Restaurantes cinquentões mantêm a tradição e o afeto do público em Goiânia
Um verdadeiro pedaço italiano em Goiânia, Restaurante Bologna celebra 50 anos ao lado do Mercado Central. Veja outras casas com mais de cinco décadas na capital
Clenon Ferreira
11 de julho de 2023 às 15:58
Modificado em 19/09/2024, 01:03

Efrem Tosi, de 89 anos, é um dos fundadores do Restaurante Bologna, que há 50 anos funciona no mesmo local (Diomício Gomes)
A porta discreta ao lado do Mercado Central, na Rua 3, passa despercebida em meio à correria do Centro. É só adentrar ao local, descer a escadinha de madeira e sentir o cheiro da lasanha à bolonhesa saindo do forno para entender que o Restaurante Bologna é um pedaço da Itália em Goiânia.
O espaço, ao lado de outros pontos gastronômicos tradicionais na cidade, como o Restaurante da Dona Fiinha, Pastelaria do Meu e o Restaurante Popular, sobrevive há mais de 50 anos na história da capital. O Bologna, especificamente, comemora em julho cinco décadas no mesmo ponto, vizinho ao mercado, e com clientes fiéis que passam a tradição de pai para filho.
"Tem gente que vem aqui que eu conheço desde pequeno e que, hoje, já traz seus próprios filhos", garante o dono, o italiano Efrem Tosi, de 89 anos. Nascido na cidade que dá nome ao restaurante, o empresário saiu de sua terra natal aos 19 anos na companhia da família para tentar a vida em São Paulo. "Era um momento difícil na Itália e o Brasil vivia uma era de progresso", conta.
Na capital paulista, a família Tosi trabalhava fazendo massas. Foi então que ouviram a notícia de uma cidade recém-nascida no Centro do País. Parecia ser a oportunidade perfeita para montar um negócio próprio. "Goiânia era muito diferente nos anos 1950. Tudo se resumia ao Centro. Hoje a paisagem mudou bastante, com uma infinidade de lugares para comer", rememora Tosi.
O primeiro ponto aberto foi em 1957 na Rua 8, esquina com a Av. Anhanguera, próximo ao Zé Latinhas. Depois, foi parar na Avenida Goiás. Por fim, há 50 anos, compraram o ponto ao lado do Mercado Central. "Era para ser construído um prédio, mas acabou não dando certo. No lugar onde seria o estacionamento, acabamos colocando o restaurante. É por isso que fica no subsolo", completa.
Segredo
Com um extenso cardápio recheado de massas, carnes e iguarias italianas, antes de adentrar ao Bologna é preciso saber: o local mantém hábitos do passado, como não aceitar pagamentos com cartões de crédito e débito, apenas cheque e, mais recentemente, pix. Depois da pandemia, passou a abrir de quarta a sexta-feira, das 11 horas às 15h30 e, aos finais de semana, exclusivo como serviço delivery.
O carro-chefe da casa é a lasanha, mas outros pratos também fazem fama, como o ravioli ao sugo, o espaguete ao pesto e a parmegiana acompanhada de fritas. Na parte de sobremesas, o forte é o pudim Flor de Leite, também receita de família. Quem comanda a cozinha é Cristina Tosi, sobrinha de Efrem e filha de Guido, o outro fundador da casa e que morreu há dez anos.
Todos os dias, é a chef quem abre a cozinha sempre às 6 horas e já começa a preparar a massa. Para ela, o segredo da longevidade do Bologna está ali, no preparo das próprias massas, na feitura do recheio e na montagem dos pratos.
"Eu sou advogada, mas, com a morte do meu pai, tive de assumir o negócio. Aprendi a fazer as massas desde criança vendo minha mãe fazer. É algo que está no sangue", conta Cristina, que ainda precisa lidar com outras questões além da cozinha. Nos últimos anos, a cozinheira conta que o número de pessoas em situação de rua dobrou na porta do Mercado e, consequentemente, na do Bologna.
Os quadros com mapas e imagens de Bologna ilustram a saudade da família Tosi por sua terra-natal, mas Cristina diz de antemão: "Não existe melhor lugar para viver que o Brasil". Uma vez ao ano, a família se reúne em julho, no verão, para passar semanas na Itália. "Estamos indo daqui a alguns dias para revermos nossos parentes, saborear a comida, estar com os nossos, mas com a certeza de que o restaurante é o nosso verdadeiro lar", diz.
Cinquenta +
Confira outros restaurantes que tem mais de 50 anos e que ainda hoje sobrevivem em Goiânia
Restaurante Dona Fiinha
Nascido em 1965, o restaurante da Dona Fiinha é um clássico inveterado do Centro. Com uma comidinha caseira em formato self-service, há de tudo um pouco da comida goiana. O local está localizado na Rua 9, n° 528 e abre de domingo à sexta-feira, das 11h às 14h30.
Restaurante Popular
Cozinha de vó é uma boa descrição para o local criado pela dona Maria de Lourdes em 1977. Localizado na Rua 72, nº 524, o restaurante serve diversos tipos de comidas. A cereja do bolo são as sobremesas, como a famosa ambrosia feita pela própria dona. Aberto de segunda a sábado, das 11h às 14h30.
Restaurante Árabe
Entre os estabelecimentos gastronômicos pioneiros de Goiânia, o local está aberto desde 1965. Foi criado por Elias Abrão primeiramente na Av. Araguaia e, depois, na Av. 83, nº 205, no Setor Sul, desde 1965. Fica aberto de segunda-feira a domingo, das 8h às 23h.
Pizzaria Cento e Dez
Goiânia ganhou sua primeira casa de pizzas em 1966 com a Pizzaria Cento e Dez. Até hoje ela funciona no mesmo lugar de sua fundação, na Rua 3, nº 1000, no Centro. Aberto de segunda-feira a domingo, das 11h às 14h e 18h às 23h30.
Pastelaria do Meu
Localizada no Mercado Popular, na Rua 74, a pastelaria vende pastéis de diversos sabores, pão de queijo, salgados, cafés e sucos, mas a estrela do cardápio é o biscoito frito. Está aberto de segunda a sexta-feira das 7h30 às 19h e aos sábados até às 12h.
Zé Latinhas
O apelido do primeiro proprietário do restaurante segue intacto desde 1967, quando foi criado. O local, que atualmente funciona no horário de almoço como restaurante self-service e, à noite, como bar, é um clássico do Centro. Está localizado na Rua 8, nº 485.