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Em Goiás, menos de 15% das crianças se vacinaram contra sarampo e influenza

Campanha segue até 6 de junho e pedido é de adesão. No geral, imunização infantil apresenta queda há anos e podem resultar em retorno de doenças antes erradicadas

Modificado em 20/09/2024, 00:16

Crianças de 6 meses a 6 anos integram campanha de vacinação

Crianças de 6 meses a 6 anos integram campanha de vacinação (Secretaria Municipal de Saúde)

Faltando menos de 30 dias para o fim da campanha de vacinação contra influenza e sarampo, menos de 15% das crianças de Goiás foram imunizadas. Em 2022, apenas 14,2% recebeu a vacina contra sarampo que tem como meta 95% do público e 11,7% contra influenza, cuja meta do Ministério da Saúde (MS) é de 90%. Devem receber as doses contra sarampo: crianças de 6 meses a 5 anos e contra a influenza: de 6 meses a 6 anos. A vacinação acontece de forma gratuita em todos os municípios do estado.

Os alertas para possibilidade de retorno de doenças que foram inclusive consideradas erradicadas, como o sarampo, acontecem há anos. O Brasil recebeu em 2016 o Certificado de País Livre do Sarampo, concedido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Dois anos depois, entretanto, perdeu a certificação porque houve reintrodução do vírus no país.

No ano de 2019 foram registrados cinco casos em Goiás e assim, restabeleceu uma cadeia de transmissão da doença após 20 anos sem circulação do vírus. O surto seguiu até março de 2020, quando 20 casos da doença foram confirmados em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Posse e Rialma. Nos anos de 2020 e 2021, os casos notificados em Goiás foram descartados mas a baixa cobertura vacinal pode mudar os rumos desse cenário.

Para o Ministério da Saúde, a meta é vacinar, no mínimo, 95% do público. A vacina que protege contra a doença é a tríplice viral, que também imuniza conta caxumba e rubéola. Em Goiás, a queda nessa cobertura acontece desde 2017, quando chegaram a 80,99%. No ano passado, a cobertura vacinal foi de 76,92% e na capital 83,3%. Em 2022, a meta é imunizar 425.748 crianças, mas até a última sexta-feira (6), apenas 62.834 crianças haviam sido imunizadas, o equivalente a 14,02%.

Influenza

A campanha de vacinação contra influenza começou no dia 4 de abril. Desde então, 52.546 crianças de 6 meses a menores de 5 anos foram vacinadas contra a doença em Goiás, o que representa 11,7% de cobertura ideal. Secretário estadual de Saúde, Sandro Rodrigues explica que a criança é suscetível à influenza devido à fragilidade do sistema imunológico e faz um alerta de forma generalizada. "Nos primeiros cinco anos de vida, os mecanismos de defesa do organismo ainda não estão desenvolvidos. Por isso, é fundamental a aplicação de todas as vacinas específicas às crianças previstas no Calendário Nacional de Vacinação".

Difteria e paralisia

Nacionalmente, uma das maiores preocupações é a vacina contra a poliomielite e a possibilidade de retorno de casos de paralisia infantil. Os últimos registros de casos no Brasil aconteceram em 1989, mas a meta de 95% de imunização não está sendo alcançada. Em 2012, o índice de cobertura vacinal foi 101%. Em 2018, caiu para 85,54%. Já em 2021 foi de 71,60% no estado e 71,2% em Goiânia.

A difteria é prevenida por meio da vacina pentavalente e havia sido controlada com o último registro em 1998. Neste ano, entretanto, foi registrada uma ocorrência em Santa Helena de Goiás e outros quatro casos estão em investigação segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). Em 2021, a cobertura dessa vacina em crianças foi de 71,98% em Goiás e de 72,% em Goiânia.

Segurança, eficácia e comunicação

Titular da SES-GO, Sandro Rodrigues ressalta que as vacinas previnem a ocorrência de casos graves de doenças que sobrecarregam o sistema de saúde e pontua que as vacinas são seguras e que não há motivos para questionamentos. "Vacina é proteção, é segurança. Vacina salva vidas. Elas já foram estudadas, avaliadas e validadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ", acentua.

