Problemas com a saúde começam a ser resolvidos
Avaliação é de que a crise foi controlada com o aumento da oferta de leitos e abastecimento de medicamentos
Mariana Carneiro
13 de dezembro de 2024 às 07:43

Depósito de medicamentos da Secretaria Municipal de Saúde fica reabastecido após aquisição emergencial feita pela pasta no início deste mês (Wesley Costa / O Popular)
A média de solicitações de internação de pacientes de Goiânia em unidades de terapia intensiva (UTI) caiu de 24 para 5 quando comparados os primeiros 16 dias desde a instauração do gabinete de crise na capital ao mesmo período imediatamente anterior. Já as solicitações por leitos de enfermaria saíram de 174 para 78. Nas duas últimas semanas, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) se mobilizou em prol da disponibilização de leitos. Em paralelo, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) avançou na aquisição de medicamentos e insumos. A melhoria da infraestrutura da rede explica o cenário.
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Nos últimos 16 dias, não houve óbitos de pacientes da capital enquanto aguardavam por leitos intensivos. Na penúltima semana de novembro, ao menos quatro pessoas internadas na rede municipal morreram à espera de um leito de UTI. O gabinete, instaurado nas 13 unidades de urgência capital, conta com membros do Estado e do Município. De forma integrada, o gabinete utiliza um painel de indicadores que serve para monitorar entradas e saídas de pacientes, pedidos de leitos, recursos humanos, insumos e medicamentos. "Seguimos em um ritmo mais normalizado (...) Hoje, não temos essa falta de leito", explica Sérgio Vencio, secretário-adjunto da SES-GO.
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Em coletiva de imprensa ocorrida na manhã desta quinta-feira (12) -- ocasião em que foi apresentado pelo prefeito eleito, Sandro Mabel (UB), como futuro secretário municipal de Saúde de Goiânia --, Luiz Pellizzer avaliou que a crise já apresenta sinais de melhora. "Na maioria dos dias, por volta das 18 horas, não tem nenhuma solicitação do dia anterior aguardando UTI", informou. Na mesma ocasião, o secretário estadual de Saúde, Rasível Santos, avaliou que a continuidade das atividades do gabinete não deve ultrapassar o início do ano que vem.
Vencio esclarece que as diversas ações do gabinete qualificaram o atendimento na rede, que estava em situação de fragilidade. Antes, por exemplo, a falta de medicamentos para tratar pacientes nas próprias UPAs e Cais fazia com que os médicos pedissem que eles fossem regulados para outras unidades. O abastecimento das farmácias caminhando para a normalização contribui para reduzir as solicitações. "Era toda uma cadeia (de eventos)", aponta. Além disso, com regulações céleres, os pacientes tendem a agravar menos.
Leitos
No requerimento de intervenção estadual na Saúde de Goiânia, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) havia apontado que diversos leitos contratualizados com a rede privada tinham sido perdidos por falta de pagamento. O documento cita relatório da SES-GO que aponta a interrupção do cofinanciamento estadual aos hospitais contratualizados por conta da ineficiência da gestão municipal, culminando na perda de 117 leitos de UTI (neonatal, pediátrica e adulto). "Foi cancelado porque o Estado se cansou de repassar o dinheiro, fundo a fundo, para a Prefeitura e ela não repassar para o prestador", detalha Vencio.
Com o gabinete de crise, a SES-GO voltou a operar 20 leitos no Hospital Ruy Azeredo. No Hospital das Clínicas (HC-UFG), 10 UTIs também foram viabilizadas. Vencio diz que a oferta desses leitos será mantida após o fim das atividades do gabinete. A pasta também disponibilizou 40 leitos próprios no Hospital Estadual de Águas Lindas. Na avaliação do secretário-adjunto, é essencial que a próxima gestão da SMS se preocupe em retomar a oferta de leitos que foram fechados. "São fundamentais. O próprio Estado, vai chegar um momento, que vai limitar."
No início deste mês, após acordo com o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO) e a Procuradoria-Geral do Município (PGM), a SMS fez a aquisição emergencial dos medicamentos e insumos em falta. Uma parcela chegou na última semana. Conforme a pasta, no final da tarde desta quarta-feira (11), "milhares de doses de medicamentos injetáveis chegaram ao almoxarifado". Há programação para a chegada de mais medicamentos na próxima semana.
Nos últimos dias, a Prefeitura também normalizou os serviços de home care e atendimento de pacientes que fazem hemodiálise. Entre quarta -- dia em que Márcio de Paula Leite assumiu como interventor estadual na Saúde de Goiânia -- e quinta-feira (12), a SMS pagou R$ 1,3 milhões (referentes a setembro e outubro) para a responsável pelo serviço. A pasta também afirma que o transporte dos pacientes de hemodiálise também foi regularizado após o repasse de R$ 516 mil à empresa.
Os pagamentos ocorreram após o titular da pasta, Pedro Guilherme Gioia, que assumiu a SMS há uma semana, dizer não ter dinheiro para a secretaria arcar com as contas depois de o MP-GO ter conseguido na Justiça o bloqueio de R$ 57,3 milhões do recurso de média e alta complexidade (MAC) enviado pelo Ministério da Saúde. Conforme a SMS, os pagamentos mais recentes foram feitos utilizando recursos próprios da Prefeitura.
Gioia pode seguir como secretário
O atual secretário municipal de Saúde de Goiânia, Pedro Guilherme Gioia, que assumiu a função em 4 de dezembro, ocasião em que a servidora Cynara Mathias pediu demissão após passar apenas uma semana à frente da pasta, pode permanecer no cargo durante a intervenção estadual na Saúde de Goiânia. Conforme apuração do POPULAR, ele deverá trabalhar sob o comando do interventor estadual na Saúde de Goiânia, Márcio de Paula Leite, que assumiu o posto nesta quarta-feira (11), após publicação de decreto assinado pelo governador Ronaldo Caiado (UB).
O decreto define que Leite irá substituir o chefe do Poder Executivo municipal, até o dia 31 de dezembro, no que diz respeito à normalização da oferta de ações e serviços essenciais de saúde à população goianiense. Ao POPULAR, profissionais envolvidos na operacionalização da intervenção explicaram que Leite atua como um "prefeito da Saúde" e que, nesse contexto, Gioia não pode agir sem antes receber o aval do interventor. Leite conta com o auxílio de um Conselho Consultivo, formado por membros do governo estadual, e de um Comitê de Observação, formado por membros da próxima gestão municipal.
No primeiro dia de atuação como interventor, Leite passou a tarde reunido com o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) para se inteirar sobre o andamento dos pagamentos referentes à competência de setembro. Nesta quinta-feira (12), aconteceu o mesmo. Na última segunda-feira (9), a secretaria e o MP-GO já tinham se reunido e definido que serão executados todos os pagamentos referentes à competência de setembro, pois o mês de outubro ainda não está apto para pagamento. Para tal, serão usados os R$ 57,3 milhões, advindos do recurso de Média e Alta Complexidade (MAC), que foram bloqueados pela Justiça a pedido do MP-GO.
Ao POPULAR, o secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Saúde de Goiás (SES-GO), Sérgio Vencio, disse que acredita que cuidar da saúde financeira da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia é essencial neste momento. "Não é mais uma crise de gestão. É uma crise financeira", afirmou. Ele também apontou a necessidade de se equacionar a dívida, já que "cada dia, chega para gente um número maior" e defendeu a existência de um mecanismo para que Leite possa pagar os fornecedores dando prioridade para aqueles que são essenciais para o funcionamento das unidades de saúde.
