Visitantes do Parque Ambiental Macambira Anicuns, no Setor Faiçalville, região Sudoeste de Goiânia, se espantaram ao transitar pelo local nesta terça-feira (26) e ouvir barulho de motosserra e árvores cortadas na grama. A remoção de 116 exemplares é feita pela concessionária Equatorial Goiás, para limpeza da faixa de servidão de uma rede de alta tensão que corta parte da Área de Preservação Permanente (APP).A empresa argumenta que a retirada é para a redução de riscos de interrupção do fornecimento de energia elétrica e de acidentes, “numa eventual queda dessas árvores sobre a rede”. O serviço foi autorizado pela Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), que alega interesse público. Foram exigidas 3,48 mil mudas à concessionária para compensação ambiental.Conforme a Amma, árvores fora da faixa de servidão, com zona de segurança de oito metros, não serão afetadas. O POPULAR esteve nesta terça-feira na Rua F-38, por onde passa a linha de distribuição, e observou parte do serviço. Árvores plantadas entre a pista de caminhada e a ciclovia foram cortadas e expostas sobre a grama da área externa do parque. Na parte de dentro, o movimento era maior com a motosserra.A advogada Fernanda Junqueira, de 40 anos, ficou assustada ao ver a remoção. Conforme ela, que passeia pelo parque por volta de 15h e 16h, o horário era o ideal visto que, mesmo com calor forte, as árvores faziam um sombreamento na pista de caminhada e um refresco. “Uma das vantagens é a questão do verde, de ser preservado. E o sombreamento na pista que permite que faça exercícios com sol puxado, e (o horário é) pela segurança, pois não preciso fazer caminhada no escuro”, comenta.Desde que voltou do Japão há dois meses, Roberto Hiroaki, de 55 anos, conta que tem a rotina de caminhar pela tarde, pouco após às 16h. O percurso era todo feito, praticamente, por trechos arborizados e sombreados. “Agora ficou sem sombra”, lamenta, ao olhar as árvores na grama. Ele ainda chama atenção para um banco, que até então contava com uma árvore logo atrás. “Agora quem quiser sentar (nele) vai ter que vir à noite”, brinca.Para eles, uma poda nas árvores já seria o suficiente para evitar danos à rede de energia elétrica. Já outros visitantes também pontuaram que o serviço era necessário para evitar acidentes e, consequentemente, irregularidades na distribuição. Um morador, não identificado, mencionou ainda que as árvores eram jovens, mas foram plantadas de forma errada embaixo da linha de distribuição.Presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas (Abee) em Goiás, Petersonn Caparrosa explica que o manejo da vegetação é uma forma de “se antecipar aos problemas e minimizar” possíveis acidentes com galhos ou mesmo com troncos de árvores que causem curto-circuito ou rompimento de cabeamentos. Por ser rede de alta tensão, pontua, uma “quantidade expressiva de pessoas” seria prejudicada caso a rede fosse atingida. “Tem casos de até 48h sem energia”, cita, a exemplo.O engenheiro comenta ainda que a poda ou extirpação da árvore, nestes casos, vai depender de vários fatores. “Tecnicamente falando, sem enxergar o caso concreto, para se chegar a se cortar uma árvore lá na raiz é porque ela deve estar fornecendo risco significativo à rede. Tem que saber a espécie da árvore, condição de vida, se estava com o tronco oco, deteriorada por fungos e insetos, se era muito antiga e o fator idade já chegou. São variáveis a serem consideradas”, pondera.Conforme ele, enquanto trabalhava na Celg D Energia, antiga concessionária do serviço em Goiás, a poda ou extirpação da árvore era feita apenas em casos de “necessidade”. Ele complementa ainda que há situações que justificam a remoção pela segurança da rede. “Às vezes a gente fica indignado, mas é necessidade pública”, pontua Caparrosa.A Equatorial, em nota, justificou que a “limpeza da faixa de servidão sob a rede de distribuição será fundamental para minimizar os riscos de interrupção do fornecimento de energia para milhares de clientes da capital” e para evitar acidentes, que poderiam ocasionar “incêndio na vegetação, colocando em risco tanto a população como os animais que vivem na reserva.”Além disso, a concessionária destacou que a supressão das árvores “é mais necessária ainda porque a vegetação está em contato com uma rede de distribuição de alta tensão construída e em operação desde 1974.”Em comunicado à imprensa divulgado pela Amma, a engenheira agrônoma da pasta, Jarina Padial, apontou que a retirada de árvores, por meio de solicitação, pode ser autorizada em “casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental.”Parque recebeu plantio de 33,9 mil mudas em 2021Localizado no Setor Faiçalville, o Parque Ambiental Macambira Anicuns, que integra o Programa Urbano Ambiental Macambira Anicuns (Puama), recebeu o lançamento do ArborizaGyn, evento realizado pela Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) com ação de plantio de mudas nativas do Cerrado em áreas degradadas da capital goiana.Realizado em novembro de 2021, a primeira edição do programa, de três já feitas até este ano, contou com o plantio de 50 mil mudas, sendo que, destas, 33,9 mil foram plantadas na Área de Preservação Permanente (APP), especificamente na Alameda Andrelino de Morais. Além deste, o Parque Cascavel, no Jardim Atlântico, recebeu a ação com plantio de 7,6 mil exemplares. Outros 8,5 mil foram espalhadas pelo Parque Três Marias, localizado no Setor Três Marias.A assessoria de imprensa da Amma apontou que as 3,4 mil mudas doadas pela Equatorial Goiás, por meio de compensação ambiental pela supressão das 116 árvores, não serão plantadas no Parque Macambira Anicuns pela falta de espaço, pois o local recebeu o plantio da primeira edição do AborizaGyn. Os exemplares serão plantados durante ações da pasta, mas ainda não há cronograma detalhado. Dentre os serviços de arborização da pasta, está o Disque-Árvore. Qualquer morador pode solicitar a doação de uma muda, por meio do WhatsApp (62) 9 9330-7995, e com plantio realizado pela equipe da Amma.