Para a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo, vários fatores precisam ser analisados desde 2015, principalmente. Entre os pontos, o aumento das mães no mercado de trabalho e a ausência, muitas vezes, de funcionamento dos postos de vacinação fora dos horários comerciais. Mas ela ressalta, entretanto, que o recente discurso que questiona segurança e eficácia de vacinas contra a Covid-19 pode ter ampliado a insegurança do brasileiro de forma geral.

"O brasileiro não é contra a vacina, mas uma parcela da população pode ter começado a questionar as demais vacinas quando a segurança e a eficácia de uma foram colocadas em cheque", completa Bravo. A diretora da SBIm também acredita que a comunicação precisa ser ampliada. "A comunicação está sendo falha. A gente liga a televisão e não vê. O Ministério parou de comunicar com eficácia. Vou dar um exemplo. Ontem eu andei de Uber e conversando com a motorista falamos de vacina. Ela tem um filho de 4 anos e disse que não sabia que estávamos em campanha. As pessoas precisam saber, precisam ser comunicadas de forma efetiva", acrescenta Flávia.

Vacinação nas escolas

Cada município e estado decidiu sua melhor forma de atuação. Esta também é uma discussão presente quando o assunto é imunização infantil. Flávia Bravo, da SBIm, explica que países como o Chile utilizam da parceria entre Educação e Saúde para a imunização das crianças e que há sucesso na cobertura.

O Brasil possui um Programa Nacional de Imunização (PNI) que disponibiliza, pelo SUS, as principais vacinas e é considerado um dos mais completos do mundo. Para Flávia, o sucesso do programa é também uma das causas da queda na adesão às vacinas. Isso porque, como diversas doenças não são mais vistas como paralisia e sarampo, há também uma diminuição da preocupação sobre as consequências. "Infelizmente, o sucesso da vacinação afasta a noção de risco e pessoas não valorizam a necessidade da vacina", finaliza.

Geral

Regulação passa a ter sistema integrado para internações, consultas e exames em Goiás

Sigo dispara alertas quando um paciente aguarda leito por mais de 12 horas. Com projeto- piloto em Rio Verde, expectativa da secretaria estadual é de que municípios reguladores, como Goiânia, Aparecida e Anápolis, também passem a usá-lo

Modificado em 23/12/2024, 11:26

Luciano de Moura Carvalho, subsecretário de Vigilância e Atenção Integral à Saúde da SES-GO

Luciano de Moura Carvalho, subsecretário de Vigilância e Atenção Integral à Saúde da SES-GO (Iron Braz)

A regulação de consultas, exames e leitos da rede estadual de Saúde passou a acontecer por meio de um sistema que permite a integração com as regulações municipais. A apresentação do Saúde Integrado do Estado de Goiás (Sigo) ocorreu na última quinta-feira (19), no auditório do Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), em Goiânia. A expectativa da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) é de que Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis também façam a adesão ao sistema.

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O projeto-piloto de adesão ao sistema por uma regulação municipal ocorre em Rio Verde, uma cidade importante nesse sentido para a região Sudoeste de Goiás. O POPULAR apurou que as secretarias municipais de Saúde de Goiânia e Aparecida de Goiânia devem aderir ao sistema. Na última semana, o Sigo foi apresentado ao prefeito eleito de Anápolis, Márcio Corrêa (PL), durante uma reunião com o secretário estadual de Saúde, Rasível Santos. A expectativa da SES-GO é de que as principais cidades goianas com regulação municipal estejam usando o sistema até o final de 2025.

A discussão para adotar o Sigo teve início no começo de 2024. O contrato de prestação de serviço com a Procempa, uma empresa pública de Porto Alegre (RS), foi assinado em abril e vai custar R$ 41,5 milhões por 60 meses. O sistema já é utilizado na capital gaúcha há anos. Ele será disponibilizado para os municípios goianos que têm regulação própria gratuitamente. Caso eles já contem com um sistema contratado, poderão deixar de utilizá-lo ou então interoperacionabilizar os sistemas.

