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137 crianças esperam por consulta do coração em Goiás

Atendimento a pequenos com cardiopatias apresenta problemas, segundo pais, que vivem sob constante preocupação diante da situação

Modificado em 19/09/2024, 00:51

Sátia Patrícia, mãe de Laura Vitória, aguarda por atendimento especializado para a filha no Hecad

Sátia Patrícia, mãe de Laura Vitória, aguarda por atendimento especializado para a filha no Hecad ( Wesley Costa)

O Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), em Goiânia, conta apenas com uma cardiopediatra para atender todos os bebês e crianças com problemas cardíacos que são acompanhados na unidade. A mãe de uma bebê cardiopata, de 5 meses, que está internada no Hecad esperou quatro dias para ser avaliada pela profissional. A mãe de outra criança cardiopata, de 3 anos, espera por consulta há meses. A Associação Amigos do Coração considera a situação insustentável.

Atualmente, 137 pacientes estão na fila do Complexo Regulador Estadual da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) aguardando por uma consulta ambulatorial de cardiologia pediátrica. Segundo a presidente da Associação Amigos do Coração, Martha Medeiros, os relatos de mães e pais de bebês e crianças cardiopatas desesperados por atendimento são diários. "No Hecad é onde temos o serviço especializado. Isso significa que cardiopatas do estado inteiro se consultam na Atenção Primária e são regulados para cá. Os que operam também são enviados para fazer o acompanhamento na unidade."

Martha esclarece que mesmo com toda a demanda, a única médica especialista da unidade é responsável por fazer consultas ambulatoriais e ainda prestar assistência para os pacientes internados caso haja necessidade. Ela conta que o período do inverno traz preocupação. "O cardiopata tem a imunidade mais baixa. Nesta época de frio, fica pior. Eles sofrem muito com desconforto respiratório", diz.

Nathália Araújo, de 19 anos, levou a filha Elloá, de apenas 5 meses, para o Hecad na última sexta-feira (7). A bebê é cardiopata e apresentava desconforto respiratório proveniente de uma bronquiolite. A bebê só foi avaliada pela médica especialista por volta de 13 horas desta terça-feira (11) e até o meio da tarde do mesmo dia ainda não havia sido submetida a um ecocardiograma. "Ela está fraca. O coração dela chegou a apresentar uma descompensação", conta.

Elloá sofre com forame oval patente (FOP), condição caracterizada como um buraco, devido ao fechamento incompleto de uma estrutura localizada no coração, e com Comunicação Interventricular (CIV), que consiste por uma abertura ou orifício na parede que divide os ventrículos direito e esquerdo. Por conta disso, ela também faz acompanhamento ambulatorial no local. Nathália reclama de atrasos. "Estou aguardando sair uma vaga para ela se consultar com um cirurgião. Só depois da avaliação dele, vamos entrar em outra fila para ela conseguir ser operada. Os profissionais daqui são bons e educados, mas demora muito", aponta.

Sátia Patrícia, de 35 anos, é mãe de Laura Vitória, de 3, e também aguarda por atendimento especializado no Hecad. Laura sofre com tetrologia de Fallot, uma condição rara causada por uma combinação de quatro defeitos cardíacos presentes no nascimento. Segundo Sátia, ela deveria ter sido operada com seis meses de idade. Entretanto, ela só conseguiu fazer o procedimento com 1 ano e 7 meses. "Era uma espera sem fim. Às vezes faltava a vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), às vezes faltava uma válvula", diz.

Na tentativa de agilizar o processo, Sátia partiu com Laura de Trindade para São José do Rio Preto, em São Paulo. Lá, ela conseguiu ser operada no Hospital da Criança e Maternidade (HCM). Devido a uma complicação no pós-cirúrgico, a criança desenvolveu uma estenose da traqueia, que é um estreitamento traqueal, dificultando a passagem de ar aos pulmões, o que ocasiona insuficiência respiratória. "Por conta disso, ela teve cinco paradas cardíacas. Hoje, minha filha tem paralisia cerebral e usa ventilação mecânica."

Por conta do alto custo de vida em São Paulo, Sátia retornou com Laura para Trindade no início de 2023. Atualmente, a criança faz acompanhamento pelo Programa Melhor Em Casa, da prefeitura da cidade, com uma equipe multiprofissional. Entretanto, ainda assim ela necessita de acompanhamento especializado. "Ela precisa fazer um procedimento para amenizar a estenose a cada dois meses. O intuito é evitar paradas cardiorrespiratórias. Estou esperando desde maio para ela fazer isso no Hecad e até agora não consegui. É uma angústia muito grande. Corro risco de perder minha filha a qualquer momento", emociona-se.

