etapa da apuração, mas confia que o Ministério Público reconhecerá o que ficou claro em seu depoimento e no depoimento dos outros envolvidos na inoportuna brincadeira, já que se trata de um assunto de extrema importância sobre o qual já se desculpou publicamente. Deixa claro que não houve intenção de ofender ou de enaltecer qualquer tipo de discriminação.

Pedro Paulo de Medeiros Advogado

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Luighi diz que racismo em jogo do Palmeiras deixa cicatrizes

Jogador levou uma cusparada, denunciou xingamento de "macaco" ao árbitro da partida e chorou no banco de reservas

Modificado em 07/03/2025, 08:31

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O atacante Luighi, do Palmeiras, se manifestou nas redes sociais após ser alvo de racismo na partida da equipe sub-20 contra o Cerro Porteño, nesta quinta-feira, pela Libertadores da categoria (assista acima a entrevista dada pelo jogador após o jogo) .

"Dói na alma. E é a mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história, porque as coisas evoluem, mas nunca são 100% resolvidas. O episódio de hoje deixa cicatrizes e precisa ser encarado como é de fato: crime. Até quando? É a pergunta que espero não ser necessária ser feita em algum momento. Por enquanto, seguimos lutando", disse Luighi, no Instagram.

Figueiredo e Luighi foram alvos de ataques. O primeiro deles viu um torcedor - que estava com uma criança no colo - imitar um macaco em sua direção enquanto passava pela lateral do campo.

Luighi levou uma cusparada, denunciou xingamento de "macaco" ao árbitro da partida e chorou no banco de reservas. Ele desabafou na entrevista após o jogo e se revoltou com a falta de uma pergunta sobre o episódio. A entrevista foi feita por um prestador de serviço da transmissão oficial da Conmebol, que é instruído protocolarmente a perguntar sobre o jogo, segundo apurou o UOL. O atleta voltou a ir aos prantos.

"É sério isso? Vocês não vão perguntar sobre o ato de racismo que fizeram comigo? É sério? Até quando a gente vai passar isso? Me fala... até quando a gente vai passar isso? O que fizeram comigo foi um crime, pô. Vocês vão perguntar sobre o jogo mesmo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? CBF, sei lá. Você não vai perguntar sobre isso? Não ia, né? Você não ia perguntar sobre isso. O que fizeram foi um crime comigo, pô. A gente é formação. Aqui é formação, pô. A gente está aprendendo aqui", disse Luighi, na saída de campo.

O Palmeiras divulgou nota condenando os atos racistas e disse que "irá até as últimas instâncias para que todos os envolvidos em mais esse episódio repugnante de discriminação sejam devidamente punidos".

Já a Conmebol afirmou, também em nota, que "medidas disciplinares apropriadas serão implementadas, e outras ações estão sendo avaliadas em consulta com especialistas da área".

O Palmeiras venceu o jogo por 3 a 0. Riquelme Fillipi marcou dois gols, e Erick Belé anotou o outro. O time paulista chegou aos seis pontos e se isolou na liderança do grupo após a segunda rodada.

Trechos da entrevista que o atacante Luighi deu após o jogo onde sofreu racismo. (Reprodução/Globo Esporte)

Trechos da entrevista que o atacante Luighi deu após o jogo onde sofreu racismo. (Reprodução/Globo Esporte)

Nota do Palmeiras

É inadmissível que, mais uma vez, um clube brasileiro tenha de lamentar um ato criminoso de racismo ocorrido em jogos válidos por competições da CONMEBOL. A Sociedade Esportiva Palmeiras presta toda solidariedade aos atletas do clube que estão disputando a Libertadores Sub-20 no Paraguai e comunica que irá até as últimas instâncias para que todos os envolvidos em mais esse episódio repugnante de discriminação sejam devidamente punidos.

Racismo é crime! E a impunidade é cúmplice dos covardes!

As suas lágrimas, Luighi, são nossas! A Família Palmeiras tem orgulho de você!

Nota da Conmebol

A CONMEBOL rejeita categoricamente todo ato de racismo ou discriminação de qualquer tipo. Medidas disciplinares apropriadas serão implementadas, e outras ações estão sendo avaliadas em consulta com especialistas da área.

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Ministra das Mulheres se solidariza com repórter que sofreu comentário machista de presidente do Atlético-GO

Jornalista da CBN / Goiânia e da TV Anhanguera se retirou de entrevista após fala do dirigente

Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves

Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves (Pedro Ladeira/Folhapress)

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, se posicionou em solidariedade à repórter Nathália Freitas na tarde desta quinta-feira (30), após a jornalista da CBN / Goiânia e da TV Anhanguera ser alvo de comentário machista do presidente do Atlético-GO, Adson Batista. A ministra disse que o assédio sofrido pela repórter é "inaceitável".