A primeira etapa para começar a utilizar o Sigo em nível estadual foi substituir o sistema que era usado anteriormente pela regulação estadual, o Servir. O módulo ambulatorial foi iniciado em agosto e o módulo de internação começou em novembro. "Começamos a expansão para que os municípios utilizem o sistema para fazer a sua própria regulação e solicitem vaga para o Estado dentro do mesmo sistema. A unidade solicita vaga no Sigo. Quando o município não consegue resolver na região, ele aperta um botão e vem para a regulação estadual. Com tudo dentro de um mesmo sistema, a gente consegue visualizar a vaga que ele está tentando resolver e, se não resolver, a vaga que vamos usar para resolver. Fica um atendimento linear", explica Luciano de Moura Carvalho, subsecretário de Vigilância e Atenção Integral à Saúde da SES-GO.

Da forma como é feito atualmente, se um paciente de uma unidade de pronto atendimento (UPA) de Aparecida precisa de uma vaga de internação, a unidade solicita para a regulação Aparecida, Goiânia e do Governo de Goiás. "Quando essa vaga sai, em um lugar ou outro, se alguém não for lá e informar que houve a liberação, continuam buscando a vaga (por outra rede). Agora, o atendimento vai ser linear. É um ganho em eficiência. Diminui o tempo que um paciente fica esperando", esclarece Carvalho.

O subsecretário acredita que a utilização do Sigo vai desafogar os leitos da rede estadual. "Rio Verde vai tentar buscar vaga lá em Rio Verde ou na região. Só quando os leitos dele estiverem todos ocupados é que vai lançar para o Estado", diz. Isso também vai representar um ganho em transparência, já que os municípios vão ter que cadastrar todos os leitos municipais no sistema. Assim, o governo estadual poderá questionar um município caso ele solicite uma vaga na rede estadual e tenha um leito disponível ao nível municipal.

Antecipar crises

Carvalho conta que, a partir do momento em que o governo estadual e os municípios passarem a usar o mesmo sistema, será possível antecipar crises, como a que ocorre na Saúde de Goiânia. "A ideia é que a gente tenha 100% de acesso aos leitos disponíveis. Assim, vamos acompanhar as taxas de ocupação de todas as unidades", aponta Carvalho. Dessa forma, a SES-GO poderá notificar os municípios a fim de tentar solucionar possíveis gargalos que estejam causando sobrecarga na rede. "Conseguiremos redistribuir melhor os pacientes", frisa.

O sistema também traz a Classificação Internacional de Doenças (CID) do paciente e o direciona para as unidades que têm leitos com o perfil dele. Um paciente que sofreu, por exemplo, um enfarte será direcionado para uma unidade de terapia intensiva (UTI) coronariana. O Sigo também consegue emitir alertas quando um paciente aguarda por um leito por mais de 12 horas. Ele também permite que os leitos dos prontos-socorros sejam cadastrados. Dessa forma, a regulação poderá visualizar a possibilidade de uma demanda antes mesmo dos pedidos de leito serem feitos. "Quando esses leitos estiverem superlotados, vamos enxergar também", afirma Carvalho. Segundo ele, essa funcionalidade poderá ajudar a Saúde no manejo dos casos graves de dengue.

A nível ambulatorial, a inteligência do sistema também poderá ser usada para organizar as filas e a regulação de consultas e exames, respeitando a regionalização do atendimento. Os pacientes da região Nordeste, por exemplo, serão sempre regulados para as policlínicas de Posse e Formosa. "Vamos acabar com aquela coisa de um paciente de Posse vir para Goiânia para se consultar", destaca. No âmbito da transparência, a população poderá visualizar as filas de espera por consultas e exames, além da fila de espera por leitos, dos municípios. Em nível estadual, já é possível fazer essa verificação por meio de painéis disponibilizados pela SES-GO.

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Minigite já matou 26 este ano em Goiás

Modificado em 17/09/2024, 17:25

Minigite já matou 26 este ano em Goiás

(Divulgação)

Foram registrados 26 mortes por meningite em Goiás, além de 135 casos confirmados da doença somente em 2024, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES-GO). Conforme a pasta, a vacinação adequada contra a meningite diminui a chance de casos graves e óbitos.