Sobrecarga

A presidente da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Mirna de Sousa, conta que a instituição já entrou em contato com a diretoria do Hecad para discutir a questão. "Eles nos disseram que a cardiopediatra do hospital atua de forma exclusiva para a unidade e que presta atendimento sempre que eles precisam", relata. Entretanto, na avaliação da profissional, a unidade de saúde está sobrecarregada, o que acaba motivando a insatisfação dos usuários mesmo que um número alto de atendimentos seja realizado.

"Existe um problema grave no fluxo de pacientes da rede como um todo. Com a Atenção Primária enfraquecida, a Atenção Secundária e Terciária ficam assim (sobrecarregadas). As pessoas sempre vão acionar o Hecad porque ele é praticamente o único pronto-socorro pediátrico mais completo que existe pelo Sistema único de Saúde (SUS) em Goiânia", esclarece. O SGP entregou um documento que faz uma análise do cenário atual e propõe sugestões de intervenções para Sérgio Vencio, secretário estadual de Saúde. "Também iremos encaminhar para o Durval Pedroso (secretário de Saúde de Goiânia)", finaliza.

SES-GO diz que serviço oferece suporte integral

A Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) informou, por meio de nota, que o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad) compõe uma rede de atendimento em cardiopediatria em Goiás e oferta atendimento ambulatorial e suporte integral via parecer médico em casos de pacientes internados.

A pasta comunicou que as consultas no ambulatório acontecem de segunda a sexta. A assistência abrange 20 especialidades, dentre elas a cardiopediatria, "que além de acompanhar os pacientes por meio das consultas clínicas - ainda promove a emissão de pareceres/ laudos médicos". O atendimento ambulatorial em cardiopediatria tem capacidade de realização de 264 consultas mensais.
"O serviço de cardiopediatria do Hecad oferece também suporte integral via parecer médico, quando o paciente encontra-se internado na unidade de saúde e a equipe de pediatria necessita de apoio da especialidade na condução dos casos clínicos", diz trecho de nota enviada pela secretaria.
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Segundo a pasta, o prazo para avaliação médica da cardiopediatria quando o paciente está internado no hospital é de até 24 horas após o acionamento pela equipe de pediatria. No caso de Elloá, a unidade explicou que a bebê "foi internada no Hecad devido a um quadro gripal, que a princípio não provocou descompensação cardíaca" e que "a criança foi avaliada pela cardiopediatria após a requisição da equipe de pediatras que acompanham a paciente", sendo que "a solicitação de ecocardiograma foi realizada para acompanhamento da doença de base."

Município

Por fim, a SES-GO destacou que "o serviço de cardiopediatria não existe somente na rede SES. A SMS Goiânia possui referência do serviço no Hospital da Criança (Setor Sul)". A secretaria não respondeu o questionamento do POPULAR sobre a possibilidade de ampliação do serviço de cardiopediatria no Hecad.

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Fotógrafa goiana obtém remédio fora da lista do SUS após batalha na Justiça

Convivendo com esclerose múltipla recorrente, uma doença neurológica progressiva, Maria Francisca da Silva Santos conquista direito a medicamento de alto custo considerado um dos mais eficazes para sua condição

Chica Fotógrafa lida há 18 anos com percalços da esclerose múltipla

Chica Fotógrafa lida há 18 anos com percalços da esclerose múltipla (Wildes Barbosa / O Popular)

A fotojornalista Maria Francisca da Silva Santos, a Chica Fotógrafa, lida há cerca de 18 anos com os percalços provocados pela esclerose múltipla (EM), doença neurológica crônica que afeta o sistema nervoso central e que tornou-se recorrente nos últimos anos. Este mês ela ganhou na Justiça Federal uma ação que obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a liberar o medicamento ofatumubabe, considerado um dos mais eficazes para sua condição. O remédio não integra a lista de remédios de alto custo fornecidos pelo SUS.