A manifestação da ministra é uma das que ocorreram ao longo desta quinta-feira (30), um dia após a repórter ser alvo do comentário machista de Adson Batista.

Nenhuma mulher deve ser submetida a situações constrangedoras e desrespeitosas, em qualquer ambiente. Minha solidariedade a Nathália e a todas que enfrentam o machismo em seu dia a dia", escreveu Cida Gonçalves na rede social X.

Na última quarta-feira (29), durante entrevista após o empate sem gols entre o Atlético-GO e o Goianésia, no Estádio Antônio Accioly, Adson Batista disse, após uma pergunta de Nathália Freitas, que a jornalista falou sobre determinado jogador porque o achou "bonitinho".

Na resposta que deu à pergunta da repórter, Adson perguntou quem teria feito uma partida razoável no Atlético-GO. Nathália respondeu "talvez o Alejo", se referindo ao atacante Alejo Cruz. O presidente então falou que o jogador errou muito e que a repórter fez a avaliação porque "achou ele bonitinho, só isso".

Nathália rebateu o dirigente. "Não posso aceitar esse seu comentário, que você fez porque eu sou mulher", disse. Adson Batista chegou a se desculpar, mas menosprezou a reação da repórter dizendo "sem barraco". Nathália, então, se retirou da entrevista.

Veja a publicação da Ministra das Mulheres:

O assédio sofrido pela jornalista Nathália Freitas pelo presidente do Atlético-GO, Adson Batista, durante uma entrevista coletiva, é inaceitável. Nenhuma mulher deve ser submetida a situações constrangedoras e desrespeitosas, em qualquer ambiente. Minha solidariedade a Nathália e a todas que enfrentam o machismo em seu dia a dia. O Ministério das Mulheres reafirma seu compromisso no combate ao assédio e à violência de gênero. Respeito e igualdade não são negociáveis!"

Outras manifestações

O senador Fabiano Contarato (PT) também declarou apoio à repórter goiana.

Todo o meu repúdio aos comentários machistas sofridos pela repórter Nathália Freitas, da TV Globo/Rádio CBN, durante uma entrevista. Minha solidariedade a ela e a todas as profissionais de imprensa, que além do trabalho árduo de cobertura, ainda infelizmente têm que lidar com esse tipo de desrespeito. Valorizar o trabalho da imprensa passa primeiro pelo básico de como deveríamos agir com qualquer ser humano: tratar cada uma e cada um com o devido respeito", escreveu o político no X.

A ex-deputada federal Manuela d´Ávila também publicou sobre o episódio. "Ele chama de barraco, nós chamamos de respeito. Minha solidariedade à jornalista Nathália Freitas, constrangida enquanto trabalhava pelo presidente do Atlético Goianense", escreveu no X.

A Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de Goiás (Aceeg) publicou uma nota oficial repudiando o comentário do dirigente atleticano.

A Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de Goiás repudia com veemência o comportamento machista e desrespeitoso do dirigente com a repórter Nathália Freitas, que em momento algum deixou a seriedade de lado durante seu trabalho abrindo brechas para brincadeiras.

O futebol é um espaço onde temos ainda um número reduzido de mulheres trabalhando, mas felizmente elas vem ganhando cada vez mais oportunidades, e com muito merecimento ocupando funções extremamente importantes, como é o caso da Nathália, que atua como repórter na Rádio CBN e na TV Anhanguera. Duas empresas do Grupo Jaime Câmara.

A ACEEG se solidariza com sua associada, que deixou a sala de coletiva chorando enquanto a mesma seguiu naturalmente. Nathália representa a resistência e persistência de tantas mulheres que gostam de futebol, mas que muitas vezes se mantém fora deste meio por conta de comentários como os que foram feitos por Adson Batista."

Outra manifestação de apoio veio do Sindicato dos Jornalistas de Goiás. "O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Goiás expressa publicamente sua solidariedade à jornalista Nathália Freitas, que, na noite de 29 de janeiro de 2025, foi interpelada de maneira machista, antiprofissional e constrangedora pelo atual presidente do Atlético Clube Goianiense.

A jornalista, que mantém conduta profissional irretocável em todos os veículos onde atua e atuou, não merecia o tratamento dispensado pelo dirigente esportivo, que já demonstrou comportamento desrespeitoso com outros colegas em ocasiões anteriores.

Esperamos que essa conduta, inaceitável em um momento de busca por maior igualdade de oportunidades profissionais em todas as áreas, sirva de reflexão e incentive a mudança de comportamento por parte deste e de outros dirigentes. Que todos os profissionais, independentemente de gênero, sejam tratados com o respeito que merecem!"