A meningite é um processo inflamatório que atinge as meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal e especialistas alertam que a doença evolui rápido. Ela pode ser causada por diferentes agentes, como bactérias, vírus, fungos e parasitas, segundo a SES-GO.

Entre os sintomas de meningite estão: febre, fadiga, dor de cabeça, rigidez da nuca, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz), irritabilidade, confusão mental, vômito em jato e outros.

Em 2023, o Estado confirmou 214 casos de meningite, com 43 mortes registradas.
A pediatra do Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (Hmap), Nádhya Khouri, alertou que a doença evolui de maneira rápida e pode provocar a morte em apenas quatro dias.

Sintomas

"As primeiras manifestações da doença são leves como, mal-estar, dor de cabeça, vômito ou até sintomas gripais. Depois que o quadro começa a se agravar, em cerca de dois dias, a criança começa a mudar o comportamento, fica irritada, tem várias crises de vômito, não consegue encostar o queixo no pescoço. Nesse caso, começa a ter complicações no sistema nervoso central.Então, no quarto dia de sintomas, pode surgir convulsões, perda do estado e evoluir para uma morte", diz.

A especialista diz que o vírus ou a bactéria que causa a inflamação consegue acessar a camada que protege o cérebro. "Quando a pessoa tem essa infecção que consegue romper essa barreira protetora, há a infecção toda do encéfalo. Por isso a doença tem tantos sintomas neurológicos."

O tratamento é feito com antibiótico e antiviral. A partir de um exame que colhe parte de um líquido que envolve meninges, chamado liquor, os médicos vão definir qual será o tratamento mais adequado.

Conforme especialista, há casos em que a criança vence a doença, mas continua com sequelas, como perda do movimento de alguns membros do corpo, falta de memória e convulsões.
A pediatra explica que tanto crianças como adultos podem ser infectados pela doença, que é transmitida a partir da saliva de pessoa para pessoa, método parecido com a transmissão da Covid-19. De acordo com a SES, o Calendário Nacional de Vacinação possui cinco vacinas que protegem contra a meningite e outras doenças causadas pela bactéria para crianças e adolescentes.

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Saúde diz que OS deteriorou Hugo; governo vai recuperar

Secretário afirma que cinco das dez salas de cirurgia tinham buracos e falta de vidros. Pacientes com fratura de fêmur estavam há mais de 10 dias aguardando operação

Modificado em 17/09/2024, 16:14

Parte da infraestrutura do Hugo está deteriorada e pacientes com fraturas esperam por cirurgias há dias. SES-GO deve fazer plano de investimento para recuperar unidade

Parte da infraestrutura do Hugo está deteriorada e pacientes com fraturas esperam por cirurgias há dias. SES-GO deve fazer plano de investimento para recuperar unidade (Wildes Barbosa)

O principal hospital público de Goiás com parte importante da infraestrutura deteriorada e pacientes com fraturas esperando por cirurgias há dias. Foi assim que a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) diz que encontrou o Hospital Estadual de Urgências de Goiás (Hugo) depois da saída do Instituto Cem, organização social (OS) que estava à frente do local até o fim de maio. Diante da situação, a secretaria deve fazer plano de investimento para recuperação e otimização da unidade.

No dia 28 de maio, o governo estadual divulgou que a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein assumiria a gestão do Hugo a partir desta terça-feira (4) de forma emergencial. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Rasível Santos, não ocorreram intercorrências importantes no primeiro dia de atividades da nova gestão. O jornal esteve no Hugo no início da tarde desta terça e o clima era tenso na parte de fora do hospital, com uma entrada exclusiva para funcionários separada por cones e uma fita zebrada.

Santos conta que a equipe do Einstein conseguiu entrar no Hugo ao longo do último feriado, quando constatou que várias partes da infraestrutura do local estavam degradadas. Das dez salas de cirurgia, cinco passaram por reformas rápidas. De acordo com o secretário, esses locais estavam sem condições de funcionar por conta de uma série de problemas, como buracos nas paredes, ausência de vidros, ar condicionado inoperante e portas que não estavam fechando. "O que aumenta o risco de contaminação", diz.