O ofatumumabe ou Kesimpta (nome comercial) é também indicado para leucemia linfocítica crônica. O remédio é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas a Comissão Nacional de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) não recomendou a sua inclusão na lista de medicamentos fornecidos pelo SUS alegando alto impacto orçamentário e sob a justificativa de que não faria muita diferença em relação ao progresso da doença. Anticorpo monoclonal, o remédio ataca alvos específicos do sistema imunológico e podem reduzir em até 59% as taxas de recidiva da EM recorrente, segundo especialistas.

Convivendo com fadiga, fraqueza muscular, dificuldade para respirar e dores articulares, Chica e a médica Denise Sisteroli Diniz, que a acompanha no tratamento no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, viram no ofatumumabe a única possibilidade de uma melhor qualidade de vida e interrupção do progresso da doença. O pedido inicial para obter o remédio foi apresentado ao Ministério Público de Goiás que o encaminhou à Defensoria Pública da União. No final de 2023, o pedido de urgência para o caso foi negado pela Justiça Federal.

Sem conhecer a fotojornalista, a advogada Janaina Mathias Guilherme Soares, especialista em Direito da Saúde, se ofereceu para ajudá-la. E deu certo. A urgência foi reconhecida judicialmente e o Estado foi obrigado a fornecer o medicamento até que houvesse uma sentença a respeito. A advogada lembra que o Supremo Tribunal Federal criou regras limitando o suprimento de remédios não disponibilizados pelo SUS, cabendo à parte autora o ônus de demonstrar a segurança e a eficácia do fármaco e a inexistência de um substituto terapêutico.

"Eu melhorei muito com o ofatumubabe, cheguei a andar 4 km num dia, mas como há interrupções no fornecimento, tudo piora nas minhas funções neurológicas. É uma doença progressiva", lamenta Chica. Ela diz que a última vez que o Estado cumpriu a liminar foi em maio de 2024. "Depois, passei a pedir o bloqueio da conta para que a compra do remédio fosse providenciada. Eles compram três ampolas e entregam, mas cada vez que peço o bloqueio há um intervalo de tempo até que o pedido seja apreciado e a compra efetivada."

A ação protocolada por Janaina Guilherme na Justiça Federal tem como réus o Município de Goiânia, o Estado de Goiás e a União que sistematicamente vêm recorrendo. No dia 2 deste mês, o juiz federal Leonardo Buissa Freitas julgou procedente o pedido da Chica Fotógrafa e determinou que o medicamento seja fornecido a ela em quantidade suficiente para três meses de tratamento. Antes do término, a fotojornalista deve apresentar relatório médico atualizado para justificar a renovação da aquisição. "No próximo dia 24 tenho de tomar o remédio, mas não tenho convicção de que irão cumprir a sentença", afirma Chica. Os réus ainda podem recorrer.

Fornecimentos

Para obter uma sentença favorável ao uso do ofatumumabe (Kesimpta) 20 mg, que custa cerca de R$ 10 mil cada ampola e fora das condições financeiras da fotojornalista, a advogada Janaina Guilherme se dedicou a uma árdua tarefa, segundo ela. "À medida que os meses foram passando fui anexando relatórios e exames médicos demonstrando o quão positivo estava sendo o tratamento. Também fiz uma pesquisa científica e anexei estudos que demonstram a superioridade do medicamento em relação a outros", detalha

A advogada, que soube pelas redes sociais do caso de Chica Fotógrafa, lembra que a prática tem demonstrado a eficácia de medicamentos não disponibilizados pelo SUS. "Pelo país afora existem muitas pessoas vivas, com saúde e dignidade graças a liminares e muito trabalho por parte de seus procuradores. E estão assim por fazerem uso de medicamentos que a Conitec disse não serem eficientes o suficiente para o aumento da sobrevida global, ou seja, o tempo entre o diagnóstico e a morte do paciente."

O impacto financeiro mencionado pela Conitec para não incorporar o ofatumumabe (Kesimpta) no rol de medicamentos fornecidos pelo SUS à população é, na visão da advogada, um ponto importante, no entanto é necessário observar outro aspecto. "Sob a ótica individualista é doloroso pensar que o fator econômico pesou nessa decisão. O fármaco poderia estar sendo fornecido a tantas outras pessoas que trabalharam a vida toda e que agora, sem condições de pagar um plano de saúde, se veem diante de um fim lento e doloroso ou da morte iminente."

A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla estima que 40 mil brasileiros sofram com a condição. Em setembro de 2023, por decisão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o ofatumumabe (Kesimpta) foi incluído na lista obrigatória a ser garantida pelos planos de saúde privados.