Nathália Freitas é repórter da CBN/Goiânia desde janeiro de 2023 e está na TV Anhanguera desde abril do mesmo ano. Antes, a jornalista, que está com 30 anos, teve passagem pela Rádio Sagres/730.

Às 23h44 de quarta-feira (29), no X, o presidente do Atlético-GO publicou um comunicado e um pedido de desculpas à jornalita. Disse que "em situações como essa, o humor pode ser mal interpretado".

Por causa do comportamento de Adson Batista, a CBN/Goiânia avisou, no ar, após a entrevista, que não terá equipe da emissora no próximo jogo do Atlético-GO, em Inhumas, no próximo sábado (1).

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'Sua preta, imunda, nordestina, pobre': operadora de telemarketing sofre injúria racial de cliente durante atendimento

Estudante de administração, a vítima trabalha oferecendo empréstimos para aposentados pelo telefone. O caso ocorreu em Trindade

Modificado em 11/01/2025, 14:46

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"Sua preta, imunda, nordestina, pobre, telefonista." Essas são algumas das ofensas racistas e xenofóbicas que uma assistente de telemarketing de 29 anos sofreu ao atender um cliente na terça-feira (7) (ouça os áudios acima) .

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Há alguns meses, a estudante de administração Vitória*, mãe de duas meninas, trabalha em uma empresa como correspondente bancária, oferecendo empréstimos para aposentados, na cidade de Trindade, a cerca de 25 km de Goiânia.

Ao g1, Vitória explicou que as ligações aos clientes cadastrados no sistema da empresa são efetuadas de forma automática --- "uma atrás da outra".

Ao final de cada chamada, ela precisa preencher os dados da ligação em uma tabela, informando, por exemplo, se o cliente se recusou a atendê-la. Caso ela não realize o procedimento, o sistema volta a ligar para a mesma pessoa.

O número do protocolo de atendimento também é enviado para o WhatsApp de cada cliente pelo celular corporativo de Vitória.

Na terça à tarde, a jovem estava no meio do expediente, fazendo mais uma ligação, quando um homem a atendeu. Contudo, no cadastro, a linha estava em nome de uma mulher. O homem ficou bravo com o engano e passou a xingá-la.

"Eu queria falar com a Delfina, que é o nome da cliente que estava cadastrado. Ele falou assim: 'Que desgraça, vagabunda, sua piranha. Vai dar seu c* e começou a me xingar'. [No início da ligação,] eu já envio o protocolo no WhatsApp, é automático. Como trabalho como correspondente bancária, a foto do perfil é a minha. Eu fiquei muito desesperada, porque ele estava me xingando muito, e eu fui apagar o protocolo [enviado] para ele", contou.

Após xingá-la, o agressor desligou o telefone. Como Vitória estava preocupada em apagar o número de protocolo enviado pelo WhatsApp, ela não tabulou os dados, e o sistema voltou a ligar para o homem.

"Ele atendeu de novo. Já tinha aberto a mensagem e visto a minha foto [no WhatsApp]. E começou a me chamar de preta. Na hora que ele falou que eu era preta, eu respondi: 'Você sabe que isso que você está falando cabe um processo. Você não pode ficar chamando as pessoas de preto assim desse jeito'. E aí eu já desliguei", contou Vitória.

A discussão e as ofensas continuaram pelo WhatsApp por áudio. A jovem, então, escreveu para o agressor que iria atrás de seus direitos e que "ele mexeu com a pessoa errada", além de reafirmar que "é preta, sim" e que "se acha linda".

Segundo a assistente de telemarketing, o homem enviou vários áudios com falas de teor racista, xenofóbica e gordofóbica, além de afirmar durante a conversa que era de Santa Catarina e "loiro de olho verde".

"Você está falando com uma pessoa inteligente, que sabe exatamente como você é. Mais uma preta, pobre, imunda, podre, que fica ligando 50 vezes por dia. Há dois anos vocês ficam me ligando. Sua imunda [...] Você é horrível. Além de horrível por dentro, horrível por fora. Você é um lixo de gente. Sua pobre teleatendente, vergonhoso o tipo de trabalho que você faz", gritou o agressor em um dos áudios.

"Eu moro no meu apartamento lindo, aqui numa cidade linda do Sul. Tenho olho claro. Sou gato. A tua fala, sinto dó de você. Não passa de uma psicologia básica e imunda de gente pobre. Vai estudar e quem sabe assim você consegue discutir com alguém que tenha um pouco mais de conhecimento, tá, sua preta imunda", ainda disse o homem.

Ao final das ofensas, o agressor apagou os áudios e bloqueou o número da vítima. Vitória contou que desabou e chorou muito, sendo acolhida pelos colegas de trabalho.

