Mutirama deve voltar em julho com cobrança de ingresso
Prefeitura faz levantamento para reforma e trabalha com retorno no mês de férias. Só famílias com CadÚnico terão gratuidade
Vandré Abreu
28 de março de 2025 às 06:20
Modificado em 28/03/2025, 07:02

Bilheteria do Parque Mutirama: atração ficará fechada para auditoria de todos os brinquedos (Wesley Costa / O Popular)
Fechado há uma semana, o Parque Iris Rezende Machado -- Mutirama não tem data certa para voltar a funcionar. A Secretaria Municipal de Gestão de Negócios e Parcerias (Segenp) trabalha em uma auditoria da situação de todas as 26 atrações do local para verificar o que precisa ser feito para que os brinquedos possam voltar a funcionar com segurança. O consultor da pasta, Flávio Rassi, nomeado pelo prefeito Sandro Mabel (UB) em meados deste mês, afirma que o objetivo da gestão é "devolver o Mutirama para a população com a mesma importância que tinha antes", ao relembrar que visitava o espaço na sua infância. "Mas com tudo funcionando, bonito e com segurança", diz. A expectativa é que as reformas fiquem prontas até o mês de julho, quando ocorrem as férias escolares.

Consultor da Segenp, Flávio Rassi: “O Mutirama fingia que funcionava” (Prefeitura de Goiânia)
Para Rassi, é necessário, no momento, fazer um levantamento de tudo o que tem no parque para saber "o estado real dos brinquedos". "O Mutirama estava fingindo que estava funcionando. Tinham lá seis brinquedos funcionando, isso não é estar aberto", afirma o colaborador. Ele, que é empresário e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), órgão presidido por Mabel até sua posse no Paço Municipal, foi nomeado na pasta junto com o novo secretário, José Silva Soares Neto, com o objetivo de atuar como um servidor eventual e sem custos adicionais à administração pública. A ideia é justamente operacionalizar gestões ditas eficientes em determinados ramos da Prefeitura, como o Mutirama, o Zoológico e os cemitérios.
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Na semana passada, o Mutirama ficou sem funcionar desde que os funcionários da empresa Opção Engenharia pararam de trabalhar em razão de falta de pagamento. A Opção não recebeu qualquer valor do atual contrato, firmado em agosto passado, pois o mesmo ainda não recebeu a certificação da Controladoria-Geral do Município (CGM). Sem o laudo técnico de que os brinquedos estão seguros, eles não podem ser operacionalizados e, por isso, o parque ficou fechado. Naquele dia, apenas 5 das 26 atrações receberiam o laudo favorável ao funcionamento e, uma semana antes, 8 brinquedos estavam funcionando. A empresa Trip Locações, responsável pela operação dos brinquedos e bilheteria, também está sem receber há quatro meses.
Para a reportagem, na semana passada, a Opção Engenharia afirmou que precisaria de 15 dias para deixar 22 atrações habilitadas para o uso seguro, com a compra das peças e manutenção. Flávio Rassi conta que o fechamento do parque não se deu apenas em virtude da falta da empresa de manutenção. "O principal problema é que recebemos do engenheiro um laudo de aterramento do parque que constou que não foi feito o aterramento, ou seja, a maioria dos brinquedos são metálicos, é um tempo chuvoso, poderia cair um raio lá e teríamos de fechar o parque porque alguém morreu, seria muito pior. Isso foi muito mais motivo para fechar", diz.
Cobrança
Junto da reforma do Mutirama, a nova gestão municipal já definiu que vai revogar uma decisão feita por Iris Rezende em 2019, quando o parque foi reaberto em junho daquele ano após dois anos de fechamento em razão do acidente com o brinquedo Twister, em que 13 pessoas ficaram feridas. Na época, Iris decidiu que não iria mais cobrar ingressos no parque, que ficou gratuito a todas as pessoas. Antes disso, o ingresso era 16 reais a entrada inteira e 8 reais a meia. Agora, Rassi afirma que já está decidida a volta da cobrança, permanecendo gratuita a entrada apenas para as famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). A previsão é que o novo ingresso custe 10 reais a inteira e 5 reais a meia num primeiro momento.