Chica Fotógrafa possui uma longa trajetória como ativista dos direitos humanos, das causas feminista e indígena. Ela trabalhou por muito tempo ao lado de Dom Tomás Balduíno na Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil. Ela assina seus trabalhos fotográficos e videodocumentários como Antonieta de Sant'Ana.

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Homem usa criança como escudo durante perseguição policial, diz PM

Criança foi resgatada em segurança e suspeito preso em flagrante por tráfico de drogas

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Um homem foi preso suspeito de usar uma criança como escudo para se proteger após uma perseguição policial ocorrida nesta sexta-feira (18), em Anápolis, a 55 km de Goiânia. Segundo a Polícia Militar (PM), o homem ainda teria apontado uma arma falsa para a equipe. O caso será investigado pela Polícia Civil (PC).

A polícia não divulgou o nome do suspeito e o grau de parentesco dele com a criança. A criança foi resgatada em segurança.

Conforme a Polícia Militar, o caso ocorreu no Bairro Adriana Parque, após a equipe tentar abordar o carro do suspeito, que não obedeceu a ordem de parada e fugiu em alta velocidade.

Durante a perseguição, o suspeito teria batido o carro e, neste instante, saiu do veículo usando uma criança de aproximadamente quatro anos como escudo, enquanto um outro homem que também estava no carro, tentou fugir a pé por uma região de mata.

Ainda segundo a PM, o homem usava a criança como escudo para se proteger ao mesmo tempo em que apontava uma arma de fogo para os policiais, arma esta que após verificação a equipe constatou se tratar de um simulacro, ou seja, uma arma falsa. Ele foi contido e a criança resgatada em segurança.

A polícia informou que com os suspeitos foram apreendidas porções de drogas, dinheiro em espécie e um aparelho celular. Na casa de um dos suspeitos, os policiais encontraram mais droga, balanças de precisão e materiais usados para o tráfico de drogas.

Ainda segundo a PM, o suspeito de usar a criança com escudo estava em descumprimento de medida cautelar, sem tornozeleira eletrônica, e se recusou a fazer o teste do bafômetro. Os dois foram presos por tráfico de drogas.

Homem foi preso e no carro dele foram apreendidas porções de drogas (Reprodução/ Polícia Militar)

Homem foi preso e no carro dele foram apreendidas porções de drogas (Reprodução/ Polícia Militar)

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Idosa morre e outras três pessoas ficam feridas após capotamento na GO-080

Segundo os bombeiros, o motorista perdeu o controle do veículo e capotou por várias vezes até parar no canteiro central da pista

Idosa de 93 anos morreu em acidente na GO-080, em Goiás (Reprodução/Corpo de Bombeiros)

Idosa de 93 anos morreu em acidente na GO-080, em Goiás (Reprodução/Corpo de Bombeiros)

Uma idosa de 93 anos morreu e outras três pessoas ficaram feridas após o carro em que estavam capotar várias vezes na GO-080, entre Goiânia e Nerópolis. Segundo o Corpo de Bombeiros, o motorista perdeu o controle do veículo, que só parou no canteiro central da rodovia.

O acidente aconteceu nesta sexta-feira (18), na altura do km 46. De acordo com os bombeiros, a idosa foi encontrada fora do veículo e teve a morte constatada ainda no local. As outras três vítimas foram socorridas e encaminhadas ao hospital.

Como os nomes dos feridos não foram divulgados, a reportagem não conseguiu obter informações atualizadas sobre o estado de saúde deles.

Segundo os bombeiros, o motorista estava agitado, mas não apresentava lesões visíveis. A passageira do banco da frente estava consciente e sofreu ferimentos no braço, além de uma fratura no punho direito.

Uma das passageiras que estava no banco traseiro teve fratura no ombro direito, relatou dormência nos pés e queixava-se de dores de cabeça. A idosa que morreu também estava no banco de trás, mas foi encontrada fora do veículo.