"Eu fiquei chorando bastante, nunca tinha escutado isso antes. É muito ruim a gente escutar isso, ser chamada de preta e pobre. As pessoas acham que só porque a gente é preta a gente não tem capacidade, a gente nunca vai conseguir nada, a gente não é ninguém [...] Ele realmente acha que acabou comigo com as palavras, e realmente acabou, né? Afeta o meu psicológico", desabafou Vitória.

A jovem procurou a polícia e registrou um boletim de ocorrência por injúria racial na Delegacia de Trindade. Ela procura por Justiça para que, no futuro, o mesmo não aconteça com suas filhas.

Delegacia Regional da Polícia Civil de Trindade (Reprodução/Secom Goiás)

Delegacia Regional da Polícia Civil de Trindade (Reprodução/Secom Goiás)

Ao g1, advogado de defesa, José Luiz Oliveira Júnior, afirmou que o caso de Vitória não é isolado e é um reflexo da sociedade e do tempo que vivemos.

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Novo feriado nacional é importante para reflexão sobre o racismo

Especialista analisa o Dia da Consciência Negra na primeira vez que é celebrado em todo o país

Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é em 20 de novembro e será feriado no país todo pela primeira vez

Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é em 20 de novembro e será feriado no país todo pela primeira vez

Neste ano, pela primeira vez, 20 de novembro, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que destaca a importância da cultura afro-brasileira e da luta antirracista, será feriado nacional. A Lei 14.759/23, que declara a data feriado em todo o Brasil, foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em dezembro de 2023.

Até então, a data era feriado apenas nos estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo, e em cerca de 1.200 cidades através leis municipais, o que representava 29% do território brasileiro.

Os registros de casos de racismo cresceram 127% no país em 2023, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho. Foram feitos 11.610 boletins de ocorrência de racismo no último ano. Em 2022, foram 5.100.

Em menor proporção, as ocorrências por injúria racial também cresceram. Foram 13.897 em 2023, 13,5% a mais que as 12.237 de 2022. O presidente Lula sancionou em janeiro do ano passado uma lei que equipara injúria racial ao crime de racismo, após decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o tema.

O advogado criminalista Gabriel Fonseca, que integra o escritório Celso Cândido de Souza Advogados, explica a diferença entre os dois crimes.

"O racismo se trata de ofensa à uma coletividade, enquanto a injúria racial é direcionada à uma pessoa específica. Por exemplo: o fato de alguém proibir um grupo de acessar algum local por conta de sua raça, etnia ou religião é ato de racismo. Enquanto emitir ofensa contra alguém, referindo-se a etnia, é tratado como injúria racial. A Lei 14.532/2023 equipara injúria racial ao racismo, tornando a pena dos dois delitos de 2 a 5 anos, não cabendo fiança em qualquer um deles".

Mesmo com essas mudanças, o especialista pontua que a legislação poderia melhorar. "Entendo que a pena deveria se agravar mais, uma vez que, mesmo com a sociedade evoluída tecnologicamente, ainda verificamos situações em que pessoas de cor parda ou preta são manifestamente discriminadas e têm várias oportunidades negadas. A pena deve ser agravada, principalmente para que esse tipo de conduta seja cada vez mais reprimida".

O Brasil
Gabriel Fonseca analisa também o país quanto ao preconceito racial. "O racismo consiste em uma maneira de discriminação, que é disseminado por meio de inssultos, agressões e desigualdade em oferecimento de oportunidades e exclusões sociais. No Brasil, temos uma miscigenação muito grande e, mesmo com a presença de pessoas de várias etnias, ainda presenciamos situações em que umas se sentem superiores às outras, principalmente por sua etnia".

Muitas pessoas reclamam sobre a maioria dos inquéritos, inicialmente, serem enquadradas como injúria ao invés de racismo. O advogado explica a razão disso acontecer.

"Porque no cotidiano, situações de injúria racial são muito mais comuns do que o racismo. Na prática vemos muitas vezes alguém ser xingado ou ofendido em razão da cor de sua pele, por exemplo. É mais difícil presenciarmos ofensas contra uma coletividade, mesmo assim, realizar essa diferenciação é fundamental para o devido processo legal", pontua ele.

Para o especialista, a ampliação do feriado é um fator relevante. "É importante que o feriado do Dia da Consciência Negra seja em âmbito nacional. Em que pese muitas pessoas negarem a existência do racismo na sociedade, existe um contexto muito abrupto contra pessoas negras, principalmente pela escravidão. À medida que o tempo passa, essa mancha causada vai sendo curada. Porém, ainda não evoluímos o suficiente para equiparar as situações de todas as pessoas. É inegável que ainda existem oportunidades sendo distribuídas de maneiras desiguais, daí vem o sentido da aplicação de cotas em faculdades e em alguns trabalhos. Essa luta ainda persistirá por muito tempo, até que a sociedade possa conviver proporcionando as mesmas condições a todos".