Também foi verificado que 25 pacientes com fratura de fêmur chegaram a ficar mais de dez dias à espera de cirurgia, quando o prazo tolerado é de apenas 48 horas. "Um tempo de permanência muito prolongado", afirma Santos. Segundo ele, a justificativa dada pela OS foi a de que não existiam recursos para a aquisição de órteses e próteses. "Isso estava previsto em contrato e nosso repasse foi feito", pontua Santos. O secretário aponta que deve ser realizado um mutirão para que esses pacientes sejam operados o mais rápido possível.

De acordo com ele, o Einstein também constatou que a cozinha da unidade não tem condições de ser utilizada. Sendo assim, os alimentos destinados aos funcionários e pacientes estão sendo comprados. Diante do cenário caótico, Santos afirma que aguarda o Einstein promover um diagnóstico detalhado sobre a situação do hospital ao longo de junho. Posteriormente, a SES-GO pretende traçar um plano de investimento para recuperação e otimização do hospital. Santos não adiantou prazos e valores referentes ao plano.

Mesmo com danos tão extensos, segundo Santos, esse sucateamento ocorreu apenas no final da gestão do Instituto Cem, a partir do momento que a OS foi desqualificada do chamamento público para seguir à frente da unidade de forma definitiva. "Uma queda vertiginosa na qualidade da assistência. Como não estavam batendo metas, nem sabemos se estavam utilizando ou não algumas salas que estavam em condições impróprias", detalha.

Sempre que vai acontecer uma mudança de OS, a SES-GO monta uma Comissão de Transição na unidade para acompanhar diariamente os trabalhos, a fim de assegurar uma mudança sem impactos na assistência. Questionado se a comissão não percebeu as más condições do Hugo, Santos afirma que a secretaria estava ciente do cenário, o que foi o motivador do contrato emergencial com o Einstein.

Santos argumenta que a SES-GO não tinha mais confiança para fazer repasses financeiros para o Instituto Cem com a garantia de que o dinheiro seria usado para assistência e melhorias estruturais. "O cenário de insegurança era tão grande que precisamos fazer essa intervenção", explica.

Contrato emergencial

Quando anunciou o novo contrato emergencial, a SES-GO alegou que a medida foi tomada a fim de garantir a continuidade das atividades do hospital e a qualidade do atendimento. O contrato com o Einstein possui o mesmo valor do contrato com o Instituto Cem: R$ 21,7 milhões. Ao jornal, Santos já havia dito que a "perda de confiança" no Instituto Cem contribuiu para a suspensão do contrato com a OS.

No dia 17 de maio, o Instituto Cem ameaçou rescindir o contrato de gestão do Hugo sob argumento de inadimplência de pagamentos do estado, o que é negado pelo governo estadual mesmo com a administração pública tendo feito recentes empenhos de pagamentos à OS com justificativa de "valores glosados equivocadamente na regularização de despesas no período de 01/01/2022 a 17/05/2022".

Em nota, a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein informou que, neste momento, "o foco principal está em garantir o atendimento e continuidade do cuidado a cada paciente" e que "a partir de agora serão avaliadas as necessidades de adequação de infraestrutura, fluxos e processos". A organização comunicou ainda que o compromisso é de "melhorar o atendimento, buscando sempre a excelência do cuidado, com ênfase na qualidade, segurança e melhor experiência dos pacientes".

O chamamento público para a gestão do Hugo por meio de um contrato regular foi iniciado no ano passado. A expectativa é de que seja concluído no mês que vem. Deverá ser convocada a terceira colocada, justamente a Sociedade Israelita Albert Einstein, uma organização da sociedade civil (OSC). O primeiro lugar era da OS Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ), de Minas Gerais, que renunciou à gestão da unidade de saúde. O Instituto Cem ficou em segundo lugar no processo, mas foi excluído após ser desqualificado.

Procurado, o Instituto Cem não respondeu os questionamentos da reportagem até o fechamento desta edição.