"Vamos voltar a cobrar de quem pode pagar, para quem não pode continuar sem pagar, essa é a determinação do prefeito. As famílias de baixa renda ficam livres, mas quem pode pagar, tem de pagar. Teve época em que compravam o ingresso e usavam todo o parque, tiveram outras em que compravam por tíquete de cada brinquedo. Não vamos inventar modelos, vamos pegar mesmo o que mais se adequa e usar, vai ser uma cobrança acessível e justa", assegura. Rassi afirma que não se fala em privatização ou parceria público-privada (PPP) para a gestão do parque, como seria uma das opções para fazer o espaço rentável, conforme promessa de governo de Sandro Mabel durante as eleições de 2024.
Para ele, o parque não possui características para a privatização, mas que está sendo iniciada a elaboração de um modelo de cessão de direitos de uso da imagem dos brinquedos para que as empresas privadas possam comprar e investir na atração, cuidando da manutenção, por exemplo. "Tem muita empresa com linha infantil, poderia pagar para ter seu nome no brinquedo, algo semelhante aos 'naming rights' dos estádios de futebol, por exemplo." Com isso, as verbas provenientes das cessões e a bilheteria, seria possível fazer com que o Mutirama se torne menos dependente da Prefeitura para se manter.
Porém, Rassi confirma que não há empresas interessadas no momento. "Ninguém tem interesse em colocar dinheiro assim, mas as empresas podem ser convencidas disso. Para isso, a gente tem de mostrar que funciona, que tem transparência, que não tem falcatrua nas bilheterias, que os brinquedos são seguros, que é um espaço bonito para as marcas serem expostas", confirma. Ele entende que a situação no momento, por isso, é de ver as necessidades dos brinquedos e contratar as peças e os serviços necessários para cada um.
"Vamos fazer por etapas mesmo, o que for já sabendo o que precisa, já vamos arrumando. A Casa Mal Assombrada mesmo, a gente descobriu que tem uma verba aqui que podemos usar para ela, então já vamos contratar da melhor forma que tiver, dentro do serviço público. Queremos devolver o parque antes das férias de julho, não sei se vamos conseguir, mas essa é a intenção", fala. Sobre os contratos com as empresas terceirizadas no Mutirama, o consultor reforça que a empresa responsável pela manutenção não foi certificado e, por isso, não seria possível fazer qualquer pagamento, além de não poder mais ser renovado segundo a legislação.
Zoológico
A Segenp também avalia soluções de direitos de cessão de espaço para publicidade para o Parque Zoológico de Goiânia (ZooGyn). "Lá a gente não pode fechar, tem de trocar o pneu com o carro andando mesmo. Vamos fazer concessões, chamar as empresas, mostrar o trabalho que estamos fazendo", diz. Por outro lado, Flávio Rassi entende que o local também deve passar a cobrar um ingresso mais caro do que os atuais 5 reais. A previsão é de que o valor passe a ser de 10 reais, mas com a mesma premissa do Mutirama, com a entrada gratuita para as famílias com CadÚnico.
O consultor da Segenp reforça também o que já havia sido dito na campanha eleitoral, sobre a bilheteria do ZooGyn ter mais opções de pagamento, já que atualmente só se paga com dinheiro. "Não estou dizendo que exista (algo errado) e nem individualizando nada, mas é um ambiente propício a falcatrua, porque as catracas não funcionam, só recebe com dinheiro, muitas vezes não dão os ingressos, só deixam as pessoas entrarem. Temos de pensar na segurança e transparência de tudo isso", diz, ao relatar que já foi instalada uma câmera de segurança na entrada do local que permite a contagem da quantidade de visitantes para comprovar o caixa.
Assim como no Mutirama, Rassi confirma que não é interesse da atual gestão municipal privatizar o Zoológico ou mesmo fazer a concessão da administração do local, e o mesmo é pensado sobre a gestão dos cemitérios municipais. "Temos muitos estudos em andamento, vendo a situação de cada um desses locais, como dos cemitérios, vendo os modelos, o que vai ser mais bem atendido. A nossa principal pergunta é: 'o que fica bom para o povo?'. É isso que a gente tem buscado aqui. Vamos diagnosticar, depois planejar, implementar e testar. Se não ficar bom, a gente muda", afirma ao dizer que a primeira medida deverá ser a gestão dos locais pela própria Prefeitura.