Segundo o Corpo de Bombeiros, o motorista perdeu o controle do veículo. (Reprodução/Corpo de Bombeiros)

Segundo o Corpo de Bombeiros, o motorista perdeu o controle do veículo. (Reprodução/Corpo de Bombeiros)

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Três motociclistas morrem a cada 2 dias

De 1.775 mortos no trânsito em 2024, 589 estavam em moto, mostram dados da SES-GO

Modificado em 19/04/2025, 07:08

Trecho urbano da BR-153 é o local com a maior registro de mortes de motociclistas em Goiânia em 2024

Trecho urbano da BR-153 é o local com a maior registro de mortes de motociclistas em Goiânia em 2024 (Wildes Barbosa / O Popular)

No ano passado, a cada dois dias em Goiás, três motociclistas ou passageiros de motos vieram a óbito nas vias do Estado ou em decorrência de sinistros de trânsito, quando foram registrados 1.775 vítimas fatais do trânsito, sendo 589 que estavam em motos, de acordo com os registros de óbitos da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), dentro do Programa Vida no Trânsito (PVT).

Para se ter uma ideia, há 20 anos, em 2005, o número de óbitos de motociclistas em Goiás era um quinto do total. Naquele ano, a SES-GO, segundo o sistema Datasus do Ministério da Saúde, registrou 1.612 óbitos no trânsito do Estado, sendo 324 vítimas fatais ocupantes de motocicletas. O aumento proporcional dos acidentes em duas décadas se deu ao mesmo tempo em que tivemos uma redução na proporção da quantidade de motocicletas no Estado. Em 2005 eram 1.444.165 veículos, sendo 308.259 motos, sendo 21,34%. Já neste ano, os números são de 4.880.873 veículos no Estado, com 904.389 motos, uma relação de 18,32%.

O perito criminal de trânsito e membro da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Antenor Pinheiro, explica que o problema não é o número de motocicletas, mas como elas transitam nos sistemas viários das cidades. "A ausência de uma política pública rigorosa de fiscalização de trânsito justifica essa assustadora letalidade, pois as infrações de excesso de velocidade, avanço de semáforo, uso de celular e trânsito sobre calçadas são a regra prevalente dos motociclistas urbanos em geral. Se essas infrações não são coibidas, a tendência é a ocorrência de sinistros crescer, pois tecnicamente todo sinistro a ele precede uma ou mais infrações simultâneas cometidas", esclarece.

Diretor-executivo do Instituto Co.Urbano e membro do Mova-se Fórum de Mobilidade, Marcos Villas Boas acredita que, no geral, a frota teve aumento vegetativo, mas os óbitos dos motociclistas é um aumento exponencial. "É um meio mais barato e não tem investimento no transporte coletivo, não temos infraestrutura de corredores para os ônibus, por exemplo, e as pessoas sofrem pressão dos patrões para chegar no horário, acabam indo para as motos. Depois, é uma tragédia anunciada a partir do advento do serviço de entrega, que atinge uma massa social relevante, que são remunerados para correr o quanto puderem e fazer infrações."

Pinheiro entende que o problema imediato é nacional e "está vinculado aos fatores já mencionados, mas também associado aos tradicionais e falhos critérios de formação de condutores de motociclistas no Brasil". O perito afirma ser preocupante os exames de prática para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). "Há muito se faz necessário a revisão desses processos, mas nada acontece."

Proporção se mantém em 2025

A estatística da proporção de óbitos dos motociclistas permanece idêntica nos primeiros meses deste ano, em que, até março, já haviam sido registrados 53 óbitos de motociclistas ou passageiros de um total de 158 registros de todos os meios somados. Nos primeiros 15 dias deste mês, ao menos oito óbitos de motociclistas foram registrados no Estado. No último dia 6, um motociclista de 29 anos faleceu ao atingir um cavalo e, em seguida, ser atropelado por uma caminhonete, cujo motorista não prestou socorro, na GO-060, em Trindade. Dois dias depois, uma mulher de 20 anos atingiu com uma motocicleta a traseira de um caminhão na GO-080, no município de Petrolina, e morreu ainda no local.

Em Goiânia, os dados da SES-GO de mortes em decorrência de sinistros de trânsito ao final de 2024 apontam para 267 vítimas fatais, sendo 123 que estavam acima de uma moto, ou seja, uma representatividade de 46% do total de 2024. Na capital, ocorre uma morte de motociclista ou passageiro do veículo a cada três dias e a cidade lidera a estatística no Estado.

O perímetro urbano da BR-153 de Goiânia é o local com a maior quantidade de registros de óbitos de motociclistas. Em todo 2024, oito pessoas morreram em ao percorrer o trecho, de acordo com o relatório do Programa Vida no Trânsito (PVT).

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