Fornecedores reclamam de atraso de pagamento

Distribuidores de medicamentos e materiais médicos hospitalares reclamam de pagamentos atrasados por parte do Instituto Cem, organização social (OS) que administrou o Hospital Estadual de Urgências de Goiás (Hugo) até o final de maio. De acordo com o proprietário de uma empresa, que preferiu não se identificar, a OS deve em torno de R$ 130 mil para ele há cerca de 60 dias. Segundo ele, a situação se repete sempre que acontece uma mudança na OS à frente de um hospital público. "No começo, pagam certinho. No final, é isso. Assim, as unidades públicas vão acabar ficando sem fornecedores", argumenta.

O secretário estadual de Saúde, Rasível Santos, admite que o Hugo tem dificuldade de manter alguns fornecedores que não estavam recebendo. "Alguns com dois ou três meses de atraso", detalha. Entretanto, ele afirma que a responsabilidade de honrar com esses compromissos financeiros é da OS. "Todos os repasses foram feitos por parte da pasta", afirma.

A situação também é delicada no que diz respeito aos funcionários do Hugo. Reportagem publicada em 22 de maio mostrou que o fundo rescisório da unidade contava com cerca de R$ 1 milhão apenas. A informação foi divulgada pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), que estima que serão necessários em torno de R$ 23 milhões para fazer o pagamento dos encargos trabalhistas dos funcionários do hospital.

Na ocasião, a pasta afirmou que estava articulando com a Procuradoria setorial uma maneira de arcar com os encargos trabalhistas dos funcionários para posteriormente promover um acerto de contas com a OS. "Com os fornecedores é diferente. Não tenho como pagar. As pessoas jurídicas têm uma relação direta com a OS", frisa.

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Dengue leva leitos de UTI ao limite em Goiás

Ocupação de vagas em Unidades de Terapia Intensiva tem média diária de 98% desde o início de abril. Além da doença causada pelo mosquito Aedes aegypti, casos de síndromes respiratórias colaboram para agravar a situação. Nesta sexta-feira (10), havia só 10 disponíveis

Modificado em 17/09/2024, 15:56

O Hospital de Urgências de Goiás (Hugo) recebe pacientes dos 246 municípios goianos

O Hospital de Urgências de Goiás (Hugo) recebe pacientes dos 246 municípios goianos
 (Diomício Gomes)

++GABRIELLA BRAGA++

A taxa de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) em hospitais da rede estadual de Goiás tem se mantido com média diária acima de 98% desde o início de abril. A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) aponta que a demanda elevada está ligada à epidemia de dengue e ao recente aumento de casos de síndromes respiratórias. Do total de 709 leitos instalados no Estado, cerca de 10 estavam disponíveis até esta sexta-feira (10), cenário visto com preocupação pela pasta.

Para calcular o porcentual de média diária, o jornal utilizou como base as taxas de ocupação nas unidades de saúde regulados pelo Estado desde o dia 1º de abril até esta quinta-feira (9). Em janeiro, para se ter ideia, a média foi de 91%. Com a alta busca por internações de pacientes, os hospitais têm atuado na capacidade máxima. A pasta diz que não há uma taxa mínima e máxima ideal, ponderando que é preciso olhar demais informações, como o tempo médio de permanência dos pacientes. Já a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade de Goiás (Ahpaceg) aponta que a ocupação dos leitos deve se manter em 85% a 90%.

"O ideal é não passar de 90% para ter uma margem de segurança para internar aquele paciente que teve complicações, ou aquele que acabou de dar entrada no pronto-socorro. Então nunca é aconselhável atingir 100% da capacidade. Mas por que atinge? Porque, às vezes, a demanda é muito maior do que a oferta. Quando há um momento igual agora, em que se tem várias arboviroses e infecções respiratórias atuando no mesmo lugar, passa a ter, além dos pacientes atuais, novos pacientes. Assim, não consegue dar vazão (saída e entrada), e isso é um problema", comenta o presidente da Ahpaceg, Haikal Helou.

Superintendente de Políticas e Atenção Integral à Saúde da SES-GO, Paula dos Santos explica que que a taxa de ocupação acima de 90% nos hospitais próprios da pasta, ou em unidades com vagas contratualizadas, é considerada alta, mas esperada pela abrangência destas unidades. "Mesmo hospitais com uma taxa alta de 90% a 95%, ou de até 99% que é o que temos vivido hoje no Estado, pode ser relativa (a taxa ideal) pela capacidade de giro desse leito. São hospitais que atendem os 246 municípios. Então a capacidade do leito desocupar para outro paciente entrar é o que muitas vezes é o nosso trabalho diário de otimização de uso do leito", pontua.

Coincidência

Conforme ela, o cenário atual no Estado é de aumento das doenças respiratórias, o que também tem acrescentando na demanda por leitos de terapia intensiva e de enfermaria. "Temos observado queda no número de notificações de dengue, que já era esperada agora para essa época do ano, mas começaram a aumentar os casos de síndromes gripais, então já sabemos que vem por aí mais internações mesmo com a diminuição da dengue", pondera.

O presidente da Ahpaceg, Haikal Helou, relata que o cenário atual na rede privada não está diferente da rede pública. "Emitimos um alerta essa semana de que há ocupação acima do normal, que pode gerar um risco à população. Acima de 85% a 90% da capacidade ocupada corremos riscos. Pacientes em espera, equipe que fica sobrecarregada, e a nossa dificuldade de manobras de acomodação por uma ocupação acima do esperado", acrescenta o presidente.

Vale lembrar que o País vive uma epidemia de dengue. Em 2024, já foram 287,9 mil casos notificados, um aumento de 315% em relação aos registros de 2023. A maior incidência nos casos foi detectada entre fevereiro e abril. Agora, conforme a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, o cenário é de diminuição no contágio. No entanto, explica, apesar da queda de casos, as internações ainda não apresentaram redução significativa.

No mesmo período de 2023, de janeiro a maio, a ocupação se manteve abaixo do que o registrado neste ano (veja quadro). Entretanto, vale destacar, ainda existiam leitos exclusivos de Covid-19 à época. Mas de acordo com Paula, o aumento em 2024 não tem relação apenas com mais pessoas doentes, mas também com o acesso aos leitos. "Esse ano temos uma coincidência de doenças, o que impactou na lotação de unidades. Mas outra questão é observamos uma diminuição de acesso a alguns leitos de gestão municipal, o que acaba gerando maior demanda para os hospitais do Estado."

A superintendente explica ainda que a demanda é ainda maior para os leitos pediátricos. Apenas seis hospitais ofertam vagas de UTI destinadas a crianças. E, nestas, apenas uma possuía vaga até esta sexta-feira. Já para os leitos de adulto, há oferta em 31 unidades espalhadas em 22 municípios. Apenas cinco contavam com leitos vagos, sendo elas em Goiânia (2), Senador Canedo, Jaraguá, e Catalão. De acordo com a superintendente, o Estado estuda a instalação de mais cinco leitos pediátricos ainda neste mês para suportar a demanda de internações.

Conforme a SES-GO, a média diária de solicitações de internação em leitos de UTI e de enfermaria, tanto adulto quanto pediátrico, foi de 917 em abril. No caso da enfermaria, taxa de ocupação nesta sexta-feira estava em 94%. Mas nestes casos, conforme explica Paula, a rotatividade é maior diante dos casos de menor complexidade. "Gira mais rápido, e tem uma média de permanência menor, o que leva a maior abertura de leitos. Então a taxa mesmo estando alta a gente consegue triar e colocar paciente de forma mais dinâmica."

Ela pondera ainda que há maior facilidade para novos leitos de enfermaria, ao contrário dos leitos de UTI, que demandam maior planejamento e investimento. "Precisa de equipe de profissionais, equipamentos, espaço físico, toda uma estrutura para que o leito seja de fato resolutivo. Não se abre e fecha com facilidade. Precisa de uma equipe mínima mesmo desocupado", explica, ao acrescentar que o custo alto de um leito intensivo demonstra que a taxa de ocupação baixa também não seria o ideal, por gerar custos sem estar sendo utilizado.